quarta-feira, dezembro 30, 2009

I feel hurt
I feel sad
I feel lonely
I feel mad
I feel disappointed in you.

Johnny Thunders

I'm choosing the day

I'm choosing the day
everyday
when I wake up
and I feel like I don't want to
face it all over again.

I'm choosing the day
everyday
when I get mad about
insignificant stuffs which
happen to me all the time.

I'm choosing the day
to keep myself
forever away
from this terrible world.
eu nunca quis
que acabasse
assim.

Rise

Such is the way of the world
You can never know

Just where to put all your faith
And how will it grow?

Gonna rise up
Burning black holes in dark memories

Gonna rise up
Turning mistakes into gold

Such is the passage of time
Too fast to fold

Suddenly swallowed by signs
Low and behold

Gonna rise up
Find my direction magnetically

Gonna rise up
Throw down my ace in the Hole


Eddie Vedder

terça-feira, dezembro 29, 2009

Go
make your choice,
live your life and sing by
your own voice.

segunda-feira, dezembro 28, 2009

A cada dia, viver me esmaga com mais força.

Caio Fernando Abreu

sexta-feira, dezembro 25, 2009

A pior parte de ser o personagem principal de sua própria história é ter que viver todos os capítulos.

quinta-feira, dezembro 24, 2009

There's nothing but

there's nothing but the fields
but the trees, but the shields
who protect us from
any and everything
that can hurt us.

there's nothing but the sky
and the birds, when they fly
they seem so free, and sometimes
a bird is the only thing we
want to be.

there's nothing but the life
but the time, but the pride
of being aware of everything that
happen all the time

and when we care for more love
for more days, for more shove
in our simple lifes, all we get is
nothing but the fields,
the sky and
the life.

I shall be released

They say everything can be replaced
They say every distance is not near
So I remember every face
Of every man who put me here

I see my light come shining
From the west unto the east
Any day now, any day now
I shall be released

They say every man needs protection
They say that every man must fall
Yet I swear I see my reflection
Somewhere so high above this wall

I see my light come shining
From the west unto the east
Any day now, any day now
I shall be released

Now yonder stands a man in this lonely crowd
A man who swears he's not to blame
All day long I hear him shouting so loud
Just crying out that he was framed

I see my light come shining
From the west down to the east
Any day now, any day now
I shall be released

Bob Dylan

segunda-feira, dezembro 21, 2009

É seco
e é difícil
de acreditar quando
tudo isso caí na sua cabeça
de uma maneira que você
nunca imaginou antes.

É duro e
é um bocado complicado
quando você começa a perceber que
não há felicidade. não há amizade e
não há verdadeira compaixão
entre ninguém.

e é aterrorizador imaginar que
logo eles estarão novamente
matando uns aos outros
e então morrendo
de solidão
de desgosto
e de tristeza.

e quando você menos esperar
já não vai haver restado mais
nada.
e todos eles vão
perceber que
já não há mais pra onde
correr.

e eles vão ser pegos também
porque todos serão
sem nenhuma exceção.
E no final
não vai sobrar
nada pra contar
nunca mais.

Porque é assim que as coisas
terminam quando
já não há mais nenhuma
animação para
continuar seguindo
em frente.

então você pega sua mochila e
saí pelo mundo mas
o mundo é bem menor
do que você imaginava e
você acaba quieto
num canto qualquer
pagando suas contas e
trabalhando em um
emprego cretino.

e quando você
finalmente descobrir como
se livrar disso tudo,
já vai ser
tarde
demais.

sexta-feira, dezembro 18, 2009

If I can return to when I was a child, I forgive what I learn and go back to the wild. Back to the wild. Back to the wild.

quarta-feira, dezembro 16, 2009

have you ever figured out

Have you ever figured out
how is to be dead
how is to be sad
how is to be mad
and never glad
for meeting someone?

Have you ever figured out
how is to be alive
against your desire?
how is to lose your pride
when you're not even 20?

Have you ever figured out
how lucky you're when you
lose your life
lose your mind
lose your time
and finally rest in peace
six feet under the beasts
that surround us everywhere?

have you ever figured out
how things could be bad
how ends could be sad
how lucky is to be dead.

Have you ever?
have you ever figured out?
have you ever?
have you ever fall and shout?

terça-feira, dezembro 15, 2009

Stop

You better stop
stop thinking you're special
when you're not
stop thinking things are great
when they're not
stop doing all the things you've been doing
since you know yourself.

you better stop
stop of falling in love
with girls so much above
of your low standard.
and you better stop
of eat, live and forgive
your own mistakes.

you better stop
growing bad seeds in your field
agreeing that everything they say is real.
stop read, feed, sleep and believe
in the world, in the humanity
in the power of society.

you better stop
of writing bad poems
and tell foolish histories.
of drink everynight
and complain everyday.
and stop still making your stuff
in this old same way.

segunda-feira, dezembro 14, 2009

o que me desgoverna
é a minha
angústia eterna

domingo, dezembro 13, 2009

Manhã à Janela

Há um tinir de louças de café
Nas cozinhas que os porões abrigam,
E ao longo das bordas pisoteadas da rua
Penso nas almas úmidas das domésticas
Brotando melancólicas nos portões das áreas de serviço.
As ondas castanhas da neblina me arremessam
Retorcidas faces do fundo da rua,
E arrancam de uma passante com saias enlameadas
Um sorriso sem destino que no ar vacila
E se dissipa rente ao nível dos telhados.

T.S. Eliot
doces poemas
crescendo através de
almas pequenas
doentes, carentes e raivosas,
carregadas e
prontas para atirar
em quem quer que
cruze seus caminhos.

perdidos na estrada
entre o asfalto quente
e colinas onduladas
perdidos no mundo
entre corpos podres
e corações imundos.

amaldiçoando
deus e o diabo
vivendo nossas mentiras
e madrugadas nos bares.
desolados & desamparados mas
sem muita coisa pra se preocupar
além de resolver nossos próprios
infernos pessoais.

e sabemos que
não haverá nenhum gênio da lâmpada
para realizar nossos desejos.
e enquanto o mundo
continuar a ser mundo
nós continuaremos a ser
nós mesmos.

The Aliens

você pode não acreditar nisto
mas há as pessoas
que passam pela vida com
muito pouca
fricção de angústia.

eles se vestem bem, dormem bem.
eles estão contentes com
a família deles.
com a vida.

eles são imperturbáveis
e freqüentemente se sentem
muito bem.
e quando eles morrem
é uma morte fácil, normalmente durante o
sono.

você pode não acreditar nisto
mas tais pessoas existem.
mas eu não sou nenhum deles.

oh não, eu não sou nenhum deles,
eu não estou nem mesmo próximo
para ser um deles.

mas eles
estão lá ...

e eu estou aqui


Charles Bukowski
Take it easy baby, it's just another thunderstorm.

Nossa vida meio errante ou Porque as madrugadas na cidade são tão surreais e solitárias.

Até que ontem a noite foi uma boa noite. É difícil ter boas noites. Você tem que se preocupar com muitas coisas como a música que está tocando, as pessoas que estão te acompanhando, a grana pra você beber, o papo que você vocês vão conversar e onde você vai sentar. Tudo isso leva um bocado de tempo e pode ser bem mais complicado do que parece. Claro que em grande partes das vezes você se contenta em sentar ali em qualquer canto, ouvir qualquer coisa que tiver tocando enquanto imagina e cantarola tuas próprias músicas favoritas na tua cabeça, falar sobre qualquer coisa como as pretensões do Brasil na copa do ano que vem e a dificuldade de cada grupo ou sobre tal disco de tal banda e sobre aquele filme que você viu ou ainda não viu mas tem que ver porque tá todo mundo vendo e dizendo que é um barato e pode ser que ele seja mesmo. E sabe, acho que quando você consegue finalmente ficar numa boa nada pode ser mais perfeito. É claro que sempre há um jeito de se pensar que poderia estar melhor, que poderia ter uma garota aqui, ou que aquela maravilhosa garota amiga de uma amiga tua ou coisa do tipo podia ser tua, mas é óbvio que ela não vai ser porque bom, você não é o tipo dela e na verdade não é o tipo de muita gente, mas esse não é o tipo de coisa que tem te incomodado ultimamente porque é mais preocupante pensar em como cobrir a conta do banco estando desempregado e em como continuar bebendo com esses problemas financeiros e em como comprar aquele livro das correspondências do Rimbaud ao invés de garotas.

De qualquer forma, acabo saindo de casa só pra não ter que ficar encarando as paredes. Eu não quero soar pessimista, porque muitas vezes as noites são bacanas, os dias seguintes que não são. Mas isso não vem ao caso, porque se você teve uma noite tranquila e divertida, o que mais você pode pedir? É muita pretensão querer ter tudo. Primeiro você tem que se preocupar em aprender a não ter nada, aí depois você pode sair em busca de tudo. Mas sabe como é, sempre tranquilo pra não perder a cabeça. Muita gente perde a cabeça com esse tipo de bobagem. Muita gente perde a cabeça com todo tipo de bobagem. Elas vão simplesmente acumulando suas frustrações até que a coisa toda exploda bem na cara delas. Acho que isso é uma coisa me que me amedronta pra valer. Se um dia as coisas explodirem na minha cara vai ser um bocado difícil de juntar os cacos depois. Já é um bocado difícil manter eles unidos agora, então não quero nem imaginar o que pode acontecer se tudo explodir. Mas que diabos eu to falando com essa coisa de explodir e essas metáforas baratas? Eu acho que eu podia falar sobre a noite de ontem, que como eu disse antes, foi muito tranquila e divertida. Encontrei alguns amigos, bons amigos, é sempre bom ter bons amigos por perto. Eles te salvam da tua própria loucura, e não importa se o papo é sobre aquele episódio de Family Guy ou sobre o fantástico Into The Wild do Sean Penn e a fabulosa trilha sonora do Eddie Veder, o que importa é ter os bons amigos por perto. Eles te salvam do teu terremoto pessoal e te dão uma certa calmaria, ao menos por umas horas. É basicamente o que fizemos ontem, de maneira bem menos complexa e muito mais prática do que a que eu insisto em montar e escrever na minha cabeça. A gente simplesmente chegou na Augusta, sentou num boteco que tocava Skank e ficou bebendo e falando bobagens. Eu não gosto de Skank, e ninguém ali gostava, mas a gente estava numa boa e não era aquilo que ia nos atrapalhar. Mas sempre há uma solução, e esse amigo meu tinha uma colêtanea dos Cramps tocando outros grandes nomes do rock no pendrive dele, e a gente conseguiu pedir pro dono do bar colocar e ficar ouvindo. As coisas melhoraram muito daí. Na verdade não melhoraram tanto assim, mas já foram o suficientes pra deixar tudo um pouco mais animado. Depois disso a gente resolveu descer a Augusta. É divertido descer a Augusta numa noite de sábado, em direção ao centro profundo. Chegar até a Roosevelt, meio perigosa e meio charmosa decadente. É quase fascinante. Não tem muito mistério, mas ao mesmo tempo tem um enorme contingente poético por aquelas esquinas. Por todo o centro de São Paulo eu diria. É aquela coisa das construções antigas, das ruas sujas e dos becos misteriosos. É perigoso, decadente e encantador. Te assusta e te fascina com a mesma intensidade. Chegamos até os Parlapatões e ficamos entornando mais umas cervejas. Comi um salgado e descemos pro Biro's. Encontrei outro amigo, um bom amigo. Já passavam das cinco e meio da manhã. O tempo voa em noites assim. Tomamos mais uma saídera e pegamos o caminho de casa. Ás vezes é tudo uma questão de ponto de vista. Não havia nada do que reclamar depois de uma boa noite dessas. Nem mesmo a ausência de mulheres. O certo era ficar tranquilo e tomar o caminho de casa. Amanhã seria mais um domingo daqueles com ressaca e suas reflexões. Era melhor estar preparado.

quinta-feira, dezembro 10, 2009

cada um de nós é o herói e o vilão de sua própria história.
Ah, e por que finais de ano tem que ser sempre tão melancólicos com você pensando o por que mais um ano foi desperdiçado e por que tudo foi sem graça e não te fez ter a mínima vontade de continuar. Agora você tem mais alguns exames da faculdade que não suporta e não sabe o que fazer no outro ano, porque você nunca sabe o que fazer em nenhum ano e tem um medo danado de que as coisas fiquem iguais por mais um ano (que seria o quarto seguido) e você se vê desesperado porque vai estar desperdiçando a suposta melhor fase da tua vida com mentiras e bobagens enquanto você tá ali atado, socialmente amarrado a bobagens que você não acredita e nunca acreditou mas também não tem nenhuma coragem pra se soltar porque afinal, você é meio medrosão e é inquieto o suficiente pra querer a tranquilidade o quanto antes.

E se te falam que agora você tem que fazer algo por você mesmo é aí que a coisa pega porque lá fora as coisas parecem tão ruins e maçantes que você provavelmente se jogaria da janela na primeira oportunidade e se lamentaria todos os santos dias por ter que trabalhar das nove as seis e é isso que é um bocado desanimador do tipo café com o pessoal da empresa e quem tá comendo quem na faculdade ou sei lá aonde quando nada disso te apetece o suficiente pra ter o mínimo de vontade de sair da tua cama e da tua casa onde você escuta Bob Dylan o dia todo, todos os dias e fica ali como um tolo fazendo fingindo que tem um violão e uma gaita imaginários (apesar de você ter uma gaita e não saber tocar) e que está arrasando e que bom seria se você pudesse escrever coisas como aquelas ou minimamente geniais quanto essas.

Mas afinal isso tudo não deve passar mesmo de uma grande mentira porque no final quem quer ta indo atrás enquanto você fica ai parado arrastando com a barriga e reclamando e reclamando e reclamando (porque é isso que você faz melhor) e amaldiçoando essa bobagem toda cotidiana e pensando "ah que coisa louca quando eu chegar em casa eu vou é ver aquele filme do Peckinpah e vou tomar uma dose de uísque ou umas brejas e ouvir um pouquinho do George Harrison e isso vai me animar um bocado ah, vai sim, mas seria bem melhor se houvesse uma garota aqui aaah" mas você sabe que não há garotas porque, como todos sabem, garotas não perdem seu tempo com caras desse tipo e estão a procura de algo maior, o que eu não sei e acho qeu nunca vou conseguir descobrir, e as garotas más não são boas o suficiente para te ver como algo mais do que um amigo (e todo aquele papo estúpido que você já cansou de ouvir) e estão afim dos caras realmente maus e bacanas que podem lhes pagar uísque e falar sobre uma infinidade de coisas que vão interessar a elas muito mais do que qualquer coisa que você gostaria de falar sobre Jack Kerouac ou sobre como Arthur Rimbaud era maravilhoso e de que elas deviam lê-lo ou ainda sobre como você gosta bastante do Mondo Bizarro dos Ramones e de que elas deveriam ouvi-lo e ver esse ou aquele filme do Fellini, que elas provavelmente achariam entediando pra diabo e não sacariam nada da poética do cara ou do que aquela película representa na tua vida de jovem solitário que passa os dias bebendo umas cervejas e ouvindo, lendo e assistindo esse tipo de coisa que te ajuda a te manter vivo dia após dia e superar essa loucura da vida que tenta sufocar sua alma dia após dia ou noite após noite e é assim que você se isola no teu mundo pessoal com uns poucos amigos só e fica esperando que a tempestade passe lá fora pra você poder voltar pro teu quintal com a tua bola e os teus amigos pra finalmente jogar o teu jogo.

quarta-feira, dezembro 09, 2009

Eu me lembro de noites bêbadas regadas a drogas onde ouviamos T. Rex e falamos sobre nossas bobagens espirituais e sobre o quanto as coisas poderiam SER tão fabulosas e como elas ERAM fabulosas mas nós passavámos a maior parte do tempo ocupados com outras coisas pra perceber isso mas ali, entupindo nossos organismos com venenos humanos nós nos sentiamos tão vivos e fantásticos como os personagens dos livros e dos discos que nada mais tinha muita importância e aquilo durava um bocado se abraçando na cozinha e falando coisas do tipo "cê ta ligado que você é meu GRANDE amigo e não importa o que aconteça eu te curto muito porque todas ás vezes que nós saímos juntos foi um grande barato" (mesmo sabendo que aquilo na maioria das vezes não era verdade, mas ás vezes também era) e ás vezes era só algo do momento e nos sentiamos tão sinceros e santificados porque bom, diziamos a verdade e apesar de envenenados no físico eramos limpos e clistalinos como um rio espiritualmente.

E depois quando tudo acabava, a boca empapuçada de cerveja e tudo que tinha pra acabar acabado. As garotas já tinham ido todas embora porque elas precisavam ir pra casa e dormir e fingir que eram boas garotas e todas essas coisas, e nós lá, altamente deprimidos e amaldiçoando toda a vida e juntando latinhas de cerveja com cinzas de cigarro enquanto uma música dos Stones rolava de fundo assim baixinho porque nessa hora ninguém tinha mais animo pra porra nenhuma além da própria cama. E quando finalmente iamos pra cama, era uma grande tortura conseguir dormir com todos aqueles pensamentos moendo sua consciência e a ingenuidade de saber que aquilo já tinha acontecido diversas vezes e ia continuar acontecendo porque era assim que nós eramos e era assim que iriamos sempre ser, mas que ás vezes era um bocado inteligente se pirar, mas no final tudo acabava negro e tempestuoso na nossa cabeça contrastando com a luz do dia que entrava pela janela e quase nos cegava e deixava nossas ressacas ainda piores, porque uma hora ou outra finalmente íamos conseguir dormir e quando acordassemos no dia seguinte estaria a pior coisa do mundo com a cabeça doendo, o corpo doendo, os olhos doendo, a garganta seca e tudo tão ruim quanto se possa imaginar e a pior dor de todas na consciência porque um grande desanimo tomava conta de você ali e tudo o que você queria era ir pra casa e sentar com uma grande garrafa gelada de água e ficar deitado em frente a TV vendo desenhos animados ou sentado escrevendo as primeiras bobagens que viessem na tua cabeça, mesmo sabendo que aquilo ia te deprimir ainda mais. E aí você se pergunta porque a TUA vida tem que ser tão ruim e tão isso e tão aquilo quando na real você sabe que não passa de um aproveitador babaca do suor dos teus pais e da caridade dos seus amigos enquanto tua alma ta se remoendo em seus próprios devaneios e triturando cada mágoa que você tenha com o passado e com o presente e ainda pior, amaldiçoando todo teu futuro e te desanimando a não fazer mais nada porque você acha que não vai acontecer nada de bom independente do que você faça e é isso que te faz entrar nesse círculo vicioso maluco que vai consumir até os últimos frangalhos do teu corpo e no final você vai aceitar e dizer "foi assim porque tinha que ter sido" e se contentar em continuar indo aos mesmos bares de sempre e vendo os jogos de futebol do teu time na TV e falando sobre como os discos do John Lennon te salvaram a vida e sobre como você gosta de Robert Johnson e Muddy Waters e do blues e também do rock and roll e todas essas coisas.

Mas não se preocupe porque isso provavelmente só vai acontecer quando você tiver com a tua barriga grande de cerveja e a tua esposa em casa te detestando por não comer ela direito e não levar tuas crianças pra aula de balé, de futebol ou de qualquer outra bobagem do tipo enquanto você só queria mesmo era ter vinte anos de novo e ter aproveitado tudo aquilo melhor, mas você sabe que isso é impossível porque você era muito preguiçoso e conformado e cavou tua própria sepultura. Mas ás vezes ainda dá tempo de perceber isso antes de tudo e fazer mudar. Ou será que não? Que coisa louca quando tua cabeça gira ao contrário do resto do universo e teu pescoço faz "clack clack" porque não tem mais pra onde virar aí você se senta no primeiro bar que ver e pede uma cerveja e você percebe que instintivamente foi pro mesmo bar de sempre que é só duas quadras da tua casa e você conhece os garçons e toda aquela coisa e quando você se vê já está bêbado de novo e tem mais um longo dia de ressaca e lamentações pela frente.

quarta-feira, novembro 25, 2009

I miss something I never had.
Queria aprender a viver sem ter a sensação de estar sempre desperdiçando algo.

terça-feira, novembro 24, 2009

Sabe qual é? A verdade é que eu não tava nem um pouco a fim de voltar pra São Paulo. Eu tava numa boa lá em Londrina, mas eu sei que uma hora ou outra eu ia acabar enlouquecendo como sempre acaba quando eu acabo ficando muito tempo em um lugar (mas eu sou muito cagão pra largar todas as comodidades que eu tenho na minha vida e sair por aí como vários caras que eu realmente admiro fazem) aí por isso e por um seminário estúpido da faculdade eu tive que me meter em um ônibus ás oito da manhã quando eu tinha dormido só umas duas horas e meia até ali, e fui viajando dormindo desconfortável naquelas poltronas de ônibus com meus óculos escuros na cara tentando amenizar a luz que entrava pelas janelas. Consegui dormir na maior parte do tempo, aí eu só descia nas paradas pra fumar um cigarro e quando voltava eu pegava o livro Gutemberg Blues do Mário Bortolotto e lia alguns dos textos, que são em sua maioria muito bons. O livro é um apanhado de textos que o Bortolotto fez quando fazia freelas e tinha uma coluna pra alguns jornais de Londrina nos anos noventa, e é um bocado divertido ver que o cara detonava e que pelo menos aparentemente Londrina já teve tempos muito melhores, mas talvez isso seja só um saudosismo de quem não se dá muito bem com a sua época e fica romantizando em como seria se tivesse vivido em outra, mas dá pra saber bem que cada um é cada um em qualquer época e que provavelmente estaríamos fazendo as mesmas cagadas e lamentando as mesmas coisas independente de quando vivemos.

Aí eu cheguei aqui em São Paulo e fui pra aula, e apresentei o tal seminário e deu tudo certo. E voltei pra casa e fiz um miojo e me servi uma dose de whisky com água de coco (eu sei que isso é uma frescura, mas eu não sou do tipo que se dá muito bem com whisky puro) e fiquei ouvindo o Little Walter puxando sua gaita, num baita blues fodão, e o Robert Johnson com suas gravações chiadas em takes duplos de fantásticas músicas delta blues. O que eu mais gosto no blues, além das fantásticas letras de caras que foram largados pelas mulheres ou tomaram um porre num bar qualquer ou simplesmente não encontram um signifcado pra isso tudo, é a levada de guitarra ritmada e crescente. Eu não toco nenhum instrumento, nem entendo muito bem de nada isso, mas eu me dou muito bem ouvindo música boa, e eu sei o que me agrada, e puta que pariu, tenho certeza que essa guitarra me agrada muito. E o bom e velho Charlie cantando e tocando sua gaita ferozmente enquanto o Willie Dixon arrebenta na guitarra. Isso não é pra qualquer um, não mesmo. Dá até aquela vontade maluca e utópica de juntar uma grana, jogar umas roupas na mala e descer pro Mississipi só pra ver como é que é estar lá no meio do sul dos Estados Unidos onde nasceu a coisa toda, ou pelo menos parte dela, mas eu tenho certeza que hoje está tudo diferente e que ia ser um bocado estranho pros negões e pros caipiras sulistas confederados virem um latino-americano cabeludo e esquisito chegando lá e falando que só quer ficar um tempo e ver como eles levam a vida. Toda essa coisa de ficar sentado na varandas das casas tocando um som e bebendo um borboun feito artesanalmente em algum sítio onde os caras sabem que o Blues é o som e que o country também é algo do caralho. Não tem muita explicação pra isso. Nunca tem. É só desejo, delírio e desejo. Posso ficar horas divagando sobre meus delírios e meus desejos, e escrevendo sobre eles também, mas é óbvio que isso não interessa a ninguém, e ás vezes nem a mim mesmo. Até lá eu vou me ajeitando do jeito que eu posso, reclamando e lastimando e escrevendo, até eu conseguir juntar uma grana ou principalmente animo e inspiração pra fazer algo realmente legal e me dar bem por aí, ou pelo menos me sentir realmente bem num canto qualquer bebericando com meus amigos e falando bobagem e ouvindo blues numa boa, sem incomodar ninguém e sem ser incomodado por ninguém e nem por mim mesmo. Tomara que eu chegue lá algum dia. Tomara que todo mundo que merece chegue.
É muito duro viver as 24 horas do dia e os sete dias da semana.

segunda-feira, novembro 23, 2009

hai-kais

dia após dia,
eu vivo e morro
com a mesma rapidez.

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delírios estranhos
que no final
não passam de sonhos.

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rimas e prosas,
tudo não passou
de palavras chorosas.

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fim do mundo,
caí em um
buraco sem fundo.

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sem inspiração
me sinto como
o diabo na procissão.

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papel e caneta
o que me falta agora
pra ter sucesso com a letra?

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tenho sono, tenho fome
escrevo
e tudo some.

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sóbrio em casa,
tudo fica
mais sem graça.

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até que é uma boa
ficar quieto
sonhando à toa.
Acho que o grande problema de ficar acordado por muito tempo é que minha cabeça fica trabalhando e viajando e eu passo um tempo no escuro ouvindo música e pensando sobre as minhas não-realizações e sobre o que eu deveria fazer ou ter feito pra mudar isso ou aquilo quando eu sei que no fundo é tudo inútil e sem sentido pra toda essa maluquice que é minha vida.

Ah, que coisa é pensar nisso tudo numa madrugada vazia e delirar em POR QUE eu sou assim tão pensativo e perturbado e ridiculamente existencialista quando eu bem poderia estar fazendo algo bom de verdade - mas quando é que eu vou aprender que eu não sou um ser iluminado e um escritor beatificado? E é bem provável que nunca...

Mas afinal o que tem pra se aprender disso tudo? Po, eu acho às vezes que eu sou um cara ok e eu só queria um pouco de paz verdadeira e de arranjar uma boa garota e aprender a tocar alguma coisa, e fazer uma bandade folk rock e aí mudar pra uma fazenda e ficar lá quietinho escrevendo uns poemas sobre campos e lagos e essas coisas e de vez em quando beber com uns amigos, mas eu acho que, como diria o velho Arnaldo Baptista: "esses são só os sonhos idiotas de um homem só".
E eu fico deitado ali na cama com sono mas o sono não vem e já são três da manhã e ás seis eu tenho que levantar pra pegar o ônibus de volta pra São Paulo mas eu to tão ocupado pensando nos meus problemas, nos meus sonhos e na minha vida que eu nem consigo dormir porque minha cabeça é uma coisa perturbada e esse tipo de coisa louca qeu eu vivo repetindo. Fico com uma vontade grande de ouvir Langhorne Slim, e aí pego o mp3 e coloco na minha música favorita do novo disco dele, "Leaving My Love", que tem uma frase fantástica - "So I guess I've been leaving this town, there's only one way up and so many ways down" e eu penso em como isso se encaixa perfeitamente pra mim agora, e eu penso que talvez eu goste desse meu estilo literário meio reclamão e sonhador e banal e que bom, acho que eu tenho um estilo e quem sabe ele não seria um algo a mais? Ah eu não sei mesmo e acho que eu não posso pensar nisso por que se não já sonho com bobagens como escrever um livro e viver disso (e eu sei bem que isso não vai acontecer) e que não, eu não sou Dostoiévski nem Fante nem Kerouac e eu não sou nada além de mim mesmo, e isso não é uma coisa muito legal. Na verdade é até uma coisa meio ruim, mas talvez isso sejam só os demônios da minha cabeça que insistem em me atormentar. Mas provavelmente isso tudo é só uma grande bobagem também. Que Jack Kerouac nos abençoe, amém.

Prose poetry to Jack Kerouac

Oh mad angel who keep our dreams alive and made us happier and hopeful for some time in these lost paradises that people call earth.

Oh mad and desolated angel with your holy words who made us readers feel like angels like you when we're travelling in pages that you wrote so many years ago.

Oh mad angel that made us cry and feel excited and believers about all the words being true and things are not blue like we thought and just through you and your words we could finally see this!

Oh mad angel!

domingo, novembro 22, 2009

silent night,
hold me tight
through the hours that
pass us by.

day by day
night by night
hold me tight
through the end of the time
till' the end of my life
to the hope that
never will die.

hold me tight
lay down by my side
kiss me and love me
turn off the lights
and say goodnight.

quarta-feira, novembro 18, 2009

put the rage
deep in your soul,
while you try so hard
to find a way
to not fall apart.

the flame in heart
should never end,
the faith in love
it's such a shame.

the rage is black
and so is blue.
the rage and death
will be always through,
the life and times
of me and you

green fields that I dreamed to

in the dark and holy night
when madness came to me,
I tryed to scream
but I was mute as a tree
like a bird in a cage
with a heart full of rage
and an empty soul.

when everything that I
used to believe
disappears like
the blowin' of the wind
I sit there and get drunk for
a long and useless time,
waiting for the sun
to come again
waiting for the hand
of a good old friend
but there's nobody else around
besides the black clouds
which's always raining at me.

so I wrote
so many times
that I almost
forgot my life
and it don't saved me.
but it helped me someway
to keep walking straight
day after day,
'til my spirit run away
for the green fields
that I dreamed to.

and then I realized
things that nobody told me.
and in a quiet day
I found my own way
to set me free.

sábado, novembro 14, 2009

Esses tempos atrás eu tava no metrô indo pras aulas teóricas da auto-escola e tinha um cara sentado na minha frente lendo um exemplar do Apanhador No Campo de Centeio em inglês, com aquela clássica capa vermelha com as paradas em amarelo, e eu fiquei pensando no que o cara devia estar pensando enquanto lia toda aquela aventura sobre Holden Caulfield que todo mundo que se preze já deve ter lido pelo menos uma vez na vida. Eu penso muito nessas cosias, e é comum qualquer fato ao meu redor me despertar pra ficar viajando dentro da minha consciência doida. Então eu pensei naquele livro fabuloso e em como ele foi importante pra mim, e pensei em Salinger e em como ele ainda está lá velho e recluso em sua fazenda no Texas ou sabe Deus onde naquele sul dos Estados Unidos onde rednecks tocam baladas honky-tonk no banjo e bebem whisky caubói e falam inglês daquele jeito caipira e são durões mas também são aqueles que fazem as melhores músicas sempre ou quase sempre. Também é comum eu começar pensando em uma coisa e terminar pensando em outra que ninguém jamais imaginaria, como isso que eu fiz agora, começar falando sobre o cara do metrô e terminar com os sulistas norte-americanos e o meu fascínio pela música country.

Mas bom, voltando ao que eu estava dizendo, ou tentando dizer, eu sempre penso no Salinger e em como ele conseguiu escrever só três ou quatro livros na sua vida inteira e fazer deles obras simplesmente geniais. Eu sempre penso em como o cara captou todo aquele espírito confuso e perturbado da juventude e conseguiu por ali no papel de maneira tão perfeita. E fico triste e com raiva ao pensar no babaca do Mark Chapman que atirou no Lennon e alegou ser por causa do Apanhador No Campo de Centeio e toda aquela bobagem que esse maluco doente cristão falou pra justificar o ato de matar um gênio. Acho que no final não tem nenhuma explicação mesmo. As pessoas são malucas porque elas precisam ser, e isso ultrapassa os limites da loucura quando elas vão lá e atiram umas nas outras. Eu não ligo de existirem malucos, e acredito que todos nós somos meio doidos ou sei lá que porra passa pelas nossas cabeças doentes, mas eu também acho que a loucura pessoal é quase uma benção, quer dizer, é como uma maldição, mas através dela a gente pode talvez achar o caminho pro pote de ouro ou qualquer outra coisa que esteja escondida no final de tudo.

sexta-feira, novembro 13, 2009

Morrisey - That's How People Grow Up

I was wasting my time
Trying to fall in love
Disappointment came to me and
Booted me and bruised and hurt me

But that's how people grow up
That's how people grow up

I was wasting my time
Looking for love
Someone must look at me and
See their sunlit dream
I was wasting my time
Praying for love
For a love that never comes
From someone who does not exist

And that's how people grow up
That's how people grow up

Let me live
Before I die
No not me
Not I

I was wasting my life
Always thinking about myself
Someone on their deathbed said
There are other sorrows too

I was driving my car
I crashed and broke my spine
So yes there are things worse in life than
Never being someone's sweetie

That's how people grow up
That's how people grow up

That's how people grow up
That's how people grow up

As for me I'm okay
For now anyway

quinta-feira, novembro 12, 2009

E de repente me dá um medo (um medão assim, desses de doer a espinha e te deixar até zonzo por um tempo) e eu fico imaginando o por que do mundo ser tão louco e tão povoado e tão cheio de gente correndo por todos os lados e ocupados fazendo tantas coisas "importantes" durante todo o tempo enquanto a vida passando zun zun zun zunindo em volta, e eu fico me indagando no porque imito tanto Jack Kerouac ou quem quer que eu esteja lendo durante aquele momento (mas com Kerouac a coisa é mais séria, e me faz tão bem mas ao mesmo tempo me deixa tão chateado por me sentir um babaca imitador, mas isso não tem muita importância já que eu desisti de uma originalidade realmente verdadeira e não ache que vá chegar a lugar algum com isso tudo) e aí eu encaro que a realidade nada mais é que uma piração louca da minha cabeça (e eu vejo isso claramente quando estou bêbado, mas nunca consigo realmente exprimir aquilo tudo na minha "escrita"). E hahaha, acho tão ridícula falar "minha escrita" porque é extremamente patético reler isso depois, quando eu bem sei que "minha escrita" são só essas pirações sem sentido e uns versos medianos. Aí eu só sento, abro uma página e digito FRENÉTICAMENTE ao ponto de os dedos ficarem doendo e se moverem rápido pelo teclado (e obrigado deus por termos computadores, máquinas de escrever e todas essas coisas que facilitam a escrita) enquanto despejo meus pensamentos extremamente loucos e insanos, inconsequentes, e porque não, altamente reais e irreais ao mesmo tempo, numa viagem louca que também deve deixar perturbado quem quer que seja que tenha a paciência e a coragem necessárias pra ler uma bobagem dessas.

Ah! Que loucura é sentar em um bar sujo e sem graça só pra encher a cara com uns amigos que nem são tão seus amigos assim mas que te fazem companhia durante umas horas em que você despeja seu dinheiro ali em troca desse líquido refrescante e aditivo que é a cerveja, enquanto os garçons te conhecem pelo nome e puxam assunto sobre futebol e qualquer outra coisa que esteja em evidência naquele momento. E aí eu fico lá me sentindo uma boa pessoa porque bom, eu não estou fazendo mal a ninguém além de mim mesmo e durante um pequeno tempo me sinto realmente bem e acho que não preciso quebrar minha cabeça tentando encontrar um propósito inútil pra toda ação que eu ou o resto da humanidade faça.

E é engraçado ver que é uma grande bobagem não trabalhar, não estudar direito e não acreditar no que você faz nem achar que algo que você venha a fazer vai resultar em alguma coisa que valha a pena ás 03:36 da manhã de uma quarta pra uma quinta-feira calorosa e entediante e estou com uma pequena dor de garganta me incomodando pra valer, mas nada que me impeça de fumar e beber (apesar de saber que evitar isso por um certo tempo me deixaria novinho em folha) e divagar sozinho, completamente sozinho (Deus sabe que a solidão é uma benção e uma maldição) sobre bobagens inúteis que passam por minha cabeça perturbada numa noite tranquila como essa onde eu nem estou realmente bêbado e nem tenho o que fazer amanhã.

Mas nunca entendi direito o porque eu tenho uma necessidade quase que gritante de escrever, e escrever e partilhar devaneios completamente malucos numa página virtual (e não é realmente muito louca toda essa realidade virtual e real do século 21?) enquanto eu bem poderia estar me dedicado a fazer qualquer outra coisa, e perco o ponto do raciocínio porque no fundo o que eu queria mesmo dizer era lamentar sobre a necessidade extrema que eu sinto de terminar todo e qualquer texto ou nota com uma frase de efeito que cause algum impacto mínimo. Me sinto mal quando vejo gente falando sobre a escrita de outra pessoa e julgando aquilo como se estivesse comprando carne no açougue. Não que eu ache que as pessoas tem que gostar de tudo que leiam ou assistam, mas eu simplesmente encaro as expressões artísticas como coisas altamente pessoais e diferentes (mesmo quando imitadas, e eu falo sério!) porque cada um teve seu próprio sentimento e ninguém é obrigado e nem deve e provavelmente não irá entender esse sentimento exato que quem escreveu quis passar no papel quando quase que enlouquecia e se contorcia com os pensamentos ininterruptos de sua própria cabeça. E é assim que tudo passa girando ao nosso redor enquanto estamos preocupados com a lista do supermercado e a conta de luz e no que vamos estar fazendo nos próximo cinco anos enquanto sacrificamos cada minuto do nosso presente a troco de nada. E acho que eu não tenho muito mais o que falar além disso.

segunda-feira, novembro 09, 2009

metrô e ônibus
andando pela cidade
cidadãos anônimos.

domingo, novembro 08, 2009

“Some people never go crazy, What truly horrible lives they must live”

Charles Bukowski

quarta-feira, novembro 04, 2009

Got a box full of letters,
Think you might like to read
Some things that you might like to see,
But they're all addressed to me

Wish I had a lotta answers,
'Cause that's the way it should be
For all these questions,
Being directed at me

I just can't find the time
To write my mind
The way I want it to read

Wilco - Box Full Of Letters

sexta-feira, outubro 30, 2009

I've been fighting
against my own demons
and I know they're inside my head
making plans to drive me mad.

quinta-feira, outubro 29, 2009

Impossível escapar dos enigmas. Que nem as pessoas sorriem nas cantinas quando elas chegam e sentam na mesa mas na hora de ir embora, quando as cadeiras arrastam no piso em uníssono e elas pegam os casacos e as coisas com um olhar carrancudo (todos no mesmo nível de semicarrancudice que é uma carrancudice especial de frustração porque a promessa feita pelo sorriso na chegada não se cumpriu ou se se cumpriu morreu em seguida) - e durante essa vida curta que tem a mesma qualidade cega inconsciente do orgasmo tudo acontece com as calmas delas - é o GRANDE MOMENTO - a soma dos ápices dos relacionamentos humanos - dura um segundo - a mensagem vibratória a toda - mas também não é tão mística assim, é o amor e a sintonia num clarão. É assim que a gente que pira a noite de tudo quanto é jeito (surubas com quatro pessoas, conversas de três dias, viagens transcontinentais ininterruptas) também sente essa carrancudice temporária que nos avisa que é hora de ir dormir - nos lembra que dá para parr com isso - e nos lembra mais ainda que o momento é incapturável, já passou e se a gente dormir dá para reviver ele e fazer mil outras combinações e misturas lindas - embaralhas os velhos arquivos da alma num somo demente alucinado - Então as pessoas na cantina têm que olhar mas só até pegarem o chapéu delas, porque a carrancudice também é um sinal que elas mandam uma para as outras, um tipo de "Boa-noite senhoras" ou talvez uma gentileza interior do coração. Que tipo de amigo ia rir na cara dos amigos na hora de pegar o casaco fazendo uma carranca e de se curvar para ir embora? Esse gesto significa "Estamos indo embora dessa mesa que tinha prometido tanto - é nosso tributo aos tristes." A carrancudice continua assim que alguém diz alguma coisa e eles se dirigem até a porta - rindo eles atiram ecos de volta à cena do desastre humano - e descem a rua no ar renovado que o mundo providencia.
Ah, os corações loucos de todos nós!

Jack Kerouac - Visões de Cody, pág. 31

quarta-feira, outubro 28, 2009

eles estão
por todos os lugares,
e eles vão tentar
te desencorajar
e te fazer desistir.

eles estão
por todos os cantos
e eles vão tentar
fazer com que você arrebente sua cabeça
na primeira oportunidade que tiver.

e eles provavelmente
chegarão muito perto
de conseguir isso.

mas no fim
eles não vencem.
e você também
não vence.

e nenhum de nós vence.
porque não há nada
a se ganhar,
mas sempre há algo
a se perder.

terça-feira, outubro 27, 2009

daqui a cinquenta anos quando ele estiver velho e moribundo num asilo recém-construído onde os interesses vão estar tão afastados das loucuras à la Cristo subterrâneas rimbaudianas motociclísticas em Provincetown que não consigo nem imaginar - e o corredor de entrada dele tem o pior cheiro martirizante: o cheiro de sira - ele subiu as escadas, eu ouvi as portas se fecharem, pensei que talvez o próprio JC pudesse estar cagando, mijando (e é claro) mas principalmente se será que Victor dá uma cagada solitária no banheiro sem nada do prédio caindo aos pedaços e tem a mesma sensação que eu enquanto fica lá sentado olhando as paredes estragadas, sentindo o mesmo fedor, escutando os mesmos barulhos, com as mesmas sensações nos pés e talvez o mesmo engourdissement quando fica sentado por muito tempo, e volta para o quarto (como eu faço) pensando nos bagulhos que trouxe para casa num pacote e nas coisas em cima da mesa e nas pobres oscilações solitária do tempo e da consciência como todo mundo?

Jack Kerouac - Visões de Cody, pág. 25
E eles são aventurescos, um cara recostado na parede tem o mesmo olhar dum garoto de onze anos que fuma o primeiro palheiro encostado na parede da garagem depois do jantar na escuridão interessante de Eau Claire, Winsconsin - o mesmo jeito maroto como se a mãe estivesse dando um sermão nele - o mesmo olhar aventuresco dos caminhoneiros quando param sozinhos numa barraquinha da Coca-Cola emum cruzamento à noite no Texas e a enorme caçamba fica esperando por eles enorme do outro lado da estrada, com o estepe espiando por baixo da cabine que nem o emblema de carneiro fica espiando na tampa do radiador dos Doges - o carneiro voador da estrada - e os dois sujos e soturnos e vindos de longe e quietos estilo Henry Fonda e falando um com o outro dum jeito que não dá para ouvir e quando os dois saem juntos eles se movimentam com a mesma tristeza como se essa aventura a dois estivesse forçando eles a lamentar o mesmo caminho cuidadoso e lá vão eles na noite deles além de qualquer coisa de onde você que está olhando tudo fica, eles foram embora para nunca mais voltar e já foram e vieram como fantasmas atravessando os seus olhos e os mendigos têm a mesma tristeza grave, cuidadosa e aventuresca quando ficam empertigados de pé em frente à parede dum beco olhando para a frente com os olhos e as bocas úmidas de bebida brilhando àluz da lua numa Bowery lunar, cuspindo ou dizendo "Ô amigo, dá um trocado pra mim tomar um café", e nessa frase tem uma afirmativa. "Eu vim de muito, muito longe pra ficar escorado nessa parede - forasteiro - e você não precisa ficar me lembrando dos problemas que tive e dos quilômetros que andei - porque afinal eu sou de Houston e você é um maldito nova-iorquino que nunca teve no abençoado Texas - "

Jack Kerouac - Visões de Cody, pág. 23

segunda-feira, outubro 26, 2009

O fardo da indiferença

Então, tive o fardo da indiferença que me mordeu o coração e me cuspiu à alma.
E tudo era negro e insolúvel, e a vida parecia cada vez mais um filme monótono e entediante.

Os outros eram os melhores, e à margem deles eu estava.
E todos acreditavam em algo e veneravam suas próprias imagens, enquanto eu me flagelava e rezava pelo passar do tempo.

No que acreditavam todos os outros?

Me lamuriava em sonhos e me derretia em palavras.
O inferno, o inferno! Me dói a alma pensar em meu futuro.
Me desanima pensar no passado e me frustra olhar o presente.

Quão quente seria o inferno, e qual seria o tamanho do tridente do demônio?
Me parecia tudo tão inimaginável, tudo tão descrente e desinteressante.
Me faltava gosto em todas as comidas, e nenhuma bebida me matava a sede.

A maldição que me abatera não fora rogada por outros.
Era fruto de mim mesmo, e como num pesadelo, o diabo se esforçava em cumprir meu desejo.

Doia tudo. Os braços, o estômago e todo o corpo, enquanto a alma se dissolvia em bebidas. Na fumaça de meus cigarros se dissipava no ar. Pouco a pouco se acabava com o que havia pra se acabar.

O fim! O fim. Esperava por ele todos os dias. Aguardava que batesse à minha porta. O convidaria a entrar e seria um bom anfitrião, pronto pra partir.
Mas isso eram só palavras! E no fundo eu bem sabia que o fim me causava arrepios e muito me amedrontava.

Se por um lado me julgava superior, por outro me sentia um nada. E bebia e escrevia sobre isso em solitárias madrugadas.
Fazia de meus escritos minhas próprias orações, e de meus escritores favoritos meus próprios santos. E rezava em verso e prosa, em voz baixa e assustada, pra ninguém ler ou escutar.

Creio então que ainda espero.
Faço dos dias minha penitência e cumpro as horas da minha vida, uma após outra, enquanto escrevo e espero algo que me faça cair e acordar, e seguir e viver.
Enquanto os dias forem dias e as noites forem noites, haverá ainda a esperança de se fugir à foice!

foi erro meu

foi erro meu
achar que eu era grande coisa
e que uma hora ou outra
as coisas iam ficar
todas muito bem.

foi erro meu
achar que um dia
eu ainda poderia
chegar lá.

foi erro meu
achar que as coisas
eram simples e fantásticas,
e acreditar naquela bobagem
que os tolos repetem por aí
de que eu não precisava ver pra crer
e de que era só querer muito algo
pra realmente acontecer.

foi erro meu
achar que eu seria
um algo a mais.
achar que um dia
eu encontraria nessas ruas
algo que me satisfaz.

foi erro meu
acreditar no futuro
e sonhar com uma luz
quando eu estava apenas
perdido no escuro.

foi erro meu
tentar ser um alguém
por meios que não me pertencem
enquanto tentava desesperadamente
fugir da minha fria e pesada
jaula espiritual.

foi erro meu
acreditar na humanidade
acreditar em mim mesmo
acreditar na sobriedade
enquanto tudo o que eu tinha
era uma vida medíocre
e sonhos adolescentes
que alimentava com cigarro
e goles de cerveja.

foi erro meu
me imaginar como
um rockstar
ou um escritor
um jornalista
ou um poeta
quando só o que eu sabia fazer
era beber e chorar
e me comportar como
um pobre pateta.

foi erro meu
acreditar na oração
acreditar no coração
e em filmes com
finais bonitos
pra histórias feias.

foi erro meu
me perder em mim mesmo
acreditar na mágica realização
dos meus pobres desejos
enquanto tudo o que eu fazia
pra que algo acontecesse
era beber e escrever
antes que eu enlouquecesse
de uma vez por todas.

foi erro meu
esperar que tudo caísse do céu
e não aproveitar que tive
oportunidades e
todas as chances de acertar
enquanto me arrastava
e delirava
sobre como seria
se as coisas tivessem sido diferentes,
quando eu bem poderia
ter feito acontecer
com o que eu tinha
na minha pobre mente.

foi erro meu
ansiar pelo fim,
e acreditar em muitas coisas
mas não acreditar em mim.

domingo, outubro 25, 2009

Você nunca deveria ter aberto esta porta.

As calças justas e rasgadas, as pernas entortadas e a guitarra e o baixo quase no joelho. Os riffs simples e rápidos, as músicas com pegada rápida e impactante. E o vocalista ali, magro, alto e todo esquisito, com aqueles óculos redondos no rosto, segurando o microfone sempre com a mão esquerda e se apoiando no pedestal de uma maneira estranha enquanto esporadicamente aponta pra algum lugar no meio da multidão e balbucia umas frases da música. E os cabelos tigelinha, as camisetas curtas e sujas e as jaquetas de couro. É óbvio que você já sabe de quem eu to falando. E se você entende o que eu digo (o que eu espero que entenda), é meio básico saber que só esses caras aparentemente não entediam de nada mas entendiam de tudo. Eram como poetas do submundo, saídos dos confins de uma nova iorque caótica e confusa. E como todo jovem eles também tinham seus problemas, e só o que tinham a fazer pra se salvar dessa merda toda era cheirar cola, beber umas cervejas e tocar rock do jeito que fosse possível.

Esses eram os caras. Eu posso falar isso sem medo. Esses são os caras que me salvaram a vida. Esses são os caras que moveram gerações. Que transfomaram simples notas e frases em hinos da juventude. Eles entendiam da coisa. Eles eram uns fodidos, mas sabiam o que fazer. Eram gênios enclausurados em suas próprias lâmpadas de confusão. Eu me lembro dos Ramones todos os dias. Eu penso nos Ramones todos os dias e eu escuto aos Ramones quase todos os dias. É muito além do punk, de se inconformar com toda a merda que nos cerca. É uma coisa pessoal. É como uma doença na alma. É como um estado terminal crônico, que não te mata mas também não te deixa viver.

E haviam as garotas, mas na verdade não haviam as garotas. Lembro de assistir no documentário End Of The Century um trecho de uma entrevista com o Dee Dee onde perguntavam sobre as garotas no início da banda e ele simplesmente respondia que "não haviam garotas". Aquilo tudo é muito chocante. É muito simples, é muito comum e muito genial. Eles não tinham a faca, não tinham o queijo, mas tinham a cara e a coragem. Lembro de escutar aos Electro Shock Combo no Bar Potiguá da Rua João Pessoa, em Londrina. Lembro dos Ramoneiros londrinenses espremidos no bar apertado e da cerveja sendo arremessada pro alto enquanto a galera em êxtase entoava os trechos dos clássicos. Lembro dos punks pogando ali na frente. Lembro de acabar o show todo suado e de como aquilo tudo foi importante pra minha vida.

Não tem muito mais o que falar. Isso é basicamente tudo. Como uma música dos caras, isso acaba de repente e você se sente atordoado como se tivesse levado uma porrada e não saber de quem nem de onde veio. Mas não é uma sensação ruim, muito pelo contrário. É como se alguém te entedesse de verdade. É como se alguém dizesse tudo aquilo que você sempre quis dizer mas não sabia como. É como ler a O Apanhador no Campo de Centeio aos quinze anos. É como tomar um porre pela primeira vez, e se apaixonar perdidamente por uma garota que nunca vai te dar a mínima. Eu ainda acredito no sonho. Eu ainda acredito que no céu também há lugar para os pecadores. Eu acredito nos Ramones. Sempre vou acreditar. Você nunca deveria ter aberto esta porta.

sábado, outubro 24, 2009

Lamento

Lamento por todos à minha volta;
pelos enganos em que se metem
e pelos pecados que cometem.

pelas horas que trabalham,
pelas mentiras que espalham,
pelas bobagens que falam.

lamento por suas vidas enganadas,
por suas contas atrasadas,
e por suas crenças infundadas.

lamento por seus nascimentos,
e também por suas mortes;
como lamento por seus azares,
e também por suas sortes.

se tudo isso lhe é estranho,
como uma rua sem saída;
saiba que também lamento,
por minha própria vida.

sexta-feira, outubro 23, 2009

Fome

Tornei-me uma ópera fantasiosa: vi que todos os seres têm a fatalidade da ventura: a ação não é a vida, mas o modo de gastar alguma força, um desenervamente. A moral é a fraqueza do cérebro.
A cada ser, várias outras vidas me pareciam devidas. Este senhor não sabe o que faz: é um anjo. Esta família é uma ninhada de cães. Com diversos homens, conversava com um momento de uma de suas outras vidas. - Assim, amei um porco.
Nenhum dos sofismas da loucura, a loucura que é internada, foi desprezado por mim; podia dizê-los todos, peguei o sistema.
Minha saúde ficou ameaçada, o terror vinha vindo. Caía em sonos de dias e, de pé, prosseguiam os sonhos mais tristes. Estava maduro para o falecimento; por uma rota de perigos, minha fraqueza me levava aos confins do mundo e da Ciméria, pátria da sombra e dos torvelinhos.
Tive de viajar, distrair os feitiços reunidos em meu cérebro. No mar, que amava como se ele fosse me livrar de uma sujeira, via se erguer a cruz consoladora. Tinha sido condenado pelo arco-íris. A Ventura era a minha fatalidade, meu remorso, meu verme; minha vida será sempre imensa demais pra ser dedicada à força e à beleza.
A Ventura! Seu fio, sensível à morte, me advertia ao canto do galo - ad matutinum ao Christus venit - nas cidades mais sombrias:

Ó estações, ó castelos!
Que alma é sem defeitos?

Fiz o mágico aprendizado
Da Ventura, quem se esquiva.

Salve ela cada vez
Que cante o galo gaulês.

Ânsia já não sentirei,
Ela de mim tomou conta.

Seu encanto me salvou,
Dispensou qualquer procura.

Ó estações, ó castelos!

E ela só irá embora, ai!,
No momento em que eu morrer.

Ó estações, ó castelos!

_____________

Isso passou. Hoje sei saudar a beleza.


Arthur Rimbaud

quinta-feira, outubro 22, 2009

R.I.P - JACK KEROUAC



40 anos sem Jack Kerouac.
Descanse em paz, gênio.

what's the difference

what's the difference
between you and me
between getting bored
when there's nothing to see
on the television.

what's the difference
between all the hate
and all the love
between all beneath
and all above

what's the difference
between being alone
and stay at home
on a saturday night

and what's the difference
between pain with no end
and the time I spend
writing all this bullshit.

sexta-feira, outubro 16, 2009

the world is falling apart

the world is falling
apart
and i can't see no
light

and now the end
has come
and now my life
is gone

and I sit here
and try to write
but it's so hard
to find a start

now there's no
where to go
now there's no
cards to show

and now the world is falling apart
nobody seems to be so smart.

um poema por mês

um poema por noite
um poema por semana
ou um poema por mês.

há poetas que escrevem
dez poemas por dia
ou cem poemas por mês
e mil poemas por ano.

e há poetas que escrevem
dez poemas por década
ou cinco poemas por ano
ou um poema por mês.

eu só sento
e tento escrever
um poema de cada vez.

e não me importo
com números
e só me importo com
a intensidade.

mas nem todo poema
vale a pena ser lido
e grande parte dos poemas
nem deveriam ter sido escritos.

e é por isso que Hemingway estava certo
quando disse que
a lata de lixo é
o melhor instrumento de um escritor.

ele não disse exatamente isso,
mas creio que disse
algo parecido.

e é assim que,
tento esquecer meus problemas,
e escrever meus poemas,
um
de cada
vez.

quarta-feira, outubro 07, 2009

memory

they've been fooling
while the stars keep on shining,
high on the sky.
while my body still breathing
day by day.

and the gossips they
tell about us,
and the lies they
create about everything.
it's all so strange
and i can't see no
change.

one day
we will die
and they'll bury us
under the ground
and they'll put flowers
on our graves.

while the music will keep on playing
while the men will keep on praying
and i'll be just one more
memory.

terça-feira, outubro 06, 2009

haikais

em um dia de preguiça
deixo de lado
minhas premissas

--------------

cervejas e papo furado
sinto que fui
mais um enganado

--------------

ouvindo ramones
e rolando na cama,
um jovem insône

segunda-feira, outubro 05, 2009

nave mãe de outra galáxia

ás vezes tenho a impressão
de que sou um velho
mas ainda não tenho
nem vinte anos

e já me parece
tudo acabado
mas talvez eu esteja sendo
precipitado.

e me pergunto o que acontece
depois de algum tempo

mas eu não sei a resposta
e não acho que alguém saiba
e não acredito em destino nem em
supertições.

mas acho que no fim
não há nada além
de uma nave mãe
que me levará daqui
pra uma outra galáxia
onde os ETs vão me avaliar
e me estudar
como um espécime singular
dessa pobre raça.

domingo, outubro 04, 2009

esta noite

“seus poemas sobre as garotas ainda estarão por aí
daqui a 50 anos quando as garotas já tiverem ido”,
meu editor me telefona.

caro editor:
parece que as garotas já se
foram.

entendo o que o senhor diz

mas me dê uma mulher verdadeiramente viva
nesta noite
cruzando o piso na minha direção

e o senhor pode ficar com todos os poemas

os bons
os maus
ou qualquer outra que eu venha a escrever
depois deste.

entendo o que o senhor diz.

o senhor entende o que eu digo?


Charles Bukowski

eutanásia

Era um domingo
como todos os outros
e eu me sentia
entediado e
deprimido.

e eu não fazia
nada
há muito tempo.
e esperava que,
a vida pasasse
rápido.

e questionava
o porque
de não haver um botão
que desligasse
toda essa coisa.

e pensei em
eutanásia
e decidi que devia
fazer um documento
autorizando-a
caso precisasse.

e percebi que,
tudo o que mais queria
era que eu precisasse
o quanto
antes.

lamentando e se queixando

ela escreve: você vai
se lamentar e se queixar
em seus poemas
sobre como eu trepei
com 2 caras na semana passada.
eu te conheço.
ela escreve para me
dizer que meu sensor
estava certo -
ela recém tinha trepado
com um terceiro cara
mas ela sabe que não
quero com quem, nem por que
nem como. ela encerra sua
carta, "com amor"

ratos e baratas
triunfaram novamente
aí vem ele correndo
com uma lesma em sua
boca, entoando
velhas canções de amor.
feche as janelas
lamente
feche as portas
queixe-se.


Charles Bukowski

sábado, outubro 03, 2009

em casa no sábado a noite

carros colidindo
em avenidas desertas,
enquanto casais jantam
e trabalhadores se embebedam,
nos bares da cidade.

jukebox quebrada
e drogas batizadas
guitarras distorcidas
ressonam em altos decibéis.

crianças comem
sopas de letrinhas
e bêbados contam moedas
pra mais uma dose

merdas pelo encanamento
descargas sendo puxadas
e a água deslizando
de fora pra dentro,
de dentro pra fora

igrejas sileciosas
padres em celibato
se contorcem em
pensamentos libidinosos

e jovens ouvem rock
e bebem e fumam seus cigarros
enquanto os flanelinhas na rua
olham seus carros

e o final
não tem muita graça
porque todos eles
estão procurando algo
pra se distrair,

enquanto dançam
e fodem e bebem
e assistem impacientes,
o mundo cair
sobre suas cabeças.

eu

mulheres não sabem como amar,
ela me disse.
você sabe como amar
mas mulheres só querem
parasitar.
sei disso porque sou
mulher.

hahaha, eu ri.

por isso não se preocupe por ter terminado
com Susan
porque ela apenas ira parasitar
outro homem.

falamos um pouco mais
então eu me despedi
desliguei o telefone
fui ao banheiro
e mandei uma boa merda de cerveja
basicamente pensando, bem,
continuo vivo
e tenho a capacidade de expelir
sobras do meu corpo.
e poemas.
e enquanto isso acontecer
serei capaz de lidar com
traição
solidão
unhas encravadas
gonorréia
e o boletim econômico do
caderno de finanças.

com isso
me levantei
me limpei
dei a descarga
e então pensei:
é verdade
eu sei como
amar.

ergui minhas calças e caminhei
para a outra peça.


Charles Bukowski

sexta-feira, outubro 02, 2009

A Rita Lee é pros Mutantes o que a Nico foi pro Velvet Underground. Mas bem mais filha da puta.

o fim das rimas ruins

ando tendo
ressacas terríveis
em quartos horríveis
onde a luz entra de manhã
e não me deixa dormir

ando dormindo
quase sempre mal
em camas emprestadas
que rangem quebradas

ando tendo dores de estômago
tão ruins como todas as outras dores
e ando escrevendo poemas dramáticos
e cheios de horrores

e ando me odiando mais do que tudo
e odiando todos a minha volta
e torcendo pro tempo passar rápido
pra que tudo acabe de vez

e ando querendo
parar com essas rimas
tão ruins para mim
quanto pra você

tão ruim
pra quem as escreve
como pra quem
as lê

quarta-feira, setembro 30, 2009

pessoas como nós

jovens poetas
que nada ganham
vivendo em bares sujos
bebendo com estranhos

aonde está a saída
dessa loucura tamanha
que confunde minha cabeça
destrói minhas entranhas

rastejo em meu próprio sangue
mergulhado em tédio
e em livros baratos

que merda acontece
com pessoas como nós
que rezam e bebem
e são boas
ou tentam ser
e que no final
só querem morrer

afundado em loucuras e auto-confissões

fechado em sonhos
o que me resta?
de tudo que vivo
nada me interessa

de alma translúcida
e coração partido
percebo que sou
meu próprio inimigo

com medo das ruas
vivendo na escuridão
espero um alguém
que me estenda a mão

num futuro talvez
algo valha a pena
pra alguém que só queria
uma vida mais amena

afundado em loucuras
e auto-confissões
o que passa na cabeça
de um tolo pagão?

que fugiu da igreja
quando ainda era garoto
e que engole sozinho
o próprio desgosto

amargura, derrocada
não passam de bobagens
melodramas pueris
por tolos inventada

vivendo e escrevendo
poemas e histórias
espero ansioso
meus dias de glória

sábado, setembro 26, 2009

Uma temporada no inferno

Antes, se lembro bem, minha vida era um festim em que se abriam todos os corações, todos os vinhos corriam.

Uma noite, fiz a Beleza sentar no meu colo. E achei amarga. Injuriei.

Me preveni contra a justiça.

Fugi. Ó bruxas, ó miséria, ó ódio, a vós meus tesouro foi entregue!

Consegui fazer desaparecer no meu espírito toda a esperança humana. Para extirpar qualquer alegria dava o salto mudo do animal feroz.

Chamei o pelotão para, morrendo, morder a coronha dos fuzis. Chamei os torturadores para me afogarem com areia, sangue. A desgraça foi meu Deus. Me estendi na lama. Fui me secar no ar do crime. Preguei peças à loucura.

E a primavera me trouxe o riso horrível do idiota.

Ora, ultimamente, chegando ao ponto de soltar o último basta!, pensei em buscar a chave do antigo festim, que talvez me devolvesse o apetite dele.

A caridade é a chave. - Inspiração que prova que eu estava sonhando!

"Continuarás hiena, etc...", repete o demônio que me orna de amáveis flores de ópio. "A morte virá com todos os teus desejos, e o teu egoísmo e todos os pecados capitais."

Ah! pequei demais: - Mas, caro Satã, por favor, um cenho menos carregado! e esperando algumas pequenas covardias em atraso, como aprecia no escritor a falta de faculdades descritivas e instrutivas, lhe destaco estas assustadoras páginas do meu bloco de condenado eterno.


Arthur Rimbaud

quarta-feira, setembro 23, 2009

além do súbito final

tomando café
no final do mês
ouvindo aos smiths
no velho mp3
acendo meus cigarros um de cada vez

pensamentos ruins
conto até três
na cafeteria
só mais um freguês
e algum sentido
nada mais fez

no fim da linha
tudo se acaba
o que vier até lá
o tempo apaga

e num dia qualquer
estará tudo acabado
cafés e cigarros
memórias do passado

e numa noite qualquer
madrugada mal dormida
estarão fechadas
todas as feridas

da monótona
e pobre poesia
de um estudante
que nada mais fazia

além de rimas ruins
e prosas de jornal
o que há além
do súbito final?

segunda-feira, setembro 21, 2009

Henry and June

June:

Here I am.
This character, Mona. She's supposed to be me?

Henry:

Why?

June:

Nothing.
It's so good.
I always wanted you to be...
Dostoyevsky.

Henry:

- Is that good?

June:

- Good?
I struggled, suffered...
for this?
This isn't me.
This is not me!

Henry:

Of course it's you.
It's the you inside me.
It's a distortion.

June:

Henry, look at me.
Look!
You can't see me or anyone as they are.
I wanted Dostoyevsky.
Who can be Dostoyevsky with you?
You make that impossible!

Hery:

What do you want?

June:

- What do I want?
- Yeah?
After I brought the world to you?
After I told you all of my stories?
Sing my praises!
Make me an admirable character.

Henry:

- I'm not a portrait painter.

June:

- I'll say you're not.
Look what you've done to Anais.
You make everything ugly.
Beauty is a joke to you.
You're so negative.
You're a failure as a writer.
You're not a man.You're a child!
You use women!
You used me, you fucker!
You fuck!

domingo, setembro 20, 2009

fim de um velho tempo

há muito pouco pra se acreditar
nos dias de hoje
onde poucos sabem muito
e muitos não sabem nada

e é doloroso estar sozinho
em uma fria madrugada
com livros empoeirados
e uma certeza enganada

desses dias tão curtos
e tão longos na prática
da ingênua esperança
que aos poucos se acaba

além de poemas ruins
e frases enganadas
o que sobra a um alguém
que não acredita em mais nada?

mais que as dores de estômago
e os nervos inflamados
há dentro desse corpo
um coração machucado

e filmes bonitos
já não dizem mais nada
pois tudo o que restou
é uma vida estragada

pra que se ter esperança?
em qualquer bobagem escrita
por enganadas crianças
pobres parasitas

em virtude da verdade
encaro a negra realidade
de uma falta de talento
e do fim de um velho tempo

e os novos que chegam
não são nada animadores
praqueles que, como eu
não creêm mais
em falsos explêndores

domingo, setembro 06, 2009

So much for the days of glory
It's not like your idols died and are holy now
You cross the street and count to ten
And everyone that mattered went to bed
Or maybe they died

Ryan Adams - She's Lost Total Control

aguardamos pacientes o juízo final

é tudo tão horrível
e o mundo é
o maior dos castigos
que poderiamos sofrer

anjos caídos
e amaldiçoados
com almas corrompidas
e corações quebrados

em vidas miseráveis
e destino fatal
aguardamos pacientes
o juízo final

pois somos apenas
pilhas de carne e osso
de espírito atormentado
e fim premeditado

oração do pobre diabo amaldiçoado

as coisas estão
cada vez piores
e não há nenhuma
perspectiva de melhora

eu não gosto
do que me tornei
e eu nem mesmo sei
o que está acontecendo

então eu paro e rezo
e percebo que
é tudo infundado
e não existe nada

nao me sinto iluminado
e vejo que não passo
de um pobre diabo
amaldiçoado

então penso
nas diversas saídas
e não consigo
achar nenhuma

e torço para que
tudo isso
acabe logo

um dia
que pode ser
amanhã

amém

por que diabos

por que diabos
eu não posso
ser atropelado

e morto
tragicamente
em um terrível
acidente

e poucos
chorando minha morte
e eu contemplando minha sorte

agora sou só um espírito
em algum lugar
que eu não sei onde é

onde não há
dor nem
nenhum outro sentimento

e deus do céu
me ajude a sair dessa
da maneira mais
rápida e indolor

e no fim
eu só serei
mais uma lembrança
pra um alguém

terça-feira, setembro 01, 2009

pra um dia de tédio
whisky é o remédio

sábado, agosto 29, 2009

.

Lembro de ter chegado bêbado e que já passavam das seis da manhã, o sol raiava lá fora e eu me sentia absolutamente iluminado aqui dentro do meu quarto. É como minha caverna pessoal, e ás vezes eu passo tanto tempo aqui dentro que quando saio na rua de novo sinto até uma sensação de surpresa com o sol, as pessoas e essas coisas todas que estão pelas ruas. Lembro ter tentado cortar os pulsos com uma faquinha de cozinha, mas não era por tristeza, e sim por uma felicidade estranha que é quase impossível descrever em palavras. Eu tava ouvindo Neutral Milk Hotel no máximo volume no meu fone de ouvido pra não atrapalhar o resto do mundo, e então eu tive uma espécie de satori espiritual e foi simplesmente fantástico. Eu percebi que não havia nada com o que se preocupar, nem nada pra almejar, nem lugar em que eu quisesse estar. Eu não queria mais nada, e não precisava querer mais nada. Era como se eu tivesse alcançado o vazio naqueles poucos minutos, e eu não precisava de mais nada além de ir. E meu Deus, como aquilo era magicamente belo e poético como versos rimbaudianos escritos num parque iluminado de Paris. Não havia nada de ruim, de horrível e de triste no mundo e muito menos em mim. Eu era um cavalheiro do darma, um ser iluminado, mas isso não era expressado em mim como algo a se orgulhar ou se envergonhar ou se entristecer. Eu simplesmente havia alcançado a paz absoluta no meu coração e meu inquietante espírito se agitava de uma maneira tranquila como se tivesse finalmente entendido o significado de sua existência, e me senti como um Paulo Leminski ou Jack Kerouac em seus dias de budismo e de ambos os envolvimentos com a cultura oriental, mas apesar de toda minha ignorância nesses assuntos eu poderia jurar que ali eu havia finalmente atingido um ápice de tranquilidade inimaginável. Subi na cadeira, me olhei no espelho e não me reconheci. Era óbvio que era apenas um delírio bêbado, e isso ficou claro quando eu quase me caí no chão ao subir na cadeira pra louvar o céu, que na verdade era o teto do meu quarto e que é o chão do apartamento de cima e que está coberto por dezenas de outros apartamentos. Mas nada daquilo me importava na hora. Tentei escrever um hai-kai, um poema ou qualquer linha, mas simplesmente não havia o que escrever. Tudo o que eu precisava expressar ou sentir já estava impresso em minha alma, e eu era fantásticamente agraciado com a explosão da magnitude dos meus sentidos zen em uma tranquila reflexão pessoal e infelizmente pouco durável. Desliguei as luzes, vesti um pijama e fui dormir. Acordei horas depois, com a sede da ressaca e a memória comprometida. Sentei em frente ao computador ainda zonzo de sono e de ressaca e comecei a escrever. Então era isso que os iluminados faziam?

Big Sur

"Você me disse na primeira noite que me amava, que você nunca tinha conhecido ninguém que você gostasse tanto e aí começou a beber; eu realmente entendo agora que é verdade o que dizem de você: de você e de todo mundo que é como você: Ah eu entendo que você é escritor e sofre demais mas tem horas que você realmente é um filho da puta... mas mesmo isso eu sei que você não pode fazer nada e sei que no fundo você não é filho da puta não, é só completamente arrasado como você me explicou, os motivos... mas você vive gemendo que está doente, você realmente não pensa nos outros nunca e eu SEI que você não pode fazer nada, é uma doença curiosa que muita gente tem só que é melhor esconder às vezes... mas o que você disse aquela primeira noite e mesmo agora que eu sou Sta. Carolina à Beira-Mar, por que você não leva adiante as coisas que seu coração sabe que são Boas e verdadeiras, você se entrega ao desânimo com muita facilidade... mas também acho que você no fundo não me quer e quer só voltar pra casa e retomar a tua vida sei lá com Louise tua namorada" - "Não com ela eu não ia conseguir também não, estou todo amarrado por dentro como com uma prisão-de-ventre emocional, não consigo agir emocionalmente, como você diz emocionalmente, como se isso fosse um tremendo mistério mágico, todo mundo dizendo "Ah como a vida é maravilhosa, miraculosa, Deus fez isso e Deus fez aquilo", como é que você sabe se ele não detesta o que Ele fez: Ele podia até estar bêbado e nem reparou o que ele fez embora é claro isso não seja verdade" - "Vai ver que Deus morreu" - "Não, Deus não pode ter morrido porque Ele é o que não nasceu" - "Mas você tem todas essas filosofias e sutras que você estava falando" - "Mas você não vê que isso tudo virou palavras vazias, eu compreendi que vivo brincando como uma criança alegre com palavras palavras palavras numa tragédia muito séria, olha ao redor" - "Você podia se esforçar um pouco, porra!"

Jack Kerouac - Big Sur

sexta-feira, agosto 28, 2009

É claro que vai voltar. Eu sempre tive certeza disso, desde o primeiro momento em que essa espécie de paz ou sei lá que tipo de calma havia pousado sobre meu espírito. Eu aproveitei aquilo, e acho que ainda estou aproveitando, mas eu sempre tive a total certeza de que uma hora a porra toda ia voltar e ia ser ruim como sempre é. Tudo o que eu tinha a fazer era ficar bem tranquilo curtindo meu momento de paz, afastando os maus pensamentos e me preparando pra quando a tempestade voltasse a cair. É algo como estar preparado pra um ataque de bomba nuclear. E foi tudo isso que eu fiz nesses dias. Bebendo algumas cervejas tranquilamente (vez ou outra tomando um porre mais forte, mas sempre tranquilo e psicologicamente tão bem que no dia seguinte eu nem mesmo tinha ressacas), lendo meu livrinho do Jack Kerouac, Big Sur, que conta a história de como esse fantástico escritor enlouqueceu depois de um certo tempo nesse mundo. Eu ainda tô muito novo pra enlouquecer de verdade, e ás vezes acho que tô muito novo pra já ter esssa desesperança toda. Simplesmente não faz sentido nenhum. Foi algo parecido com o que eu pensei hoje quando eu tava na porta do boteco fumando um cigarro com um amigo e um muleque de uns oito ou dez anos apareceu e me pediu um cigarro. Ele tava com mais dois ou três camaradinhas dele, alguns com caixa de engraxate nas costas, todos muito maltrapilhos e provavelmente moradores das ruas do centro da cidade. Eu sabia que um cigarro a mais ou a menos não ia fazer diferença pra vida daquele muleque, mas relutei um tempo antes de dar. Meu amigo perguntou a idade dele e o guri não respondeu. Eu tava ali com o maço na mão pronto pra tirar um cigarro e dar pra ele, quando o filho da puta puxou o maço da minha mão e saiu correndo. Dei um pique pra tentar alcançar o muleque, e até ia dar, mas naqueles poucos segundos eu pensei que seria uma grande filha da putice bater em alguém daquela idade. Eu nem sou um cara violento, e nem sou do tipo que dá tanto valor assim a um maço de cigarro quase cheio, mas na hora fiquei meio puto. Voltei pra dentro do bar e dois dos camarinhas dele estavam lá. Disse que era bom chamarem o amigo deles pra devolver meu cigarro ali se não eu ia chamar a polícia. Eles patéticamente e num teatro muito mal ensaiado aprendido só por quem vive na rua disseram que não conheciam o mulequinho com quem tinham entrado ali minutos antes. Sairam logo depois e segui até fora. O muleque que tinha roubado meu cigarro tava com mais outro, também criança, na outra esquina. Saíram rápido e logo desataram a correr com medo de que eu realmente tivesse chamado a polícia. Dei umas tragadas no único cigarro que tinha me restado e a raiva passou. Pra falar a verdade fiquei pensando em tudo que aquela mulecada malandra passava todo santo dia. Devia ser foda viver daquele jeito. Comprei outro maço e voltei pra casa. Eu tinha uma casa, uma cama, computador, tevê, dvd, microondas, comida e essas porras todas. O mundo era uma grande merda injusta, e aí depois de um tempo eu voltei a pensar em como eu também tava tão perdido quanto aqueles muleques no meu universo particular. Enquanto eles procuravam sua sobrevivência nas ruas, eu procurava minha sobrevivência na minha cabeça. Coloquei pra tocar o primeiro disco do Bufallo Springfield e me senti terrívelmente confuso. Eu tava ali, duas da madrugada pensando em porque eu simplesmente nunca conseguia me sentir bem, independete do lugar em que eu estivesse ou do que eu estivesse fazendo. Fiquei ali considerando toda a porcaria em que eu estava metido, e em como aquilo não tinha nenhum valor. Era como se houvesse um verdadeiro caos dentro de mim, enquanto lá fora tudo corria como sempre. A noite quieta, os muleques em algum canto da cidade fumando os cigarros e tentando descolar algo pra comer e um lugar pra dormir, eu aqui dentro com um rango na barriga, uma cama e a cabeça cheia de merda. Eu não sei se Deus existe, e tenho minhas próprias convicções religiosas, mas de alguma forma eu acho que ele ou quem criou tudo isso do jeito que é é um grande sádico. Pobreza material e pobreza espiritual. Qual é a grande diferença? Estamos todos no mesmo barco, e afundando mais rápido do que dá pra perceber. Tive vontade de me meter em um ônibus pra qualquer lugar e sumir por uns tempos. Mas apesar de ter bem mais dinheiro que a mulecada, eu não tinha dinheiro suficiente pra fazer isso, e nem mesmo podia largar tudo do nada. Parecia que independente do que acontesse, eu sempre estaria amarrado a coisas sem importância que me manteriam fazendo coisas desinteressantes e me deixarem do mesmo jeito pra sempre. E parecia que todo mundo vivia assim também. Quantas pessoas estariam por aí agora? O que estaria passando na cabeça de cada uma delas? E meu Deus, quantos poemas e quantas linhas estariam sendo escritas nesse exato momento? Eu não conseguia enxergar a linha entre o fascinante e o entediante entre o mundo. Era como se ela não existisse, como se isso tudo fosse misturado e alternasse conforme a vontade dos demônios e dos anjos presentes na minha cabeça. Eu sempre dizia que esperava pelo pior, mas de uma maneira pessoal, secreta e esperançosa eu também esperava pelo melhor, ou pelo menos por algo que compensasse tudo isso. Mas qual seria o valor de viver todos os dias? Era um mundo injusto, e não havia nada que nós pudessemos fazer pra mudar isso.

domingo, agosto 23, 2009

Cigarros

a vida
é como o fumo
no começo
somos plantados
e cultivados

depois
somos colhidos
e enrolados
em simples papéis

e o mundo
nos queima
e nos traga
e nos solta

e nossa bituca
é arremessada
com a facilidade
dos velhos fumantes

de folhas secas
e sólidas
nos tornamos
fumaças no ar

quando acabamos
rapidamente
somos trocados
por outro

e cada um de nós
é um cigarro
que se enrola
e se acaba

mas é difícil nos deixar
pois somos viciosos e prazerosos
tanto quanto
somos maléficos e asquerosos

e um a um
fazemos do mundo
de um jovem sorridente
um velho moribundo.

sábado, agosto 22, 2009

quero passar os dias
longe de você
vivendo pra bebida
bebendo pra viver

quinta-feira, agosto 20, 2009

Big Sur

E então vai ver que é verdade o que diz Milarepa*: "Embora vocês, jovens da nova geração, vivam em cidades infestadas de destino enganoso, o elo da verdade ainda permanece" - (e disse isso em 890!) - "Quando permanecerdes na solidão, não penseis nas diversões da cidade... Voltai vossas mentes para dentro que encontrareis vosso caminho... A riqueza que encontrei é a inexaurível Propriedade Sagrada... A companheira que encontrei é a bem-aventurança do perpétuo Vazio... Aqui no lugar de Yolmo Tag Pug Senge Dzon, a tigresa urra com uma voz trêmula e patética que me lembra que seus filhotes brincam cheios de vida... Tal como um louco, não tenho pretensão nem esperança... O que vos digo é a verdade sincera... Estas são minhas palavras loucas... Ó inumeráveis seres maternais, pela força do destino imaginário vedes uma miríade de visões e experimentais infindas emoções... Sorrio... Para um Iogue, tudo é belo e esplêndido!... Na tranquilidade boa deste Cercado de céu que a si próprio beneficia, os sons oportunos que ouço são todos sons de meus companheiros... Em tal lugar aprazível, na solidão, eu, Milarepa, permaneço feliz, meditando sobre a mente que ilumina o vazio - Quanto mais Altos e Baixos, maior a Felicidade que sinto - Quanto maior o medo, maior a alegria que sinto..."

*Milarepa - Místico budista tibetano

Jack Kerouac - Big Sur

segunda-feira, agosto 03, 2009

Big Sur

Durante toda a noite à luz do lampião cantamos e berramos canções o que é legal mas de manhã a garrafa está vazia e acordo numa de horror de novo, exatamente como acordei no hotel espelucan em São Francisco antes de fugir pra cá, caí naquela de novo, já me ouço gemendo mais uma vez "Por que Deus me tortura?" - Mas quem nunca teve nem mesmo um princípio de delirium tremens talvez não compreenda que é menos uma dor física do que uma angústia mental impossível de explicar pros ignorantes que não bebem e acusam os beberrões de irresponsabilidade - A angústia mental é tão intensa que você fica achando que traiu seu próprio nascimento, os esforços, até as dores de parto da tua mãe quando ela te pariu e te deu à luz, você traiu todos os esforços que teu pai fez pra te alimentar e te criar e fazer você ficar forte e até mesmo, meu Deus, te educar pra "vida", você sente uma culpa tão profunda que você se identifica com o demônio, e Deus parece tão distante te abandonando à tua bobeira doentia - Você se sente mal na ecepção da palavra, respirando sem acreditar na respiração, malmalmal, tua alma geme, você olha pras tuas mãos impotentes como se elas estivessem pegando fogo e você não pode se mexer pra fazer nada, você olha pro mundo com olhos mortos, no teu rosto uma incalculável expressão de queixa como um anjo constipado numa nuvem - É como se você dirigisse um olhar canceroso ao mundo, através de chumaços de lã escura sobre os olhos - Tua língua fica branca e nojenta, teus dentes estão manchados, teu cabelo parece ter secado da noite pro dia, tem pedaços grandes de remela nos cantos de teus olhos, caca no nariz, espuma nos cantos da boca: em suma, aquele horror asqueroso e tão conhecido que todo mundo já viu nos bêbados de rua dos becos do mundo - Mas não há alegria nenhuma nisso, os caras dizem "Ah ele está bêbado e feliz, deixa ele dormir" - O pobre bêbado está chorando - Está chorando querendo a mãe e o pai e o irmão mais velho e o melhor amigo, ele quer ajuda - Ele tenta se compor puxando um sapato pra perto do pé e nem isso ele consegue fazer direito, ele deixa o sapator cair, ou derruba alguma coisa, inevitavelmente faz alguma coisa que faz com que comece a chorar outra vez - Quer esconder a cara nas mãos e gemer pedindo piedade e sabe que piedade não há - Não apenas proque ele não merece mas porque a tal da piedade simplesmente não existe - Porque ele olha pro céu azul e nele não há nada senão espaço vazio fazendo uma careta pra ele - Ele olha pro mundo, o mundo está de língua de fora pra ele e depois que essa máscara é removida está olhando pra ele com grandes olhos vermelhos vazios que nem os dele - Pode ser que ele veja a Terra se movendo mas o fto não tem qualquer significado - O menor ruído inesperado às suas costas faz com que ele sinta raiva - Ele puxa e repuxa a sua pobre camisa manchada - Ele tem vontade de esfregar a cara em alguma coisa que não esteja ali.
Suas meias são um grude grosso cansado e úmido grudentas - A barba em seu rosto coça e sua e incomoda a boca torturada - Há uma sensação confusa de nunca-mais, chega, argh - O que era lindo e limpo ontem transformou-se irracional e inexplicavelmente num grande monte de merda - Os pêlos em seus dedos o encaram como pêlos de túmulos - A camisa e a calça grudaram-se a seu corpo como se ele tivesse que ficar bêbado pra sempre - A dor do remorso vai penetrando-lhe como se alguém a empurrasse do alto - As lindas nuvenzinhas brancas no céu só lhe fazem doer a vista - A única coisa que lhe resta fazer é virar pro outro lado de cara no chão e chorar - A boca está tão contorcida que não há como trincar os dentes - Não há nem mesmo forças pra arrancar os cabelos.

Jack Kerouac - Big Sur

domingo, agosto 02, 2009

bobagens líricas

não há mais
nada a se dizer
nesse momento
sombrio

de flores
ressecadas
a primavera
acabada

nas ruas
escuras
doces beijos
de outras bocas

não há ninguém
me esperando
em seus braços
não há pernas
me esperando
em seu enlaço

inóspito inverno
de solidão
no peito jovem
já não bate um coração

pega tuas flores
e as leva daqui
não acredito em primavera
nem mesmo sei aonde ir

não sou bom escritor
nem mesmo bom em nada
minhas qualidades
já estão esgotadas

e na velha
manhã de ressaca
sem ninguém
sem mais nada

estarei um dia
descansando em paz
embaixo da terra
mórbidamente abençoada

segunda-feira, julho 27, 2009

Big Sur

"Com a mente equilibrada e de pé e em lugar nenhum, como diria Hui Neng, saio dançando como um doido de meu doce refúgio, mochila nas costas, depois de apenas três semanas e na verdade só uns três ou quatro dias de tédio, e vou pra cidade na maior fissura - "Tu partes feliz e voltas triste", diz Tomás a Kempis falando sobre os insensatos que saem em busca do prazer como adolescentes em noites de sábado correndo em direção ao carro endireitando a gravata e esfregando as mãos de antegozo só para acordar gemendo na manhã de domingo numa cama que quem vai arrumar depois é a mãe - "

Jack Kerouac - Big Sur

domingo, julho 26, 2009

haikais insônes

#1

garoto imcompreendido
seu maior erro
foi ter nascido

#2

Agora acabou
ela se foi
nada restou

#3

o mau humor
esconde
a grande dor

sábado, julho 25, 2009

Exorcismo Pt. 1

E então
no carro em movimento
nos encotramos de novo
se beijando e
eramos apenas
bêbados que não sabem
o que fazem
ou falam

e depois
deitados
eu ainda bêbado
balbuciava bobagens
e você me dizia
"porque você está falando isso?"
e eu não sabia responder
porque eu nunca sei
falar sobre essas coisas

e então
no dia seguinte
nós pareciamos dois estranhos
que não se conhecem
e você me evitou
e eu percebi
que você não era nada
do que eu sempre imaginei

como um padre
eu havia te exorcizado
e agora
não havia mais
nenhum espaço
pra você

E no final
tudo acabou
e você não passou
de inspiração pros meus escritos
e agora
neles você estará
e toda nossa breve e
simples história
vai acabar
e só o que
vai sobrar pra contar
são esses simples
poemas da alma
"Dear God", said Jack Kerouac. And them I came into him, and we fight and write together. Full of pain and live waving to get out trought these papers. And Jack, this desolation angel, are blessing me right now, when I write about one more girl who screw me up. Wow. writters who yel and drink til they're writing theses crazy words from deep of the heart right of the paper who makes these funny noises like PAPAPAPAPAPSAPAPAPAPAPA.And them, he try to make a poem. Poor young boy. You don't know nothing but you wanna know all.

terça-feira, julho 21, 2009

One more night, the stars are in sight
But tonight I'm as lonesome as can be.
Oh, the moon is shinin' bright,
Lighting ev'rything in sight,
But tonight no light will shine on me.

Oh, it's shameful and it's sad,
I lost the only pal I had,
I just could not be what she wanted me to be.
I will turn my head up high
To that dark and rolling sky
,For tonight no light will shine on me.

I was so mistaken when I thought that she'd be true,
I had no idea what a woman in love would do!

One more night,
I will wait for the light
While the wind blows high above the tree.
Oh, I miss my darling so,
I didn't mean to see her go,
But tonight no light will shine on me.

One more night, the moon is shinin' bright
And the wind blows high above the tree.
Oh, I miss that woman so,
I didn't mean to see her go,
But tonight no light will shine on me.

Bob Dylan

late night blues

É noite, é noite, é madrugada e eu estou aqui morrendo de tédio e me arrastando entre o não fazer nada e o pensar em cada aspecto da minha vidinha e formular planos que muito provavelmente não vão se realizar e pensando em maneiras de consertas as coisas e fazer com que tudo fique ok. Leio um livro de Jack Kerouac, inédito pra mim até então. Viajo nas páginas, sonho com as divagações pessoais do velho Jack e penso em tudo aquilo na minha cabeça que mantém um fluxo constante de pensamento & delírio & viaja pelo espaço onírico do meu subconsciente atormentado por toda a vida presa e bloqueada por pensamentos ruins & visões infernais que há dentro de mim. E penso nisso e sonho e olho pro céu e pra cidade de Londrina enquanto fumo um cigarro e penso em como tudo pode ser ao mesmo tempo belo e esperançoso e odioso e terrível. Penso em como vida e morte podem andar juntas lado a lado e como amor e ódio também não se separaram e em como ainda somos jovens e temos planos e sonhos que vão se dissipar em alguma coisa num futuro não tão distante, e em alguns anos estaremos lamentando & comemorando e refletindo sobre os tortuosos caminhos que nossas vidas tomaram e sobre tudo o que sonhavámos em fazer (no hoje em que estou) e tudo que não fizemos ou que fizemos e como teria sido se fizessemos diferente, mas então já vai ser muito tarde pra mudar alguma coisa então é por isso que é muito importante pensar e pensar e ter tudo muito bem desenvolvido na cabeça para não fazer nenhuma bobagem que foda com todo o resto.

segunda-feira, julho 13, 2009

um lugar repleto de nada

em poemas
mal escritos
por pessoas
mal acostumadas
falta raiva
falta algo
que não sei explicar

falta em mim
principalmente
a verdade, o pesar
de palavras
bem escritas
transbordantes
e raivosas
de toda a merda
que nos cerca
de toda a merda
que me esfola

e então
pobres diabos
repetidores de palavras
com maldições pregadas
para sempre condenadas
a falta de talento
de raiva
e de sentimentos

e no fim
ainda longe
haverá mesmo
a dor eterna
de ter tudo
e não ter nada
e da certeza
das palavras
e de uma vida
miseravelmente mal aproveitada

e que algo
mude o curso
dessa porra toda
ou então
não haverá mais
nenhuma razão
para continuar
se enganando com
sonhos fantasiosos
de um futuro esperançoso

pois no fim não há mais nada
além da sileciosa e
interminável estrada
que nos levará
a algum lugar
escasso de tudo
repleto de nada

ás vezes é duro saber

ás vezes é duro saber que
as coisas não são
como deveriam ser
e ás vezes é duro saber que
estou tão longe
e tão perto
de lugar nenhum

e nos desencontramos em
cidades diferentes
em meu frenético
vai-e-vem atrapalhado
perdido em ruas conhecidas
de lugares entediantes
e noites mal dormidas

e ás vezes é tão duro saber que
ela é tão macia e tão nova
e tão ingênua e tão imperfeita
e eu sou tão tolo de continuar
correndo atrás
pois se ela é uma ilusão
eu sou ainda mais
Patético
atraído pela superficilidade
da beleza fútil

pois estou cansado
dos velhos pesadelos
que me assombram
todos os dias de minha vida
porque estou cansado
dos meus velhos medos
que me aflingem
todos os dias da minha vida

porque
ás vezes é duro saber que
não há nada tão duro quanto
não saber nada

sábado, julho 11, 2009

what I really know

she don't want me anymore
there's no reasons to cry
i should'nt be sad
there's no reasons to lie

she's around
hangin' out with her boys
i'm here, all alone
writing poems without joy

i dont have a job
i dont have a dream
she's young and hopefull
i'm out of the scene

now there's only me
my books and records
watching movies on a lonely night
drinkin wine, I guess I'm fine

I can't be uselless for somebody
or just can i be this damn loser for ever?
what you expect me to do?
why don't you want me to you?

cigarrettes
hangovers
I get a cold
I know some poems
I do haikais
I cry at night

and in the end
someday, who knows
i'll show everybody
what I really know

terça-feira, julho 07, 2009

naive hai-kais

#1

noite quieta
nada a se fazer
penso sozinho.

#2

faz certo frio
madrugada adentro
lá fora, o vento.

#3

bandas de rock
agitam uma noite quieta
tudo se foi

#4

solidão
me diz agora
o que nisso é bom?

#5

pensamento
o que eu faço
pra ter seu tento?

#6

se hoje sou assim
o que será
o amanhã de mim?

#7

ela me deixou
agora é tarde
nada restou

#8

primavera
traz tuas flores
inverno te espera

#9

o que se espera
de um poeta
que nada gera?

#10

jovens perdidos
agora é tarde
tudo é proibido

#11

bloqueio criativo
o que te fiz
pra fazer isso comigo?

#12

falta de idéias
são como abelhas
sem colméias

#13

o cachorrinho riu
lhe fiz um afago
e agora, tudo está acabado

#14

corações quebrados
não batem mais
nem são amados

domingo, julho 05, 2009

Conversando com um amigo e explicando a ele sobre meu fascínio com o cinema italiano: "Eu gosto do jeito de ser dos italianos. Bravos, sentimentais, sei lá. meu sanguinho italiano de imigrante pobre do sul fala alto nessa hora. (...) Meu sentimentalismo é barato, tipo uísque falsificado, música de corno. Essas coisas."

terça-feira, junho 30, 2009

She talks to birds she talks to angels
she talks to trees she talks to bees
She don't talk to me
Talks to the rainbows and to the seas
she talks to the trees
She don't talk to me
Don't talk to me

segunda-feira, junho 29, 2009

amaldiçoados em uma maneira particularmente nossa

Acho que faz um bom tempo que eu não pego e começo a escrever qualquer coisa como pretendo fazer agora. Isso faz mal pra sanidade, isso de não escrever. É como se as coisas fossem se empilhando dentro de você, como caixas lotadas de porcaria que você não consegue despachar pra lugar nenhum. Não dá pra dizer que é falta de tempo. Acho que não conheço muita gente que tem tanto tempo livre quanto eu. Não conheço muitas pessoas que são mais preguiçosas que eu, e nem que tem a sorte que eu tenho de poder não fazer quase nada e ainda ter comida na mesa e um monte de luxos. Quando eu paro pra pensar nisso eu começo a ter certeza de que sou um grande filho da puta. Mas isso não é culpa minha, ou é? Eu quero fazer algo. Só não sei o que. Aí fico blasfemando contra um monte de coisas, ouvindo os discos e saindo pra beber esporadicamente. Uma vez li um conto do Hunter Thompson em que ele usava o termo "um exército de Holdens Caulfield". Era sobre estudantes revolucionários de uma universidade da California na década de 60. É óbvio que tinha todo um contexto para a frase, e eu vou usar o termo em outro contexto agora, mas é porque ele caí perfeitamente bem. Olha só pra tudo isso na rua. Olha só todos esses caras e essas minas. Deus do céu. Alguns tem uma luz interior piscando e brilhando e pedindo pra que alguém faça alguma coisa. Eu sempre imaginei que ser jovem era a melhor coisa por causa disso. Ainda não havia um conformismo direto com tudo que a gente adquire quando envelhece. Era a porra de uma luz brilhando e de violência e rebeldia. Não dá pra explicar. Sou muito abstrato e vago quando quero explicar algo. Sou péssimo pra contar histórias e anedotas. É por isso que as coisas funcionam melhor na minha cabeça.

Então, as aulas da faculdade acabaram. Só haviam mais três dias de aula, mas algumas pessoas da faculdade estão com gripe suína e eles resolveram cancelar já. Peguei um ônibus pra Londrina e desci pra cidade que eu amo e odeio. Acho que todo mundo que já viveu um tempo considerável em Londrina tem sentimentos parecidos em relação à cidade. Não dá pra explicar, é só você tendo sentido a atmosfera daqui. Passam as gerações, passam as pessoas, fecham-se os bares, criam-se leis cretinas e a juventude londrinense fica cada vez mais escrota e acuada. Mas não dá mesmo pra explicar. A cidade tem uma dualidade estranha, misteriosa. Conserva costumes de cidade pequena mas aspira ser uma grande cidade. Há pessoas que sonham em sair e se dar bem. Há pessoas que sonham em transformar tudo sem sair daqui. Há pessoas que não se importam com nada, e que continuam aqui mesmo assim. Acho que a cidade tem uma coisa estranha. Apesar de ter um monte de contras, a cidade teve seus vários prós pra mim. Conheci um monte de gente legal aqui. Pessoas verdadeiras. Há menos jogos de imagens. Há mais fofocas, mais bobagens, mas mais verdades também. Não dá pra explicar. Não posso continuar nessas divagações abstratas e insensataz. Eu posso continuar resumindo o que tem acontecido.

Então eu peguei o ônibus e vim pra cá. Encontrei os amigos. Nos entediamos juntos. Fomos aos mesmos lugares de sempre. Encontrei minha garota. Eu gosto dela, ela me faz bem, e gosto de estar com ela. Não sou loucamente apaixonado por ela como era pela outra. E isso me dói pra caralho. Mas tudo bem, porque ela também não é loucamente apaixonada por mim. A gente só se da bem junto. E estou evitando fazer qualquer tipo de cagada em relação a isso. Acho que tem dado certo. Mesmo que ás vezes eu tenha uma vontade quase incontrolável de chegar naquela outra miserável criança e dizer o quanto eu sou ou era loucamente apaixonado por ela e que faria tudo pra ela me dar uma outra chance. Mas ela é só uma criança, não sabe de nada e vê as coisas por um só ângulo. Acho que eu também já fui assim. E eu continuo sendo em partes. Ainda sou muito novo e muito inocente. Mas, foda-se. O meu velho e antigo lema pra quando eu não sei mais o que falar sobre algo. A minha velha desculpa pra minha mediocridade e pra minha falta de assunto e de paciência pra desenvolver qualquer coisa que possa chegar perto de ser um pensamento decente. Foda-se. Foda-se tudo e todos. Que tudo se foda. Eu ainda sou o mesmo que ouvia aos sex pistols todo santo dia e imitava o Johnny Rotten quando bêbado. O mesmo que aos 15 anos usava um cadeado no pescoço pra imitar o Sid Vicious. É só isso que importa.

Gostaria de reiterar, que de alguma forma, apesar de tudo, as coisas estão bem. Tenho conseguido balancear todas as coisas de uma maneira sensata. Tenho conseguido me manter tranquilo e fazer as coisas que gosto de fazer. Tenho me sentido muito bem. Ás vezes penso que isso pode ser um pouco ruim. Não há mais grandes excitações e paixões por qualquer coisa. Não há mais full of life. É uma sensação de um certo vazio, mas ao contrário do que possa parecer, isso não tem me abalado nada. Obrigado quem quer que seja que esteja olhando por nós. Obrigado por qualquer coisa que faça as coisas continuarem indo em frente e não nos deixarem desistir. Obrigado por nosso brilho interno e eterno que esporadicamente ainda irradia como uma grande estrela infinita. Obrigado por haver palavras e bobagens a se falar. Obrigado por haver música de qualidade. Obrigado por todos os grandes escritores. Obrigado por tudo e obrigado por nada. Não sou um total descrente. Não sou um negativista. Sou alguém tranquilo. Estou agarrado a meu toco de árvore no rio e não vou deixar a corretenza me levar. Tudo vai ficar bem. Somos iluminados. Somos mal-amados. Somos abençoados. E somos detestados também. E até mesmo amaldiçoados, quem sabe, de uma maneira particularmente nossa.