Nada pra fazer na maior cidade da américa latina. São Paulo é assim, se você não tem grana e não conhece mais que meia dúzia de pessoas você ta ferrado. O que fazer nessas horas? Parcialmente de férias, com uma gripe fodida, sem muita ou nenhuma grana pra gastar e sem nada pra fazer além de ver um monte de filmes alugados de graça na faculdade. Joga tudo na mala. As roupas estão sujas há mais de duas semanas. A diarista (que na verdade só vem a cada quinzena) não veio dessa vez. Tudo dentro da mala. O que pode ser preciso nos próximos dez ou quinze dias e lá vou eu ganhando a rua. Cinco e alguma coisa da tarde. Passo no banco pra sacar alguma grana da minha já negativa conta só pra pegar o metrô e - surpresa! - papai depositou algum pra não morrer de fome. Agora já era, mal sabe ele que a conta já estava negativa esse tanto de passar o cartão em bares sem saber quanto havia no banco. Santa irresponsabilidade. Agora já era. Uns 30 contos na conta. Maravilha. Só uma grana pro metrô e pra comer algo nessas malditas paradas da estrada.
Entrando no metrô lotado de engravatados e demais trabalhadores da paulista. Minha sempre companheira ignorancia me fez esquecer de como é o metrô na hora do rush. Seis horas da tarde. Maldito horário para se pegar o transporte coletivo. Mas o ônibus saí ás sete, então não há muito o que fazer. Vamos lá, até o Paraíso, que mais parece o inferno. De lá até a Sé. Esse sim o verdadeiro inferno, com direito a diversos demônios e todo tipo de aberração e caos que a grande cidade tem a oferecer. Enlatado e amassado no vagão com a mochila nas costas, a pesada e maldita mala na mão e uma desgraçada de uma sacola plastica balançando na outra pras coisas que não couberam na mala massarocada. Destino Barra Funda. Chegou, chegou, aleluia senhor. Pessoas que ainda vão pegar o trem quase te atropelando. Tudo bem apressados. Go ahead. Já cheguei no meu destino. Até a porra do guichê. Uma passagem pra Londrina. Saindo de um inferno e indo pro outro. Lá vou eu. Lendo a ótima biografia do Kerouac escrita pelo Antonio Bivar. Enxuta mas muito boa. Só uma parada de quinze minutos, suficientes pra comer uma esfiha que estava marcada como carne mas na verdade era frango, agora não havia tempo pra reclamar. Vai essa, mesmo eu não gostando muito de frango. Tempo pra um misero cigarro. Um cigarrinho só. O motorista me lança um olhar fulminante de "o que esse maldito jovem fumante esta fazendo atrasando todo mundo". Apago a bituca e subo no trambolho. Lá vamos nós. Metade do caminho. Durmo um pouco e acordo. Ouço o mp3 no resto. Sempre esqueço de colocar as músicas nessa porcaria. Sempre ouço as mesmas. Não faz mal. Nunca faz. Logo chegamos.
Rodoviária de Londrina. A mais bonita do país. Grandona e vazia na madrugada da segunda-feira. Um bêbado me pede esmola. Não tenho nada, meu velho. Espero vir me buscarem e vejo que um policial vai tirar o bêbado do banco da rodoviária em que ele dormia. Ele reluta em sair. O policial engrossa a voz e faz o cara ir andando sem rumo. Vejo ele descendo a rua e andando pra algum lugar escuro da madrugada. Pelas esquinas de Londrina. Sempre as mesmas de sempre.
Já arrependido de ter vindo. Não sei pra onde ir. Nunca sei. A gripe melhorando. As coisas sempre na mesma. Meu pai já me aceita como fumante, mas nem por isso deixo de ouvir toda e qualquer bronca e advertência relacionada ao assunto. Pelo menos não preciso mais sair atrás de comidas horríveis de fast-food nem torrar minha curta paciência tentando pôr em prática meus limitadíssimos conhecimentos gastrônomicos na cozinha do apartamento em que o gás do fogão acabou há umas duas ou três semanas. É isso aí. Sempre a mesma. Sempre igual.
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