quarta-feira, outubro 29, 2008

São coisas da vida

Plac, plac, plac. Andando pela casa na madrugada. Sempre usando pijamas e procurando algo pra fazer. Na verdade não tenho um pijama, uso sempre um shorts e uma camiseta qualquer. Mas fico andando por aí, procurando o que fazer. Daí sento aqui e rabisco algo. Fumo um ou dois cigarros e ouço algumas músicas. Plac, plac, plac. Sempre igual.

A casa está quase sempre vazia, mas prefiro ficar no meu quarto. A privacidade é algo extremamente necessário na minha vida. Ligo a TV, rodo por uns canais. As mesmas merdas de sempre. Volto pro computador. Uns toques ali, outras músicas aqui. Ás vezes vejo algum filme. E então fico sem fazer nada. Ou fazendo algo que corresponda a não fazer nada. Durmo tarde da madrugada, quase sempre perto do amanhecer, e acordo tarde do dia, quase sempre no início da tarde.

É foda acordar de tarde. Levanto e tenho aquela sensação de que ainda é manhã, mas já são quase duas ou três da tarde. Todas as pessoas estão fazendo algo. Me sinto um vagabundo. Preparo algo pra comer ou vou no mesmo restaurante de sempre. Me alimento bem. Gosto de ter algo no estômago. Faz bem em todos os sentidos. Você é alguém mais poderoso quando come um bom prato de comida. E é alguém ainda mais poderoso quando fuma um cigarro depois desta refeição. O melhor cigarro é sempre depois da refeição. As tragadas descendo e a barriga cheia. Aquela preguiça estranha e a fumaça subindo. Tão satisfatório quanto um drinque no final de um dia estressante.

Os livros estão sempre ali na cômoda emprestada. Até que tenho uma boa coleção. Não é das gigantes, mas está crescendo aos poucos. Quem sabe algum dia eu não tenha minha própria biblioteca? Escolho um e começo a ler. Se não estou a fim de começar a ler algum, ou se já estou ocupando lendo um, só escolho um dos bons e folheio algumas páginas para relembrar. É sempre divertido. Os melhores livros sorriem quando eu os abro. Talvez eles saibam que eu gosto muito deles. São uma espécie de orgulho particular. Enquanto algumas pessoas têm roupas novas eu tenho meus livros e discos. Gosto disso.

Quem disse que eu sou um completo vagabundo? É, não da pra negar que eu me sinto assim, mas eu ainda faço faculdade, e vou as aulas com freqüência. Todos os dias é a mesma coisa. Vez ou outra tem trabalhos quase completamente inúteis. Vez ou outra eles te irritam pra valer. É foda saber que você faz aquilo tudo pro professor decidir se você é ou não bom o suficiente pra aquela profissão que você está se habilitando pra exercer. E é claro que você sabe que é. Na verdade você tem certeza que é ótimo pra profissão, e acha mesmo que é melhor que ele e todos os outros. Mas não da pra se iludir demais. Ás vezes você também acha que é pior que o cocô do cavalo do bandido. São coisas da vida. Da minha vida. E talvez da de outras pessoas. Mas eu ainda não as conheço pra saber. Nunca se sabe o que se passa na cabeça de quem passa por você na rua ou senta do teu lado no metrô.

sábado, outubro 25, 2008

E agora teus livros não te servem pra nada. Teus discos muito menos. As garotas não te dão a mínima. Você não é atrativo. Suas idéias não as impressionam.Você não passa de mais um dos tantos. Você coleciona livros e discos e as garotas colecionam seu coração. É o simples prazer de te fazer de bobo. Porque no finalvocê não passa mesmo disto. É só mais um tolo de papel e caneta na mão. Só mais um ingênuo que ainda acredita em coisas que não acreditam em você.

A cidade te conquista. Te amedronta. Te envolve. Você não sabe pra onde ir, mas vai mesmo assim. Entrando nos becos mais escuros. E ouvindo os problemas de gente que você nunca viu antes. Mas os teus problemas você não diz. Não tem mesmo o porque. Seu relacionamento nas ruas é estritamente com a garrafa. Vocês fazem um belo trio, você, as letras e a garrafa. Mas você não se importa muito com isso. Você não se importa com muitas coisas. Você guarda tudo para as letras. As palavras e as folhas em branco. É só aquilo ali que importa. O resto não vale merda alguma. Quase nada vale alguma coisa. Nem mesmo você vale algo. São só as malditas letras. Você, elas e a garrafa. E é só isso que importa.
Me diz o que você tem nessas ruas. O que tem esse chão cinza e toda essa gente. Toda essa sujeira e poluição. O barulho dos carros. As putas da augusta e os botecos da madrugada. Você me odeia e eu te amo. Você me trata como se eu fosse mais um dos que são apaixonados por você mas não te entendem. Você é uma puta barata e encantadora ao mesmo tempo. E você sabe que nós te amamos. E você nos maltrata, mas também nos ajuda. A droga do teu hálito é de matar de tão bom. As tuas curvas são um mistério indecifrável. Você é toda complicada. Toda gigante e importante. Você é filha de gente rica, mas também gosta dos pobres, porque sabe que são eles quem mais gostam de você. Eles não te trocariam por qualquer uma. Eles dificilmente te trocariam. Se te trocam algum dia ficam pensando em você no resto de suas vidas. Porque você é uma puta maravilhosamente encantadora. Você é a merda da metrópole gigante e estranha. Toda misturada e diferente. Uma baita foda, é o que você parece. A melhor foda da vida de alguém nos seus melhores dias. Mas ninguém agüenta a tua TPM. Quando você quer ser chata é mesmo a mais chata de todas. Mas no final todo mundo sabe, que o prazer de te ter vale todas as conseqüências.

quarta-feira, outubro 22, 2008

I spend my time in cottonwood looking for a sign / Sitting by myself and I'm running out of time / Listen to the wind talking just to me / Listen now can't you see /These are the days no one sees / They run together for company / I am the day no one needs / There'll never come another one like me

Paul Westerberg - These Are The Days


As coisas não mudavam de um dia para outro. Eu estava cansado de falar sobre isso e de falar sobre qualquer outra coisa. Eu estava cansado de dormir e acordar e também estava cansado de comer e de andar. As coisas não tinham um grande propósito no final. Eu era invisível pra todas as pessoas que não deveria ser, e quase fosforescente para as que deveria. Os chatos continuavam me enchendo. Todos os santos dias. Em todos os malditos lugares. Nem mesmo a bebida tinha alguma graça. Quando você é invisível acaba não vendo graça na maioria das coisas.
Era um verdadeiro martírio sair de casa e dar de cara com todas essas coisas que acontecem na rua. Ficar em casa também era uma monotonia sem fim. Sonhava em estar de coma por dois ou três meses. Férias do mundo, férias da vida. Não tinha vontade de ir para lugar nenhum, e não tinha vontade de fazer nada. Não me sentia triste, nem feliz, nem angustiado, nem porra nenhuma. Era só um maldito tédio sem fim. Eu era só mais um fantasma penando por aí.
Lembro das pessoas que eu costumava sentir pena por parecem não ver mais graça na vida. Agora eu era uma delas. Estávamos todos no mesmo barco, navegando em direção as pedras.

quinta-feira, outubro 16, 2008

Bons tempos em que os tempos eram somente tempos.

Vizinho suicida

Era uma quarta-feira como outra qualquer. Na outra noite eu tinha ficado na casa de um amigo bebendo umas garrafas de vinho e fumando haxixe. Não gosto muito dessas coisas de fumar, com exceção do cigarro, mas cada dia é um dia. A merda já estava feita. Acordei por volta do meio-dia, como sempre. Fui até o banheiro para fazer todas essas coisas que as pessoas fazem quando acordam. Um barulho de gente falando e de multidão vinha de fora. Estranhei aquilo tudo. Que porra estaria acontecendo hoje. Isso era normal na Avenida Paulista. Todo dia algum protesto, manifestação, celebridade ou coisa assim atraia um monte de idiotas e curiosos a ficarem parados pelas ruas. Fui até a janela da sala pra fumar meu cigarro matinal e ver o que estava acontecendo.
Na frente do prédio havia uma multidão de curiosos. Enxuguei os olhos e tentei me recuperar do sono recém acordado. Olhei pra baixo e vi algumas motos e carros de policia. Alguns policiais estavam no prédio. Um pouco abaixo da minha janela, mais ao lado direito havia uma pequena área isolada com fita e o chão coberto com uma lona. Alguém havia se matado. Podia ter sido eu, pensei enquanto acendia o cigarro.
Encontrei um dos caras que dividem o apartamento comigo. Ele disse que um dos funcionários que estava reformando a fachada do prédio havia caído em cheio. Uma pena, eu pensei. Antes fosse suicídio. Imaginei que aquela porra toda ia ser uma dor de cabeça pro condomínio. Mas que se foda, eu era só um locatário do locatário. Não tinha nada a ver com aquilo.
Sai pra almoçar e fui pela porta dos fundos. Além de sair mais perto da rua do restaurante que costumava freqüentar não precisava cruzar com aquela multidão de gente e coisas assim. Depois que voltei ainda continuavam por lá. Durante a tarde carros do IML, de emissoras de televisão e reportagens chegavam até a frente do prédio. Os curiosos continuavam por ali, como bons desocupados que eram. Eu também era um desocupado, mas não era tão enxerido.
Continuei em casa sem fazer nada. Era a porra de uma quarta-feira. Eu continuava sem nada pra fazer. Acho que tinha um ou outro trabalho da faculdade, mas não me importava muito com aquilo. De noite fui pra faculdade. O tumulto já havia acabado. Pelo menos isso. Assisti a porcaria da aula e agüentei as mesmas chatices de sempre. De noite voltei pra casa e a curiosidade despertou em mim. Resolvi ir conversar com o porteiro. Estavam dois lá, conversando e fumando cigarros. Acendi um dos meus cigarros e fiquei lá com eles.
Perguntei o que havia acontecido. O cara era chefe de cozinha de um dos melhores hotéis da cidade, a duas quadras daqui. Tinha grana pra caralho e morava sozinho, a família estava na França. Apesar de já ter uns 65 anos ainda era bem conservado. Era o que eles diziam. Se jogou do 20º andar. Uma merda toda. Ninguém sabia bem o porque. Como é que um cara com uma vida daquelas fazia aquilo? Eles se perguntavam e se questionavam em lamentos. Eu acho que sabia responder. Ninguém sabe o que se passa na cabeça de cada um, mas pra mim não era difícil imaginar. Pelo menos não tinha sido a minha vez.

domingo, outubro 12, 2008

All my friends are dead.

All my dreams were lies.

segunda-feira, outubro 06, 2008

It's time to change (like I never did before)

De repente eu tive uma visão. As coisas tinham que mudar. Elas simplesmente tinham. Era uma espécie de otimismo estranho que se apoderava de mim. Não um otimismo besta, de sair por aí sorrindo pra qualquer babaquice. Era só uma sensação de que as coisas precisavam mudar e eu podia fazer isso. Não podia deixar esse fogo se acabar. E pra isso eu tinha algumas coisas a cumprir. Não iam ser faceis, e eu sabia muito bem disso. No próximo final de semana eu viajaria pra minha cidade natal, veria alguns amigos e me divertiria um pouco. Decidi de uma vez por todas que ia ser um final de semana pra me preparar pro que viria em seguinte. Um pouco de diversão, as ruas que eu conheço e os bares que eu sempre frequentei. Depois disso era meu retiro pessoal. Nada de beber nem comer porcarias por um mês. Nada de lamentações baratas.

Era o último semestre da faculdade e eu precisava fazer alguma coisa. E eu ia fazer. Um tempo depois eu embarcaria pra passar uma temporada fora do país e não podia deixar que as coisas se arrastassem assim até lá. Elas precisavam mudar antes de eu me ausentar de São Paulo e do Brasil. E eu sabia que podia. Agora eu sabia mais do que nunca. Tive a certeza plena de que eu era muito maior do que pensava que era. Não que me achasse grande coisa, mas não era tão ruim quanto pensava que fosse antes. Eu podia fazer isso acontecer. Eu ia aprender a tocar violão, eu ia comprar uns óculos escuros, eu ia ser um cara realmente legal. Eu ia escrever melhor, e ia fazer umas músicas de verdade. E também ia fazer uma tatuagem.

Decidi tudo isso de repente. Mas eu precisava parar de beber. Era uma necessidade urgente. Não em caráter definitivo, mas temporário. Precisava do controle sobre mim mesmo. Precisava me limpar por completo. Parar de comer fast-foods e outras porcarias. Estava tudo ali na minha frente. Eu ia fazer o esforço que fosse necessário. Calculei que um mês era o tempo perfeito pra colocar tudo em ordem, tanto fisíca quanto espiritualmente. Mantras ressoavam em minha cabeça. Eu iria reler o Vagabundos Iluminados. Eu iria meditar com Jack Kerouac. Eu iria encontrar a paz que eu nunca tive. O controle sobre mim mesmo. A vida nas minhas mãos. No fundo mesmo eu sempre soube que poderia acreditar nas coisas. Elas sempre estiveram na minha mão. Não precisava mais me importar com todo o resto. Só precisav afechar os olhos e ouvir as músicas. Acender um cigarro e olhar pela janela. O interior mais importante do que qualquer exterior. Minha podridão pra bem longe de mim. Eu ia me purificar como nunca havia feito antes.

sexta-feira, outubro 03, 2008

Devaneios típicos de um garoto atípico

E é assim que tudo acontece. Acho que não odeio as pessoas em geral, isso provavelmente é uma técnica de auto-defesa pro que eu sinto de mim mesmo. Eles não tem culpa. Sabe como é. Ninguém. Somos um bando de esquisitos andando por aí e fazendo acontecer isso que a gente chama de vida. E o que eu na maioria do tempo acho um saco. Nem mesmo pras coisas que eu gosto eu consigo ter um verdadeiro interesse. Sei lá o que falar disso. Acho uma estranhice a maioria das coisas que acontecem.

Nem pra beber eu presto mais. Ainda gosto pra caralho. Não da pra negar. Só sei lá. Nos últimos dias não tem sido a mesma coisa. E ainda me dizem que eu bebo pra caralho. Só bebo o suficiente pra agüentar dormir e acordar e fazer a coisa toda. E ainda acho que não é o suficiente. Não sou um beberrão. Tenho aversão a alguns tipos de bebidas. Tenho ressacas homéricas. Sou como qualquer um. Só tenho uma relação diferente com o líquido. Quando sento ali pra beber eu acho que é pra beber de verdade. Não gosto desse negocinho de uma cervejinha ou coisa assim. Até queria gostar. Mas não dá. Comigo não. Se eu bebo é pra beber. E se eu ainda tenho cerveja e não bebo é porque estou muito frouxo e quero pensar em outros dias. Sempre faz falta aquela cerveja na geladeira. Ainda tem umas. Não vou beber agora. Amanhã ainda é sexta. Da pra beber um montão nesse final de semana. Da pra ir votar bêbado ou na ressaca no domingo, porque só assim pra agüentar votar em um desses palhaços que vão nos comandar nos próximos quatro anos. Não sou um politizado. Não gosto de falar de política. Tenho minhas próprias convicções e não preciso apresentá-las para o resto das pessoas. Deixo elas comigo. Sabe como é. Minhas idéias só servem pra mim e pros meus textos. Meus pensamentos só cabem a mim e as minhas folhas em branco.

Me envolvi em um monte de projetos. A maioria deles é bem legal. Me envolvi porque quis e porque achei eles interessantes, mas nem pra isso tenho conseguido fazer as coisas direito. Parece que as palavras não saem do jeito certo. As letras me odeiam, ou coisa do tipo. Não estou conseguindo escrever nada que realmente preste. Ta sendo um daqueles períodos horríveis nesse sentido que você só espera que passem. Ta sendo um daqueles tempos em que ta tudo calmo. Não está ruim não. Não posso reclamar num geral. Estou bem tranqüilo. Estou vivendo, ou coisa que o valha. É sempre assim. Vai ser sempre assim. Se ficasse assim pra sempre até que seria uma boa. Só esperando o tempo passar. Fazendo as coisas certas nas horas certas. Deixa que do resto o tempo cuida.