sexta-feira, setembro 28, 2012


aos 16 queria ser Kerouac
aos 17 pensou que era Bukowski
com 18 tentou ser Fante
nos 19 se encantou com Leminski
aos 20 achou que era Dostoiévski
com 21 se apaixonou por Rimbaud
nos 22 só pensava em ser Oscar Wilde
aos 23 desistiu
com 24 fugiu
aos 25 morreu
e os poemas dele
ninguém nunca leu.

Meia dúzia de sambas na orla carioca


Meus problemas eram existenciais. Isso mesmo, existenciais. Eu tinha tentado evitar ser um desses patetas que ficam pensando sobre a própria vida durante muito tempo, mas tinha sido em vão. Agora eu era um pateta, e um pateta tarimbado. Eu pensava que eu podia ter dado certo em alguma. “Oh, Deus, eu deveria ter sido um advogado”, falava pra mim mesmo. É óbvio que era pura bobagem. Eu detestava advogados e toda e qualquer burocracia. Eu só não queria ter me metido nesse erro crasso de ter virado jornalista e de ter sonhado em ser escritor um dia. “Seria bem melhor se eu tivesse sido um escritor, mesmo um de merda”, era o que eu pensava. Mas talvez não tivesse sido melhor coisíssima nenhuma. Afinal de contas, eu ainda era um escritor. Eu escrevia matérias, entrevistava pessoas e aguentava todo o tipo de chateação naquela redação. A revisora, uma mulher na meia idade amargurada com a vida, sentava atrás de mim e passava o tempo todo reclamando. “Vocês estão falando muito alto, silêncio que eu quero trabalhar!”, era o que a velha berrava. Sua voz, típica de mulheres de meia idade que passaram trinta anos de sua vida fumando, era tão irritante quanto seus trejeitos. E eu ficava ali, tentando fazer algumas piadas e fazer qualquer tipo de bobagem. Colocava meus fones de ouvido e selecionava um disco qualquer. Aí me ligava na música e ficava pensando aonde diabos eu tinha me metido. Mas eu sabia aonde eu tinha me metido, eu sabia muito bem aonde eu tinha me metido. Eu tinha seguido a cartilha, andando na linha, aceitado as “oportunidades” (Deus, como eu odeio essa palavra), e tinha acabado ali. De nada adiantou ter sido um adolescente idiota, fã de livros do Jack Kerouac e discos dos Stones. De nada adiantou ter passado tanto tempo bebendo, tanto tempo me apaixonando e levando fora de garotas na esperança de que aquilo me renderia um belíssimo e original poema, de nada adiantou ter fugido da escola, ter arrumado brigas, ter usado drogas. Eu tinha tentado subverter o sistema, mas ali estava eu, fodido pelo sistema. Eu estava sendo fodido pelo sistema e não dava nenhum sinal de reação. A velha continuava a reclamar atrás de mim. Seus gritos em tom lamentoso e chateador se misturavam aos gritos do Tim Maia nos meus fones de ouvido. Pai do céu, o que eu fiz pra merecer isso? Eu andava pensando em ir pro Rio de Janeiro. Por que diabos eu iria pro Rio de Janeiro? Eu não sei mesmo. Só pensei que seria divertido ficar por lá, andando pela orla e vendo todos aqueles turistas e banhistas bobos, molhando o pé na água do mar e bebendo nos bares. Quem sabe eu não compunha uma meia dúzia de sambas de dor-de-cotovelo e dava pra algum músico mais talentoso ganhar? Isso poderia ser legal, pensei, é, poderia ser muito legal. Mas não era. Não ali, na frente daquele computador antiquado, digitando meia dúzia de matérias sobre qualquer bobagem que estivesse acontecendo no mundo. Eu não dava a mínima pro que tava acontecendo no mundo, eu só queria andar por umas ruas desconhecidas, ver umas garotas de biquíni e beber umas cervejas. Era exatamente isso que eu queria. Mas eu estava muito longe, eu estava absurdamente longe de qualquer coisa que eu tinha desejado. Eu andava xavecando uma garota pra ir ao cinema comigo. Ela desmarcou três vezes consecutivas. Desisti e fui sozinho. “O filme é mó bom, ainda bem que ela não veio”, fiquei pensando comigo mesmo. Mas eu sabia que aquilo não era verdade. Eu sabia que nada daquilo era verdade. 

“You can't go back home to your family, back home to your childhood, back home to romantic love, back home to a young man's dreams of glory and of fame, back home to exile, to escape to Europe and some foreign land, back home to lyricism, to singing just for singing's sake, back home to aestheticism, to one's youthful idea of 'the artist' and the all-sufficiency of 'art' and 'beauty' and 'love,' back home to the ivory tower, back home to places in the country, to the cottage in Bermude, away from all the strife and conflict of the world, back home to the father you have lost and have been looking for, back home to someone who can help you, save you, ease the burden for you, back home to the old forms and systems of things which once seemed everlasting but which are changing all the time--back home to the escapes of Time and Memory.”

Thomas Wolfe

segunda-feira, setembro 24, 2012

Talvez


Talvez seja porque eu passei muito tempo em bares
Acertando todos os erros possíveis.
Talvez seja porque meu único sucesso
Foi ser um fracasso.

Talvez seja porque eu tentei cria meu personagem
E me perdi em minha própria história de horror.

Talvez seja porque eu nunca me importei muito
Ou porque eu me importei demais.
Talvez seja porque você foi embora
Ou porque eu nunca te conheci.

Talvez seja porque eu compro esses discos
Com essas músicas tristes
Que eu escuto sem parar.

Talvez seja porque eu ainda sou novo
Ou porque pareça tão velho.
Talvez seja porque eu ainda te ame
Mesmo nem sabendo quem você é.

Talvez seja porque eu fugi da Igreja
Quando eu era só um garoto.
Talvez seja um castigo dos céus
Ou meu próprio desejo.

Talvez seja porque eu escolhi
Ou porque eu fiz o que não devia.
Talvez seja porque eu ainda te ame
Mesmo não sabendo quem você é.

Talvez seja minha honestidade
Ou minha falta de caráter.
Talvez seja as bobagens que faço bêbado
Ou os poemas que escrevo.

Talvez seja porque os anos passem
E eu continue o mesmo.
Talvez seja porque os anos passem
E eu continue com medo.

Talvez seja porque eu ainda te amo
Mesmo não sabendo quem você é.
Talvez seja porque eu ainda me amo
Mesmo não sabendo quem eu sou.
Ou talvez não.

Talvez eu não saiba explicar
Talvez eu não saiba chorar
Não saiba sentir
Não saiba amar.

Talvez eu seja o culpado
Talvez eu esteja condenado
Talvez minha vida esteja acabando
Talvez eu esteja me matando.

Talvez eu pule da ponte
Talvez eu saia de viagem
Talvez eu compre uma passagem
E vá direto pra Bogotá.

Talvez eu vá para o céu
Talvez eu vá para o inferno
Talvez deus eu sobreviva
Talvez eu me vá.

Talvez você volte
Talvez eu me solte
Das garras que insistem
Em me acorrentar.

Talvez porque eu ainda te ame
Mesmo sem saber
Quem você é.

domingo, setembro 23, 2012


Olha só, eu vou me exilar. Eu vou daqui pra outro lugar. Pessoas como eu só funcionam quando estão sofrendo. Eu deixei a minha cidade no Paraná pra vir pra São Paulo, e agora eu quero deixar São Paulo pra ir lá pra fora. Não é nada pessoal contra o Brasil, pelo contrário, eu adoro esse País. A questão é que eu preciso me sentir isolado pra conseguir viver. Eu não fui feito pra ver as coisas darem certo, você entende? Eu aceito a solidão e todos os problemas que ela traz com ela. Eu vejo isso quase como uma benção. Mas eu também vejo como uma maldição. Eu continuo sendo essa pessoa medrosa. Acho que vai ser assim pra sempre. Meu Deus, que alguém me ajude, porque tem sido cada vez mais difícil. Vocês nem imaginam o quanto.

domingo, setembro 09, 2012

Um poema para Oscar Wilde

Querido Oscar Wilde,
Agonizando sozinho em seu leito de morte
Desprezado, abandonado e esquecido
Por seus pobres e tolos contemporâneos
Que não souberam admirar seu talento
Que não souberam preservar sua vida
Que não souberam compreender sua alma.

Querido Oscar Wilde
Agora, também estou sozinho
E também agonizo
Enquanto vejo minha vida
Se deteriorar a cada dia.
Pudera eu ter também contraído meningite
E deixar esse mundo ruim
Assim como você fez.

Querido Oscar Wilde,
Eu venho sofrendo muito
E enfrentado muitos questionamentos
E me sinto triste, insuportavelmente triste
Buscando conforto em suas palavras
Que me acolhem com gentileza
Que aliviam minha tristeza.

Querido Oscar Wilde
Não sou um bom homem,
Não lido bem com as palavras
E nem tenho um grande amor.
Estou completamente abandonado,
Completamente sozinho,
E totalmente perdido.

Não sei para onde ir,
Ou o que fazer
Ou quem chamar
Ou como me salvar.

Entendo que o sofrimento
É um momento muito longo
Mas gostaria que você me dissesse
Se ele tem um fim.

Certa vez você disse
Que a morte do coração
É a mais horrível que existe.
É uma pena, meu amado Oscar Wilde
Acredito que este fato
Me torna um eterno condenado.

Apesar dos maus presságios
E dos tempos horríveis que vivo
Ainda não desisti.
Por mais inacreditável que pareça
Luto pela vida como um leão.
E com seus livros, busco algo
Que me force a prosseguir.

Se você estivesse aqui hoje
Diria que sim, tenho conseguido.
E se você estiver aqui amanhã
Espero dizer-lhe que sim
Eu venci.

Querido Oscar Wilde
Torça
Por mim.

"É preciso que eu diga a mim mesmo que fui o único responsável pela minha ruína e que ninguém, seja ele grande ou pequeno, pode ser arruinado exceto pelas próprias mãos. Estou pronto a afirmá-lo. Tento fazê-lo, embora eles possam não concordar comigo neste momento. Esta impiedosa acusação eu a faço sem piedade contra mim mesmo. Terrível foi sem dúvida o que o mundo fez comigo, mais terrível ainda foi o que eu fiz contra mim mesmo."

Oscar Wilde

sábado, setembro 01, 2012


Engraçado ver o quanto as pessoas torceram pela minha queda
Elas só não se tocaram de que eu sempre estive no chão.