terça-feira, dezembro 28, 2010

eu fico esperando te encontrar por aí
eu fico imaginando que vou te ver na rua
e você vai estar linda como sempre.
eu fico imaginando essas bobagens sem motivo aparente
eu fico sonhando em te ter de volta
de que maneira, não me importa
eu sinto o gosto amargo da solidão
eu sofro e choro, é tudo em vão.
eu ainda te procuro nos mesmos lugares.
mesmo sabendo que você não vai estar lá.
eu sinto muito, por ser esse panaca
eu sinto muito, por tudo que eu fiz e deixei de fazer
eu sinto muito por ter te perdido
eu sinto muito por ter amado você.
sentado na praça onde tantas vezes ficamos
sentado na praça onde tantas vezes apaixonadamente nos beijamos
vejo outros casais, vivendo o que nós vivemos
mesmo que por pouco tempo.
agora estou só nessa mesma praça
nos meus braços trago meus livros, meu caderno e minha caneta.
e um pouco triste, sento no banco da praça, e te dedico este poema.
sentado na praça onde tantas vezes ficamos
espero que a vida
me reserve outros planos.
vou embora daqui
eu não vou mais voltar
e eu te prometo, baby
nunca mais te ligar.
vou embora daqui
e não vou regressar
vou atrás da minha vida
vou achar o meu lar.
mas tá tudo bem, baby
você não precisa se preocupar.
eu tô indo ganhar o mundo
eu tenho meu coração
e com ele
eu tenho tudo.
Prefiro a dor da certeza à angústia da dúvida.
I've been waiting for you to come
I've been waiting for you to come everytime I'm all alone.
I've been waiting for you to come and save me from this world
I've been waiting for you to come everytime I fell so sad.
I've been waiting for you to come singing my favorite Beatles song.
I've been waiting for you to come everytime I'm all alone.
I've been waiting for you to come and spend some time with me.
I've been waiting for you to come, to drink whiskey and set me free.
I've been waiting for you to come listening to jazz
I've been waiting for you to come everytime I turn out mad.
I just have been waiting for you to come for so long
I just have been waiting for you to come and stay
I've been waiting for you to come
that's the only thing I pray.
eu preciso sair de dentro desse quarto
e preciso conhecer o mundo
e me encantar com pessoas
que nunca vi antes.
eu preciso sair de dentro desse quarto
e preciso que esses pensamentos todos saiam também
e preciso viajar pelo mundo
e sentar em calçadas
de cidades estranhas
e olhar pro céu e pensar
nos amores que eu tive
e que deixei partir.
e pensar na vida que eu tive
e na vida que ainda vou ter.
eu preciso sair de dentro desse quarto
e conhecer o mundo.
preciso sair de dentro desse quarto
só por um segundo.
feel my heart beating up like some crazy stuff
mixing up the lies and the pride and everything that matters at the time
mixing up my heart and my soul and everything just goes on and on and on
and going going gone till the end of thins song
cause when i see you, i feel my heart beating up like amazing grace
mixing up my story with your glory
mixing up my sadness with your matters
and going going gone till i found myself free
and going going gone till the world i can see
feel my heart beating up like some cray stuff
it's something strange, but this is what wakes me up.
there's a whole world out there just waiting for us
so let's come and get it, baby
it's all ours if we want to
it's all ours if we need to
there's a whole world out there just waitinf for us
there's so much to live and so much to find
there's so many souls, so many minds
just waiting to be discovered
just waiting to be saved
by some bright and holy light coming up from the sky.
there's a whole world out there just waiting for us
so let's come and get it, baby
baby, eu me jogaria aos teus pés
eu te escreveria um milhão de cartas de amor
e te diria o quanto eu sou louco por você
e pediria pra você não me deixar
pra você não me abandonar.
baby, eu te faria a mulher mais feliz desse mundo inteiro
eu nunca te deixaria triste
e não deixaria nunca
que nada de mal te acontecesse.
oh baby, acredite em mim
como o vento soprando lá fora
eu só falo a verdade, mesmo quando eu tô mentindo.
volta pra mim, é meu único pedido.
não me deixa aqui sozinho
não deixa eu morrer
não me faz sofrer.
volta pra mim, meu amor
e vamos pra uma cabana no meio do nada
volta pra mim, meu amor
eu me jogo aos teus pés
e te imploro e te peço
volta pra mim, meu amor.

segunda-feira, dezembro 27, 2010

que mal há
em não amar
em não acreditar
em não chorar?
que mal há, baby
em ser assim
solitário
maluco
pensando
no que podia ter sido
mas não foi
no que devia ter sido
mas não foi
no que devia ter mudado
e não mudou.
que mal há
em andar
sozinho pelas ruas
em cantar
canções desesperadas
em falar
verdades cruas
em chorar
no meio da madrugada?
que mal há em ser assim, baby
que mal há em esperar pelo fim
em acreditar que um dia
você vai voltar pra mim?
talvez não haja mal nenhum
e talvez esse seja
o maior mal do mundo.
imagino que, como eu, diversos outros já passaram por isso também.
imagino quantos passaram anos a fio solitariamente quietos
assistindo o noticiário na tevê e buscando mercadorias nas prateleiras dos mercados.
imagino que como eu, diversos outros já se angustiaram
se desesperaram, e quase se mataram.
posso os imaginar criando gatos, cachorros e passáros.
posso os imaginar escrevendo versos para garotas que conheceram no passado
e que há essa hora já estão nos braços de algum outro tipo.
imagino que, como eu, diversos outros já tiveram esses exatos pensamentos.
imagino tudo o que fizeram de suas vidas, da infância até a vida adulta.
posso imaginá-los de diversas maneiras.
posso imaginá-los fazendo todo tipo de coisa.
só não posso imaginar o fim que levaram.
imagino que, como eu, diversos outros já passaram por isso também.
Vou acender velas para a Madona, vou pintar a Madona, e comer sorvete, anfetamina e pão - "Maconha com carne de porco", como disse Bhikku Booboo - Vou para o sul da Sicília no inverno e pintar lembranças de Arles - Vou comprar um piano e me mozartear - vou escrever histórias tristes e compridas sobre pessoas na lenda de minha vida - Este é meu papel no filme, vamos ouvir o seu.

Jack Kerouac - Tristessa

Imagino quantas pessoas nessa cidade

Imagino quantas pessoas nessa cidade
moram em quartinhos mobiliados.
Quando olho os prédios de madrugada
juro que vejo um rosto em cada janela
que me olha de volta,
e quando me viro
imagino quantos voltam para suas escrivaninhas
e escrevem isso.

Leonard Cohen

Seja bem-vinda a esses versos

Seja bem-vinda a esses versos
Estamos em guerra
mas espero te deixar à vontade
Não ligue para minhas histórias
é apenas nervosismo
Não fiz amor com você
quando éramos estudantes do Leste?
Sim a casa está diferente
a vila será tomada em breve
Já retirei tudo que
pudesse ser útil ao inimigo
Estamos sós
até que os tempos mudem
e os que forem traídos
voltem como peregrinos a este momento
em que não nos rendemos
em que nos recusamos decididamente
a chamar a escuridão de poesia

Leonard Cohen

domingo, dezembro 26, 2010

you should look at your lost and found
see if my heart is not around
can i really be this way?
should i left or should i stay?
tell me baby, before i leave
the road is long, and so is living.

segunda-feira, dezembro 20, 2010

feeeling blue
feeling blue
have you ever felt
very sorry
about yourself?
have you ever felt
your heart breaking up in two?
have you ever wanted not be you?
feeling blue
feeling blue
why do you left me all alone
why you left and gone?
have you ever wish
to born again?
have you ever want
never be the same?
feeling blue
feeling blue
why can't I
be with you?
feeling blue
feeling blue
come back again
don't be
so cruel.
everytime you move your mouth it makes me wanna dance
it makes me wanna cry, it makes me wanna kick the tables over the bar.
everytime you move your legs, it make me feel so sad
it make me feel so bad, about the world, about myself
about the wish of being someone else.
everytime you talk to me
it seens to be
a weight to carry on
a dream of my own.
everytime, you passed me by
it makes me sad
it makes me want to cry
it makes me dreaming
about you and me
it makes me wish
desirous to be.
everytime, you go away
it makes me write
another line
it makes me tell
another lie.
você já me confunde
com estranhos
isso é ruim pra diabo
e se torna ainda pior
já que o bar tá fechando.
você já tá trançando as pernas
e eu também não tô muito bem.
você não tem a grana pra conta
e tá de olho no barman.
eu sento na calçada, e tiro o caderno do bolso
faço rimas estúpidas
falo sobre o desgosto.
você tá indo embora
no pescoço do garçom.
eu tô sozinho, sem grana pra mais
nem um trago.
no meio da madrugada
somos só os mesmos
pobres diabos.
calmo, quieto
a consciência me dizendo
que eu não sou esperto.
é estranho, e até mesmo
mórbido.
quando não há muito o que fazer.
quando não há muito o que dizer.
baby, pega os meus livros favoritos
e coloca tudo naquela mochila velha
e separa algum pra bebida e pro cinema
e separa um caderno com os poemas
e vamos simbora daqui
pra onde os passáros não param de cantar
pra onde a nossa vida vai começar
vamos embora baby.
junta as nossas coisas
e não esquece de rezar
pro fim do mundo
quando ele for acabar.

sexta-feira, dezembro 17, 2010

a gente sempre acha que há tempo pra tudo.
a gente sempre acha que há tempo de mudar o que não foi mudado
de alcançar o inalcançável.
a gente sempre acha que há tempo pra tudo.
a gente sempre acha que há tempo de falar praquela garota que não podia ter vivido todo esse tempo sem ela.
a gente sempre acha que vai ter tempo de dizer pro mundo que a gente queria ter feito tudo diferente se pudesse.
a gente sempre acha que há tempo pra tudo.
e quando a gente percebe, bem
não há mais tanto tempo assim.

sábado, dezembro 11, 2010

Eu fico andando pelo apartamento
de dentro pra fora, de fora pra dentro
e eu tenho feito isso há tanto tempo
que eu nem sei mais o que aconteceu.

eu fico andando pelo apartamento
tentando não pensar
tentando não esquecer
dos compromissos
tentando não esquecer
do que me ainda me faz
acreditar.

eu fico andando pelo apartamento
procurando o que fazer
tentando não enlouquecer.
só fico andando pelo apartamento
pensando em você
e sonhando que um dia
você me tire
daqui de dentro.

sexta-feira, dezembro 10, 2010

é só o barulho das gotas na pia

gotas caem na pia e estralam e fazem um barulho contínuo e irritante.
A tv mostra imagens de um telejornal, crimes cometidos após à meia-noite numa rua escura onde gatos passavam lambendo as próprias patas, sem se importar com mais
nada.
os livros estão empoeirados na estante, e eu fico imaginando por um instante, qual é a razão disso tudo.
agarro um livro qualquer e folheio duas páginas.
agarro um disco e mexo no encarte.
coloco um disco pra tocar na vitrola antiga que comprei num site de leilões.
coloco a música mais triste do disco, e ouço sem parar.
me sinto triste.
o barulho da tv me irrita, mas as imagens do telejornal me deixam menos solitário. Coloco no mute e me sirvo uma taça de vinho.
não há taças, então sirvo em um copo.
a garrafa acaba em pouco tempo.
o disco acaba em pouco tempo.
as gotas continuam caindo na pia.
o jornal ainda mostra os crimes mais recentes.
ainda me sinto triste.
é só mais uma daquelas noites
que vem e vão
e nunca vão parar
de ir e vir.
o clic-clic das gotas continua caindo sem cessar
nem por um instante.
é só o barulho das gotas na pia.
é só mais uma daquelas noites
em que a solidão
é a única
companhia.

há algo de muito errado comigo

há algo de muito errado comigo
e isso fica perceptível
fica óbvio
todo dia em que eu acordo
não querendo acordar.

há algo de muito errado comigo
e isso é visível
em cada coisa que eu faço
em cada palavra que eu digo
exalando o perigo.

há algo de muito errado comigo
e eu estou certo disso
quando vi que te perdi
e quando vejo que você não vai voltar.
há algo de muito errado comigo
algo que me faz suspirar
e imaginar, e sonhar
com dia em que isso tudo
vai acabar.

há algo de muito errado comigo.
é melhor você
não duvidar.
É só a velha melancolia que me acompanha como um papagaio no ombro de um pirata.

domingo, dezembro 05, 2010

Yeh we went on up to South Fallsburg for some spiritual comforting
And I felt like a million dollars, something that money just can´t bring

Joey Ramone

sexta-feira, dezembro 03, 2010

Donnie me dizendo que na verdade eu não tenho nenhum problema, que não há nada de errado comigo, que eu nem imagino o que é sofrimento.
"Cala a boca, Donnie, você não imagina o que eu penso."
Donnie me dizendo que sabe muito bem o que eu penso, que a gente já se conhece há uma porrada de anos,e que o fato de estarmos ali, drogados até a menor parte do cérebro, chafurdando e bebendo igual uns porcos não ia mudar esse fato.
"O fato da gente se conhecer há muito tempo não te faz necessariamente me conhecer."
Donnie diz que sabia que era exatamente esse tipo de bobagem pseudo-superior que eu ia dizer, e que essa era mais uma prova de que ele estava certo.
Peço para Donnie calar a boca e buscar mais uma cerveja. Ele vai até a geladeira, abre uma garrafa e despeja em dois copos. Abre o armário, saca uma garrafa de uísque e joga numa xícara. Os copos acabaram, a pia transborda. Atira duas pedras de gelo e gira pra direita e depois pra esquerda. Nós sempre fazíamos aquela merda de gesto. Era algum tipo de saudação inútil antes de beber o uísque.
Donnie traz os copos e se equilibra como pode, em seu corpo esguio e desastrado já completamente arrasado pelas substâncias a que fora submetido naquela noite. Donnie me alcança o copo de cerveja e dá um gole no uísque. Bebo a cerveja e fico olhando fixamente pra dose de uísque. Donnie não se toca, é mesmo muito burro.
"Você vai me dar a droga do uísque ou não?"
Donnie sorri e diz, "pensei que nunca ia pedir", me esticando a xícara. É inevitável rir da sua cara de pau em me provocar num momento como esses. Rimos juntos. A noite é agradável lá fora. Em breve vai amanhecer, e sabemos que a bad trip vai vir com tudo quando não conseguirmos dormir, pilhados como baterias totalmente carregadas, mas sem nada pra descarregar. Bebo os goles com calma. Uma brisa entra pela janela. Astral Weeks do Van Morrison toca no rádio. Donnie ameaça trocar o som. Faço vista grossa e ele logo entende o recado. Senta ao lado do rádio e fica batendo a cabeça de leve na parede. Acendo um cigarro enquanto isto. Não falamos nenhuma palavra durante algum tempo. Donnie ameaça pegar no sono. Fecha os olhos e encosta na parede. O cigarro chega ao fim. Arremesso a bituca ainda acesa em Donnie. Ela ricocheteia em seu peito e caí em seu colo, ainda em fagulhas. Donnie levanta-se num pulo só e se agita todo.
"Você é idiota, seu porra? Qual é a merda do seu problema? Você quer botar fogo na casa inteira com essa merda de vício nojento, seu bastardo dos infernos?"
Sorrio, e Donnie fica ainda mais puto. Se serve de mais uma dose de uísque, bebe de um gole só e vejo sua feição mudar. Já não está mais puto, está pensativo. Continuamos quietos. Donnie mexe as mãos impacientemente. Ele prepara algum tipo de represália pela bituca. Posso estar bêbado, sob efeito de drogas e completamente exausto, mas ainda consigo reparar nesses detalhes. Vejo sua mão alcançar o copo e arremessá-lo em minha direção com velocidade impressionante. Desvio e por poucos centímetros vejo o copo espatifar-se na parede. Os cacos caem pelo chão.
"Olha só, seu merda, agora você vai ter que limpar isso.", digo para Donnie. Ele finge não ouvir, enquanto se serve de outra dose. Levanto os olhos em direção a geladeira e depois ao armário. Ele entende que quero uma cerveja e uma dose. A casa é minha, o uísque também, estamos quites. Ele aceita a trégua e me serve as bebidas. Arriscamos algum assunto. Não conseguimos prosseguir em nenhuma conversa. Donnie diz que quer ir embora. Nos despedimos cordialmente, e ele saí pela forta afora. Me sento em frente ao rádio e rezo alguma prece inexistente. Donnie pode não acreditar, mas há mesmo algo de muito errado comigo.
Não seria verdade se eu te disesse que tá tudo bem comigo. Não seria verdade se eu disesse que eu não penso em você, que eu não dou a mínima pra o que você tá fazendo aí do outro lado dessa cidade mediana e monótona, mas que mesmo assim, a gente ainda sempre acha um jeito de se perder nessas esquinas estranhas. Não seria verdade se eu te disesse que não tenho medo de morrer, e que não doeu te perder. Não seria verdade dizer que eu não gostaria de estar contigo agora, bebendo num canto tranquilo e te dizendo que apesar de eu ser um grande perdedor e sonhador maluco, você é a minha paixão, e eu te escreveria um milhão de poemas e me jogaria aos teus pés pra fazer você entender isso. Não seria verdade dizer que eu não passo noites sozinhos, afundado nos meus livros, filmes e discos, só curtindo minha solidão e imaginando o que diabos eu fiz de errado pra ser assim como eu sou. E não seria verdade dizer que eu desgosto totalmente de como eu sou. Nada disso seria verdade baby, você pode ter certeza disso. E no fundo você sempre soube que eu só falo a verdade, ou o mais próximo dela. E se eu não estiver mais conseguindo fazer isso, então, pros infernos com as verdades. Que me tragam as mentiras, e que junto delas, venha você. Aí sim, tudo o que eu disesse seria a mais pura verdade. Sem gelo.

quinta-feira, dezembro 02, 2010

Tive um sonho esquisito essa noite. Havia outro show do Paul McCartney, de alguma forma ele era exclusivo para poucas pessoas, mas ainda era no Morumbi. De alguma forma, eu tinha conseguido entrar na pista vip, e estava literalmente escorado na beira do palco. Lembro que o Paul tocou algumas músicas e perguntou qual nós queriamos ouvir. Eu gritei "Maybe I'm amazed" e ele sentou no piano e tocou, e aquilo foi bonito pra caramba. Essa é a única coisa que eu lembro do sonho. Depois eu acordei com uma grande dor do sizo recém-operado. Tomei os remédios e tentei voltar a dormir. Demorei um pouco pra pegar no sono. Coloquei o Revolver pra tocar, E ouvi a partir de Here, There and Everywhere até And Your Bird Can Sing. Desliguei o rádio e ferrei no sono novamente.

quarta-feira, dezembro 01, 2010

penso em você logo quando acordo
porque sei que você não vai estar aqui.
porque sei que você nunca mais vai estar aqui.
penso em você ao longo do dia também.
penso em você quando faço um milhão de coisas qeu talvez você gostaria.
penso em você quando me sinto triste, e quando me sinto feliz também.
penso em você quando estou bêbado, quando preciso de alguém pra me dizer que sou só um estúpido sem coração.
penso em você com outros caras.
penso em você longe daqui.
penso em você porque sei que você
nunca pensa em mim.
penso em você e isso me deixa triste
penso em você e me sinto só
pensar em você dói
pensar em você me deixa cada vez pior.
penso em você com dor no coração.
penso em você quando vou dormir.
penso em você muitas vezes do meu dia
penso em você mesmo sabendo que você
nunca mais vai estar aqui.

segunda-feira, novembro 29, 2010

Wooow, wooow, segura essa então. Eu tava pensando no Kerouac, nos meus quinze anos, ouvindo um disco dos Vibrators e realmente curtindo punk rock de setenta e sete (e que grande ano foi setenta e sete né não?) e eu me sacudia mandando duas doses de natu nobilis pra dentro. Uísuqe barato desce melhor sem gelo do que com. Ou com no máximo uma pedra pra aliviar aquele gosto de cano enferrujado. E tudo isso pensando que "EU SOU DEMAIS, AAAAH!", fazendo assim com a boca tipo "tshaaaa" quando você dá aquele gole estalado de alguma bebida, e fiz isso pensando em um milhão de decepções, mas não tinha grilo, naquele momento eu era quase um santo (acredite se quiser), como dizia Reinaldo Moraes, "um santo sem milagres com os os bolsos vazios", e pensei nela, e pensei em quando ela me deixou, mas nada disso mais importava. Eu não precisava dela. Eu nunca tinha precisado dela até conhecê-la, então porque diabos eu ia precisar agora? Eu não precisava. Então eu pedi mais uma dose e mais uma cerveja pra temperar e puxei um assunto qualquer com o amigo que me acompanha e ah, que maravilha, eu não precisava mais de nada além disso. Que se danassem todas elas. Eu era melhor assim, encostado no balcão do bar, bebendo um destilado e destilando comentários sobre qualquer tipo de bobagem. E woow, no final é isso aí que importa.
me lembro daquele dia cinza e escuro
naquela época eu era só um garoto burro andando por aí.
eu era só um garoto estúpido e sonhador pensando em
ser um escritor.
lembro daquele dia cinza e escuro
eu ainda não te conhecia
eu nem sonhava em te conhecer.
e ah, se você me conhecesse naquela época
você nem imagina, o quão bacana eu era.
eu era só mais um garoto andando por aí
eu era só mais um garoto com uma caneta na mão e uns sonhos impossíveis no coração.
é claro que nada daquilo aconteceu
mas um dia você me conheceu.
e tudo bem, continuou mais ou menos
tudo igual.
e eu acabei me tornando
um cara amargo.
e eu acabei me tornando
um cara errado.
pouco depois, você desapareceu.
bom, eu nunca mais vou ser aquele garoto burro e sonhador.
talvez eu possa continuar burro
mas eu não creio que volte a sonhar.
me lembro daquele outro dia cinza e escuro
em que você me deixou.
você nem imagina o quão difícil é
viver com essa dor.
penso naquele garoto burro e sonhador.
por onde será
que ele ficou?

ouço música alta pra espantar essa solidão

ouço música alta pra espantar a solidão.
ouço as baladas bem alto e canto junto pra esquecer que você se foi.
ouço música alta e bebo alguma coisa pra ver o tempo passar.
acendo um, dois ou três cigarros seguidos e ouço música alta todo esse tempo.
penso em você em outro lugar.
penso em você longe de mim.
eu continuo sozinho
eu continuo aqui
do mesmo jeito
que você me deixou.
ouço música alta pra espantar a solidão.
vejo um filme de ação, leio um livro, faço qualquer coisa
pra tentar te esquecer.
saío pelas ruas, entro em lugares desconhecidos e falo com estranhos
tudo isso pra espantar a solidão.
ouço música alta pra esquecer que você me deixou.
ouço música alta pra esperar que você volte.
infelizmente, você nunca voltou.
ouço música alta e durmo
amanhã é outro dia.
amanhã é outra data.
talvez seja só mais um dia
pra se ouvir música alta.

sexta-feira, novembro 26, 2010

I'm Looking Through You

I'm looking through you, where did you go
I thought I knew you, what did I know
You don't look different, but you have changed
I'm looking through you, you're not the same

Your lips are moving, I cannot hear
Your voice is soothing, but the words aren't clear
You don't sound different, I've learned the game.
I'm looking through you, you're not the same

Why, tell me why, did you not treat me right?
Love has a nasty habit of disappearing overnight

You're thinking of me, the same old way
You were above me, but not today
The only difference is you're down there
I'm looking through you, and you're nowhere

Why, tell me why, did you not treat me right?
Love has a nasty habit of disappearing overnight

I'm looking through you, where did you go
I thought I knew you, what did I know
You don't look different, but you have changed
I'm looking through you, you're not the same

Yeah! Oh baby you changed!
Aah! I'm looking through you!
Yeah! I'm looking through you!
You changed, you changed, you changed!

The Beatles
mas baby, eu ainda tenho muito blues pra escutar antes de tudo acabar.

sexta-feira, novembro 19, 2010

Why do they leave?

Oh why do they leave
Oh why do they leave

On the day that you needed them the most
Simple cards and things
Rosecolored sunsets no flowers for me
Simple cards and things
Rosecolored sunsets no flowers for me
Lover why do you leave
Lover why do you leave

On the day I want you for me
Say say it ain't so
That he will take you tomorrow
And I will sit here today

The worst
Simple cards and things
Rosecolored sunsets no flowers for me
Simple cards and things
Rosecolored sunsets Curtains for me
Lover why do you leave
Lover why do you leave
On the day I want you to be

The one

Ryan Adams

quinta-feira, novembro 18, 2010

me sinto sozinho sem você

me sinto sozinho sem você
sinto meu coração se partir em dois
sinto sua falta todo o tempo
fico quieto no meu canto
só esperando você voltar.
mas eu sei que você não volta
eu sempre soube
que você não ia voltar.
me sinto sozinho sem você.
me sinto triste também.
penso na vida
penso na morte
penso em você.
sinto sua falta.
espero que um dia
você volte.
Combinara com um dos rapazes da fábrica para ajudar a carregar minhas tralhas (que não eram poucas) até o terminal rodoviário. Ele apareceu um pouco depois do combinado, isso era normal, estava me prestando um favor. Pegamos as coisas e caminhamos em silêncio pro terminal.
A garoa fina e o ar gelado nos faziam companhia. O passado metralhava meu cerébro com imagens anti-heróicas.
Apertamos o passo. A chuva começava a engrossar. PAramos num bar em frente ao terminal e pedimos um litro de vinho. Bebemos olhando a chuva que lavava a cidade e deixava seus neons com um brilho mais denso entre os prédios.
O rapaz da fábrica me propôs uma partida de baralho. Andava com um baralho no bolso da calça. Queria apostar quem pagaria a bebida. Passava a maior parte do tempo em bingos, snookers e slaões de dados. Quando não tinha dinheiro para apostar descolava algum bico nos finais de semana como pintor ou carpinteiro pelos bairros da cidade e assim garantia suas apostas. Uma vez eu o vi perder uma boa quantia no baralho prum cara mafioso, dono de uma casa lotérica. A cada partida ele esmurrava a mesa e gritava com uma voz rouca: "O azarão vai ter seu dia de campeão".
Não aceitei o jogo e paguei a bebida. Nunca tive talento para jogos de azar. Por isso não gostava de apostas.
Secamos a garrafa, pegamos as coisas e entramos no terminal.
Meia noite e quinze, o ônibus atravessava a escuridão, pessoas dormiam. A distância deixava meu coração pequeno. Nunca tinha sentido meu coração pequeno. Chorei.

Leonardo Leon - Notas de Balcão

vinte e um malditos anos

baby, to chegando aos vinte e um
e você pode achar que é pouco
mas não é.
to chegando aos vinte e um
e não fiz droga nenhuma da minha vida.
to chegando aos vinte e um e tô desempregado
fazendo o curso errado
sendo um cara mal amado.
tô fazendo vinte e um e nunca namorei
nunca me dei realmente bem.
tô fazendo vinte e um e todas as vezes que me apaixonei eu fui abandonado.
to fazendo vinte e um e tudo o que eu tenho são uns discos e uns livros.
tô fazendo vinte e um e sou vicíado em tabaco e em alcoól.
to fazendo vinte e um e não sei escrever poemas
to fazendo vinte um e sou um desastre na prosa.
to fazendo vinte e um e não vou ser nenhum Rimbaud
to fazendo vinte um malditos anos
to fazendo vinte um e acabaram-se os meus planos.
baby, tô chegando aos vinte e um
você pode achar que é pouco
mas é como estar
no fundo do poço.

te amei porque eu eu era um idiota

te amei como se fosse a última coisa idiota que eu fosse fazer
te amei porque eu era um idiota e achava que era assim que eu devia fazer
te amei porque eu não sabia
fazer outra coisa
além de te amar.
te amei porque eu sofria
porque eu pensava em você
porque você não me queria.
te amei porque eu tinha nascido pra perder
porque eu tinha vivido pra te conhecer
e sofrido ao te ver
partir.
e eu bem sabia que você
nunca mais ia voltar.
eu sabia que você
nunca ia me amar.
te amei porque eu era um idiota
porque eu iria morrer de alguma doença babaca.
porque você não ia me ver velho.
te amei porque você ia me abandonar.
te amei porque eu não sabia amar.
te amei o suficiente
pra nunca mais
querer te amar.

você deve estar com outro cara agora

você deve estar com outro cara agora
e ele deve ser melhor que eu
e isso não deve ser muito difícil.
você deve estar com outro cara agora
e ele deve ser bom pra você
oh sim, ele deve ser bom pra você.
e talvez ele não fume e não beba
e não seja um completo panaca como eu.
talvez ele seja importante
ele tenha dinheiro
ele tenha um emprego.
talvez ele seja um grande cara
talvez ele faça amor contigo
como se fosse o último dia das suas vidas.
você deve estar com outro cara agora
e ele deve ser tudo de bom
e tudo do melhor
mas baby, eu posso te garantir
que ele nunca vai ter sonhos
como os meus.
que ele nunca vai se emocionar
com coisas idiotas
como eu.
que ele nunca vai te amar
como eu.
você deve estar com outro cara agora
e você provavelmente não vai ler esse poema
nem vai estar pensando em mim.
você vai estar com outro cara
e estou certo que ele nunca vai te escrever
versos estúpidos assim
como eu.

os grilos cantando e o barulho do vento na janela

óculos escuros, garrafas de vinho, maços de cigarro
vazios
livros abertos em páginas não lidas
garotas do passando reabrindo feridas
tudo isso e mais um pouco
tudo isso me deixando completamente louco.
corri até o banheiro
enfiei o dedo na goela e vomitei.
me senti melhor, deitei
rezei pra Jack Kerouac
cantarolei uma música dos Stones
não adiantou
a tontura voltou.
sentei de canto
ouvi grilos cantarem
e o barulho do vento na janela.
ás vezes ás madrugadas
eram simplesmente
solitárias.

o bar vai fechando

o bar vai fechando
e o garçom diz que essa é a saídera
e nós dizemos que ele está de brincadeira
e só mais uma depois dessa
e só mais uma depressa.

o bar vai fechando
e o garçom traz a conta
mais alta do que imaginávamos
e as cadeiras são erguidas para o céu
para onde rezamos
nossos pobres pecados.

o bar vai fechando
e o inferno está aos nossos pés
junto com água ensaboada que lava
os últimos sinais da madrugada.

o bar vai fechando
e já é de manhã
o bar vai fechando e o último drink
é o café da manhã.

o bar vai fechando e não há garotas por perto
o bar vai fechando e já se foram todos os espertos.
o bar vai fechando enquanto o sol agride nossos olhos
e não temos óculos, não temos droga alguma
além de uma iminente ressaca
e o telefone de uma garota pra quem não deviamos ligar.

o bar vai fechando, e só o que nos resta é rezar.
o bar vai fechando e nos escoramos nos muros ou nas calçadas
o bar vai fechando e os trabalhadores nos veêm como piadas.
o bar vai fechando e não temos mais nenhuma esperança
o bar vai fechando e tudo se acabou.
o bar vai fechando e temos que esperar
até o maldito amanhã.

morri na sua mão

morri na sua mão
meu coração sangrando
meu peito doendo
meu mundo rodando.
morri na sua mão
enquanto os pedestres seguiam em frente
enquanto o sol baixava e uma tempestadade se anunciava
enquanto eu chorava seu amor
enquanto eu chorava minha dor.
morri na sua mão
morri devagar e melancólicamente
tive vontade de te dizer que por você
eu arancaria meu coração, jogaria no chão
e pisaria até ele parar de bater.
tive vontade de te dizer
coisas que eu nunca disse antes
pra mais ninguém.
morri na sua mão
ouvindo uma sinfonia desconhecida
sentindo tudo ir embora
sabendo que você não voltaria.
morri na sua mão
e você nunca foi
minha.

quinta-feira, novembro 04, 2010

por que você foi embora

por que você foi embora, baby?
por que você foi embora
e disse que já voltava?
por que você foi embora
e nunca mais apareceu?
por que você foi embora
e me esqueceu?
por que você foi embora, baby?
por que você foi embora e me deixou aqui sozinho?
por que você foi embora e não deixou nem um recado?
você foi embora e meu coração foi estraçalhado.
você foi embora sem me dizer o que eu fiz de errado
por que você foi embora, baby?
por que você foi embora e não me levou?
por que você foi embora
e nunca mais voltou?
Boy, you're gonna carry that weight, carry that weight for a long time.

sexta-feira, outubro 29, 2010

Por enquanto cantamos
somos belos, bêbados cometas
sempre em bandos de quinze ou de vinte
tomamos cerveja
e queremos carinho
e sonhamos sozinhos
e olhamos estrelas
prevendo o futuro
que não chega

Barão Vermelho

doía pra diabo

doía pra diabo
e eu tentava não pensar
tentava não me martirizar
eu tentava acreditar que ficaria tudo bem
mas eu bem sabia que nunca,
nunca ficaria
tudo bem.

dóia pra diabo
e eu pensava em você
beijando outras bocas
abraçada em outros braços
e eu tive náuseas
e eu tive enjoôs
e eu pensei em me jogar
da janela do quarto andar.
mas nem pra isso essa maldita janela
era alta o suficiente.
nem pra isso eu era
corajoso o suficiente.

doía pra diabo
e eu pensava em mim
bêbado e sozinho
chorando meus prantos
escrevendo porcarias
enquanto você por aí
beijava idiotas
e se divertia.
devia estar tudo bem
isso já tinha me acontecido
uma porrada de vezes
mas a verdade é que nunca ficava
tudo bem.

doía pra diabo
e eu pensava em dormir um sono pesado
e eu nem imaginava mais o que você estava fazendo
quem estava te comendo
que diabos você pensava da vida.
eu só queria ficar quieto.
eu só queria ser esperto o suficiente
pra não pensar mais em você
talvez assim essa porcaria
parasse de doer.

é tão difícil sem você

é tão difícil sem você
é tão difícil acordar e levantar da cama
e imaginar o que você está fazendo
com quem você está saindo
por onde você tem andado.
é tão difícil sem você
é tão difícil pensar em não te ter.
é tão difícil saber que você foi embora
que você me deixou
que tudo acabou.
é tão difícil sem você
é tão difícil precisar de você tão
desesperadamente.
é tão difícil sem você
é tão difícil me sentir sozinho
me sentir quebrado
ao meio.
é tão difícil sem você
é tão difícil pensar que eu sei
que nunca mais vou te ter.
é tão difícil sem você
que fica até
difícil de viver.

Talvez isso fosse mais importante que qualquer outra coisa

Abro uma das duas latas de cerveja da geladeira, coloco uma música do Paul Westerberg pra tocar e fico quieto no quarto. Acendo um cigarro na janela enquanto olho pro resto da cidade, provavelmente dormindo. Pontos de luzes dos prédios e a escuridão da noite. Penso no que a vida me reserva. Indago se a vida ainda reserva alguma coisa. Tenho vontade de sorrir, mas não sei bem porque. Então só fico quieto, bebendo cerveja devagarzinho e ouvindo uma música bonita. Uma versão de These Days do Jackson Browne, uma das músicas mais bonitas que já foram escritas. Fico ali só matutando sobre coisa alguma. Só tentando imaginar o que vai acontecer, tentando imaginar como fazer pra ser feliz, ou pra pelo menos chegar perto disso. Percebo que não sei a resposta. Acho que muita gente deve estar se fazendo a mesma pergunta agora. Quantos pobres diabos ao redor do mundo estão bebendo uma cerveja e fumando um cigarro e pensando em felicidade agora? Centenas, milhares, milhões. Creio que um monte deles. A outra metade está tendo sonhos ou pesadelos. Na maior parte pesadelos. Mas ás vezes as pessoas também tem sonhos. Ás vezes as pessoas tem sonhos bons, não é? E eu acho que pra algumas pessoas esses sonhos se realizam. É no que eu tento acreditar pelo menos. Se eu não acreditar nisso pelo menos algumas vezes nessa vida, eu não acho que vai restar muito mais o que fazer. Talvez nem tenha restado nada o que fazer, mas nós ainda estamos aqui, do mesmo jeito. As garotas estão todas por aí. Um bocado delas deve estar dormindo agora. A outra parte deve estar se agarrando com algum babaca que dirige um carrão bonito e outra parte está dividindo o colchão e roçando as pernas nas pernas de alguém. Talvez os solitários ainda estejam em vantagem. Ás vezes não ter nada a perder é a melhor forma de ganhar. Ás vezes, tudo o que vier é lucro. E se não vier nada, bom, está tudo bem também. Você ainda pode continuar abrindo latinhas e acendendo cigarros de madrugada. Ouvindo músicas bonitas que falam sobre abandono ou solidão ou, essa coisa estranha que chamam de amor. Pelo tanto que falam dessa coisa, devia ser um bocado importante. As pessoas se viciam, como uma droga, porque talvez seja mesmo uma droga. Que diabos é o amor? Inventando palavras pra sentimentos abstratos. Inventando pessoas, inventando situações, inventando qualquer coisa pra lutar. E se não tiver nada pra se lutar? É só ficar quieto olhando as luzes da cidade e pensando no resto da população e em músicas tristes? Acho que sim. Decidi parar de pensar nesse tipo de bobagem. Abri outra latinha e fui ver um filme do Sergio Leone. Era um ótimo western. Grandes filmes ajudavam a esquecer as dores. Talvez isso fosse mais importante que qualquer outra coisa.

quinta-feira, outubro 28, 2010

i've been

i've been praying
all night long
i've been playing
that i'm strong
i've been sounding
like a sad song

i've been waiting
you to come back
i've hoping
you never forget
i've been wanting
you never disappear
i've been wonderin
that you're still near

i've been crying
since you're gone
i've been standing
by the phone
i've been waiting
for you to come back
i've been hoping
you never forget

i've been dreaming
about you being mine
i've been dreaming
our love won't never die
i've been wanderin
about you and me
i've been dreaming
that you're still here

i've been waiting
for you to come back
i've been hoping
you never forget
me

algumas pessoas simplesmente seguem em frente

algumas pessoas simplesmente seguem em frente
algumas pessoas seguem em frente sem fazer nenhum esforço
sem se importar se você está em outro canto da cidade
pensando em suícidio ou tomando um porre sozinho
algumas pessoas simplesmente seguem em frente sem se importar.
algumas pessoas seguem em frente sem nem ao menos imaginar
que é tão difícil.
elas simplesmente seguem em frente, como se tivessem desistido
de um pedaço de pizza.
elas simplesmente seguem em frente como se fechassem
a página de um livro ruim.
mas você não segue em frente
você não vai seguir em frente tão fácil.
outras pessoas não seguem em frente
elas simplesmente padecem e sofrem
e pensam em ligar e em ir embora
pra nunca mais voltar.
algumas pessoas simplesmente seguem em frente
e para elas, não há nenhum mal nisso.
algumas pessoas simplesmente seguem em frente e vão embora
outras pessoas permanecem no mesmo lugar
tentando seguir em frente
simplesmente tentando seguir em frente.
mas de alguma forma elas sabem
que quem seguiu em frente
nunca mais vai
voltar.

quarta-feira, outubro 27, 2010

O problema não são as mulheres. É o tempo que nós temos que esperar entre a que nos deixou e a que está por vir.
Agora está tudo bem
os demônios foram embora
você não precisa mais voltar.

terça-feira, outubro 26, 2010

Se segure quando o terremoto vier

Em algum canto escuro de uma cidade mediana perdida no norte do Paraná eu estava agoniado e embriagado tentando pensar calmamente em soluções pacíficas e tranquilas sobre paz. Eu tentava não pensar em decepções, em garotas que se foram, em falta de dinheiro e de perspectiva de futuro. Naquele momento, eu tentava pensar apenas em matar mais uma cerveja e tranquilizar qualquer ameaça ao estado de calmaria que havia se estabelecido há pouco. E eu estava indo bem. O problema mesmo era conseguir respirar a cada momento. Não que eu tivesse algum problema respiratório ou qualquer outra dificuldade de saúde. Era simplesmente o respirar e aceitar o momento, resignado, ou conformado, ou beatificado, eu não sei. Era muito difícil viver cada segundo. Era um bocado difícil fazer isso e não pensar em coisas ruins. Talvez isso fosse o tal vazio que os budistas meditavam pra achar. De certa maneira eu também estava meditando, ao meu próprio estilo, bebendo uma cerveja e fumando um dos últimos cigarros que ainda me restavam. Eu não tinha nenhuma religião, não acreditava em muitas coisas, mas eu sabia que se espantasse os pensamentos ruins por pelo menos alguns instantes as coisas ficariam bem melhores. Se você deixasse o maldito turbilhão de inconsequencia e angústia te pegar ele não ia te soltar nunca mais. Ele ia te arrastar pro inferno numa violência absurda, e tudo o que você poderia fazer seria erguer as mãos na frente do rosto pra se proteger das porradas. Então tudo o que era preciso ser feito era basicamente respirar. Respirar e não pensar em nada. Principalmente não pensar nela. Não pensar nelas todas. Não pensar em ninguém além de você mesmo e de um espírito embriagado tentando repousar num édem imaginário de paz. Algumas músicas podiam ajudar. Pensei em algumas delas, e em alguns trechos de poemas também. Ajudou. Talvez um poema viesse por aí. Talvez ele estivesse à espreita só esperando eu me levantar e colocar aquela bobagem no papel. Talvez ele me salvasse a vida, fizesse parte de um livro que ganhasse um Jabuti e fosse traduzido pra centenas de línguas. Ou talvez ele só saísse e se conformasse com um destino insólito numa folha de papel ou no próprio computador, à mercê de uma pane virtual tecnólogica que colocasse tudo a perder. Não importava. Ele precisava ser escrito e criar sua própria vida maluca de poema tolo angustiado. Assim tudo ficaria mais calmo. Ou continuaria calmo. E os terremotos não incomodariam esse lado da cidade por um tempo. Talvez eles diminuissem, e quem sabe um dia até cessassem. Era o que era preciso ser feito. Era o que eu iria fazer, logo depois dessa cerveja e desse cigarro. E talvez mais um de cada pra finalizar com tranquilidade. O vazio da mente. Se segure quando o terremoto vier. Não deixe ele acabar contigo.

Meu coração sangrou na sua mão

te deixo e morro mil vezes...
E sem querer um porquê em nossas vidas
juntos reccuscitamos a aventura de amar
mas a cura é um momento
a cicatriz leva tempo
Somos diferentes pela música que toca
pelo parceiro da dança
pelo tempo
relógio
sem ponteiro
oh, desgoverno do cartão postal
solitário... você
incompreendido
quando for lido por olhos estranhos
no meu penúltimo endereço

você disse "eu te amo"
eu pensei no filho
no parto
em partir

meu bem, você disse "eu te amo"
como se provasse um sorvete
& ainda beijou meu hálito cerveja-calabresa
meu bem
um lobo sempre deixa a janela aberta
quando invade um castelo...

era teu sorriso que queria
era tudo
e não planos domésticos
para o final de milênio...

é preciso libertar o coringa do baralho
e as estátuas armadas do zoológico
é preciso encarar a droga
a pior delas
aquela que não deixa os loucos acordados

não somos tão incapazes
não somos pequenos demais
NADA É PEQUENO DEMAIS!
te digo
revolução da alma sem ego
nem mentira

é preciso conversar com os heróis
os heróis do beco
da dor & do medo
são eles que insistem na doce
sobrevivêndia do lírio

te digo comecemos
comecemos sempre
vamos procurar os demônios
sem lógica
sem cor
sem pressa de errar
não os santos que cansados
estão enjaulados no altar

vamos...
sentir o palhaço que anda ao nosso lado
insistindo na vontade de um dia
sorrir de verdade...

Everton Bortotti
Leonardo Leon

sexta-feira, outubro 22, 2010

andei sozinho
por avenidas movimentadas
todas as pessoas indo e vindo
e no final não indo
a lugar algum.
andei sozinho
pelas ruas da cidade
pensando na felicidade
pensando nas garotas que se foram
pensando nos meus erros tolos.
andei sozinho
por diversos lugares
pensando onde foi que eu perdi
a esperança
de uns tempos melhores
de uns tempos em que as coisas ainda
valiam a pena.
e andei sozinho pelas ruas
mas nunca descobri
porque eu gosto tanto
de andar por aí.

quinta-feira, outubro 21, 2010

Bêbado, completamente bêbado, só pensando em te ligar.

Bêbado, completamente bêbado, com uma cerveja numa mão e uma dose de uísque on the rocks na mesa, só pensando em te ligar. Eu tava calmo, tava aparentemente tudo bem, eu estava com dois amigos falando amenidades e ouvindo o Clash. Pensei em te ligar, mas eu não tinha como. Pensei em te dizer tudo o que eu pensava quando tava bêbado, mas você já tinha ouvido essa história muitas vezes e não tinha gostado muito do desfecho dela. Continuamos bebendo, doses atrás de doses, latas atrás de latas, completamente bêbados. Fui ao banheiro e vomitei. Tomei um gole de água pra limpar a boca e voltei pra cerveja. Mais uma dose de uísque com gelo, acompanhando mais uma cerveja. Agora é a última dose, eu juro, combinado, acabou o gelo, ninguém quer caubói, certo. Completamente bêbado e pensando em te ligar, mas eu não ia te ligar. Pensei em dizer o quanto era simples tudo o que eu precisava. Eu precisava de você. Precisava que você deitasse comigo na cama e ficasse quieta só ouvindo um disco do Miles Davis e roçando as tuas pernas nas minhas. Queria te abraçar bem forte e passar as mãos nos teus cabelos e ver como tuas pernas são lindas, e ouvir você murmurar alguma coisa de que gosta muito de mim. E isso tudo daria um belo poema. Achamos mais gelo, mais uma dose, agora sim, a última. Chego em casa tropeçando pelas beiradas. Fumo um cigarro e belisco alguma coisa na cozinha. Completamente bêbado e mais uma vez pensando em te ligar. Ligar só mais uma vez, e dizer tudo o que eu tenho pra falar. Ligar pela última vez. Mas eu não liguei. Ao invés disso tomei um copo de água e fui dormir. Talvez eu devesse ter ligado. Talvez não.

quarta-feira, outubro 20, 2010

Ela quer um homem, não só um garoto

De repente eu sonhei que ia ficar tudo bem. Eu ia parar de ligar, de me importar, e a vida ia simplesmente tomar seu rumo natural reservado por um destino perpicaz e irônico. Quem sabe não acontecesse como num daqueles filmes do Woody Allen, nós dois nos encontrando daqui há uns três anos andando na rua. Eu seria um cara desencanado e bacana pra caramba. Talvez eu tivesse arrumado um emprego legal que pagasse uma boa grana pra eu fazer alguma coisa não-estúpida como na maioria dos empregos normais. Eu ainda ia continuar bebendo, mas agora controladamente, e só bebida de qualidade, e meu ar ia ter um lance meio James Dean que ia te deixar muito arrependida por me fazer de palhaço nos dias de hoje. Talvez eu terei perdido uns quilos e comprado todos os discos dos Beatles. Vou te chamar pra vir até em casa, abrir um vinho e colocar o Revolver pra tocar. Mas você não vai sacar o Revolver, porque você nunca sacou nada de Beatles ou de coisa alguma no que se refere à boa música, e aí cê vai pedir pra trocar pra outra coisa e vai meter alguma coisa besta tipo música eletrônica ou qualquer outra bobagem que você curta. Mas vai estar tudo bem pra mim. Vou encher tua taça e matar a garrafa de vinho no gargalo, mantendo meu espírito juventude transviada à toda, sem perder o charme de nenhuma forma. Vou deixar tua música tocar por algum tempo, só pra te agradar, vou te servir um macarrão ao molho branco que eu terei preparado, e colocar um Frank Sinatra pra tocar. Nós vamos comer e aí eu vou tomar umas duas doses de uísque e te falar sobre as coisas extremamente importantes que eu vou estar fazendo. Vou te contar que publiquei um livro, viajei pro Machu Pichu, visitei uns amigos malucos em Paris e ando com uma série de ocupações interessantes. Você vai abrir a boca e dizer vários "oh's" e "ah's" e "mas que bom, sempre torci por você" e eu vou perguntar o que você vai ter feito, e meio retesada e confusa você vai dizer que muito provavelmente arrumou algum outro emprego babaca, dormiu com uma série de caras babacas e outras coisas desse tipo. Eu vou fingir interesse e dizer que aquilo parece interessante. Você vai se entregar, e vai sair tudo conforme o planejado. A gente vai dormir junto, e eu vou te dizer coisas bestas e apaixonadas pra você achar que eu ainda sou aquele muleque fodido de vinte anos que não acreditava muito na vida e que se arrastava aos teus pés por um tanto de carinho. E você vai pensar que tá tudo bem, porque agora olha só, ele é um homem, ele tem um carro e uma casa, cozinha macarrão, toma vinho, tem emprego, viajou e fez coisas importantes. Agora sim eu posso ficar com ele, ah sim, eu posso, sem dúvidas, agora ele é um cara importante. E na manhã seguinte eu vou levantar antes de você, vou juntar minhas coisas e vou me mandar, e eu acho que provavelmente depois disso a gente nunca mais vai se ver, mas você nunca vai saber que o vinho era roubado da coleção do meu pai, o macarrão eu tinha comprado no restaurante da esquina, o carro e a casa eram emprestados de um amigo, eu não tinha emprego porra nenhuma, continuava bebendo pra danar, estava desempregado e nos últimos dois anos minha única viagem tinha sido pra um camping numa cidade de praia em que choveu a semana inteira e tudo o que a gente fez foi beber uísque barato e jogar baralho. E vitorioso, vou sair com meu ar de James Dean glamouroso e rebelde enquanto você sente pela primeira vez o gosto da rejeição que eu já cansei de experimentar nessa vida de cão. E então você vai entender que eu terei mudado, que agora eu era bom demais pra você, que você não tinha nem uma chance perto das garotas sofisticadas, cultas e corpulentas com quem eu saía. E não muito longe dali, eu vou estar enchendo a cara num boteco escuro, ouvindo um blues no meu mp3 e pensando que no fundo mesmo, eu só queria que você gostasse de quem eu era há três anos atrás, de quem eu sou hoje.

Caroline says that i'm just a toy
she wants a man, not just a boy
Oh, Caroline says, oh, Caroline says


Lou Reed

segunda-feira, outubro 18, 2010

Beijar o céu

Nossos heróis são aqueles que sobreviveram a um período remoto, quando apenas alguns discos deles haviam passado por nossa vida, e a gente tinha tempo pra ficar vidrado, gastar semanas habitando o mesmo disco. É um grande esforço retroceder àquele modo de ver as coisas - o que é ruim, porque o fanatismo é a verdadeira experiência do pop, não o discernimento e a mente aberta. Penso na devoção esplêndida de todas aquelas meninas animadas, que, assim que têm nas mãos o novo disco do Cure, do New Order ou do Bunnymen, começam imediatamente a decorar as letras e passam dias interpretando exaustivamente as Tábuas da Lei, se esforçando em estabelecer alguma relação entre suas experiências pessoais e o que na verdade é alguma baboseira de bêbado, feita nas coxas em algum momento de folga no estúdio.
Falando sério, eu aprovo. Aprovo a seriedade extrema, a religiosidade, a necessidade de alguma coisa sagrada na vida. Mesmo que seja tudo "ilusão".
Tornou-se um reflexo dos críticos castigar seus leitores por serem partidários, preguiçosos e obsessivos em suas escolhas. Exortamos as pessoas a se desvincular, a descartar e renovar, a adquirir alguma agilidade como consumidores. Mas talvez esse estado ideal de "inconstância" que advogamos apenas sirva ao jogo capitalista, fornecendo-lhe participantes mais aptos. Porque o que faz do rock algo mais do que uma mera indústria, algo que transcende a relação comercial, é a fidelidade, a idéia de relacionamento. Algumas vozes são para nós como o chamado de um amigo, e você não dá as costas aos amigos, se eles desandam. Você fica por perto. Dá um tempo a eles. Pois justamente no ano em que forçamos essa disciplina centrada no texto que é a crítica de rock a incorporar tudo que ela havia excluído por tanto tempo (a relação entre o corpo da estrela e o do fã, a voz, a materialidade da música), talvez seja hora de fazer a crítica lidar com sua negação, "o não-crítico" em si.

Simon Reynolds - Beijar o Céu (p. 29)

A Garota de Cassidy

Do pára-brisas viu o verde primaveril dos campos e montes, o brilho amarelo-esverdeado sob o sol. Uma sucessão de maravilhosos aromas pastorais veio flutuando na sua direção elee cheirou a madressilva, a violeta, a forte fragância das folhas de menta. Os deliciosos aromas de primavera no vale do Delaware. Olhou para o prateado do rio reluzindo ao sol, com as brilhantes encostas verdes ao fundo, a praia de Jersey. Era a espécie de visão que sempre tentavam colocar em telas, ou capturar com uma câmara. Mas não podiam ver isso da maneira que ele via. Ele a via de uma maneira que colocava o sabor do néctar em sua boca. Sentia tudo com o elevado e sinuoso sentimento de saber plena e claramente que depois disso, e à parte qualquer coisa, realmente havia alguma coisa pela qual viver.

David Goodis - A Garota de Cassidy (p. 65)

domingo, outubro 17, 2010

Em outro canto da cidade ela provavelmente sorria para outros garotos

Acordo agoniado na manhã de um domingo ensolarado enquanto imagino o que ela está fazendo do outro lado da cidade, em algum canto, com alguma outra pessoa. Ela provavelmente se esbaldou na noite passada, enquanto eu fui à uma festa terrível e fui rejeitado por uma garota bonitinha que tava por lá. Sem problemas, eu não queria tanto a garota bonitinha, eu só queria esquecer essa outra garota perdida em algum canto da cidade. Mando uma mensagem desesperada. "Evitei ao máximo mandar isso, mas sinto sua falta absurdamente." Caraca, que coisa ridícula. Talvez essa tenha sido a mensagem mais patética de todos os tempos. Ela me liga um tempo depois. Tá numa boa, se esbaldou mesmo na noite de ontem, numa boate há pouca distância do lugar ruim em que eu estava. Tem um churrasco, ou coisa do tipo, está muito ocupada e ainda tem que se maquiar e arrumar o cabelo, então depois me liga. Era sempre assim. Acendi um cigarro e tomei um copo de coca-cola pra espantar a ressaca mínima da noite anterior. Uma maldita noite com pouca cerveja, pouca bebida, pouca esperança. Mas o pior era a angústia. Eu ainda tinha semanas e mais semanas pela frente. Eu ainda teria que encarar incontáveis minutos de solidão e angústia. Eu tinha aguentado até ali. Eu acho que já tinha aguentado bastante tempo. Em outro canto da cidade ela provavelmente bebia uma cerveja e dava risada e sorria pra outros garotos. Eu almoçava com a minha mãe, fumava um cigarro e pensava nas maiores catástrofes da humanidade. O mundo era um bocado injusto com as pessoas que ainda tinham alguma consciência. O mundo era um bocado injusto por si só. O mundo era ruim, e nós deveriamos nos acostumar com isso ou sair pela porta mais próxima. Eu só queria saber onde ela ficava, mas eu nem mesmo sabia se ela existia.

sábado, outubro 16, 2010

Não enlouqueça

As coisas não andavam bem. Eu ficava repetindo na minha cabeça, quase como um mantra, "não enlouqueça, não enlouqueça". Eu tentava manter a calma e não cometer nenhuma estupidez. Eu tentava ficar bêbado e não ligar pra ela implorando um pouco de atenção. Pensei que aquilo era a coisa que as mulheres mais desprezassem nos homens. A carência, a solidão. Homens que choravam. Homens que bebiam. Homens que bebiam e choravam e contavam histórias sobre bares e músicas de rock and roll. Homens que ouviam blues sozinhos em quartos escuros. Eu repetia meu mantra e tentava me acalmar. Tentava aceitar que as coisas não eram como deveriam ser, e que talvez só me restasse mesmo esperar. Tentei encarar de frente todos esses pensamentos que atormentavam meu espírito como canivetes afiados. "Não enloqueça, não enlouqueça", eu continuava repetindo, mais e mais vezes, até algum tipo de paz temporária se instalar. Eu só precisava manter a calma, a cabeça no lugar, não pensar em coisas ruins, nunca mais pensar em coisas ruins. Eu só precisava de uns bons dias de solidão pra melhorar minha cabeça, tomar alguns bons porres com uísque e vinho, assistir uma porrada de filmes e ler um romance policial. Nada romântico ou esperançoso, só um romance noir com bares, mistérios e brigas. E depois disso eu faria a barba, colocaria uma roupa bacana, juntaria uns trocados e saíria para conhecer uma nova garota. Era exatamente isso o que eu precisava. Eu era um homem que bebia, que chorava e que escutava blues sozinho no quarto. Talvez isso não fosse de todo mal. Talvez isso fosse a única verdade. "Não enlouqueça, não enlouqueça". Quanta bobagem. Eu não iria enlouquecer. Não nessa vida. Eu não faria nenhuma bobagem por ela nem por nenhuma outra garota. Ora, eu era grande demais pra qualquer coisa dessa. E se ela nem mais ninguém no mundo soubesse o quanto eu era afiado com as palavras, ah, diabos, eles não sabiam o que estavam perdendo. Eu podia não ser muito original, muito lírico ou muito romântico, mas eu escrevia uns poemas danados de bons. Pelo menos eu achava isso quando não tava numa má onda de auto-crítica perversa e destrutiva. "Isso podia muito estar nas páginas dum livro, e esse livro nas estantes dessas livrarias iluminadas de um maldito shopping center", eu falava pra mim mesmo ás vezes. Eu acho que não tinha razão. Era óbvio que não tinha razão. Toda e qualquer pessoa que escreveu um bocado de bobagem também pensava isso. E até onde eu sabia, a grande maioria delas não estava nas livrarias ou nas bibliotecas. Alguns dos bons conseguiam vencer, mas eram poucos. E todos eles com certeza já haviam passado algum tempo tentando não enloquecer. "Não enlouqueça, não enlouqueça". Eu não iria enlouquecer. Eu tinha toda uma semana pra ficar bêbado, ver uns filmes, escutar rock and roll e me reerguer, e era exatamente isso o que eu ia fazer. Pode ter certeza que eu não iria enlouquecer.

É só o mundo rodando em mais uma noite solitária

As paredes do reservado pareciam moles enquanto eu tentava apoiar a mão e não vomitar fora da privada. A coisa ia descendo numa cor arroxeada, mistura de vinho e cerveja. Eu sabia que ia dar naquilo desde a hora que saí de casa. Malditos fermentados. Benditos fermentados. Tudo o que eu queria era sair só pra uma cerveja, mas aí um amigo apareceu com uma garrafa de vinho e dá-lhe bebedeira. Era só o jeito que as coisas aconteciam. Lembrei de estar no carro de um amigo ouvindo os Stooges e me chacoalhando no banco do carona. Selvageria total, baby. Eu queria ser Iggy Pop. O desgraçado era um selvagem de verdade. Eu podia ter sido um astro punk né não? Mas acho que eu estaria mais pra um folk singer solitário com uma gaita e um violão. Mas eu nem diabos sabia tocar violão, e mandava mal na gaitinha que eu tinha comprado há vários anos atrás por uma merreca, numa loja de instrumentos da cidade. Eu não era muito bom em muitas coisas. Na verdade eu não era muito bom em nada, mas esse era o menor dos problemas. Eu ainda conseguia beber e sentar e escrever. Eu não tinha um emprego, eu não tinha muito dinheiro, eu não tinha uma garota, morava com a minha mãe e era sustentado pelas migalhas que meu pai me arranjava. Não era exatamente o tipo de vida que os velhos sonharam pra mim. Tinha largado a faculdade na metade por achar jornalismo uma coisa estúpida e completamente puxa-saco. Eu queria ter sido um escritor, mas eu nunca tinha escrito muita coisa, e nem mesmo tinha enviado nada pra nenhuma editora ou coisa do tipo. Uma vez eu participei dum concurso de contos. Paguei vinte malditos reais e mandei três contos horríveis, e obviamente não ganhei nenhum prêmio, nem uma mísera menção honrosa. Um dos contos era sobre um bêbado psicopata que explodia um bar depois de ser largado pela mulher. O outro era sobre um cara que digiria um velho Chevete ouvindo fitas k7 dos Rolling Stones e rumando pra lugar nenhum. E o outro eu acho que era sobre um cozinheiro maluco que inventava um sanduíche fantástico e não passava a receita pra ninguém, aí um cliente ainda mais maluco ficava obsessivo pra descobrir e tentava todas as receitas possíveis na sua casa. Eram todos contos horríveis, isso era uma certeza. Ainda bem que eu não ganhei né não? Pra quê diabos a fantástica literatura nacional ia perder seu precioso tempo com histórias como essa. Terminei de vomitar, bochechei com água da pia e saí do banheiro. Meu amigo brother já me esperava com uma cerveja em punho. Os verdadeiros amigos sabem do que cê precisa numa hora dessas. Matamos aquela e mais alguns e resolvemos nos mandar. Paramos num carrinho de lanches da avenida e pedimos dois x-salada e uma coca-cola. Na metade do lanche meu estômago embrulhou e passei pro amigo terminar o serviço. Matei a coca-cola fumando um cigarro. Pensei numa entrevista do Jim Morrisson que eu tinha lido onde ele dizia que não curtia água, coca-cola ou suco, e que curtia comer suas refeições com vinho ou cerveja, basicamente isso. E a entrevista foi antes de ele se tornar um bêbado barrigudo anárquico poético-decadente que virou já pro final do Doors. Na época dessa entrevista os Doors ainda tavam no ínicio, tinham lançado só os primeiros discos, já eram famosos e já havia um certo culto ao mojo king, mas nada comparado à mega banda que eles viraram depois. Cara maluco, esse Morrisson. Não é a toa que uma galera ainda usa camisetas com a cara dele, joga garrafas no seu túmulo parisiense e outros juram de pé junto que ele, junto com o rei Elvis Presley, não morreu e tá pelo mundo bebendo uísque e escrevendo poemas. Dizem até que viram ele numa fazendo do Texas ou Arkansas, não lembro direito, acho que vi essa bobagem na internet. E o Paul McCartney já morreu. E aquele rapper, o Tupac, também tá vivo por aí lançando discos inéditos que seriam de supostas "gravações" descobertas em fitas antigas. Se duvidar ele fez isso só pra apagar o tal do Notorious BIG. Bando de doido, isso sim. Terminamos o lanche e fomos pra casa. Coloquei uma música dos Replacements pra ouvir e deitei na cama. O mundo rodava, minha cabeça rodava, mas eu ainda tava ali, parado no mesmo lugar onde eu tinha passado boa parte da minha vida. Talvez o que eu precisasse mesmo era rodar. Rodar de ares, rodar o mundo, rodar o diabo que me carregasse. Talvez eu precisasse de mais um montão de coisas, mas naquela hora só do mundo parar de rodar enquanto eu tentava dormir já estaria de bom tamanho. Não demorou e caí no sono. O mundo continuava rodando, mas eu já não podia mais senti-lo.

quinta-feira, outubro 14, 2010

O quarto membro da festa era alguém que Cassidy nunca vira antes. Uma pequena, frágil e pálida mulher. Parecia andar na casa dos vinte e tantos. Cassidy viu sua singeleza, sua suavidade. Algo bondoso e doce. Algo higiênico. Apesar disso, enquanto ele a observava, quando viu a maneira como ela erguia o copo, soube instantaneamente que ela era uma alcóolatra.
Era evidente. Ele sempre sabia. Eles se entregavam em centenas de pequenos gestos. Ele nunca se sentiu triste por eles porque sempre estava muito ocupado em sentir-se triste por si mesmo. Mas, agora, sentiu uma onda de piedade pela mulher de rosto pálido e cabelos amarelos que sentava ali com Shealy, Pauline e Spann. Convenceu-se de que era importante descobrir quem ela era.

David Goodis
- A Garota de Cassidy (p. 27)

quarta-feira, outubro 13, 2010

eu fico pensando em você

eu fico pensando em você
eu fico pensando em você sempre que eu to sozinho
e eu to quase sempre completamente sozinho.
então eu fico pensando em você.
fico pensando no que eu fiz de errado pra te perder.
fico pensando em como minha vida chegou nesse ponto
nesse ponto baixo, nesse ponto tão
solitário e deprimente.
eu fico pensando em você.
fico pensando em não exagerar
não dramatizar
deixar o tempo passar.
mas ás vezes eu acho
que ele nunca
irá passar.
então eu fico pensando em você
fico pensando em mim e em você
e como fazer esse pensamento desaparecer,
mas acho que nunca vou conseguir.
então eu fico pensando em você
sozinho no meu canto
e fico pensando
se você também pensa
em mim.

Preciso dar um jeito na vida

Preciso dar um jeito na vida
pensou enquanto barbeava-se
e gotas vermelhas
sujavam o branco da pia caótica
respirou fundo e olhou-se no espelho
vendo um vulto
que parecia
um vampiro anêmico
suspirou e bafejou contra o reflexo
um hálito quente
recheados de porres marcioméricos
anomalias urbanas
os dentes em petição de miséria
a língua cega
a garganta escura

Preciso dar um jeito na vida
Sempre pensava assim pela manhã
preciso despertar meu anjo da guarda
implantar leis
ordens
métodos eficientes
preciso religar o telefone dos compromissos
desligar a tv
procurar john fante entre os escombros da abril
preciso dar uma geral nas coronárias
entupidas de angústia precoce
preciso limpar o ego

Preciso dar um jeito na vida
Pensou enquanto sua vida coagulava-se na pia
enquanto planos transformavam-se em espuma
enquanto o shampoo anticaspa arrancava-lhe idéias soberbas
das poucas que resistiam ao tédio inexorável
um filete de sangue saía do nariz
as narinas, um museu de cocaína e fome
tinham fome de mais, mais, mais

Preciso dar um jeito na vida
E a vida evaporou-se com a água do chuveiro
e a blue blade ávida de pulsos
matou a fome
enquanto seus últimos dez batimentos
ecoavam pelos azulejos antiquados
abraçou-se ao vaso sanitário
e viu Deus
e Deus olhou pra ele
chutou sua bunda magra e disse:
Você precisa dar um jeito na vida.

Márcio Américo

terça-feira, outubro 12, 2010

But deep inside my heart I know I can't escape.

Bob Dylan

domingo, outubro 10, 2010

todos os dias
os pequenos demônios vem me visitar.
essas assombrações horríveis
chegam de mansinho, sem falar nem uma
maldita palavra.
e me amedrontam
me amedrontam
me fazem pensar
nas piores coisas do mundo.
me fazem pensar
em mais assombrações.
todos os dias
quando os pequenos demônios vem me visitar
eu tento me esconder embaixo da cama ou
atrás do armário.
mas não adianta.
nunca adiantou.
todos os dias esses
malditos demônios vem me visitar
e me amedrontar
e me mostrar que eu não sou ninguém
que eu não vou vencer.
todos os dias
quando os pequenos demônios vem me visitar
eu fico pensando quando é que será
que os anjos vão vir pra me salvar.

sábado, outubro 09, 2010

vou arranjar um vira-lata e chamá-lo de Joe ou Willie
vou mudar pra uma kit-net e comprar
todos os discos dos Beatles.
vou ter um estoque de bebidas
e vou aprender a fazer lasanha.
vou ler todos os livros do Dostoiévski
e vou parar de fumar.
vou arranjar um emprego que pague as contas.
vou passar as férias em Nova Iorque ou Paris.
vou aprender a tocar baixo de verdade.
vou entrar numa banda e escrever uma dúzia de canções sobre
desilusões amorosas.
vou fazer a barba todos os dias.
vou comprar uma TV de um montão de polegadas.
vou levar meu cachorro Willie ou Joe pra passear.
vou comprar um disco do Charlie Parker e conhecer uma garota que também goste dele.
vou visitar São Francisco algum dia.
vou conversar com Lawrence Ferlinghetti antes dele morrer.
vou escrever uma peça de teatro.
vou trabalhar numa revista.
vou largar as drogas.
vou ver todos os vinte e dois ou vinte e três filmes do James Bond, especialmente os da fase do Sean Connery.
vou dirigir um filme, vou escrever um livro,
talvez compre um carro.
vou pintar umas dúzias de quadros sem sentido.
vou ler algum livro do Edgar Allan Poe.
vou mandar uma carta para um dos filhos do John Fante.
vou visitar Los Angeles e bunker hill
e o túmulo de Charles Bukowski.
vou ter uma grande biblioteca.
vou encontrar meu grande amor.
talvez eu faça tudo isso.
talvez comece
amanhã.

rezo e peço

todo dia eu acordo
e rezo e peço
pra que eu seja atropelado.
todo dia eu acordo
e rezo e peço
pra curar meus pecados.
todo dia eu acordo
e rezo e peço
pra você voltar.
pra você não me abandonar.
todo dia eu acordo
e rezo e peço
pra minha vida mudar.
todo dia eu acordo
todo dia eu acordo
e rezo e peço
rezo e peço
pra nunca mais acordar.
Eu não devia ter te colocado nessa bagunça que é a minha vida.

sexta-feira, outubro 08, 2010

out of the spot
i'm solid as a rock.

o que eu devia fazer

Eu to ferrado baby, e acredite, mais ferrado que isso, só estando morto. Ou vivo, porque estar morto é ainda, acima de tudo, a única libertação que a gente vai encontrar nessa droga de vida. E não adianta vir com papo de amante da vida ao estilo hare-krishna pra cima de mim. Cada um carrega sua cruz, cada um tem sua sina, e eu bem sei que já faz algum tempo que não tenho aguentado a minha. Tudo começou quando... bem, tudo começou há uma porrada de tempo atrás, quando eu me liguei que eu era um pouco diferente de grande parte das pessoas, e na maioria das vezes, era diferente pra pior. Pelo menos eu ainda ganhava deles com meus livros, meus discos e os meus filmes favoritos. Mas acho que aquilo não era grande coisa. Nunca tinha ganho uma garota por dizer que o John Fante era meu escritor favorito e que eu realmente gostava do Lou Reed. Como eles ganhavam as garotas? Eu não sabia, eu nunca ia saber. Eu estava destinado a não saber. Eu estava destinado a sofrer? Ha ha ha. Essa era uma boa piada. Auto-humilhação sempre funcionava muito bem pra idiotas do meu tipo. Na falta de uísque ou uma garota, era isso o que sobrava. Resumidamente: nunca sobrava nada. Como diria o grande Dylan, "quando você não tem nada, você não tem nada a perder", e eu já não tinha nada a perder há muito tempo, baby. Então só o que eu podia fazer era me mandar ou esperar o tempo passar. De qualquer forma ia ser uma decisão muito difícil pra ser tomada sóbrio. Era melhor juntar uma grana, tomar um bom porre e decidir de sopetão. É. Era isso o que eu devia fazer. Era isso o que eu ia fazer. Antes que os demônios aparecessem pra me buscar. Antes que eu insistisse com as idéias babacas de me matar. Antes da vida finalmente me domar. Era isso o que eu devia fazer.

quinta-feira, outubro 07, 2010

sempre tentando espantar os demônios da solidão.
Atravessando em linha reta a noite americana, me bateram vários momentos de lucidez cósmica, instantânea compreensão da minha presença no mundo e do mundo em mim. Aos meus olhos, eu era um santo grogue com o pé no sapato, na calçada, no espaço. Um santo sem milagres nos bolsos vazios.

Reinaldo Moraes - Abacaxi (p. 56)
que coisa triste
essa vida
é mesmo um chiste.

quarta-feira, outubro 06, 2010

Abacaxi

Nessa época eu não aguentava padecer nem cinco minutos de culpa, tédio, tristeza, banzo, angústia, medo, rejeição; eu me rebelava, acendia um charo, ia no cinema, botava um rock na vitrola, batia uma punheta, bebia um bar, qualquer coisa que me ajudasse a catar o porco-espinho à unha. Meu psicanalista, em São Paulo, me recomendava parlamentar com a dor psíquica, nunca fugir dela, pois a dor sempre acha um jeito de te pegar numa curva do rio. Ele tinha razão; mas o que tem com a razão quem quer viver um paraíso a qualquer preço, mesmo que artifical? De vez em quando, eu até encarava uns bodes, claro. Claro não, escuro, negro total. A noite caindo com estrondo surdo no peito, os bodes erguendo a cabeça chifruda do pasto e me encarando com olhos de estrume. É quando o coração pára em diástolo, sangue represado, pressão de mil léguas submarinas no peito, vontade de furar o coração a tiro pra morte jorrar vermelha. Muita lucidez sempre acaba em pânico; eu, então, corregava pra translucidez das drogas e das artes. Sem ofícios. Me favorecia uma circunstância especialíssima de vida: grana fácil no bolso, alguma saúde no corpo, tempo livre. Realidade era a vida dos outros.

Reinaldo Moraes
- Abacaxi (p. 38)
A hipocrisia em mim é apenas uma forma de amor tolerante pela humanidade.

Reinaldo Moraes - Abacaxi (p. 28)

terça-feira, outubro 05, 2010

Dry Londrina

clic clac
saltos lambem a celso garcia
busca de combustível
bruscas falas
grosserias trapaceando diálogos amistosos
a noite desperta
poetas
putas
clockers
sirenes quebram beijos
salve-se quem puder
a gente vai se vê por aí
à noite
todos são meio poetas

Márcio Américo
lamentando numa noite de terça-feira às 21:55.
lamentando num dia de semana como outro qualquer.
lamentando mais um desprezo de mais uma mulher.
lamentando, lamentando
vou vivendo, vou sonhando
acho que agora, eu devia
bolar outro plano
pra me mandar
daqui.
rimas, rimas, rimas
que inferno, baby
você sempre soube
que eu não era de nada.
você sempre soube
que eu era omisso.
e na minha própria cabeça.
e eu também sempre soube disso.

prosa, prosa, prosa
que coisa horrível.
você sempre soube
que eu era
um cara perdido.
você sempre soube
que eu desejava
o impossível.
e agora, o que eu faço?
tudo acabou, ou é escasso.
e dos sonhos
não sobrou nem um pedaço.
que terrível
arraso.
aonde foi que eu errei
nesses últimos anos?
como é que eu fui cometer
tantos enganos?
tão estúpidos
quanto eu
tão estúpidos
quanto assistir televisão
num domingo à tarde.
pensando em garotas
que me deixaram.
pensando em garotas que se foram
e nunca mais voltaram.
pros diabos!
eu devia me mandar
num navio.
eu devia ir mais vezes ao cinema
de preferência
sozinho.
eu devia fazer
um bocado de coisas
mas eu acabo
não fazendo nada.
acho que eu sou só
uma grande piada.
um bêbado insône
rodando pela madrugada.
acho que sou melhor
com um livro na mão
então pros diabos
com a solidão.
dez pra meia-noite me apaixono por meninas
dez pra meia-noite me perco nas esquinas
dez pra meia-noite, pensando em morrer
dez pra meia noite, sonhando com você
dez pra meia-noite, pensando em me mandar
dez pra meia-noite tudo vai
acabar.

vociferando palavras

vociferando palavras
ela diz
que eu não sou de nada.
vociferando palavras
na alta madrugada.
vociferando palavras
e me dizendo
pra deixar de lado
meus sonhos infantis.
pra deixar de lado
o que me faz infeliz.
vociferando palavras
ela me diz
o que eu sempre
quis ouvir.

segunda-feira, outubro 04, 2010

os Byrds tocam no rádio

os Byrds tocam no rádio
enquanto eu, completamente bêbado
faço planos impensados
dentro da minha cabeça
e percebo que se algum dia houve uma chance
bem, esqueça.
dessa vez, não há nada.
de uma forma ou de outra
logo, logo
vem outra garota.
os Byrds tocam no rádio
enquanto eu, completamente bêbado
penso em você
ao meu lado.
é sempre no escuro
que eu penso nas bobagens e nos
mistérios do mundo.

é sempre inseguro
quando eu bebo e dou de cara
com o muro.

e é sempre estranho
quando eu me rendo aos terríveis pensamentos
que me assombram de um jeito tão medonho

e é tão incrível
acordar na casa de um desconhecido
pensando "o que eu fiz pra ser tão sem jeito?
aonde foi parar meu respeito?"

e é tudo isso
uma benção e uma maldição
que te arrebenta com qualquer explicação
de acreditar que sua sina não é errar
de acreditar que alguém ainda vai te amar.
de acreditar que há razão para viver
de acreditar que a sua sina não é sofrer.

e é no final
que você aprende a ser um cara normal
que estar vivo até que não é nada mal.
que tudo isso talvez seja um sinal
pra ser alguém
melhor.

blues dos derrotados

esse é o blues dos derrotados
e eu só sou um mal amado.
se ainda crê em contos de fada,
melhor não ficar do meu lado.

tudo o que eu faço não é pensado
o meu amor não é calculado
sempre me falta um trocado
pra descolar um último trago.

esse é o blues dos derrotados
e eu sou só um cara cansado
de ter o coração quebrado.

te digo que não,
não é verdade o que eles dizem sobre
acreditar na sua razão
quando o que importa é só aquilo
que te acelera o coração.

e eu digo não
quando me dizem que eu sou
o cara errado
que eu fiz tudo parecer mais
estragado
que eu escrevi mais um poema
desolado.

baby eu sou só,
um mal amado
e esse é o blues
dos derrotados.

baby eu sou só,
um derrotado
e esse é o blues
dos mal-amados.

quarta-feira, setembro 29, 2010

uma abelha

suponho que como qualquer garoto
tive um melhor amigo na vizinhança.
o nome dele era Eugene e era muito maior
do que eu e um ano mais velho.
Eugene costumava me encher de porrada.
estávamos sempre brigando.
eu tentava vencê-lo mas sempre sem muito
sucesso.

uma vez pulamos juntos de cma do telhado da garagem
para provar que éramos valentes.
torci meu tornozelo e ele saiu ileso
como manteiga recém-tirada do papel.

acho que a única coisa boa que ele fez por mim
foi quando uma abelha me picou o pé descalço
e assim que me sentei para tirar o ferrão
ele disse,
"vou pegar a filha-da-puta!"

e foi o que ele fez
com uma raquete de tênis
mais um martelo de borracha.

estava tudo bem
dizem que de qualquer modo
elas morrem.

meu pé inchou e dobrou de tamanho
e eu fiquei de cama
rezando para morrer

e Eugene seguiu em frente e se tornou um
almirante ou comandante
de alguma coisa de vulto na Marinha dos Estados Unidos
e conseguiu passar por uma ou duas guerras
sem se ferir.

imagino-o envelhecido agora
numa cadeira de balanço
com seus dentes postiços
bebendo seu leitinho...

enquanto eu bêbado
masturbo esta tiete de 19 anos
que divide a cama comigo.

mas o pior é que
(assim como naquele salto do telhado da garagem)
Eugene segue vencendo
porque ele nem sequer está pensando
em mim.

Charles Bukowski

terça-feira, setembro 21, 2010

I don't have a drinkin problem. I have a sober problem.

segunda-feira, setembro 20, 2010

eu nem sei mais
no que eu acredito
eu só procuro
minha paz de espírito.
after all you've done for me
girl, I just wanna be free.

terça-feira, agosto 24, 2010

A gente ouviu muito Ramones pra chegar até aqui.

segunda-feira, agosto 23, 2010

Eu to ouvindo Tom Waits
mais uma vez
bebendo uísque barato
mais uma vez
pensando em você
mais uma vez.
Eu to juntando meus cacos
mais uma vez
eu to ficando cansado
mais uma vez
eu to pensando em morrer
mais uma vez
eu to pensando em você
pela última vez.

domingo, agosto 22, 2010

heartbroken
o meu time perdeu
e você me esqueceu
mas além disso
nada aconteceu.
garota, eu ando tão triste
que eu ando até acreditando
que Deus existe.
e pode ter certeza
que ele não gosta muito de mim.
pode ter certeza
que ele não tá muito afim
de me fazer feliz.
garota, eu ando tão triste
que eu até acho
que eu vou me mandar.
garota, eu ando tão triste
que eu até acho
que eu não sei mais amar.

sábado, agosto 21, 2010

And I don't want to live this life
And I don't want to live this life
And I don't want to live this life
Anymore

Ramones

sexta-feira, agosto 20, 2010

tá tudo bem, baby
eu não vou me matar
se você me deixar.
talvez eu chore, mas
pode ter certeza
que não vai ser alto o suficiente
pra você ouvir.
e vai ficar tudo bem
porque apesar de tudo
você não pode me impedir
de encher a cara sozinho
no canto de um bar.
então tá tudo bem, baby.
tá tudo bem, se você me deixar.
mas por hoje, e só por hoje
eu não quero
que você se vá.
eu não sou mais
aquele garoto caipira
que fui outrora
recém chegado à cidade grande,
totalmente deslumbrado
e perdido e maravilhado,
com o universo infinito.

eu costumava beber em bares
até eles fecharem
eu costumava beber em bares
até eles me expulsarem.
e eu tive sim
uns dias bons,
ah, tive sim
uns dias ótimos.

mas, eles não foram suficientes
(deus sabe porque eles nunca são suficientes?)
porque, eu não sei,
ah baby, eu definitivamente
não sei o porque
nós nunca estamos
realmente contentes.

e eu deixei de ser aquele caipira
deslumbrado, apaixonado
por uma dúzia de garotas que eu
mal conhecia.

parece que uma hora
todo aquele encanto
simplesmente
sumia.

parece que uma hora
toda a sua vida
desaparecia.

e a gente nunca entendia
que diabos acontecia
com as rimas
que a gente insistia
em escrever.
isso é tudo
poesia barata, baby
e eu não me importo
com as tuas conclusões
com os conselhos da tua mãe.

isso é tudo
o que não me mata, baby
e eu não me importo
se não me faz bem
eu beber e fumar,
e nem pensar em parar.

isso é tudo
o que me faz esquecer
de mim, de você, e da droga da vida
tão doída e sofrida
tão bonita e esquecida
pelo resto das pessoas
que não leram e que se esqueceram
de como é bom escrever
meia dúzia de versos
sobre o fim do universo
ou qualquer bobagem desse tipo.

que se dane, meu bem
eu só sou alguém
procurando meu próprio caminho
para o céu.
ou para qualquer lugar
que me tire daqui
agora
sem hora
pra parar.
eu vou me mandar daqui
vestindo um terno de linho
cantando blues sozinho
andando devagarinho
em direção a lugar nenhum.

eu vou me mandar daqui
cantando baixinho
o final da minha canção.

eu vou me mandar daqui
levando na mala
meia dúzia de livros
lembranças de amigos
seu retrato esquecido.

eu vou me mandar daqui
enquanto tocam o hino nacional
em alguma escola municipal
que fica nessas ruas esquisitas
que me fazem sentir um parasita
da sociedade, do mundo
e de mim mesmo.

que mal eu fiz
pra ser um cara
tão perdido.

que mal eu fiz
pra ser um cara
esquecido.

pros diabos
com tudo isso
que permeia
minha cabeça
e de mais alguns esquecidos
pelo resto
do planeta.
não importa muito o que você pense
a partir de agora
eu tomei como decisão
que vou ser alguém só
e vou pegar o ônibus
e vou ler meu livro
e vou ficar legal
e nada vai me fazer mal.

e não me importa muito o que você pense
agora eu vou ficar tranquilo
quieto no meu canto
só pensando no encanto
das minhas canções favoritas.
e tudo isso enquanto eu bebo
um grande uísque, que cê nem imagina
o quão barato eu paguei
praquele meu amigo que contrabandeia
e paga uma boa propina
pros fiscais da fronteira.

e não me importa muito
o que qualquer um pense
enquanto eu só me mando pro inferno
sozinho, completamente sozinho
com a minha dose completa
da mais genuína e seleta
solidão.
ás vezes nós damos telefonemas
pra falar de coisas pequenas
á uma da madrugada, completamente embriagados
pra falar sobre nada, absolutamente nada.
e a gente só procura um tanto de afeto,
a gente só quer ter alguém por perto.

ás vezes nós escrevemos poemas
sobre amores partidos e despedaçados
mas a gente nem sabe o que é amor
a gente nem se liga muito nas coisas da vida
e qualquer bobagem é inspiração pra ser um suícida.

ás vezes nós nos perdemos em nossa própria cabeça
e bebemos um vinho barato lendo um livro bonito
sacando que a vida é o que tá escrito
bem ali na nossa frente
de um jeito diferente
do que a gente imaginou.
há uma espécie de bêbado por aí
uma espécie de bêbado poético
de bêbado solitário, procurando por afeto.

há uma espécie de bêbado por aí
que não se importa com muitas coisas,
que não se interessa por dinheiro
que comete alguns erros.

há uma espécie de bêbado por aí
que é quase um gênio
encostado no balcão
bebendo uísque com gelo.

há uma espécie de bêbado por aí
que teve sonhos e desesperos
que perdeu garotas, e que tem medo
de continuar sendo
só mais um bêbado.

e é pra esses bêbados
que eu dedico
esse arremedo de versos
patéticos.

e é pra esses bêbados e seus
pensamentos
que eu dedico
esse versos escritos
por outro bêbado
como eu.
It's happening baby
They're putting up the chairs
Zaking the money
And all we can do is pray
Pray for tomorrow

Ryan Adams

terça-feira, agosto 17, 2010

ela me disse
que gostava do meu beijo
e gostava do meu toque.

ela me disse
que gostava de mim
mas que estava confusa
que gostava de mim
mas que a decisão era sua.

ela pediu
um tempo pra pensar
ela pediu
pra eu não me matar.

ela me disse
que gostava de mim
e que eu era importante.

ela me disse
que gostava de mim
que eu não fosse tão errante.

ela pediu
pra eu beber menos
pra eu fumar menos
pra eu não me preocupar
com problemas pequenos.

ela me disse
que eu era especial
ela me disse
que eu era um cara legal.

eu nunca soube
muito bem o que fazer
eu nunca soube
muito bem o que dizer

mas eu gostava dela
ah, eu gostava dela
eu só não sabia
o que fazer.
quantos porres mais
eu tenho que tomar
pra você me amar?

segunda-feira, agosto 16, 2010

se tudo foi em vão
pros diabos com a solidão
eu sou só mais um maluco
procurando a salvação.
Teria dado tudo certo se não tivesse dado tudo errado.

sábado, agosto 14, 2010

Maybe I'm a man and maybe I'm a lonely man
Who's in the middle of something
That he doesn't really understand

Maybe I'm a man and maybe you're the only woman
Who could ever help me
Baby won't you help me understand

Paul McCartney

um bar escuro ao som de Muddy Waters

E você não sabe quantas canções eu cantei sozinho andando por ruas escuras e esperando alguém aparecer no meio de toda essa loucura. Eu sabia que era em vão, sempre soube, mas de alguma forma eu me enganava esperando que algo acontecesse. Eu ouvia o solo do Paul McCartney e pensava na beleza da alma das pessoas e sonhava se alguma delas pensava em algo minimamente parecido. Talvez elas pensassem, talvez todo mundo pensasse nisso antes de dormir e também tivesse pesadelos e desemprego e sonhasse em se mandar por aí com uma mochila nas costas só curtindo e esperando a velhice. Eu tava muito cansado pra divagar sobre qualquer tipo de coisa, então eu só acabava bêbado ouvindo minhas músicas de punk rock favoritas. Eu sempre tinha sido uma pessoa desse jeito, eu não ia mudar agora. Eu não podia mudar agora. Eu só pensava em descansar. Descansar de verdade, definitivamente. Descansar a droga do espírito atormentado pelos piores demônios da alma. Eu só queria mesmo era escrever meia dúzia de poemas sentado no balcão de um bar escuro e quieto com Muddy Waters rolando no fundo. Acho que isso não era pedir muito. Eu não pedia muitas coisas. Eu nunca fui muito dado a rezas. Nunca acreditei que as coisas fossem realmente acontecer. No final a gente só tinha que esperar elas passarem. Elas iam passar. Eu não era feliz, mas quem diabos era? Eu não ligava muito em ter um emprego ou um diploma. Eu tava virando um cara já, eu digo, um cara adulto, e eu ainda morava com a minha mãe e descolava uma graninha pouca em empregos ruins só pra poder beber em paz. Mas eu nunca bebia em paz. Eu não sei porque diabos eu nunca tava em paz. Será que a gente precisava morrer pra ficar em paz? Eu acho que não. Ou talvez sim. Eu sei lá. Eu só gostava dos primeiros discos solo do Paul McCartney. Eu usava uma camiseta do Neil Young e tinha botas de couro gastas mas bonitas pra diabo. Mas ninguém tava muito ligado no Neil Young ou em botas de couro gastas ou em beber uísque e falar sobre poemas estúpidos na mesa de um bar vazio. Ninguém se importava muito em jogar bilhar e tirar sarro dos acionistas. No final eram eles que estavam com as garotas, com os malditos carros importados, as casas na praia e os filhos babando no banco de trás do carro e jogando a droga de um videogame da última geração. Mas nada disso importava quando a gente tinha um livro do Kerouac embaixo do braço e ouvia o Let it Bleed dos Stones no mp3. A gente sabia mais que eles. Eu sabia mais que todos eles. Eu era um gênio, porra. Eu era mais que um gênio. Talvez eu fosse um santo amalucado e demôniaco. Talvez eu não fosse porra nenhuma, mas, whatever, eu gostava de pensar que eu era algo. Eu gostava de ficar quieto no quarto encarando um quadro dos Sex Pistols e dançando um som do Little Richard. Eu gostava de algumas coisas. Porque é que as coisas não gostavam de mim? Eu sei lá. Talvez eu nunca fosse saber. E eu não tinha mais uísque e nem tinha mais muito dinheiro. Eu devia grana pra algumas pessoas, e outras pessoas me deviam grana. Talvez fosse hora de cobrar e de pagar. Eu gosto de honrar com meus compromissos. Se um dia eu ficar te devendo uma, pode deixar que eu vou pagar. De preferência num bar escuro ao som de Muddy Waters.

sábado, agosto 07, 2010

um dia a gente vai ser santo

e ninguém notou a gente
escorado no balcão
de copo na mão
pensando em coisas abstratas
bebendo cerveja gelada
sonhando com as garotas erradas.

e ninguém notou a gente
em hora nenhuma
enquanto a gente pensava
em coisa alguma
só bebendo e curtindo
e rezando e fugindo
do resto da sociedade.

que coisa acontece
na nossa cabeça
que gira sem parar
que fala sem pensar
e que nunca acaba
com a nossa vontade
de se mandar.

eu acho que um dia
a gente vai ser santo
e vai continuar de canto
bebendo uísque barato e
pensando nos lances exatos
que a gente sonhou quando tinha
oito anos de idade.

talvez tudo isso

talvez tudo isso
seja fruto
de coisas que eu fiz
na vida passada.

talvez tudo isso
seja fruto
das minhas muitas
coisas erradas.

talvez tudo isso
seja só um sonho
talvez tudo isso
seja algo estranho.

talvez tudo isso
um dia me ajude.

talvez tudo isso
acabe pra sempre.
talvez tudo isso
seja diferente.

uma

vez.

sábado, julho 31, 2010

Now I'm tired and gettin old
I ain't got much gold
Well maybe things ain't been all that I planned
But God above hear my plea when it's time to judge me
Take a look at these hard hard working hands

Johnny Cash

Acredite, baby

E garota, tu não vai acreditar quando eu te falar sobre todo o tempo que eu passei arquitetando planos imposíveis e inimagináveis, bebendo igual um condenado à cadeira elétrica e pensando nos meus ídolos como verdadeiros santos magníficos e fabulosos igual a James Dean dirigindo rápido seu Cadillac numa estrada californiana em 1952. Era só nesse tipo de coisa que eu pensava quando eu via que as coisas não estavam tomando um bom rumo, e elas não tavam tomando um bom rumo há muito tempo. Eu não sabia muito bem o porque. Eu nunca soube muito bem o porque de muitas coisas.

Mas baby, seria bom se tu acreditasse em mim quando eu digo que eu vi os maiores milagres acontecerem bem diante dos meus olhos em noites silenciosas e solitárias andando por ruas escuras com um cigarro entre os dedos e curtindo um disco do Simon & Garfunkel e pensando em garotas bonitas e garrafas e bebidas. E pensando em vezes que me joguei de carros em movimento e pulei sob orelhões de ruas escuras em madrugadas bêbadas simplesmente porque eu achei que aquilo ia ser bacana e porque alguma voz estúpida na minha cabeça me dizia pra ir em frente e fazer esse tipo de coisa. Mas eu não me importava muito, e afinal, porque deveria? Eu só tinha vinte anos e não tinha muito dinheiro e não tinha muitos planos e a gente sempre tinha algumas cervejas ou uma garrafa de uísque ou de qualqué coisa e o carro tocava o solo do Iggy Pop enquanto a gente só pensava nos nossos planos sonhadores que a gente ainda nem tinha direito. E era provável que nenhum deles viesse a se realizar. Mas que diabos. Não importava muito. Nunca importou. Nós eramos um bando de malucos correndo contra a correnteza. Eu era um maluco que acreditava em salvação pela poesia, mas eu nem sabia muito bem que diabos era a poesia. Eu sabia do que eu gostava. Eu sabia que queria ser como os Ramones, que queria escrever um livro tão bom quanto Pergunte Ao Pó e ter uma garota que me tirasse o folêgo e gostasse de mim e me ajudasse a não pensar mais em me jogar de janelas ou me enforcar com lençóis ou cordas velhas. Era nesse tipo de coisa que eu pensava quando andava por aí. Era nesse tipo de coisa que eu pensava quando me sentava em frente ao computador numa ressaca daquelas e ouvia dois blues do Buddy Guy enquanto destoava minhas bobagens solitárias & mal escritas de um jeito caótico e meio sem jeito, mas cê pode acreditar em mim quando eu digo que - É totalmente sincero.

E baby, eu só vou dizer mais uma vez, que é pra você e qualquer pessoa ter certeza. Eu não sou lá essas coisas, eu nunca fui lá essas coisas e eu provavelmente nunca vou ser lá grandes coisas, mas pro inferno com tudo isso! Eu gosto de falar sobre maluquices espirituais mesmo não acreditando em muitas coisas e nem tendo uma religião e nem sabendo rezar. E eu gosto de ouvir música, principalmente rock and roll, e acreditar que caras como Joe Strummer e Paulo Leminski estão lá em cima olhando por nós aqui embaixo. E a gente pode ser maluco pra caramba, mas a gente não é doido de desacreditar nesse tipo de coisa. A gente não é doido de abandonar tudo isso e entrar pra uma igreja ou parar num hospício ou num cemitério antes da gente completar trinta e dois anos. E acredite quando eu digo, baby, que às vezes só o que a gente tem que fazer é acreditar.

quarta-feira, julho 28, 2010

antes que fosse tarde demais pra nunca mais chorar

E eu chorei por não ser Jack Kerouac, por não ser John Fante, por não ser Lou Reed. Chorei por ser eu mesmo, por não ser ninguém importante, por não fazer nada importante, por não ser interessante. Eu chorei por todos os sofredores e todos os santos do mundo. Eu chorei por acreditar em verdades superiores e em espaços cósmicos. Chorei por baladas country e lamentos de blues. Chorei todas as vezes em que pensei nas garotas que não tive e nos porres que tomei. Chorei pensando no meu emprego de merda, em pegar o ônibus, em andar na rua. Chorei porque eu gostava de ser quem eu era e por as pessoas não gostarem assim também. Chorei por me importar com coisas estúpidas e por não me importar com várias outras. Chorei porque o mundo era cruel e nós todos eramos egoístas e cretinos o suficiente pra não ligar muito pra qualquer outra coisa que não fossemos nós mesmos. Chorei porque eu sabia que nada disso valia a pena. Porque eu sabia que o inferno não existia, e se o inferno não existia o céu também não existia, e nada fazia nenhum sentido. Chorei por nada fazer sentido, chorei por existir. Chorei porque eu simplesmente achei que fosse ser melhor assim. Porque eu era uma má pessoa e eu tinha sido uma má pessoa durante muito tempo. Chorei por não ter acreditado em muitas coisas. Chorei por meus livros, por meus discos, por meus filmes. Chorei por Arturo Bandini, por Sal Paradise, por Henry Chinaski e por mim mesmo. Chorei porque era a única coisa a se fazer. Chorei porque era a última coisa a se fazer. Chorei antes que fosse tarde demais pra nunca mais chorar.

Visões de Cody

Música, sax, saxes, luzes tremeluzentes, trompetes, vozes, luzes, chacoalhões; tudo está acontecendo; vozes, músicas, iik, girafas, zoológicos, circos, cães, estacionamentos, galreios, casinhas de brinquedo, jubileu, uma grande raposa vermelha, o nariz vermelho, o grande Jack Little, meninos e meninas, o Brooklyn Dodgers, alegria, verão, Nova York, casquinhas de sorvete, blues nos velhos saloons de Nova Orleans, curtos, no bar, King Cole, histórias do ringue; fumaça de charutos, capas de couro para os isqueiros, uma bolsa de golfe; poeirinhas, as bonequinhas e as poeiras no chão, tão tristes, (sarapintadas) minúsculas salpicadas, sobre os brinquedos no chão, os brinquedinhos das crianças sempre misterificam o lugar que ocupam, uma alma que respira desejou a eles uma identidade e os brinquedos portanto vivem. Escuta, eu queria ir para o céu, tem bem mais pessoas mortas do que vivas; será que olhos mortos vêem? Olhos mortos vêem.
E a chuva dorme.

Jack Kerouac

segunda-feira, julho 19, 2010

fragmentos de uma conversa alcolizada

A gente fica esperando que algo de bom aconteça de repente, seja na internet, numa cerveja no boteco mais sujo do mundo ou na fila do banco pra pagar uma conta atrasada. A gente só espera conhecer uma garota muito foda ou que algo dê muito certo, e a gente fica esperando essas bobagens o tempo todo. É tipo aquela bobageira de menininha esperando princípie encantando, mas a gente só espera uma boa garota, que tenha um corpo legal e seja bonita e curta umas coisas bacanas e divida umas bebidas e te dê uma razão pra acreditar em alguma coisa.