Tenho poucos amigos. Sempre fui um cara assim, de muitos conhecidos e poucos amigos. A maioria de meus amigos tem uma vida diferente agora. Estão namorando, estão casando, estudando ou fazendo qualquer porra assim. Me mudei de cidade e não conheço quase ninguém. Não consigo manter uma verdadeira amizade com os colegas que tenho por aqui, apesar de manter uma relação cordial. Não consigo ver quem sou eu. Tenho insights esquisitos e visões alucinadas. Tenho tido ressacas horríveis e perdido dias como se fossem folhas amassadas jogadas no lixo. Quero correr pra algum lugar bem longe daqui. Quero correr pra longe de mim e ficar sozinho para sempre num rancho com uísque e música country.
Sou tudo aquilo que não queria ser. Sou muito diferente do que imaginei que seria com esta idade. Acreditei que seria alguém legal. Acreditei que tudo mudaria na minha vida. Não sei mais no que acreditar. Tudo aquilo que eu não queria ser e um pouco mais. Louça suja na cozinha. Acordo bêbado. Não sei que horas são. Consulto o relógio. Tarde da noite. Não tenho pra onde ir. É a porra de um sábado à noite. Estou de ressaca e acho que ainda estou bêbado. Não sei o que anda acontecendo. Talvez eu deva parar de beber. Deva correr pra longe daqui. Dar um fim nessas garrafas vazias e nunca mais botar uma gota de álcool na boca. Ainda vou continuar fumando. Não posso me privar disso. Não há como me privar disso. É simplesmente a verdade. A pura e crua verdade. Sangrando por entre essas ruas de merda. Derramando seu deleite por tudo isso. Expurgando as mentiras do paraíso. A verdade e nada mais do que foi dito.Correndo pela cidade. Me assombrando em cada bar de esquina. Me puxando para sua cova. Me levando para algum lugar que eu não quero ir. As janelas do prédio vizinho e as luzes acesas. As pessoas andando na Avenida Paulista e os casacos bem lavados. Os carros zunindo apressados e freando decepcionados. Milhares de garotas que passam por mim como se eu fosse invisível. A pobre e horrível indiferença. Essas demonias de saia me assombrando com seus tridentes. Me ignorando com seu fogo ardente. Sempre acompanhadas. Sempre indo pra algum lugar. Sempre querendo fazer alguma coisa. Objetivos de vida e toda essa merda. Minhas conversas de bar se resumindo a entediantes monólogos. Meus argumentos se dissolvendo como sal em água. Meu sangue correndo nas veias. Bebida descendo pela garganta. Bitucas de cigarro arremessadas na sarjeta. Meus poucos amigos e tudo aquilo que eu não queria ser.
Um comentário:
Eu também quero sair correndo pra algum lugar bem longe e as vezes quero escorrer pelo ralo no banho. Enfim.
Em novembro eu tô aí.
Beijo.
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