segunda-feira, novembro 17, 2008

Viajens, bebedeiras e ressacas.

Mais uma viajem de ônibus. Não gosto de viajar nesses troços, você passa a maior parte do tempo sentado com uma pessoa que nunca viu do teu lado, com todos aqueles desconhecidos dormindo e fungando e roncando e as luzes acabadas e você ouvindo seu mp3 e pensando em chegar logo pra tua cidade natal, mas parece que nunca chega. Aí você consegue dormir um pouco, bem pouco, parece que foram quinze minutos. Olhando o relógio, foram quase duas horas. Volta a dormir, um tempo depois tem a parada numa lanchonete de beira de estrada. Os estranhos se mexem, acordam, sussurram e vão saindo um a um, enquanto uns poucos cansados ainda continuam dormindo inertes. Saio com os olhos semi-cerrados, a luz machuca a vista, só sei que preciso fumar, preciso fumar. Chego até um canto e acendo o cigarro. Alguém me chama, uma amiga da cidade. Sempre encontro alguém indo ou voltando pra algum lugar nessas paradas. O mundo é mesmo um lugar pequeno, ou pelo menos os lugares que eu vou são sempre os mesmos. Uma conversa aqui, outra ali, me despeço e volto pro ônibus. A viajem está na metade, já estou de saco cheio. Bob Dylan, Ira!, Ryan Adams e Bob Dylan novamente. Continua tudo escuro. O ônibus chacoalhando. Preciso ir mijar. Preciso mijar todas as horas em que estou nessas caixas escuras balançantes e lotadas de gente. Vou até o tal banheiro. É apertado e balança um bocado. Vai de qualquer jeito mesmo, que se foda. Volto pra poltrona. A viajem nunca acaba. E são só seis horas e meia, que mais parecem doze. E então no tempo previsto chegamos. As luzes se acendem, todos descem, todos querem pegar suas bagagens (o que demora um tempo de encher o saco), e então todos pegam suas coisas e saem vagando por aquela rodoviária bonita e estranha de Londrina. A rodoviária mais bonita do país, ou uma delas, um projeto de Niemayer que ele nem se lembra de ter feito. Um projeto do escritório de Nyemayer, que seja, não me importa. Espero vir me buscarem com mais um cigarro.

Um tempo de sono de verdade, na cama e tudo mais. Sábado é dia de encher a cara. Em todo e qualquer lugar que estiver, sábado vai sempre ser o dia de encher a cara. Pra casa de um grande amigo. Uma cerveja. Outra. E outra. E mais outra. E de lá pra uma saga interminável dentro do carro. Odeio passar muito tempo dentro de um carro ou de qualquer coisa que se locomova. Encontramos um lugar pra ir. Uma festa na casa de um cara aí. Cara gente boa, festa relativamente legal. Cerveja e gin, e cerveja e cerveja e gin e gin. E logo bem vindo, você esta bêbado de novo. De lá pra um bar. Encontro alguns amigos, outros desconhecidos, todos em uma mesa, falando sobre livros e problemas e soluções acadêmicas e traduções e dissertações e TCCs e teses de mestrado e tantas outras coisas que não acrescentam grande coisa. O tipo de coisa que é a mais chata de se falar. Pretensões profissionais, pretensões pessoais, todos os tipos de pretensões e coisas que ainda não aconteceram e todas essas porcarias que fazem as pessoas perderem seu tempo pensando no que está por vir ao invés de viver o que está ali. E a conversa vai pra outro rumo, e cinema, e futebol, e viajem, e música e um monte de outras coisas. Conversa boa então, divertida, até interessante. O suficiente pra acompanhar cerveja, atrás de cerveja. Sem conversas acadêmicas, sem conversas profissionais, sem grandes chateações. E logo são seis horas da manhã, e você conseguiu, passou a noite bebendo e obviamente ficou bêbado, e vai pra casa comer qualquer coisa que restou na geladeira. E vai tentar dormir, com as paredes girando na tua volta. Aí se arrasta até o banheiro, pra ficar deitado no azulejo frio contemplando o próprio reflexo na água da privada, até esperar a coisa vir e então soltar tudo lá, fazendo aquele barulho escatológico e regurgitando tudo o que sobrou no teu estomago. No dia seguinte haveria uma grande ressaca, e você sabia disso e sentia uma pontada de arrependimento pela bebedeira, mas agora não tinha muito que fazer.

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