Deus do céu, uma baita gripe, uma daquelas gripes terríveis. Nenhum dinheiro na carteira, conta negativa no banco, o dinheiro de plástico me salvando. O celular que eu esqueci na casa da minha mãe não me faz falta nenhuma. Odeio essas coisas que tocam e fazem barulho e te enchem o saco de todas essas maneiras. Meu quarto, minha casa, meus filmes e meu livro favorito na original e pizza e todas essas coisas italianas. E cigarro pra não acabar, pois eu sei e todos os fumantes sabem o quanto é desesperador ficar sem cigarro. E o vento frio lá fora, e as roupas sujas ali no canto me encarando, e o gás do fogão acabou e ninguém trocou. Mas não há dinheiro pra trocar e não muito o que se fazer nesse caso. Comprando fast-food ou coisas que possam ser feitas no microondas.
Meu nariz está trancado, as pilhas de papel amassado e usado se amontoando no canto da mesa. Revirando madrugadas escrevendo e não escrevendo nada que valha a pena com bitucas de cigarro e copos usados. Já vi esse filme antes. Centenas de vezes. Estou enjoado deste roteiro. Mas gosto dele. Eu sou o diretor. Eu sou o ator principal. Eu sou o coadjuvante. Eu sou eu, o maior de todos! Eu sou um grande escritor. Um grande jornalista. Um grande merda qualquer. Eu não sou nada. Nada além de um jovem sonhador que a cada dia fica mais velho. Nada além de um jovem que tem seu livro favorito e pizza e cigarros e um bom tempo sozinho em seu quarto numa noite fria. Um jovem resfriado de nariz trancado e filmes atrás de filmes sendo assistidos e aqueles grandes diretores todos me inspirando e me acabando. E as músicas, e mais músicas, e notas e acordes e belas letras que moldam minha vida e oh! Todas essas coisas e mais um pouco.
Escreva. Escreva. Escreva. Cartas, notas, poemas, prosas e qualquer coisa. Leia e escreva e ronde a biblioteca buscando grandes livros pois são eles os que mais te importam, e como ele também sonhou, você também pode sonhar, e seu nome estará ali algum dia, ah se estará! Seu nome há de estar entre os nomes daqueles todos. Ou tudo isso não passa de um delírio. Um maravilhoso e prazeroso delírio. Um grande delírio de um grande escritor. E mais um grande conto para a sua coleção. E mais um prêmio para a sua estante. E grandes coisas que talvez nunca aconteçam. Mas não importa o que aconteça o céu sempre estará lá em cima e a grande lua e as estrelas brilharão até o fim de seus dias.
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