sábado, dezembro 27, 2008

Não sei porque eu sempre me vejo na necessidade de explicar algo pra alguém, nem que seja pra mim mesmo. É como que uma regra que eu tenho de seguir, e tempos periódicos tiro um tempo e escrevo qualquer coisa que me vier na cabeça naquele minuto. Ás vezes funciona bem, e é bacana, mas na grande maioria das vezes não funciona e é uma grande merda.

É como delegar ao espírito coisas que o corpo já não pode suportar. É como ressacas em terríveis manhãs pós bebedeiras. Como ser novo e se sentir como velho. Como não ter a mínima noção do que vai ser e do que fazer. É como uma centena de coisas e também não é como nada.

Tenho tido sonhos estranhos que nem valem a pena ser explicados. Me arrepio com cenas bizarras e no mínimo estranhas que vejo todos os dias. Dou risada de coisas sem sentido e balbucio palavras incompreensíveis. Leio os velhos livros e eles continuam me salvando á minha própria maneira.

Um gole aqui, outro acolá. Um papo ridículo de um lado. Sou mesmo melhor sozinho. Prefiro ficar sozinho. As pessoas continuam me ignorando, ou será que sou eu que as ignoro? Prefiro não saber por enquanto. Vou pegar o avião e me mandar pra Buenos Aires, onde as pessoas falam uma língua que eu não entendo e onde eu não conheço ninguém.

Achei por aí e achei do caralho


sexta-feira, dezembro 26, 2008

Meta para 2009: Arranjar um emprego e colocar a TV a cabo com o maior número de canais possíveis, pra só sair de casa caso o prédio corra risco de desabamento.

sábado, dezembro 20, 2008

Não gosto de pessoas com muita auto-confiança. Nem mesmo tenho a paciência necessária pra passar algum tempo perto desses tipos. Ontem, na festa que eu fui havia um tipo assim. Eu estava lá, tomando a minha cerveja e ouvindo ao Elvis cantar Such a Night até que três conhecidas começaram a conversar logo a meu lado. "bla bla bla, porque eu já fiz várias faculdades, agora estou fazendo bla bla bla e quando terminar vou fazer bla bla bla". A conversa prosseguia e eu me irritava de ter que compartilhar daquele (in)feliz momento da conversa. O papo descambou pros lados de línguas e idiomas. E lá estava novamente a auto-confiante para se exibir como um pavão vencedor de um concurso de beleza - "bla bla bla, eu estudei num super colégio foda e bla bla bla, aprendi várias línguas e bla bla, tenho uma super base, bla bla". Eu não sei se ela pensou que aquilo era uma entrevista de emprego, mas acho que com as cervejas e os cigarros nas nossas mãos e o rock no alto volume não seria difícil perceber que estava enganada. A prosa ia de vento em popa, e vez ou outra eu era questionado sobre minha opinião, dava um ou dois pitacos e ficava quieto encarando minha cerveja e torcendo pra que aquilo logo acabasse. Mas que nada, é claro que ela continuava, afinal, é necessário exibir suas qualidades para que todos vejam o quanto você é fodona. "bla bla bla, li vários livros, todos no original, bla bla bla". Era o bastante pra mim. Eu não era digno de ficar perto de uma pessoa com tamanhas qualidades, e meu saco já não aguentava mais. Levantei e dei uma rodada pela festa. Várias garotas bonitas, todas acompanhadas de playboys metidos a maconheiros malandros. A essa altura já haviam tirado o Elvis e tocavam Strokes e outras porcarias. Era o bastante pra mim. Fui até o rádio e coloquei Stones. Era o mínimo que eu podia fazer.
O tempo passou, a cerveja acabou e não demorou pra quase todo mundo ir embora. Mas os que sobram sempre são os mais persistentes, e lá estavamos nós fazendo vaquinha e indo até o mercado para comprar mais uma boa remessa. Festa reabastecida, continua com os highlanders que ainda não tiveram suas cabeças cortadas pela noite. Uma roda com os últimos dez. Violão passando de mão em mão. Um primo do aniversariante é músico. Ele pega o violão e toca uma de suas músicas. É uma música bacana e eu caio no erro de fazer um elogio. Depois disso tenho o desprazer de descobrir que ele é um incrível chato que passará a próxima meia hora me aporrinhando com papos sem graça e tentando mostrar como ele é um músico que pode dar certo. Ele pega o violão de novo e começa a tocar The Doors. Outro rapaz se junta com ele e eles vão até outro canto ficar tocando e cantando em paz. A conversa rola solta e agora sim é prazerosa. Mas claro, a noite é uma tremenda enganadora e quando você pensa que vai ficar tudo bem a sua carona está indo embora. E lá vou eu, feliz por voltar pra casa e por estar de férias.

quarta-feira, dezembro 17, 2008

O fim do começo e o começo do fim

1

As coisas parecem um pouco estranhas quando você tem quase dezenove anos e ainda não está muito certo do que quer fazer da vida. Acho que todo mundo, ou quase todo mundo, já passou por algo parecido na vida. É um bocado estranho, e você tem que decidir o que fazer logo e começar a fazer porque é o dinheiro dos seus pais que está em jogo. Eles apostam que você vai ser um grande profissional e podem ver seu grande futuro, mas pra isso contam com que você entre numa boa faculdade, leve as coisas a sério, arranje um bom estágio, tire boas notas e assim por diante.
É mais ou menos assim que as coisas acontecem pra algumas pessoas do meu tipo. Uma prova de exame da faculdade no dia seguinte, e cá estou eu, bebericando uma dose de uísque e assistindo meio sem atenção e sem muito interesse o jornal noturno que mostra o jornalista iraquiano tacando um sapato no presidente norte-americano George W. Bush e infelizmente não atingindo seu alvo com sucesso.
Por falar em jornalismo, é essa a faculdade que eu estou cursando, ou tentando cursar. Ainda não sei direito se é o que quero da vida. Como eu disse, não da pra ter muitas certezas quando você não sabe nem mesmo o que pode fazer com alguma eficiência. Mas por que reclamar? Fui eu que escolhi seguir esse curso e prestar o vestibular numa renomada faculdade paulistana, e com felicidade passar. E foi por pura e espontânea vontade (e que grande vontade!) que eu decidi me mudar da minha cidade no interior do Paraná para a capital paulista e a maior cidade da América Latina para estudar jornalismo. Agora, passados quase dez meses aqui estou eu, me indagando sobre o que fazer da minha vidinha.


2

Paralelismo, polifonia, ambigüidade, e redação para o exame de língua portuguesa. Agenda-setting, Marx, Weber e Durkheim para o exame de sociologia. Pierre Levy e Marshall McLuhan para o exame de teoria da comunicação. Três exames logo no primeiro ano para alguém que não faz nada além de estudar. Eu supostamente deveria estar estudando igual um louco, mas é claro que não. É claro que continuo aqui, ouvindo ao Bob Dylan e fumando alguns cigarros. O que eu devo fazer, meu Deus? Eu não, eu definitivamente não sei. Mas olha só, ainda tenho o dia inteiro de amanhã pra estudar, e não posso negar que o que estudei hoje já deve me ajudar um pouco nessa bendita prova. Eu só indago se esse esforço todo vai valer a pena. E essa é uma indagação sem fim, que só pode ser descoberta seguindo adiante, e não sei se estou disposto a fazer isso.
O ano é 2008. O mundo está em uma crise econômica profunda e o natal está chegando. A Avenida Paulista brilha com luzes, arvores de natal e carros passando todas as horas do dia e da noite. Da janela do apartamento eu só posso enxergar que, além de um futuro incerto, tenho também um montão de outras dúvidas. A paixão de Cristo, os presentes do papai Noel, o clima de solidariedade típico da época, e o mundo girando e girando onde tudo acontece quase sempre igual.
Que deselegante da minha parte, nem mesmo me apresentar. Acho que seria conveniente dizer quem sou neste momento, em que partilho aqui algumas de minhas pequenas dúvidas e anseios que pairam sobre essa cabecinha de um jovem de quase dezenove anos. Me chamo Rick Nicoletti e tenho dezoito anos e onze meses. Não posso dizer que nesse tempo de vida vi de tudo, porque na verdade não vi quase mesmo é de nada. Bom, talvez eu tenha visto um pouco de tudo e um monte de nada. Depende do ponto de vista. E esse tal é o que me confunde cada vez mais.
Posso dizer que sou um tanto quanto pessimista. Não do tipo que acha que o mundo vai explodir e que todo mundo vai morrer amanhã, mas sim do tipo desesperança. “Que infame!”, você deve estar pensando. Um jovem de dezenove anos ainda não-completados achando que sabe alguma coisa da vida. Pois é, meu caro. Também daria de tudo pra saber de onde veio toda essa desesperança. Mas não se engane, ás vezes aquilo que falamos não é aquilo que pensamos, e ás vezes aquilo que fazemos não condiz com aquilo que falamos nem tampouco com o que pensamos, e é por isso e por mais milhares de outros motivos e talvez nenhum deles que eu escrevo coisas como essa. Nas palavras estão o mistério, a vida e a cabeça de cada um em letras e papel. É nas bibliotecas que me encontro em meio a esperança que perdi neste meu pouco tempo de vida. É com Ernest Heminghway, Jack Kerouac, John Fante, Charles Bukowsi, Dostoiévski e muitos outros que consigo enxergar só um pouco do que são as coisas. Cada um a seu modo, cada um de seu jeito, cada um em sua época. Estes e outros senhores me apresentam seu mundo, sua época, sua vida e todas as suas histórias de maneira particular e geral que só verdadeiros gênios podem faze-lo. É nas bibliotecas que a vida permanece semeada e que as histórias continuam sendo contadas. Cobertos de poeira e espreitados em prateleiras esquecidas que cada um daqueles grandes nomes permanece vivo para quem os quiser conhecer. E é isso que eu busco em minha vida. Mas é isso que me questiono. Como dar ao mundo o que ele quer de nós, e como tirar do mundo o que queremos dele?


3

Pernas pra que te quero. Pra ficarem sentadas aí descansando embaixo da mesa enquanto meus braços trabalham arduamente aqui em cima e se revezam entre goles no uísque, tragadas no cigarro e frenéticas e ritmadas digitações no teclado do computador. Hoje, enquanto passava pela Brigadeiro Luís Antonio, seguindo em direção ao supermercado e passando em frente ao sujo e barato boteco que costumo freqüentar para tomar algumas cervejas e vez ou outra acompanhar jogos de futebol, senti que vocês fraquejavam querendo entrar, escolher a mesma mesa de sempre e só sair depois de algumas cervejas. Mas eu não podia fazer aquilo, é claro que não podia. Eu tinha que comprar coisas para casa, pois agora moro sozinho, e a responsabilidade vem em primeiro lugar. Então seguimos, mas dentro do supermercado foi a minha vez de retribuir e, com o dinheiro que não tinha que resolvi comprar uma bela garrafa de uísque e dois maços de cigarro para passar junto com os pães, frios, filé de frango, leite, macarrão instantâneo e etc. Só por causa de vocês, e por causa de mim, e por causa das palavras, e das músicas, e de Bob Dylan e de todas as coisas do mundo e talvez de nenhuma delas, o que talvez seja a grande verdade.
Que tipo de maluco eu sou? Alguém que conversa com as próprias pernas e pensa que elas tem vida própria definitivamente não é normal. Esta explicito em meus atos. Aonde eu vou parar com todas essas coisas? Só Deus sabe. Mas antes disso preciso saber. Ele sabe quem sou eu? Ele realmente existe? Todas aquelas coisas que diziam na igreja quando eu era apenas uma criança são verdades? Todas aquelas coisas escritas na bíblia realmente aconteceram e vão realmente acontecer? No que eu devo acreditar? Pra onde devo ir? O que devo fazer?
São tantas e tantas dúvidas, e tantas e tantas coisas que eu gostaria de saber. Mas eu não tenho essas respostas, e pra falar a verdade nunca achei ninguém que realmente tivesse as respostas para as milhares de coisas que eu desejo saber. E é por isso que eu continuo procurando. E vivendo. E escrevendo. E fazendo esse bocado de coisas sem sentido.


Continua...

Ryan Adams & The Cardinals - Crossed out name

Orange sky, don’t go
Manhattan looks like someplace else
Cloudy with a low fog shell
Into the crowded streets I go
Eventually they lead me back home
Where we used to liveI live alone
And into bed I go

I wish I could tell you just how I felt
I don’t pray; I shower and say goodnight to myself
When I close my eyes
I feel like a page
With a crossed-out name
With a crossed-out name
São Paulo no verão
chove e para o tempo inteiro
E eu aqui, com meu cigarro
e a esperança no coração

quarta-feira, dezembro 03, 2008

Nada pra fazer na maior cidade da américa latina. São Paulo é assim, se você não tem grana e não conhece mais que meia dúzia de pessoas você ta ferrado. O que fazer nessas horas? Parcialmente de férias, com uma gripe fodida, sem muita ou nenhuma grana pra gastar e sem nada pra fazer além de ver um monte de filmes alugados de graça na faculdade. Joga tudo na mala. As roupas estão sujas há mais de duas semanas. A diarista (que na verdade só vem a cada quinzena) não veio dessa vez. Tudo dentro da mala. O que pode ser preciso nos próximos dez ou quinze dias e lá vou eu ganhando a rua. Cinco e alguma coisa da tarde. Passo no banco pra sacar alguma grana da minha já negativa conta só pra pegar o metrô e - surpresa! - papai depositou algum pra não morrer de fome. Agora já era, mal sabe ele que a conta já estava negativa esse tanto de passar o cartão em bares sem saber quanto havia no banco. Santa irresponsabilidade. Agora já era. Uns 30 contos na conta. Maravilha. Só uma grana pro metrô e pra comer algo nessas malditas paradas da estrada.

Entrando no metrô lotado de engravatados e demais trabalhadores da paulista. Minha sempre companheira ignorancia me fez esquecer de como é o metrô na hora do rush. Seis horas da tarde. Maldito horário para se pegar o transporte coletivo. Mas o ônibus saí ás sete, então não há muito o que fazer. Vamos lá, até o Paraíso, que mais parece o inferno. De lá até a Sé. Esse sim o verdadeiro inferno, com direito a diversos demônios e todo tipo de aberração e caos que a grande cidade tem a oferecer. Enlatado e amassado no vagão com a mochila nas costas, a pesada e maldita mala na mão e uma desgraçada de uma sacola plastica balançando na outra pras coisas que não couberam na mala massarocada. Destino Barra Funda. Chegou, chegou, aleluia senhor. Pessoas que ainda vão pegar o trem quase te atropelando. Tudo bem apressados. Go ahead. Já cheguei no meu destino. Até a porra do guichê. Uma passagem pra Londrina. Saindo de um inferno e indo pro outro. Lá vou eu. Lendo a ótima biografia do Kerouac escrita pelo Antonio Bivar. Enxuta mas muito boa. Só uma parada de quinze minutos, suficientes pra comer uma esfiha que estava marcada como carne mas na verdade era frango, agora não havia tempo pra reclamar. Vai essa, mesmo eu não gostando muito de frango. Tempo pra um misero cigarro. Um cigarrinho só. O motorista me lança um olhar fulminante de "o que esse maldito jovem fumante esta fazendo atrasando todo mundo". Apago a bituca e subo no trambolho. Lá vamos nós. Metade do caminho. Durmo um pouco e acordo. Ouço o mp3 no resto. Sempre esqueço de colocar as músicas nessa porcaria. Sempre ouço as mesmas. Não faz mal. Nunca faz. Logo chegamos.

Rodoviária de Londrina. A mais bonita do país. Grandona e vazia na madrugada da segunda-feira. Um bêbado me pede esmola. Não tenho nada, meu velho. Espero vir me buscarem e vejo que um policial vai tirar o bêbado do banco da rodoviária em que ele dormia. Ele reluta em sair. O policial engrossa a voz e faz o cara ir andando sem rumo. Vejo ele descendo a rua e andando pra algum lugar escuro da madrugada. Pelas esquinas de Londrina. Sempre as mesmas de sempre.

Já arrependido de ter vindo. Não sei pra onde ir. Nunca sei. A gripe melhorando. As coisas sempre na mesma. Meu pai já me aceita como fumante, mas nem por isso deixo de ouvir toda e qualquer bronca e advertência relacionada ao assunto. Pelo menos não preciso mais sair atrás de comidas horríveis de fast-food nem torrar minha curta paciência tentando pôr em prática meus limitadíssimos conhecimentos gastrônomicos na cozinha do apartamento em que o gás do fogão acabou há umas duas ou três semanas. É isso aí. Sempre a mesma. Sempre igual.

sábado, novembro 29, 2008

Deus do céu, uma baita gripe, uma daquelas gripes terríveis. Nenhum dinheiro na carteira, conta negativa no banco, o dinheiro de plástico me salvando. O celular que eu esqueci na casa da minha mãe não me faz falta nenhuma. Odeio essas coisas que tocam e fazem barulho e te enchem o saco de todas essas maneiras. Meu quarto, minha casa, meus filmes e meu livro favorito na original e pizza e todas essas coisas italianas. E cigarro pra não acabar, pois eu sei e todos os fumantes sabem o quanto é desesperador ficar sem cigarro. E o vento frio lá fora, e as roupas sujas ali no canto me encarando, e o gás do fogão acabou e ninguém trocou. Mas não há dinheiro pra trocar e não muito o que se fazer nesse caso. Comprando fast-food ou coisas que possam ser feitas no microondas.


Meu nariz está trancado, as pilhas de papel amassado e usado se amontoando no canto da mesa. Revirando madrugadas escrevendo e não escrevendo nada que valha a pena com bitucas de cigarro e copos usados. Já vi esse filme antes. Centenas de vezes. Estou enjoado deste roteiro. Mas gosto dele. Eu sou o diretor. Eu sou o ator principal. Eu sou o coadjuvante. Eu sou eu, o maior de todos! Eu sou um grande escritor. Um grande jornalista. Um grande merda qualquer. Eu não sou nada. Nada além de um jovem sonhador que a cada dia fica mais velho. Nada além de um jovem que tem seu livro favorito e pizza e cigarros e um bom tempo sozinho em seu quarto numa noite fria. Um jovem resfriado de nariz trancado e filmes atrás de filmes sendo assistidos e aqueles grandes diretores todos me inspirando e me acabando. E as músicas, e mais músicas, e notas e acordes e belas letras que moldam minha vida e oh! Todas essas coisas e mais um pouco.

Escreva. Escreva. Escreva. Cartas, notas, poemas, prosas e qualquer coisa. Leia e escreva e ronde a biblioteca buscando grandes livros pois são eles os que mais te importam, e como ele também sonhou, você também pode sonhar, e seu nome estará ali algum dia, ah se estará! Seu nome há de estar entre os nomes daqueles todos. Ou tudo isso não passa de um delírio. Um maravilhoso e prazeroso delírio. Um grande delírio de um grande escritor. E mais um grande conto para a sua coleção. E mais um prêmio para a sua estante. E grandes coisas que talvez nunca aconteçam. Mas não importa o que aconteça o céu sempre estará lá em cima e a grande lua e as estrelas brilharão até o fim de seus dias.

quinta-feira, novembro 27, 2008

Aquele monte de roupas sujas se acumulando no canto do quarto. Aquelas antigas roupas castigadas saindo do armário. Mas não importa muito. Chega uma hora em que a aparencia é só um mero detalhe na sua vida. Não que eu seja um desleixado, mas só não consigo mais me preocupar tanto com esse tipo de coisas. Não acho que isso vá mudar grandes coisas na minha vida. Não acho que muita coisa vai.

Tom Waits tocando. Letras lindas e tão geniais que fazem meus pensamentos voarem por aí como bolhas de sabão que eu soprava na minha infância. Troço divertido aquele, aliás. Algumas das melhores coisas da infância estão em coisas pequenas como essa.

Está caindo a ficha. Quando eu penso que não estou bem em um lugar, aí venho pra SP e também não estou bem aqui. Não estou bem em lugar nenhum em que eu conheça e tenha que conviver com um certo número de pessoas. Não sei que tipo de fobia social eu tenho, mas estava refletindo que prefiro uma certa distancia e reclusão especiais de todo mundo. Não todo mundo, no geral, mas da maioria das pessoas. E agora eu vou pra Buenos Aires. Está caindo a ficha. Isso é ótimo, eu acho. Estou com medo, vou sozinho, não conheço essas ruas e sou preguiçoso o suficiente pra não ter pesquisado muita coisa no universo de informações que a internet oferece. Mas lá vou eu, de mochila nas costas pegando aquele voo e saindo do país pela primeira vez de verdade, já que na única vez em que eu cruzei as fronteiras brasileiras até hoje foi pra ir ao Paraguai comprar uísque e porcarias eletrônicas com meu pai.

Mas agora eu vou, e bom, se querem mesmo saber (e acho que nem querem, mas vou dizer mesmo assim) estou moderadamente animado com a ótima possibilidade de poder andar por umas ruas desconhecidas com gente que eu nunca vi antes e que provavelmente nunca vou ver novamente, parar no primeiro bar que eu achar e beber umas cervejas diferentes ouvindo conversas de uma língua que eu não entendo é nada. Do caralho. Acho que é isso. Não acho mais nada. Lá vou eu. Lá vou eu. É agora ou nunca. Cortando o cordão umbilical que me liga com todas essas coisas e lugares que já estou acostumado. Me aventurando por aí. Que Deus me proteja e que o Diabo me carregue.

sexta-feira, novembro 21, 2008

Eu

Eu
já estou cansado
de todas essas coisas
desse mundo exacerbado

do inalcançável fim dos tempos
do misterioso começo do mundo
dos malditos poetas
dos milhares patetas

Eu
estou esperando
a salvação ou
a total perdição

e quando tudo acabar
vou me sentar e escrever
o que sobrar pra contar
Nos dias de hoje não vale a pena se estender muito em quase nada.

Até que as palavras cessem e as linhas acabem

É engraçado né. Esse pessoal todo querendo fazer tipo com outro pessoal todo que também quer fazer tipo, enquanto isso as poucas pessoas que não querem nada com nada ficam perdidas no meio da merda toda. Tipo cegos num tiroteio. E é foda, ás vezes é foda até mesmo achar um bar tranquilo pra beber. Ás vezes é foda até achar vontade de beber, e se é pra não beber, é foda ter força de vontade pra parar de vez.

Quando tudo esta bom demais você tem que se preocupar. Quando tudo esta ruim demais você tem que se preocupar. Quando não há nada com o que se preocupar você tem que se preocupar mais ainda. E quando não há vontade pra se preocupar com nada, provavelmente quer dizer que tudo já foi pra merda e você se fodeu mesmo. Mas não faz mal. Nunca faz.

Vontade de reclamar de tudo. Vontade de reclamar de nada. Vontade de beber até cair, de fumar até não ter mais ar, e de dormir como se o dia fosse acabar amanhã. Vontade de me internar em algum lugar. De ir morar numa montanha levando só um bocado de livros e umas garrafas de vinho. Vontade de fazer tanta coisa e vontade de não fazer nada. É sempre a mesma coisa. SEMPRE a mesma coisa. Até que as palavras cessem e as linhas acabem.
Acho que eu só continuo indo em frente porque ainda é muito cedo pra desistir de qualquer coisa.

terça-feira, novembro 18, 2008

- E aí meu, quanto tempo pra enfiarem uma bala na cabeça do Obama?

- Eu sei lá. Respondi secamente, tentando fugir daquela pergunta imbecil sobre o mais imbecil de todos os assuntos a serem discutidos em um bar.

- Mas falando sério, cê não acha que ele vai ser tipo o Kennedy?

- É, talvez. Pra mim não importa muito se ele é o primeiro negro, primeiro azul, primeiro amarelo ou o que for. Só espero que ele não foda com o mundo, e não foda com a gente.
Me irrita não poder fumar a qualquer hora. Me irrita não ter muito o que fazer numa segunda-feira. Nunca há nada pra fazer numa segunda-feira. Me irrita não ter um filme pra assistir. Me irrita não ter pra onde ir. Me irrita não ter com quem falar. Me irrita ver pessoas que pensam que sabem tudo sobre a vida. Um monte de coisas me irritam. Não é culpa do lugar, das pessoas e nem de nada assim. É coisa minha mesmo. Nunca fiquei muito satisfeito com as coisas e nunca tive grande força de vontade pra mudar. Só to cansado dos mesmos lugares . Se é pra reclamar, pra chorar, pra encher a cara ou pra fazer qualquer coisa que seja em outro lugar. É por isso que eu tenho esperado esse final de ano.

Gosto de viajar. Não da viajem em si, daquela encheção de saco toda que rola durante o trajeto, mas sim de estar em outro lugar. Andar por umas ruas desconhecidas e ver umas pessoas diferentes. Sentar sozinho num balcão de bar e tomar uma cerva olhando pro nada. Isso faz bem pra caralho. Acho que eu deveria passar meu tempo andando por esses lugares que eu não conheço. Mas é claro que eu não tenho corajem pra fazer isso. Não tenho corajem pra fazer muitas coisas que não sejam as mesmas de sempre. Sou o típico acomodado e reclamão, e felizmente isso não afeta a muitas pessoas além de eu mesmo.

Odeio ver essas garotas que já acabaram comigo de todas as formas possíveis. Elas me olham com aquele olhar misto de piedade e curiosidade de saber o que eu estou fazendo longe dali. Algumas devem pensar que continuo a mesma merda de sempre, o que de certo modo não deixa de ser verdade. Outras devem pensar que estou me dando bem, ou eu sei lá o que. No final todo mundo sabe que não muda nada. Odeio esse povo que vai pra outro lugar e acha que ganhou muita coisa com isso. É, acredito que seja do caralho conhecer outros lugares, outras pessoas e outras coisas, sou um grande adepto disso, mas não consigo ver isso como um grande trunfo sobre alguem que ficou no mesmo lugar há muito tempo.

Eu realmente não sei como meus fraquissimos textos que começam de uma forma terminam de outra totalmente diferente do que eu imaginei. Acho que esse método de abrir uma página em branco e deixar fluir não é dos mais interessantes. Acaba saindo um monte de besteiras que estão passando pela minha cabeça naquela hora. Talvez seria mais interessante pegar algum fato e descrever, mas não consigo pensar em grandes fatos da minha vida que mereçam ser descritos. E talvez eu nem tenha o talento necessário pra fazer isso com alguma qualidade. Afinal, nos dias de hoje qualquer idiota que se julgue alguem interessante é escritor ou poeta em potencial.

segunda-feira, novembro 17, 2008

Viajens, bebedeiras e ressacas.

Mais uma viajem de ônibus. Não gosto de viajar nesses troços, você passa a maior parte do tempo sentado com uma pessoa que nunca viu do teu lado, com todos aqueles desconhecidos dormindo e fungando e roncando e as luzes acabadas e você ouvindo seu mp3 e pensando em chegar logo pra tua cidade natal, mas parece que nunca chega. Aí você consegue dormir um pouco, bem pouco, parece que foram quinze minutos. Olhando o relógio, foram quase duas horas. Volta a dormir, um tempo depois tem a parada numa lanchonete de beira de estrada. Os estranhos se mexem, acordam, sussurram e vão saindo um a um, enquanto uns poucos cansados ainda continuam dormindo inertes. Saio com os olhos semi-cerrados, a luz machuca a vista, só sei que preciso fumar, preciso fumar. Chego até um canto e acendo o cigarro. Alguém me chama, uma amiga da cidade. Sempre encontro alguém indo ou voltando pra algum lugar nessas paradas. O mundo é mesmo um lugar pequeno, ou pelo menos os lugares que eu vou são sempre os mesmos. Uma conversa aqui, outra ali, me despeço e volto pro ônibus. A viajem está na metade, já estou de saco cheio. Bob Dylan, Ira!, Ryan Adams e Bob Dylan novamente. Continua tudo escuro. O ônibus chacoalhando. Preciso ir mijar. Preciso mijar todas as horas em que estou nessas caixas escuras balançantes e lotadas de gente. Vou até o tal banheiro. É apertado e balança um bocado. Vai de qualquer jeito mesmo, que se foda. Volto pra poltrona. A viajem nunca acaba. E são só seis horas e meia, que mais parecem doze. E então no tempo previsto chegamos. As luzes se acendem, todos descem, todos querem pegar suas bagagens (o que demora um tempo de encher o saco), e então todos pegam suas coisas e saem vagando por aquela rodoviária bonita e estranha de Londrina. A rodoviária mais bonita do país, ou uma delas, um projeto de Niemayer que ele nem se lembra de ter feito. Um projeto do escritório de Nyemayer, que seja, não me importa. Espero vir me buscarem com mais um cigarro.

Um tempo de sono de verdade, na cama e tudo mais. Sábado é dia de encher a cara. Em todo e qualquer lugar que estiver, sábado vai sempre ser o dia de encher a cara. Pra casa de um grande amigo. Uma cerveja. Outra. E outra. E mais outra. E de lá pra uma saga interminável dentro do carro. Odeio passar muito tempo dentro de um carro ou de qualquer coisa que se locomova. Encontramos um lugar pra ir. Uma festa na casa de um cara aí. Cara gente boa, festa relativamente legal. Cerveja e gin, e cerveja e cerveja e gin e gin. E logo bem vindo, você esta bêbado de novo. De lá pra um bar. Encontro alguns amigos, outros desconhecidos, todos em uma mesa, falando sobre livros e problemas e soluções acadêmicas e traduções e dissertações e TCCs e teses de mestrado e tantas outras coisas que não acrescentam grande coisa. O tipo de coisa que é a mais chata de se falar. Pretensões profissionais, pretensões pessoais, todos os tipos de pretensões e coisas que ainda não aconteceram e todas essas porcarias que fazem as pessoas perderem seu tempo pensando no que está por vir ao invés de viver o que está ali. E a conversa vai pra outro rumo, e cinema, e futebol, e viajem, e música e um monte de outras coisas. Conversa boa então, divertida, até interessante. O suficiente pra acompanhar cerveja, atrás de cerveja. Sem conversas acadêmicas, sem conversas profissionais, sem grandes chateações. E logo são seis horas da manhã, e você conseguiu, passou a noite bebendo e obviamente ficou bêbado, e vai pra casa comer qualquer coisa que restou na geladeira. E vai tentar dormir, com as paredes girando na tua volta. Aí se arrasta até o banheiro, pra ficar deitado no azulejo frio contemplando o próprio reflexo na água da privada, até esperar a coisa vir e então soltar tudo lá, fazendo aquele barulho escatológico e regurgitando tudo o que sobrou no teu estomago. No dia seguinte haveria uma grande ressaca, e você sabia disso e sentia uma pontada de arrependimento pela bebedeira, mas agora não tinha muito que fazer.

quinta-feira, novembro 13, 2008

Como o tudo e como o nada

Não sou nenhuma espécie de psicólogo de ninguém, nenhuma espécie de antropólogo de nada e nem nenhum pesquisador de coisa alguma. Não gosto desses tipos, no geral. Eles pensam que podem avaliar a alma das pessoas como se fossem pedaços de carne pendurados no açougue. Eles pensam que estão fazendo um grande bem para a humanidade classificando-a como este ou aquele protótipo de gente. Não acho que todos sejam ruins, e nem devo achar isso, só não posso concordar com seus métodos de avaliação. Não me julgo alguém que pode definir o que outra pessoa sente ou faz, e não suporto que façam isso comigo.

Não faça com os outros o que não quer que façam com você. Alguém disse isso, Jesus talvez, eu não sei, nunca fui de ler muito a bíblia, apesar de ter tido uma educação católica quando criança. Só lembro que minha mãe e meu pai me diziam isso. Acho que devo concordar. Não quero que as pessoas metam seus dedos sujos em minha cara para dizer absurdos sobre o que elas pensam saber de mim, e não quero fazer isso com elas também. Não acho que eu deva me preocupar com o que cada um faz de sua vida. Só saber o que estou fazendo com a minha já está de bom tamanho. E esta tem sido uma tarefa dificílima.

O cinema tem sido minha grande saída para os mais diversos problemas. O cinema é uma terapia, uma manifestação de diversas coisas, uma expressão de sentimentos magnífica, uma arte. Federico Fellini e seu 8 e ½. A doce vida, que não é nada doce. As noites de Cabíria. Oh, adorável Cabíria. Estou apaixonado por você. Uma garota sofredora e ingênua e de uma alma tão bela. E meus caros Marcelo e Guido, brilhantemente interpretados por Marcelo Mastroanni, não há como não dizer que não me identifiquei com vocês. Teve vezes que me vi ali, descrito naquela tela. Acho que era isso que eu procurava. É tudo o que eu procuro. Uma xícara de café pra espantar a solidão. Maços de cigarro fumados em vão. A fumaça entrando fundo pela garganta até o pulmão, depois se espalhando pelo ar como pensamentos perdidos ao léu. Pensamentos que vem e vão todos os dias em todos os lugares.

A janela, meu lugar favorito. Não há nada como pensar na vida olhando para a janela numa madrugada, com o cigarro entre os dedos, e a fumaça subindo e se dissipando pela cidade que nunca dorme. E todas as luzes apagadas e umas poucas acesas só pra me deixar curioso sobre o que está acontecendo naquele lugar. Ás vezes é só alguém que tem medo de escuro. Tive medo do escuro por muito tempo. Ás vezes ainda acho que tenho, mas isso não tem tanta importância, já que não tenho um abajur e nas poucas vezes que tentei dormir de luz acesa tive que me levantar durante o sono para apagá-la pois não conseguia realmente pegar no sono. O verdadeiro sono. Leve e sublime. Como um bebê. Como uma rocha. Como um urso preguiçoso em sua caverna da floresta. A cidade que nunca dorme. As corujas e os morcegos estão à solta pelas ruas. Como um jovem preguiçoso em seu apartamento na selva de pedra.

O cinema é a janela da vida. O grande cinema. O verdadeiro cinema. É a fuga da realidade, e ao mesmo tempo o maior choque que se pode ter com ela. É o registro de belíssimas histórias. De horríveis histórias. De tristes histórias, e de qualquer outra coisa que você quiser compartilhar. E os sentimentos, ah, os sentimentos. Estes são indescritíveis. Como o vento no rosto em um dia de verão. Como uma taça de vinho com a bela amada. Como o cigarro depois da refeição. É algo acima do bem e do mal. É a transmissão de sentimentos, de vida, de entendimento, de beleza e de uma parte de Deus que está em cada um de nós. É algo que não pode ser tirado. É como as ondas do mar. Como as nuvens do céu. Como poesias baratas de um escritor de bar. Como almoços familiares de domingo. Como transar com a pessoa amada. Como bebedeiras memoráveis com seus grandes amigos. Como todas aquelas coisas que nunca vivemos e como todos aqueles lugares que nunca iremos. Como o tudo e como o nada.

segunda-feira, novembro 10, 2008

Nos dias de hoje você tem que matar um leão por dia. Não só os leões aí de fora, da selva de pedra, mas também os leões de dentro de você. Esses que você alimenta com muito alcool e fumaça de cigarro. Esses que você põe pra dormir ao som dos Beatles. Ás vezes é mais difícil, mas as vezes parece que você é um domador de verdade. Mas quando as coisas dão errado, saí de perto meu amigo. Você vai ser devorado em um instante. E aí só sobram os pedaços. Uma hora alguém tem que ir lá e recolhar o que sobrou. É um processo cansativo. Não é mérito nem azar de ninguém. Todo mundo tem os seus leões pra matar.

Ninguém te perdoa na selva de pedra. Mas isso não faz muita diferença, porque você dificilmente vai perdoa-los também. E em cada dia as coisas mudam e ficam iguais. A falta de inspiração e de vontade pra fazer qualquer coisa. Você só vai empurrando, até porque você também não tem muito o que fazer. Tem gente que se da bem, eles dizem por aí. Tem gente que tenta te contaminar com um otimismo ridículo. Também não acho que o pessimismo seja uma grande coisa. Você tem que se manter no meio termo. Os otimistas sempre se frustram quando as coisas dão erradas. Os pessimistas dizem que já sabiam. Se você conseguir controlar esses dois aspectos as coisas podem ficar mais faceis. É só não esperar muito de tudo. Na verdade não acho que devo esperar nada de coisa alguma. As coisas acabam vindo até você. Ou você até elas. Não importa a ordem. Não é tão difícil quanto parece. Não acredito em auto-ajuda. Não acredito em um monte de outras coisas.

Gosto de fumar olhando pra janela. Sempre escrevo sobre isso, mas não me importo em escrever de nada. Só ficar bebendo um café ou uma coca-cola e fumando um cigarro em frente a janela. Enquanto todo mundo dorme. Até mesmo a principal avenida a maior cidade do hemisfério dorme durante a noite. E essa é a melhor hora pra pensar na vida. Essa é a melhor hora pra escrever, pra ouvir música e pra fumar um cigarro. Acho que as melhores coisas acontecem quando ninguém esta prestando atenção. Pelo menos pra mim tem sido assim. E eu não sei o que isso significa. Não acredito em astrologia nem em qualquer outra coisa. Não tenho muito a dizer. Nunca tenho.


I'm so tired, I haven't slept a wink
I'm so tired, my mind is on the blink
I wonder should I get up and fix myself a drink
No, no, no.

(...)

I'm so tired, I'm feeling so upset
Although I'm so tired I'll have another cigarette

The Beatles - I'm So Tired

quarta-feira, outubro 29, 2008

São coisas da vida

Plac, plac, plac. Andando pela casa na madrugada. Sempre usando pijamas e procurando algo pra fazer. Na verdade não tenho um pijama, uso sempre um shorts e uma camiseta qualquer. Mas fico andando por aí, procurando o que fazer. Daí sento aqui e rabisco algo. Fumo um ou dois cigarros e ouço algumas músicas. Plac, plac, plac. Sempre igual.

A casa está quase sempre vazia, mas prefiro ficar no meu quarto. A privacidade é algo extremamente necessário na minha vida. Ligo a TV, rodo por uns canais. As mesmas merdas de sempre. Volto pro computador. Uns toques ali, outras músicas aqui. Ás vezes vejo algum filme. E então fico sem fazer nada. Ou fazendo algo que corresponda a não fazer nada. Durmo tarde da madrugada, quase sempre perto do amanhecer, e acordo tarde do dia, quase sempre no início da tarde.

É foda acordar de tarde. Levanto e tenho aquela sensação de que ainda é manhã, mas já são quase duas ou três da tarde. Todas as pessoas estão fazendo algo. Me sinto um vagabundo. Preparo algo pra comer ou vou no mesmo restaurante de sempre. Me alimento bem. Gosto de ter algo no estômago. Faz bem em todos os sentidos. Você é alguém mais poderoso quando come um bom prato de comida. E é alguém ainda mais poderoso quando fuma um cigarro depois desta refeição. O melhor cigarro é sempre depois da refeição. As tragadas descendo e a barriga cheia. Aquela preguiça estranha e a fumaça subindo. Tão satisfatório quanto um drinque no final de um dia estressante.

Os livros estão sempre ali na cômoda emprestada. Até que tenho uma boa coleção. Não é das gigantes, mas está crescendo aos poucos. Quem sabe algum dia eu não tenha minha própria biblioteca? Escolho um e começo a ler. Se não estou a fim de começar a ler algum, ou se já estou ocupando lendo um, só escolho um dos bons e folheio algumas páginas para relembrar. É sempre divertido. Os melhores livros sorriem quando eu os abro. Talvez eles saibam que eu gosto muito deles. São uma espécie de orgulho particular. Enquanto algumas pessoas têm roupas novas eu tenho meus livros e discos. Gosto disso.

Quem disse que eu sou um completo vagabundo? É, não da pra negar que eu me sinto assim, mas eu ainda faço faculdade, e vou as aulas com freqüência. Todos os dias é a mesma coisa. Vez ou outra tem trabalhos quase completamente inúteis. Vez ou outra eles te irritam pra valer. É foda saber que você faz aquilo tudo pro professor decidir se você é ou não bom o suficiente pra aquela profissão que você está se habilitando pra exercer. E é claro que você sabe que é. Na verdade você tem certeza que é ótimo pra profissão, e acha mesmo que é melhor que ele e todos os outros. Mas não da pra se iludir demais. Ás vezes você também acha que é pior que o cocô do cavalo do bandido. São coisas da vida. Da minha vida. E talvez da de outras pessoas. Mas eu ainda não as conheço pra saber. Nunca se sabe o que se passa na cabeça de quem passa por você na rua ou senta do teu lado no metrô.

sábado, outubro 25, 2008

E agora teus livros não te servem pra nada. Teus discos muito menos. As garotas não te dão a mínima. Você não é atrativo. Suas idéias não as impressionam.Você não passa de mais um dos tantos. Você coleciona livros e discos e as garotas colecionam seu coração. É o simples prazer de te fazer de bobo. Porque no finalvocê não passa mesmo disto. É só mais um tolo de papel e caneta na mão. Só mais um ingênuo que ainda acredita em coisas que não acreditam em você.

A cidade te conquista. Te amedronta. Te envolve. Você não sabe pra onde ir, mas vai mesmo assim. Entrando nos becos mais escuros. E ouvindo os problemas de gente que você nunca viu antes. Mas os teus problemas você não diz. Não tem mesmo o porque. Seu relacionamento nas ruas é estritamente com a garrafa. Vocês fazem um belo trio, você, as letras e a garrafa. Mas você não se importa muito com isso. Você não se importa com muitas coisas. Você guarda tudo para as letras. As palavras e as folhas em branco. É só aquilo ali que importa. O resto não vale merda alguma. Quase nada vale alguma coisa. Nem mesmo você vale algo. São só as malditas letras. Você, elas e a garrafa. E é só isso que importa.
Me diz o que você tem nessas ruas. O que tem esse chão cinza e toda essa gente. Toda essa sujeira e poluição. O barulho dos carros. As putas da augusta e os botecos da madrugada. Você me odeia e eu te amo. Você me trata como se eu fosse mais um dos que são apaixonados por você mas não te entendem. Você é uma puta barata e encantadora ao mesmo tempo. E você sabe que nós te amamos. E você nos maltrata, mas também nos ajuda. A droga do teu hálito é de matar de tão bom. As tuas curvas são um mistério indecifrável. Você é toda complicada. Toda gigante e importante. Você é filha de gente rica, mas também gosta dos pobres, porque sabe que são eles quem mais gostam de você. Eles não te trocariam por qualquer uma. Eles dificilmente te trocariam. Se te trocam algum dia ficam pensando em você no resto de suas vidas. Porque você é uma puta maravilhosamente encantadora. Você é a merda da metrópole gigante e estranha. Toda misturada e diferente. Uma baita foda, é o que você parece. A melhor foda da vida de alguém nos seus melhores dias. Mas ninguém agüenta a tua TPM. Quando você quer ser chata é mesmo a mais chata de todas. Mas no final todo mundo sabe, que o prazer de te ter vale todas as conseqüências.

quarta-feira, outubro 22, 2008

I spend my time in cottonwood looking for a sign / Sitting by myself and I'm running out of time / Listen to the wind talking just to me / Listen now can't you see /These are the days no one sees / They run together for company / I am the day no one needs / There'll never come another one like me

Paul Westerberg - These Are The Days


As coisas não mudavam de um dia para outro. Eu estava cansado de falar sobre isso e de falar sobre qualquer outra coisa. Eu estava cansado de dormir e acordar e também estava cansado de comer e de andar. As coisas não tinham um grande propósito no final. Eu era invisível pra todas as pessoas que não deveria ser, e quase fosforescente para as que deveria. Os chatos continuavam me enchendo. Todos os santos dias. Em todos os malditos lugares. Nem mesmo a bebida tinha alguma graça. Quando você é invisível acaba não vendo graça na maioria das coisas.
Era um verdadeiro martírio sair de casa e dar de cara com todas essas coisas que acontecem na rua. Ficar em casa também era uma monotonia sem fim. Sonhava em estar de coma por dois ou três meses. Férias do mundo, férias da vida. Não tinha vontade de ir para lugar nenhum, e não tinha vontade de fazer nada. Não me sentia triste, nem feliz, nem angustiado, nem porra nenhuma. Era só um maldito tédio sem fim. Eu era só mais um fantasma penando por aí.
Lembro das pessoas que eu costumava sentir pena por parecem não ver mais graça na vida. Agora eu era uma delas. Estávamos todos no mesmo barco, navegando em direção as pedras.

quinta-feira, outubro 16, 2008

Bons tempos em que os tempos eram somente tempos.

Vizinho suicida

Era uma quarta-feira como outra qualquer. Na outra noite eu tinha ficado na casa de um amigo bebendo umas garrafas de vinho e fumando haxixe. Não gosto muito dessas coisas de fumar, com exceção do cigarro, mas cada dia é um dia. A merda já estava feita. Acordei por volta do meio-dia, como sempre. Fui até o banheiro para fazer todas essas coisas que as pessoas fazem quando acordam. Um barulho de gente falando e de multidão vinha de fora. Estranhei aquilo tudo. Que porra estaria acontecendo hoje. Isso era normal na Avenida Paulista. Todo dia algum protesto, manifestação, celebridade ou coisa assim atraia um monte de idiotas e curiosos a ficarem parados pelas ruas. Fui até a janela da sala pra fumar meu cigarro matinal e ver o que estava acontecendo.
Na frente do prédio havia uma multidão de curiosos. Enxuguei os olhos e tentei me recuperar do sono recém acordado. Olhei pra baixo e vi algumas motos e carros de policia. Alguns policiais estavam no prédio. Um pouco abaixo da minha janela, mais ao lado direito havia uma pequena área isolada com fita e o chão coberto com uma lona. Alguém havia se matado. Podia ter sido eu, pensei enquanto acendia o cigarro.
Encontrei um dos caras que dividem o apartamento comigo. Ele disse que um dos funcionários que estava reformando a fachada do prédio havia caído em cheio. Uma pena, eu pensei. Antes fosse suicídio. Imaginei que aquela porra toda ia ser uma dor de cabeça pro condomínio. Mas que se foda, eu era só um locatário do locatário. Não tinha nada a ver com aquilo.
Sai pra almoçar e fui pela porta dos fundos. Além de sair mais perto da rua do restaurante que costumava freqüentar não precisava cruzar com aquela multidão de gente e coisas assim. Depois que voltei ainda continuavam por lá. Durante a tarde carros do IML, de emissoras de televisão e reportagens chegavam até a frente do prédio. Os curiosos continuavam por ali, como bons desocupados que eram. Eu também era um desocupado, mas não era tão enxerido.
Continuei em casa sem fazer nada. Era a porra de uma quarta-feira. Eu continuava sem nada pra fazer. Acho que tinha um ou outro trabalho da faculdade, mas não me importava muito com aquilo. De noite fui pra faculdade. O tumulto já havia acabado. Pelo menos isso. Assisti a porcaria da aula e agüentei as mesmas chatices de sempre. De noite voltei pra casa e a curiosidade despertou em mim. Resolvi ir conversar com o porteiro. Estavam dois lá, conversando e fumando cigarros. Acendi um dos meus cigarros e fiquei lá com eles.
Perguntei o que havia acontecido. O cara era chefe de cozinha de um dos melhores hotéis da cidade, a duas quadras daqui. Tinha grana pra caralho e morava sozinho, a família estava na França. Apesar de já ter uns 65 anos ainda era bem conservado. Era o que eles diziam. Se jogou do 20º andar. Uma merda toda. Ninguém sabia bem o porque. Como é que um cara com uma vida daquelas fazia aquilo? Eles se perguntavam e se questionavam em lamentos. Eu acho que sabia responder. Ninguém sabe o que se passa na cabeça de cada um, mas pra mim não era difícil imaginar. Pelo menos não tinha sido a minha vez.

domingo, outubro 12, 2008

All my friends are dead.

All my dreams were lies.

segunda-feira, outubro 06, 2008

It's time to change (like I never did before)

De repente eu tive uma visão. As coisas tinham que mudar. Elas simplesmente tinham. Era uma espécie de otimismo estranho que se apoderava de mim. Não um otimismo besta, de sair por aí sorrindo pra qualquer babaquice. Era só uma sensação de que as coisas precisavam mudar e eu podia fazer isso. Não podia deixar esse fogo se acabar. E pra isso eu tinha algumas coisas a cumprir. Não iam ser faceis, e eu sabia muito bem disso. No próximo final de semana eu viajaria pra minha cidade natal, veria alguns amigos e me divertiria um pouco. Decidi de uma vez por todas que ia ser um final de semana pra me preparar pro que viria em seguinte. Um pouco de diversão, as ruas que eu conheço e os bares que eu sempre frequentei. Depois disso era meu retiro pessoal. Nada de beber nem comer porcarias por um mês. Nada de lamentações baratas.

Era o último semestre da faculdade e eu precisava fazer alguma coisa. E eu ia fazer. Um tempo depois eu embarcaria pra passar uma temporada fora do país e não podia deixar que as coisas se arrastassem assim até lá. Elas precisavam mudar antes de eu me ausentar de São Paulo e do Brasil. E eu sabia que podia. Agora eu sabia mais do que nunca. Tive a certeza plena de que eu era muito maior do que pensava que era. Não que me achasse grande coisa, mas não era tão ruim quanto pensava que fosse antes. Eu podia fazer isso acontecer. Eu ia aprender a tocar violão, eu ia comprar uns óculos escuros, eu ia ser um cara realmente legal. Eu ia escrever melhor, e ia fazer umas músicas de verdade. E também ia fazer uma tatuagem.

Decidi tudo isso de repente. Mas eu precisava parar de beber. Era uma necessidade urgente. Não em caráter definitivo, mas temporário. Precisava do controle sobre mim mesmo. Precisava me limpar por completo. Parar de comer fast-foods e outras porcarias. Estava tudo ali na minha frente. Eu ia fazer o esforço que fosse necessário. Calculei que um mês era o tempo perfeito pra colocar tudo em ordem, tanto fisíca quanto espiritualmente. Mantras ressoavam em minha cabeça. Eu iria reler o Vagabundos Iluminados. Eu iria meditar com Jack Kerouac. Eu iria encontrar a paz que eu nunca tive. O controle sobre mim mesmo. A vida nas minhas mãos. No fundo mesmo eu sempre soube que poderia acreditar nas coisas. Elas sempre estiveram na minha mão. Não precisava mais me importar com todo o resto. Só precisav afechar os olhos e ouvir as músicas. Acender um cigarro e olhar pela janela. O interior mais importante do que qualquer exterior. Minha podridão pra bem longe de mim. Eu ia me purificar como nunca havia feito antes.

sexta-feira, outubro 03, 2008

Devaneios típicos de um garoto atípico

E é assim que tudo acontece. Acho que não odeio as pessoas em geral, isso provavelmente é uma técnica de auto-defesa pro que eu sinto de mim mesmo. Eles não tem culpa. Sabe como é. Ninguém. Somos um bando de esquisitos andando por aí e fazendo acontecer isso que a gente chama de vida. E o que eu na maioria do tempo acho um saco. Nem mesmo pras coisas que eu gosto eu consigo ter um verdadeiro interesse. Sei lá o que falar disso. Acho uma estranhice a maioria das coisas que acontecem.

Nem pra beber eu presto mais. Ainda gosto pra caralho. Não da pra negar. Só sei lá. Nos últimos dias não tem sido a mesma coisa. E ainda me dizem que eu bebo pra caralho. Só bebo o suficiente pra agüentar dormir e acordar e fazer a coisa toda. E ainda acho que não é o suficiente. Não sou um beberrão. Tenho aversão a alguns tipos de bebidas. Tenho ressacas homéricas. Sou como qualquer um. Só tenho uma relação diferente com o líquido. Quando sento ali pra beber eu acho que é pra beber de verdade. Não gosto desse negocinho de uma cervejinha ou coisa assim. Até queria gostar. Mas não dá. Comigo não. Se eu bebo é pra beber. E se eu ainda tenho cerveja e não bebo é porque estou muito frouxo e quero pensar em outros dias. Sempre faz falta aquela cerveja na geladeira. Ainda tem umas. Não vou beber agora. Amanhã ainda é sexta. Da pra beber um montão nesse final de semana. Da pra ir votar bêbado ou na ressaca no domingo, porque só assim pra agüentar votar em um desses palhaços que vão nos comandar nos próximos quatro anos. Não sou um politizado. Não gosto de falar de política. Tenho minhas próprias convicções e não preciso apresentá-las para o resto das pessoas. Deixo elas comigo. Sabe como é. Minhas idéias só servem pra mim e pros meus textos. Meus pensamentos só cabem a mim e as minhas folhas em branco.

Me envolvi em um monte de projetos. A maioria deles é bem legal. Me envolvi porque quis e porque achei eles interessantes, mas nem pra isso tenho conseguido fazer as coisas direito. Parece que as palavras não saem do jeito certo. As letras me odeiam, ou coisa do tipo. Não estou conseguindo escrever nada que realmente preste. Ta sendo um daqueles períodos horríveis nesse sentido que você só espera que passem. Ta sendo um daqueles tempos em que ta tudo calmo. Não está ruim não. Não posso reclamar num geral. Estou bem tranqüilo. Estou vivendo, ou coisa que o valha. É sempre assim. Vai ser sempre assim. Se ficasse assim pra sempre até que seria uma boa. Só esperando o tempo passar. Fazendo as coisas certas nas horas certas. Deixa que do resto o tempo cuida.

sexta-feira, setembro 26, 2008

never stop

As pessoas em geral gostam de frase de efeito. Elas adoram tudo isso. Adoram um montão de coisas que aparecem na televisão e na internet. Eu só preciso ficar no meu quarto, fumando uns cigarros e ouvindo uma boa música. Recentemente e por indicação de um grande amigo eu descobri um desses caras que fazem você ainda ter esperanças. Ele se chama Langhorne Slim, e é um cidadão da Pennsylvania que mora em Nova York. Ele ficou conhecido pelos EPs que gravou, mas só no final de Abril desse ano é que lançou seu primeiro disco, de título homônimo. E é um arraso. Fazia um puta tempo que eu não ouvia algo assim. Como sempre quando surge algum cantor de folk-rock nos estados unidos eles já querem comparar com Bob Dylan e Neil Young. É claro que o cara tem uma baita influência, e é claro que ser comparado com esses dois caras deve ser foda pra alguém que está começando a ter notoriedade agora. Mas não. Ele é Langhorne Slim, e ele é um baita artista. E eu não tenho precisado de muita coisa. Estou na merda de uma semana de provas na faculdade, onde eu não sei nada e as vezes acho que nem quero saber.

Acho esse troço todo de ser jornalista um bocado chato. Eu só queria ficar escrevendo umas coisas assim. Se alguém pagasse por isso ia ser ainda mais legal, mas sei que isso é praticamente impossível. Mas não há o que temer. Está tudo tranqüilo por enquanto. Estou fazendo tudo do jeito certo e me mantendo vivo. Não tenho mais bebido como antes, mas em compensação tenho fumado um monte. É tudo a mesma coisa. Mas ta tudo bem. As pessoas reclamam tanto sobre ficar sozinhas e a coisa toda. Não vejo tanto mal. É claro que tem horas que o bicho pega. Sabe como é, quando você sente que ta tudo bem ruim. Mas felizmente estas coisas não tem acontecido há algum tempo. Estou numa boa.

Mês que vem tem disco novo do Ryan Adams. Isso é ótimo. Os discos dele sempre me fazem bem. Um novo agora seria perfeito. Até lá eu vou destoar de tanto ouvir o Langhorne Slim, e um tanto de outras coisas boas que tenho ouvido como um louco. O tipo de coisa como Alex Chilton, Ike e Tina Turner, Frank Sinatra, Old Crow Medicine Show, Woggles, Bob Seger, Velvet Underground e por aí vai. Cansei de citá-los. Desculpe se esqueci de algum de vocês.

Não sei porque ainda escrevo por aqui. Aliás, nem sei porque ainda escrevo. Tenho tido bastante inquietação pensando sobre tudo. É aquele lance todo de refletir sobre as coisas. Eu só deixo rolar, mas não tem rolado pra lugar nenhum. É como se minhas rodas fossem quadradas. Essas merdas de analogias baratas. Deve ser a falta de bebida ou coisa assim. A falta de alguma coisa qualquer. Menos falta de boa música e cigarros. Isso não pode faltar nunca. Aí é só esperar. E esperar pra sempre. Os ponteiros do relógio nunca param. A vida nunca para. Eu nunca paro. Por mais parado que tudo esteja.

domingo, setembro 21, 2008

Supersuckers - Born With a Tail

Não consigo parar de ouvir isso o dia inteiro. Além de ser uma música sensacional tem esse clipe foda. Eu realmente queria ser um desses caras.

quarta-feira, setembro 17, 2008

Cadáveres ambulantes tentando fazer disso tudo algo que valha a pena

Os dias na cidade grande eram uma merda. Eu era só um cara sozinho que não gostava das outras pessoas. Era um solitário que passava os dias escrevendo e dormindo. Mas ás vezes voltava para minha cidade. Nunca gostei muito de lá. Não escondi isso de ninguém. Me sentia estranho pra caralho entrando nos lugares e encontrando todo tipo de pessoas conhecidas. Eu gostava de ser um anônimo e gostava de ficar sozinho. Não suportava companhia em lugares como o supermercado. Mas quando eu voltava até lá e reencontrava alguns amigos as coisas ficavam boas. Os porres eram mais felizes e as drogas eram melhores. Até mesmo as ressacas pareciam mais leves. Gostava de estar com gente que me entendia. Eles sabiam e eu sabia também. Éramos todos um bando de cadáveres ambulantes andando por aí, só esperando a morte chegar e tentando fazer disso tudo algo que valesse a pena. E de certa forma valia.

Valia em cada texto, em cada linha e em cada palavra. Valia em cada abraço e em cada porre. Em cada lágrima e em cada sorriso. Em cada reclamação e em cada elogio. Valia mesmo a pena a cada garrafa esvaziada. A cada blasfêmia difamada. Éramos um bando de pecadores tentando ser pequenos deuses. Deuses de nossa própria existência, de nosso próprio caminho. Engolíamos verdades e despejávamos mentiras. Éramos eternas contradições. Gostava daquilo tudo. Ás vezes sentia vontade de mandar tudo se foder só por estar tudo bem. Não era acostumado que as coisas estivessem bem. Não sabia nunca como elas realmente estavam. Acho que só estavam. Simples assim.

Ás vezes eu só andava por aí. Olhava pra umas pessoas e pensava em como eram coitados ou como eram afortunados. Cada esquina uma nova aventura. Bêbado a emoção era redobrada. Andando por aí meio cambaleante, o medo da madrugada numa cidade grande e a curiosidade por tudo se misturavam num estopim de emoções. Aquele velho lance de se sentir um merda e um gênio ao mesmo tempo. Era como se eu tivesse duas personalidades ou coisa parecida. Ora achava que meus escritos eram dignos de um gênio, me sentia um poderoso escritor bebericando uísque caro em uma noite de autógrafos. Outrora caía na real e percebia que era só mais um como outro qualquer. Rasgava folhas com escritos e apagava palavras. Escondia anotações e jurava que desistiria deste sonho tolo. Mas nunca desistia, nunca mesmo. Era só algo diferente acontecer, uma tristeza se abater e um porre descer e lá estava eu novamente, martelando as teclas e escrevendo páginas e páginas de lamúrias infinitas. Não sabia onde tudo aquilo ia dar, e pra falar a verdade não estava muito preocupado com isso. Só pensava em me manter vivo. Dia após dia, noite após noite. Como o vento soprando na janela. Um cadáver ambulante tentando fazer disso tudo algo que valesse a pena.

terça-feira, setembro 16, 2008

Beatbrasilis #0



Depois de muito trabalho e dedicação está quase pronta a edição #0 da revista beatbrasilis. A arte e a diagramação deixaram a revista linda e os textos ficaram do caralho. Essa matéria sobre teatro descrita na capa como "Chevrolet, Bortolotto e uns lanchinhos pela praça Roosevelt" é a minha.

A revista está praticamente pronta, faltando apenas alguns detalhes pra fechar essa primeira edição. Se você é de São Paulo ou Londrina e quiser garantir a sua pela bagatela de R$ 5,00 mande um e-mail para mim. Se você é de outro lugar mande um e-mail para beat-brasilis@googlegroups.com que o responsável mais próximo de você vai te arranjar um exemplar.

Nesta primeira edição tem a minha matéria sobre a peça "Nossa vida não vale um Chevrolet" de Mário Bortolotto, uma matéria sobre o cineasta Glauber Rocha, outra sobre Jorge Ben e seu memorável disco Tábua de Esmeraldas e uma sobre o fado vadio nos confins de Lisboa, além de contos e poemas com muita influência beat. Se você gosta de literatura beat e marginal e cultura alternativa em geral provavelmente vai gostar bastante.

Noites de Cabíria



Simplesmente adorável.

sábado, setembro 13, 2008

12 de Setembro de 2008 – 01:23

Adoro ser esse cara sozinho. Sério mesmo. Não tenho mais porque reclamar da solidão. Sou um tímido nato e não gosto de falar com as outras pessoas. Não gosto de lhes mostrar meu outro lado da vida. Sou só eu e ninguém mais. Ouvindo Beatles e bebendo vinho e fumando à uma da madrugada. Não preciso deles todos. Me sinto tão bem sozinho. E quando me sinto mal sou eu quem me conforta. Sou minha melhor e pior companhia. Happines is a warm gun. Bang! Bang! Shoot, shoot. É isso aí. Gosto de mim mesmo e me odeio ao mesmo tempo, mas sou eu, eu, eu e EU. Não da pra definir isso tudo. Tomando um porre comigo mesmo e ouvindo ao álbum branco dos Beatles. Porra, é simplesmente sensacional. Preciso da minha solidão como nunca precisei de nada antes. É a melhor droga. A melhor. Saiam de perto de mim cretinos. Vocês não gostam de mim e eu não gosto de vocês. Sou Holden Caulfield e não quero ver vocês nunca mais. Sou um bocado chato e estou bem assim, no duro. Não sei mais o que a vida pode me oferecer, mas se puder ficar como está por mais tempo está tudo bem pra mim. Ié, sou eu sem camisa e com minha calça jeans justa e meus tênis brancos sujos pra caralho. Um escritor de merda bêbado que se adora e se odeia. E foda-se quem não gostar disso tudo. Sou um bocado egoísta. Avenida Paulista vazia, mas nunca para, nunca para, nunca para.O desanimo se abate. Chatíssimo. Odeio saber que amanhã é outro dia. Odeio saber que vou dormir e acordar e vai ser tudo como sempre. Odeio o sempre e odeio a vida. Sou um garoto e quero ser isso pro resto da vida. Quero ser um garoto sozinho e bêbado pro resto da eternidade. Trocaria a vida por um show dos Ramones. Sem sombra de dúvidas. Essa vidica que não vale nada. Um show dos Ramones seria a glória. O céu e o inferno. Seria a vida e a morte. Mnha vida e minha morte.
Odeio quando a vida vem cobrar a conta. Odeio ressacas e odeio dias de pagar as contas. Trocaria tudo isso por ter o talento de John Fante. Trocaria toda a minha vida e a passada e a próxima para ser John Fante. Hoje tinha um compromisso pra ir, mas não sei se ficaria bem por lá. É uma festa e tudo mais, não conheceria ninguém e ficaria sozinho e depressivo,como SEMPRE. Mas estou sozinho em casa e isso é bom. É ótimo e muito muito bom. Não tão bom assim, preciso admitir. Mas estou bebendo e está tudo bem até agora. Fico feliz enquanto estiver vivo. Sem cometer loucuras a vida pode ser bem tranqüila. Você só tem que manter a cabeça no lugar. É só o que deve ser feito. Faça tudo o que quiser, mas mantenha a cabeça no lugar. É por isso que os caras estão aí pra nos ajudar. Caras tipo Bob Dylan e Dee Dee Ramone. Esse lance todo de terminar um texto é uma babaquice. Beberico minha garrafa de vinho e dou uns tragos no cigarro. Tenho um pacote de balas também e ás vezes como umas. Não gosto de doces, mas são balas de infância. Gosto delas. Despejo toda minha vida nessa folha branca. Não escrevo bem mas não me importo. O mundo está cheio de merdas, sou só mais um deles. É só isso. Nada de dramas ou bla bla blas. Beba e viva e faça o que quiser. Essa é a vida. Uma chatice, mas é a vida. Quem disse que tem que ser tudo legal? Ta tudo legal do jeito que ta. Larga de drama e de reclamações. Da pra ser feliz pra caralho com uma garrafa de vinho, um maço de cigarro e umas balas. Da pra ser muito feliz com isso tudo. Da pra viver. Da pra levar. A vida é isso afinal. No final é só você. Essa coisa toda de você e mais você me assusta. Tenho medo de ficar sozinho, mas gosto disso. É um lance bem esquisito e louco. Só você, falando contigo mesmo. Um solitário. Engraçado esse lance todo. De pessoas que se acham escritores e poetas e a merda toda. Só vocês muito doidos vivendo a vida desse jeito. É assim que tudo acaba. Mas nunca acaba de verdade.

terça-feira, setembro 09, 2008

A vocês, meus ídolos.

Ah meus caros, vocês todos, que me fazem não desistir. Vocês que me apoiam, que me suportam, que me fazem me sentir alguém com vocês. Oh, como eu amo vocês. Seria impossível descrever aqui. Basta dizer o fato de que estou de pé ás 6:45 da manhã depois de dormir menos de duas horas só pra ir ao exército e mesmo assim ainda acreditar um pouquinho na vida. Acreditar na vida estando sozinho nessa cidade enorme. Acreditar na vida só tendo vocês companheiros. Oh, meus discos e livros e tudo mais. A arte é o que ainda me faz seguir em frente. É você Ryan Adams, e você John Fante, e você Johnny Thunders, e você Bukowski, e todos vocês. Oh, Arturo Bandini, quanto não devo á você? E a você, Holden Caulfield? E você também, Henry Chinaski. Oh, vocês todos, vocês sim, só a vocês e nada mais. Acredito em todas as linhas, em todos os refrões, em todos os discos e em todos os livros! Acredito em vocês como nunca acreditei em nada antes! Estou perdido em meu bunker hill e correndo a toa em meu campo de centeio, onde não há ninguém pra me apanhar! Estou bebendo em todos os bares e flertando com todas as mulheres, mas nenhuma quer saber de mim, mas eu não ligo, oh não, pois sei que vocês também passaram por isso e estão ali, eternizados, como a coisa mais bela e sublime que pode existir. Vou continuar tentando, meus caros amigos. Sei que vocês, aí de onde estão vão olhar por mim. Creio em vocês e sei que vou me sair bem dessa. Sei que um dia vou poder me lixar pra tudo isso e ver meu nome numa estante. Minha vida impressa em cada linha e cada página e autógrafos nas antecapas, e vou ter certeza que foi tudo graças a vocês. Descansem em paz, meus ídolos.

ps: vale constar que felizmente Ryan Adams ainda está vivo.

domingo, setembro 07, 2008

O pior bar da região

Era um domingo como outro qualquer. Eu estava com uma ressaca daquelas. Rolava pra um lado e pro outro da cama e andava pelo quarto sentindo vertigens estranhas. A ressaca estava suportável. Esquentei uma lasanha de microondas e fiz suco de maracujá congelado no liquidificador. Comi assistindo a um jogo de futebol. Continuei andando por ali. Não tinha muito o que fazer nesse dia. Pensei em ir até uma feira de antiguidades a algumas quadras de casa. Não tive animo pra isso. Continuei deitado olhando pra televisão. Desliguei e fiquei lá sentado. Malditas ressacas dominiciais. Sempre me consumindo como nunca. Domingo era simplesmente o dia mais livre e mais perdido que existia. Nada dessa porra de descansar. Meu único propósito nessa merda de dia era me curar da ressaca. Meu único objetivo na maioria dos dias era continuar vivo e não fazer nenhuma besteira. Até então estava tudo certo. O maldito trânsito nas ruas. Não me importava nem um pouco. Não andava de carro quase nunca. Meu meio de transporte eram minhas próprias pernas, e pra minha felicidade eu morava muito próximo de tudo o que eu precisava fazer. Não preciso fazer nada além de esperar os dias passarem. Só lendo livros e ouvindo rock and roll. Tomando umas cervejas, fumando uns cigarros e dormindo. Só ficar deitado por ali vendo umas porcarias na televisão. Fumando uns cigarros na janela e bebendo nuns botecos sujos. O preferido e mais barato é o bar do China. Um bar pra lá de sujo e mal frequentado que tem como dono um chinês de poucas palavras.
O domingo ainda continua sendo uma merda. Não conseguia beber nem fumar na ressaca. Parecia tudo mais difícil. Comer, dormir, andar e viver. Até escovar os dentes se tornava uma tortura. Decidi andar por aí. Chamei o elevador e fiquei lá esperando. Alguém estava segurando no andar de cima e demorava pra descer. Um tempo depois chegou. A porta se abriu e eu entrei. Um homem balbuciou algo que parecia uma saudação pra mim. Grunhi de volta. Olhei mais atentamente e só então me dei conta de quem era. O próprio chinês dono do bar. Parecia diferente sem o avental com o nome do boteco bordado no peito. "Nove dragões" e a figura de um dragão meia-boca. Era o símbolo e o nome do bar, popularmente conhecido só como China. Continuava sendo um cara de poucas palavras. Imaginei se ele morava ali também ou se só estava visitando alguém. Alguns chineses estranhos moravam naquele prédio e falavam sua língua no elevador, só respondendo um oi ou tchau num português cheio de sotaque oriental. A maioria deveria vender muamba nas dezenas de pequenos shoppings de mercadorias ilegais que ficavam ali por perto. O elevador chegou ao térreo. O China ainda ia descer até o subsolo. Saí do elevador sem falar nada. Ele também não disse. Não era um cara amistoso e nem queria fazer amizade com clientes. As poucas palavras que troquei com ele nos quase 6 meses em que frequento o bar semanalmente foram "traz mais uma china" e "quanto ficou?". Exceto uma vez em que também com poucas palavras negociei dois salgados pelo preço de um enquanto ele fechava o bar no final de uma madrugada qualquer as palavras trocadas eram sempre as mesmas. Nem mesmo um obrigado e um volte sempre o chinês falava. Achei aquilo legal. Ele vendia a cerveja mais barata da região e não precisava ser simpático com ninguém. Seu bar continuaria sendo mal-frequentado e todos que não se importam com o chão sujo e as pessoas esquisitas e feia continuariam indo lá. Era sem dúvidas o pior bar da região e em algum tempo eu teria centenas acumulado centenas de porres tomados ali. Era um bom bar.
Eu odeio a faculdade. Acho um saco ter que ir lá aguentar aqueles manés e ouvir um monte de professor enchendo seu ouvido de bosta. Acho que esses jornalistas são um bando de chatos. Acho que universitários em geral são a pior espécie que já existiu. Acho que a juventude está corrompida de uma forma jamais vista. Odeio papos intelectuais. Odeio discutir política e outras coisas desse tipo. Não suporto ter que ouvir comentários sobre o último final de semana e sobre namoradas e merdas do tipo. Peço todos os dias para que o tempo passe rápido, e felizmente ele tem passado. Mais rápido do que eu podia imaginar. Minha vida passando na minha frente. Não dou a mínima. Achava que mudar de cidade ia mudar as coisas. Não muda. Nada muda o fato de você ser você, e isso não é necessariamente ruim. Só é cansativo. Cansativo demais. É cansativo ser a mesma pessoa por tanto tempo. É uma merda ser um anti-social, mas é muito bom ser poupado de aguentar papos chatos e outras coisas desse tipo. Só acredito nos livros e nas músicas. Só acredito em palavras e guitarras. Acredito num monte de poucas coisas. Acredito em pessoas que nunca vão saber que existo. Elas me entendem como ninguém que acha que me conhece jamais vai entender. Acredito na arte e na expressão como uma fuga da merda toda. Acredito em porres homéricos mas repudio as malditas ressacas dominicais. E todas as outras ressacas dos outros dias também. Não acredito no dia e na noite. Acredito no tempo como uma unidade de merda que não para nunca. Acredito na vida como um trem que nunca para. Uma locomotiva do destino, passando por altas e baixas colinas. Por lugares claros e escuros. Dividida em vagões de diferentes tipos de pessoas. Estou numa merda de vagão. Acredito que a primeira classe não deva ser muito diferente. Estamos todos no mesmo trem, indo pro mesmo destino. Vagabundos iluminados pegando carona em vagões abandonados. Bebendo e escrevendo e falando sobre a vida. Rolando pelos trilhos em direção ao fim da linha. Espero que seja num lugar bonito.
Minha rádio no last.fm é simplesmente sensacional.

http://www.lastfm.com.br/listen/user/bielstooge/personal

sábado, agosto 30, 2008

Um puta frio lá fora. As roupas úmidas no varal. Cigarros acabando. Bitucas atiraas pela janela. Ouvindo Ramones e fumando na janela do apartamento. Avenida Paulista lotada de gente. Me sinto como John Lennon no edifício Dakota. Escrevendo em meu caderno velho da faculdade. No meio de matérias inuteis do curso de jornalismo. Uma caneta horrível com forte cheiro de tinta. As palavras parecendo rabicos na folha de papel. Minha letra horrível de garranchos indecifraveis. Uma merda de tarde de sábado sozinho em casa. Como em centenas de outros dias. Uma merda de escritor. Um medíocre jornalista. Foda-se. Nunca quis mesmo ser um alguém assim. Nunca soube o que queria ser. Será que alguém já se sentiu assim antes? Como se nada nunca acontecesse. Preso em meu próprio tempo. Preso em meu próprio corpo. Preso a uma alma de merda. Como galhos secos de uma árvore morta. Só eu e minha vida. E nada além disso.

domingo, agosto 24, 2008

Preto no Branco


Por Allan Sieber. Clique na charge para aumentá-la.

Qualquer semelhança é mera coincidência.

Meus poucos amigos e tudo aquilo que eu não queria ser

Tenho poucos amigos. Sempre fui um cara assim, de muitos conhecidos e poucos amigos. A maioria de meus amigos tem uma vida diferente agora. Estão namorando, estão casando, estudando ou fazendo qualquer porra assim. Me mudei de cidade e não conheço quase ninguém. Não consigo manter uma verdadeira amizade com os colegas que tenho por aqui, apesar de manter uma relação cordial. Não consigo ver quem sou eu. Tenho insights esquisitos e visões alucinadas. Tenho tido ressacas horríveis e perdido dias como se fossem folhas amassadas jogadas no lixo. Quero correr pra algum lugar bem longe daqui. Quero correr pra longe de mim e ficar sozinho para sempre num rancho com uísque e música country.
Sou tudo aquilo que não queria ser. Sou muito diferente do que imaginei que seria com esta idade. Acreditei que seria alguém legal. Acreditei que tudo mudaria na minha vida. Não sei mais no que acreditar. Tudo aquilo que eu não queria ser e um pouco mais. Louça suja na cozinha. Acordo bêbado. Não sei que horas são. Consulto o relógio. Tarde da noite. Não tenho pra onde ir. É a porra de um sábado à noite. Estou de ressaca e acho que ainda estou bêbado. Não sei o que anda acontecendo. Talvez eu deva parar de beber. Deva correr pra longe daqui. Dar um fim nessas garrafas vazias e nunca mais botar uma gota de álcool na boca. Ainda vou continuar fumando. Não posso me privar disso. Não há como me privar disso. É simplesmente a verdade. A pura e crua verdade. Sangrando por entre essas ruas de merda. Derramando seu deleite por tudo isso. Expurgando as mentiras do paraíso. A verdade e nada mais do que foi dito.Correndo pela cidade. Me assombrando em cada bar de esquina. Me puxando para sua cova. Me levando para algum lugar que eu não quero ir. As janelas do prédio vizinho e as luzes acesas. As pessoas andando na Avenida Paulista e os casacos bem lavados. Os carros zunindo apressados e freando decepcionados. Milhares de garotas que passam por mim como se eu fosse invisível. A pobre e horrível indiferença. Essas demonias de saia me assombrando com seus tridentes. Me ignorando com seu fogo ardente. Sempre acompanhadas. Sempre indo pra algum lugar. Sempre querendo fazer alguma coisa. Objetivos de vida e toda essa merda. Minhas conversas de bar se resumindo a entediantes monólogos. Meus argumentos se dissolvendo como sal em água. Meu sangue correndo nas veias. Bebida descendo pela garganta. Bitucas de cigarro arremessadas na sarjeta. Meus poucos amigos e tudo aquilo que eu não queria ser.

Dias esquisitos e noites confusas

20 de agosto de 2008 – 02:32

Que dias esquisitos
Que noites confusas
Andando pelas ruas
Cigarro na boca

As ruas escuras
Anônimos na madrugada
Garrafas vazias
latas amassadas

Bitucas de cigarro
sarjetas maltratadas
Avenidas iluminadas
noites abafadas

blues ecoando pelo quarto
bagunçado e mal iluminado
um garoto perturbado
escrevendo poemas

O que será, será



22 de Agosto de 2008 – 02:50

Se me perguntassem o que estou fazendo na vida, ou o que eu estou fazendo aqui embaixo, acho que eu diria que estou pagando por todos meus pecados. Os desta vida e os da passada, se ela existir. Não que eu seja um grande sofredor. Acredito que todos estão fazendo isso. Todos. E não vejo exceção. Não acho que exista uma felicidade realmente verdadeira. Algo duradouro de verdade. Não acredito nisso. Não acredito em nada disso. Acho que todos estamos pagando nossos pecados da melhor e da pior forma. Essa ambigüidade é muito esquisita mas faz todo sentido. Nunca conheci ninguém que se sentisse realmente feliz por muito tempo. Sabe como é. Simplesmente não dura. Não acho que todos vão se suicidar. Não acho que todos vão morrer tristes. Não acredito que todas as partidas sejam ruins. Não acredito que todas as vidas sejam uma merda. Mas também não acho que a maioria delas é boa. Estamos só contemplando nossos sonhos e lutando dia após dia. E acho isso desde o mais rico até o mais pobre. Estamos todos no mesmo barco. Todos debaixo do mesmo guarda-chuva nesta tempestade. E nos tempos de calmaria é tudo a mesma coisa. Num canto qualquer da cidade, do país ou do mundo deve ter alguém pensando nisso agora mesmo. E mais um montão de gente pensando e fazendo outras coisas, especialmente dormindo no caso desta cidade e deste país. Mas eu não estou. Eu estou fumando e ouvindo música e escrevendo. E cheguei à conclusão que por piores que sejam minhas madrugadas solitárias são delas que eu mais preciso. Preciso delas como nunca precisei de nada antes. É meu momento. É meu dia. É minha vida. É tudo que eu não posso abrir mão. É simplesmente quando eu paro pra pensar em tudo isso. Na grande maioria das vezes é melancólica, mas em grande parte também é muito boa. Não que eu tenha grande prazer como teria fazendo outra coisa. Mas é duradouro. E é real. E eu acredito nisso. Acredito que estou fazendo as coisas certas aos poucos. Não conseguiria fazer tudo certo de uma vez. Acho que ninguém conseguiria. Quero ficar escrevendo como se o mundo fosse acabar amanhã. Quero dizer tudo que penso para minhas folhas em branco. Quero me ver impresso em cada palavra e em cada linha. Quero que cada página seja eu, eu e EU. Não sou egocêntrico, pode ter certeza disso. Só acredito que é meu momento e minha vida. Só acredito que minhas madrugadas são tudo aquilo no que eu mais posso e devo acredito. Só acredito que a música me faz pensar na vida. Só acredito que cigarros na janela me levam a pensar em todas as coisas de um modo especial. Só acredito que aqueles quatro ou cinco minutos que a brasa queima a nicotina são alguns dos mais importantes da minha vida. Eu poderia estar trepando, poderia estar bebendo, poderia estar fazendo qualquer outra coisa, e provavelmente estaria adorando, mas acho que nada se compara a estes momentos. Não no sentido de prazer. Não no sentindo de felicidade. Nada disso. Não é um momento feliz. Não é um momento triste. É só o meu momento. Meu único momento. Pra todo o sempre.
É como aquele lugar pra onde você vai quando está triste. É praquele canto que você vai quando quer ficar sozinho. É simplesmente minha solidão. Minha filosofia. Minha droga. Ou qualquer outra coisa assim. Eu não sei como definir. Não sei se estou fazendo da maneira certa. Acho que nem com mil páginas eu conseguiria descrever o que é tudo aquilo. O que é puxar a fumaça e soltar olhando pro céu e pra vizinhança. Um turbilhão de pensamentos se formando. E textos sendo escritos na minha cabeça e quase nunca transpostos no papel da maneira correta como são imaginados. É como se eu fosse o maior escritor de todos os tempos. Como se eu fosse um rockstar de verdade. É a vida em sua mais pura essência. São as paredes do quarto ecoando sons da madrugada. São meus livros na estante. São meus discos empilhados. Meu quarto desarrumado. Meu pôster do Elvis. Meu disco do Ryan Adams. Meu verso do Bob Dylan. É tudo isso e mais um pouco. É tudo aquilo que eu não sei escrever. É tudo aquilo que eu preciso escrever. São todas as garotas que eu preciso fuder. São as mulheres da minha vida que eu nunca vou ter. São as ressacas que eu ainda vou ter. É TUDO ISSO.
Creio em Deus pai todo poderoso. Lembro de repetir isto na igreja. Lembro das missas e da minha primeira e única confissão. Fiquei com vergonha de dizer para o padre que eu tinha feito mais um montão de coisas ruins. E eu desertei minha religião, a religião de meus pais, e nunca mais me confessei. Uma única e incompleta vez. E esse mesmo padre que ouviu parte dos meus pecados e me absolveu com duas ave-marias e um pai-nosso morreu atropelado em frente à mesma igreja próxima a casa da minha mãe alguns anos depois da minha primeira confissão e alguns anos atrás de hoje. Não sei porque estou falando tudo isso. Não faz o mínimo sentido. Acho que nada faz. Estou perdido em meus próprios pensamentos. Estou agarrado aos tentáculos da vida. Estou tentando pular de um trem em movimento. Estou dirigindo por uma estrada deserta. Estou sonhando com coisas que aconteceram e com coisas que nunca vão acontecer. Estou sentindo cada pedaço da minha pele. Estou sonhando com as coisas mais improváveis e abalando meu senso de realidade. Estou entorpecido por uma inesgotável vontade de escrever. E estou fazendo isso. E se algum dia alguém ler isso vai me achar um grande tolo e vai ter dó de mim. Não precisa ter. Nem eu mesmo tenho. Quando me olho no espelho ainda consigo ver alguma esperança, mesmo que mínima. Ainda vão me descobrir. Ainda vou me descobrir. Ainda vou me casar. E vou trepar um montão. E vou ter uma filha. Ou talvez eu seja atropelado e nada disso aconteça. Mas eu ainda acredito num montão de coisas. Pode parecer tolo, e talvez o seja, mas eu ainda acho que serei alguém. Não quero terminar como um fracassado. Não posso terminar como um perdedor. Venho repetindo estes mantras negativos há muito tempo. É hora de mudar. Não sou um merda dum fracassado. Sou Rick Nicoletti, o maior escritor que esta cidade já viu! Sou aquele que vai trazer a boa literatura para os jovens. Aquele que vai viver em uma casa legal num bairro tranqüilo da cidade e vai ter uma mulher jovem e bonita e cerveja na geladeira. Aquele que ainda vai mudar alguma coisa. Inovar alguma outra. Ser lembrado por alguém por muito tempo depois da minha morte. Ou por um monte de gente. Aquele com os livros na estante. Aqueles com as fotos nas enciclopédias. Aquele com o nome no hall da fama de algum lugar. Aquele que não sabe ainda quem é. Aquele que é só ele mesmo. E que vai ser assim pra sempre. E o que será, será.

quarta-feira, agosto 20, 2008

Ryan Adams - Two Hearts

Two hearts, one of them will break
Like bad ideas on a beautiful day
Two figures moving through the dark
Three words, is all it takes to break your heart in two.

terça-feira, agosto 19, 2008

Foggy is back!

Foggy is back and now I have something to do on web. That's so great! Thank you Foggy!



http://foggy.ryan-adams.com/

domingo, agosto 17, 2008

What I'm listening to



Pra mim esse é disparado o melhor disco do gênio Lou Reed e um dos melhores da história. Produzido por David Bowie e clássico do Glam Rock Transformer é recheado de músicas sensacionais e é de cortar o coração. O poeta das ruas em sua melhor forma, misturando rock, sexualidade, poesia e vida, muita VIDA.




Disco muito foda da antiga banda do Marky Ramone. Os caras fazem punk rock puro e direto e já tocaram no Brasil várias vezes. Inclusive na música 3 cheers for you citam o Brasil, Argentina e Chile como os melhores do mundo e falam muito bem do pessoal sulamericano, que segundo Dee Dee Ramone em seu livro Coração Envenenado é um continente absolutamente fanático por Ramones. E cá pra nós, todos sabemos que é verdade. O disco é sensacional e tem até cover dos Ramones com Anxiety. Mas o que vale mesmo são as músicas próprias dos caras, que são sensacionais. Uma vez achei esse disco no sebo por 12 reais e acabei não comprando. Não preciso nem dizer que me arrependo até hoje.

The News

Sexta de manhã quando cheguei em Londrina recebi a ligação de uma mulher do Jornal do Trem, publicação de Osasco que circula entre os trens da CPTM paulista e para onde eu havia enviado meu currículo para a vaga de estágio publicada no edital da faculdade. Ela estava me convidando para fazer uma entrevista na segunda de manhã. Os principais problemas são que eu não conheço nada de Osasco, não sei onde fica o endereço que ela me passou e não tinha roupa social para a entrevista. Esse último problema era mais fácil de resolver, por isso fui até o shopping do centro da cidade e comprei calça social, camisa, sapato e até cinto pra ficar bem vestido para a tentativa de conseguir o emprego. Saindo de lá entrei nas lojas americanas pra comprar um pacote de meias e fuçando num daqueles baldões de dvds achei algumas pérolas pelo preço de R$ 12,99. Mesmo com pouco dinheiro comprei seis e negativei ainda mais minha conta bancária. Não dava pra deixar passar....



A liberdade é azul e A igualdade é branca, os dois primeiros filmes da trilogia das cores do gênio Kieslowski. Sem dúvidas dois dos melhores filmes que eu já vi, graças a indicação do meu amigo Hermano. Ainda garimpei como um louco pra tentar achar o terceiro (A fraternidade é vermelha) mas não conseguui encontrar.


Documentários não autorizados sobre dois dos meus maiores ídolos. Bruce Springsteen (The Boss) e David Bowie (sempre sonhei em ser como Ziggy Stardust).


Clássico da sessão da tarde e um dos filmes mais legais da história. The Wonders tem hits fantásticos (como a famosa That thing you do!) e uma história sensacional de uma fictícia banda de rock and roll dos anos 60. Impulsionados pela invasão britânica, os Wonders retraram as centenas de bandas que surgiram daquela época com um hit e depois cairam no ostracismo. Daí o nome do filme e da banda fictícia, inspirado em One-Hit-Wonders, como essas bandas eram classificadas.


Só a primeira cena onde ele diz que o bandido é "um cocô" e "você é a doença, e eu sou a cura" já vale o filme inteiro. Clássico da matança trash e um épico na carreira de Stallone. Apesar de ter um roteiro podreira o filme vale muito a pena pelo personagem Cobra, um rambo da selva de pedra que usa ray-ban, mata geral, tem sempre um comentário afiado e odeia comidas que fazem mal.

segunda-feira, agosto 11, 2008

Sabe como é

Avenida Paulista. Domingo. Vazio. Sóbrio. Cigarros. Rock. Folk. Folk Rock. Livros. Revistas. Filmes. Teclas sendo batidas com força descomunal. Imagino uma máquina de escrever. Imagino centenas de exemplares de meu livro autografados. Imagino fãs me dizendo como sou brilhante. Imagino garotas me dando bola. Imagino suas calcinhas bonitas e cheirosas. Imagino fodas fenomenais em lençóis de sedas e colchões macios em camas largas. Imagino garrafas de vinho das melhores safras se empilhando no canto de uma cozinha bonita com uma geladeira lotada de cerveja da melhor qualidade. Quadros de meus ídolos nas paredes da sala. Elvis Presley me olha de soslaio. “Eaí meu caro Aaron, o que houve com você?” É assim que trato meu íntimo amigo Elvis. Por seu nome do meio, como grandes amigos costumam inventar apelidos e variações do nome para chamar uns aos outros. Ele não me responde. É claro que não responderia. É só um quadro na parede. E o que é pior, um quadro imaginário do meu sonho de boa vida. Mas não me importo, o delírio é meu e faço o que quiser. Infelizmente Elvis ainda não responde. Deixo ele de canto e bebericando goles do meu vinho super fodão safra 1900 e Brigitte Bardot caminho até o próximo quadro. Charles Bukowski entorna uma garrafa em sua fotografia. “Até que somos semelhantes, meu velho Buk. A diferença é que você com essa cara feia e cheia de marcas de espinhas viu mais bucetas do que eu vou ver na minha vida inteira. O que você me diz disso, seu sacana?” Ele também não responde. É mesmo um porra dum sacana. Um fabuloso e genial sacana. Não me importo com ele. No outro quadro está John Lennon em sua fase peace in bed. Não quero conversar com ele agora, não nessa fase. Ele vai querer me falar sobre os problemas sociais do mundo moderno e não estou com saco pra isso agora. Definitivamente não. De volta ao mundo real. Estou em frente a televisão ligada no mute transmitindo um jogo de vôlei feminino das olimpíadas. Nunca gostei de vôlei. Puta esporte chato do caralho. Mas tem umas garotas atraentes no time do Brasil. E esse uniforme, vamos combinar que é um tezão em qualquer mulher. Até eu, um assumido sedentário (que agora começa a voltar a jogar peladas e maltratar a bola) gosta de garotas esportivas vestidas desse jeito. Calças leg também são outro atrativo interessante. Mas voltando ao assunto. Elvis Presley deixava a TV ligada no mudo enquanto tocava baixo. John Lennon fazia o mesmo tocando guitarra. Eu faço o mesmo escrevendo. Cada qual com sua ocupação. Sabe como é.

Uma constante em minha vida inconstante

Então é isso. É a merda disso. Disso tudo. Estou deitado em minha cama. É uma noite frio. Me cubro com um edredom e um cobertor pesado. A TV está ligada no mudo transmitindo uma luta de judô das olimpíadas e estou ouvindo Jeff Buckley. Ainda não conheço direito o clássico Grace do rapaz em questão, estou ouvindo aos poucos e gostando de umas coisas e desgostando de outras. Sem opiniões formadas. A única consideração que posso fazer até agora é que Last Goodbye é realmente uma bela canção como eu não ouvia há muito tempo. Tem uma estrofe perto do final que é de cortar o coração. O cover de Hallelujah do Leonard Cohen também é sensacional. Cantando do fundo da alma. Gostei disso.
É uma merda de madrugada de domingo. Já fumei alguns cigarros por hoje. Não tenho merda nenhuma a fazer. Comprei a Rolling Stone Brasil e novamente achei uma porcaria. Não sei porque continuo persistindo no erro e gastando dinheiro com isso. Deve ser porque a banca que eu sou freguês tem uma promoção interessante onde você pode adquirir uma revista e depois trocar por outra do mesmo valor. Geralmente compro a Rolling Stone e troco pela Piauí, que acaba ficando definitivamente comigo e que é a única revista de banca no Brasil que vale a pena o dinheiro gasto. Quando cheguei lá hoje á noite pra comprar a Rolling Stone a magra e esquisita mulher que atende e que já me conhece de revistas passadas comentou “Você sempre escolhe essas né”. É. Sempre mesmo. Vou escolher outra revista pra comprar primeiro e aproveitar melhor a promoção. Pelo menos não tenho me decepcionado com os livros. Quase nunca me decepciono com os que escolho pra ler. Acho que tenho um bom olho clínico pra saber quais prestam e não. E devo relatar que os conselhos de amigos também ajudam nesse quesito. E claro, meus próprios conselhos tirados eu sei lá de onde. Estou lendo o clássico Lolita do Vladmir Nabokov agora. O mais curioso disso é que é para um trabalho de português da faculdade de Jornalismo que curso. A professora pediu para que escolhêssemos entre algumas opções de livros e filmes que os inspiraram para fazer um trabalho relacionado com resenhas ou algo desse tipo. Escolhi Lolita porque dentre os previstos era o único que já tinha visto. E além de tudo isso sou fã do Kubrick e achei que o livro também devia ser bom. Até agora tudo certo. Acho que acertei na escolha. Gostaria de reler um montão de coisas. Dia desses um colega veio tomar umas cervejas comigo aqui em casa e estava mostrando alguns de meus livros pra ele. Tive vontade de reler quase todos eles, principalmente o do Lester Bangs. Tenho vontade de rever um monte de filmes também. Hoje assisti o Lifestyle of The Ramones pela enésima vez. É um bocado legal, mas curto. Não faz mal. Domingos são sempre uma merda, ou quase sempre. Mas não crítico tanto você, caro domingo. Sei muito bem que as segundas são bem piores. A velha rotina de volta. Ta certo que minha rotina não é das piores. Tenho uma vida tranqüila, tranqüila até demais pra falar a verdade. Tranqüila de um tanto que acaba irritando. Mas definitivamente as segundas são piores do que os domingos. Que se foda! Não vou ficar discutindo quais cretinos dias da semana são piores ou melhores. Por mim todos eles se fodiam e adotávamos um calendário do não-fazer-nada. É bem simples. Ninguém fazia nada além de ouvir e fazer música, ler e escrever e trepar. Pode adicionar beber aí na lista. Ficaria completo. Pensando bem, meus dias não são diferentes disso aí, com exceção do trepar e adição do “dormir muito”. Estou sempre divagando sobre coisas inúteis. É uma constante em minha vida inconstante.

quarta-feira, agosto 06, 2008

It’s Alright Ma (I’m only bleeding)

Andando pela Paulista. Descendo a Brigadeiro. Cruzando a consolação. Caminhando pela Joaquim Eugênio de Lima. Tomando café e fumando cigarros na cafeteria da Santos com a Campinas. Ando por aí com pensamentos vagos em coisas superficiais. Bebo cerveja atrás de cerveja e completo com vinho vagabundo de garrafa de plástico. O apartamento está quase sempre vazio. Eu estou quase sempre vazio. As ruas ainda são frias. Caminho por aí com aquele meu jeito estranho de andar e as mãos nos bolsos ou um cigarro aceso pairando entre o canto da boca e os dedos indicador e médio da mão direita. Continuo com o sono deturpado em horários cada vez mais confusos. Tento me esforçar para manter o quarto limpo e as janelas abertas mas ele continua com coisas espalhadas e cheiro de cigarro e de noites mal- dormidas. Subo e desço pelos elevadores me encarando nos espelhos. “Você não é nada mau. Nada mau.” Digo pra mim mesmo, mesmo sabendo que é só mais uma mentira mal-contada As garotas estão por aí, saindo com seus babacas. Os babacas estão por ai, saindo com minhas garotas. Minhas antigas paixões estão perdidas pelo mundo, provavelmente entregues aos beijos e abraços de figurões esguios e bem apessoados com intelecto de babuínos urrando e pulando de árvores. Carros e mais carros entopem as ruas da cidade. A avenida Paulista continua em obras. Reformam o asfalto e fazem certo barulho de madrugada. Devem incomodar alguns adormecidos, mas definitivamente não interferem em nada na minha vida. Fiquei de ligar pra minha mãe. Tento usar o orelhão mas é em vão. O telefonema tem algum tipo de problema e não consigo completar a ligação. Tento outra hora. Só ligando pra dizer que está tudo bem. It’s alright ma, I’m only bleeding.