sábado, dezembro 27, 2008

Não sei porque eu sempre me vejo na necessidade de explicar algo pra alguém, nem que seja pra mim mesmo. É como que uma regra que eu tenho de seguir, e tempos periódicos tiro um tempo e escrevo qualquer coisa que me vier na cabeça naquele minuto. Ás vezes funciona bem, e é bacana, mas na grande maioria das vezes não funciona e é uma grande merda.

É como delegar ao espírito coisas que o corpo já não pode suportar. É como ressacas em terríveis manhãs pós bebedeiras. Como ser novo e se sentir como velho. Como não ter a mínima noção do que vai ser e do que fazer. É como uma centena de coisas e também não é como nada.

Tenho tido sonhos estranhos que nem valem a pena ser explicados. Me arrepio com cenas bizarras e no mínimo estranhas que vejo todos os dias. Dou risada de coisas sem sentido e balbucio palavras incompreensíveis. Leio os velhos livros e eles continuam me salvando á minha própria maneira.

Um gole aqui, outro acolá. Um papo ridículo de um lado. Sou mesmo melhor sozinho. Prefiro ficar sozinho. As pessoas continuam me ignorando, ou será que sou eu que as ignoro? Prefiro não saber por enquanto. Vou pegar o avião e me mandar pra Buenos Aires, onde as pessoas falam uma língua que eu não entendo e onde eu não conheço ninguém.

Achei por aí e achei do caralho


sexta-feira, dezembro 26, 2008

Meta para 2009: Arranjar um emprego e colocar a TV a cabo com o maior número de canais possíveis, pra só sair de casa caso o prédio corra risco de desabamento.

sábado, dezembro 20, 2008

Não gosto de pessoas com muita auto-confiança. Nem mesmo tenho a paciência necessária pra passar algum tempo perto desses tipos. Ontem, na festa que eu fui havia um tipo assim. Eu estava lá, tomando a minha cerveja e ouvindo ao Elvis cantar Such a Night até que três conhecidas começaram a conversar logo a meu lado. "bla bla bla, porque eu já fiz várias faculdades, agora estou fazendo bla bla bla e quando terminar vou fazer bla bla bla". A conversa prosseguia e eu me irritava de ter que compartilhar daquele (in)feliz momento da conversa. O papo descambou pros lados de línguas e idiomas. E lá estava novamente a auto-confiante para se exibir como um pavão vencedor de um concurso de beleza - "bla bla bla, eu estudei num super colégio foda e bla bla bla, aprendi várias línguas e bla bla, tenho uma super base, bla bla". Eu não sei se ela pensou que aquilo era uma entrevista de emprego, mas acho que com as cervejas e os cigarros nas nossas mãos e o rock no alto volume não seria difícil perceber que estava enganada. A prosa ia de vento em popa, e vez ou outra eu era questionado sobre minha opinião, dava um ou dois pitacos e ficava quieto encarando minha cerveja e torcendo pra que aquilo logo acabasse. Mas que nada, é claro que ela continuava, afinal, é necessário exibir suas qualidades para que todos vejam o quanto você é fodona. "bla bla bla, li vários livros, todos no original, bla bla bla". Era o bastante pra mim. Eu não era digno de ficar perto de uma pessoa com tamanhas qualidades, e meu saco já não aguentava mais. Levantei e dei uma rodada pela festa. Várias garotas bonitas, todas acompanhadas de playboys metidos a maconheiros malandros. A essa altura já haviam tirado o Elvis e tocavam Strokes e outras porcarias. Era o bastante pra mim. Fui até o rádio e coloquei Stones. Era o mínimo que eu podia fazer.
O tempo passou, a cerveja acabou e não demorou pra quase todo mundo ir embora. Mas os que sobram sempre são os mais persistentes, e lá estavamos nós fazendo vaquinha e indo até o mercado para comprar mais uma boa remessa. Festa reabastecida, continua com os highlanders que ainda não tiveram suas cabeças cortadas pela noite. Uma roda com os últimos dez. Violão passando de mão em mão. Um primo do aniversariante é músico. Ele pega o violão e toca uma de suas músicas. É uma música bacana e eu caio no erro de fazer um elogio. Depois disso tenho o desprazer de descobrir que ele é um incrível chato que passará a próxima meia hora me aporrinhando com papos sem graça e tentando mostrar como ele é um músico que pode dar certo. Ele pega o violão de novo e começa a tocar The Doors. Outro rapaz se junta com ele e eles vão até outro canto ficar tocando e cantando em paz. A conversa rola solta e agora sim é prazerosa. Mas claro, a noite é uma tremenda enganadora e quando você pensa que vai ficar tudo bem a sua carona está indo embora. E lá vou eu, feliz por voltar pra casa e por estar de férias.

quarta-feira, dezembro 17, 2008

O fim do começo e o começo do fim

1

As coisas parecem um pouco estranhas quando você tem quase dezenove anos e ainda não está muito certo do que quer fazer da vida. Acho que todo mundo, ou quase todo mundo, já passou por algo parecido na vida. É um bocado estranho, e você tem que decidir o que fazer logo e começar a fazer porque é o dinheiro dos seus pais que está em jogo. Eles apostam que você vai ser um grande profissional e podem ver seu grande futuro, mas pra isso contam com que você entre numa boa faculdade, leve as coisas a sério, arranje um bom estágio, tire boas notas e assim por diante.
É mais ou menos assim que as coisas acontecem pra algumas pessoas do meu tipo. Uma prova de exame da faculdade no dia seguinte, e cá estou eu, bebericando uma dose de uísque e assistindo meio sem atenção e sem muito interesse o jornal noturno que mostra o jornalista iraquiano tacando um sapato no presidente norte-americano George W. Bush e infelizmente não atingindo seu alvo com sucesso.
Por falar em jornalismo, é essa a faculdade que eu estou cursando, ou tentando cursar. Ainda não sei direito se é o que quero da vida. Como eu disse, não da pra ter muitas certezas quando você não sabe nem mesmo o que pode fazer com alguma eficiência. Mas por que reclamar? Fui eu que escolhi seguir esse curso e prestar o vestibular numa renomada faculdade paulistana, e com felicidade passar. E foi por pura e espontânea vontade (e que grande vontade!) que eu decidi me mudar da minha cidade no interior do Paraná para a capital paulista e a maior cidade da América Latina para estudar jornalismo. Agora, passados quase dez meses aqui estou eu, me indagando sobre o que fazer da minha vidinha.


2

Paralelismo, polifonia, ambigüidade, e redação para o exame de língua portuguesa. Agenda-setting, Marx, Weber e Durkheim para o exame de sociologia. Pierre Levy e Marshall McLuhan para o exame de teoria da comunicação. Três exames logo no primeiro ano para alguém que não faz nada além de estudar. Eu supostamente deveria estar estudando igual um louco, mas é claro que não. É claro que continuo aqui, ouvindo ao Bob Dylan e fumando alguns cigarros. O que eu devo fazer, meu Deus? Eu não, eu definitivamente não sei. Mas olha só, ainda tenho o dia inteiro de amanhã pra estudar, e não posso negar que o que estudei hoje já deve me ajudar um pouco nessa bendita prova. Eu só indago se esse esforço todo vai valer a pena. E essa é uma indagação sem fim, que só pode ser descoberta seguindo adiante, e não sei se estou disposto a fazer isso.
O ano é 2008. O mundo está em uma crise econômica profunda e o natal está chegando. A Avenida Paulista brilha com luzes, arvores de natal e carros passando todas as horas do dia e da noite. Da janela do apartamento eu só posso enxergar que, além de um futuro incerto, tenho também um montão de outras dúvidas. A paixão de Cristo, os presentes do papai Noel, o clima de solidariedade típico da época, e o mundo girando e girando onde tudo acontece quase sempre igual.
Que deselegante da minha parte, nem mesmo me apresentar. Acho que seria conveniente dizer quem sou neste momento, em que partilho aqui algumas de minhas pequenas dúvidas e anseios que pairam sobre essa cabecinha de um jovem de quase dezenove anos. Me chamo Rick Nicoletti e tenho dezoito anos e onze meses. Não posso dizer que nesse tempo de vida vi de tudo, porque na verdade não vi quase mesmo é de nada. Bom, talvez eu tenha visto um pouco de tudo e um monte de nada. Depende do ponto de vista. E esse tal é o que me confunde cada vez mais.
Posso dizer que sou um tanto quanto pessimista. Não do tipo que acha que o mundo vai explodir e que todo mundo vai morrer amanhã, mas sim do tipo desesperança. “Que infame!”, você deve estar pensando. Um jovem de dezenove anos ainda não-completados achando que sabe alguma coisa da vida. Pois é, meu caro. Também daria de tudo pra saber de onde veio toda essa desesperança. Mas não se engane, ás vezes aquilo que falamos não é aquilo que pensamos, e ás vezes aquilo que fazemos não condiz com aquilo que falamos nem tampouco com o que pensamos, e é por isso e por mais milhares de outros motivos e talvez nenhum deles que eu escrevo coisas como essa. Nas palavras estão o mistério, a vida e a cabeça de cada um em letras e papel. É nas bibliotecas que me encontro em meio a esperança que perdi neste meu pouco tempo de vida. É com Ernest Heminghway, Jack Kerouac, John Fante, Charles Bukowsi, Dostoiévski e muitos outros que consigo enxergar só um pouco do que são as coisas. Cada um a seu modo, cada um de seu jeito, cada um em sua época. Estes e outros senhores me apresentam seu mundo, sua época, sua vida e todas as suas histórias de maneira particular e geral que só verdadeiros gênios podem faze-lo. É nas bibliotecas que a vida permanece semeada e que as histórias continuam sendo contadas. Cobertos de poeira e espreitados em prateleiras esquecidas que cada um daqueles grandes nomes permanece vivo para quem os quiser conhecer. E é isso que eu busco em minha vida. Mas é isso que me questiono. Como dar ao mundo o que ele quer de nós, e como tirar do mundo o que queremos dele?


3

Pernas pra que te quero. Pra ficarem sentadas aí descansando embaixo da mesa enquanto meus braços trabalham arduamente aqui em cima e se revezam entre goles no uísque, tragadas no cigarro e frenéticas e ritmadas digitações no teclado do computador. Hoje, enquanto passava pela Brigadeiro Luís Antonio, seguindo em direção ao supermercado e passando em frente ao sujo e barato boteco que costumo freqüentar para tomar algumas cervejas e vez ou outra acompanhar jogos de futebol, senti que vocês fraquejavam querendo entrar, escolher a mesma mesa de sempre e só sair depois de algumas cervejas. Mas eu não podia fazer aquilo, é claro que não podia. Eu tinha que comprar coisas para casa, pois agora moro sozinho, e a responsabilidade vem em primeiro lugar. Então seguimos, mas dentro do supermercado foi a minha vez de retribuir e, com o dinheiro que não tinha que resolvi comprar uma bela garrafa de uísque e dois maços de cigarro para passar junto com os pães, frios, filé de frango, leite, macarrão instantâneo e etc. Só por causa de vocês, e por causa de mim, e por causa das palavras, e das músicas, e de Bob Dylan e de todas as coisas do mundo e talvez de nenhuma delas, o que talvez seja a grande verdade.
Que tipo de maluco eu sou? Alguém que conversa com as próprias pernas e pensa que elas tem vida própria definitivamente não é normal. Esta explicito em meus atos. Aonde eu vou parar com todas essas coisas? Só Deus sabe. Mas antes disso preciso saber. Ele sabe quem sou eu? Ele realmente existe? Todas aquelas coisas que diziam na igreja quando eu era apenas uma criança são verdades? Todas aquelas coisas escritas na bíblia realmente aconteceram e vão realmente acontecer? No que eu devo acreditar? Pra onde devo ir? O que devo fazer?
São tantas e tantas dúvidas, e tantas e tantas coisas que eu gostaria de saber. Mas eu não tenho essas respostas, e pra falar a verdade nunca achei ninguém que realmente tivesse as respostas para as milhares de coisas que eu desejo saber. E é por isso que eu continuo procurando. E vivendo. E escrevendo. E fazendo esse bocado de coisas sem sentido.


Continua...

Ryan Adams & The Cardinals - Crossed out name

Orange sky, don’t go
Manhattan looks like someplace else
Cloudy with a low fog shell
Into the crowded streets I go
Eventually they lead me back home
Where we used to liveI live alone
And into bed I go

I wish I could tell you just how I felt
I don’t pray; I shower and say goodnight to myself
When I close my eyes
I feel like a page
With a crossed-out name
With a crossed-out name
São Paulo no verão
chove e para o tempo inteiro
E eu aqui, com meu cigarro
e a esperança no coração

quarta-feira, dezembro 03, 2008

Nada pra fazer na maior cidade da américa latina. São Paulo é assim, se você não tem grana e não conhece mais que meia dúzia de pessoas você ta ferrado. O que fazer nessas horas? Parcialmente de férias, com uma gripe fodida, sem muita ou nenhuma grana pra gastar e sem nada pra fazer além de ver um monte de filmes alugados de graça na faculdade. Joga tudo na mala. As roupas estão sujas há mais de duas semanas. A diarista (que na verdade só vem a cada quinzena) não veio dessa vez. Tudo dentro da mala. O que pode ser preciso nos próximos dez ou quinze dias e lá vou eu ganhando a rua. Cinco e alguma coisa da tarde. Passo no banco pra sacar alguma grana da minha já negativa conta só pra pegar o metrô e - surpresa! - papai depositou algum pra não morrer de fome. Agora já era, mal sabe ele que a conta já estava negativa esse tanto de passar o cartão em bares sem saber quanto havia no banco. Santa irresponsabilidade. Agora já era. Uns 30 contos na conta. Maravilha. Só uma grana pro metrô e pra comer algo nessas malditas paradas da estrada.

Entrando no metrô lotado de engravatados e demais trabalhadores da paulista. Minha sempre companheira ignorancia me fez esquecer de como é o metrô na hora do rush. Seis horas da tarde. Maldito horário para se pegar o transporte coletivo. Mas o ônibus saí ás sete, então não há muito o que fazer. Vamos lá, até o Paraíso, que mais parece o inferno. De lá até a Sé. Esse sim o verdadeiro inferno, com direito a diversos demônios e todo tipo de aberração e caos que a grande cidade tem a oferecer. Enlatado e amassado no vagão com a mochila nas costas, a pesada e maldita mala na mão e uma desgraçada de uma sacola plastica balançando na outra pras coisas que não couberam na mala massarocada. Destino Barra Funda. Chegou, chegou, aleluia senhor. Pessoas que ainda vão pegar o trem quase te atropelando. Tudo bem apressados. Go ahead. Já cheguei no meu destino. Até a porra do guichê. Uma passagem pra Londrina. Saindo de um inferno e indo pro outro. Lá vou eu. Lendo a ótima biografia do Kerouac escrita pelo Antonio Bivar. Enxuta mas muito boa. Só uma parada de quinze minutos, suficientes pra comer uma esfiha que estava marcada como carne mas na verdade era frango, agora não havia tempo pra reclamar. Vai essa, mesmo eu não gostando muito de frango. Tempo pra um misero cigarro. Um cigarrinho só. O motorista me lança um olhar fulminante de "o que esse maldito jovem fumante esta fazendo atrasando todo mundo". Apago a bituca e subo no trambolho. Lá vamos nós. Metade do caminho. Durmo um pouco e acordo. Ouço o mp3 no resto. Sempre esqueço de colocar as músicas nessa porcaria. Sempre ouço as mesmas. Não faz mal. Nunca faz. Logo chegamos.

Rodoviária de Londrina. A mais bonita do país. Grandona e vazia na madrugada da segunda-feira. Um bêbado me pede esmola. Não tenho nada, meu velho. Espero vir me buscarem e vejo que um policial vai tirar o bêbado do banco da rodoviária em que ele dormia. Ele reluta em sair. O policial engrossa a voz e faz o cara ir andando sem rumo. Vejo ele descendo a rua e andando pra algum lugar escuro da madrugada. Pelas esquinas de Londrina. Sempre as mesmas de sempre.

Já arrependido de ter vindo. Não sei pra onde ir. Nunca sei. A gripe melhorando. As coisas sempre na mesma. Meu pai já me aceita como fumante, mas nem por isso deixo de ouvir toda e qualquer bronca e advertência relacionada ao assunto. Pelo menos não preciso mais sair atrás de comidas horríveis de fast-food nem torrar minha curta paciência tentando pôr em prática meus limitadíssimos conhecimentos gastrônomicos na cozinha do apartamento em que o gás do fogão acabou há umas duas ou três semanas. É isso aí. Sempre a mesma. Sempre igual.