sábado, maio 30, 2009

Manual de como lidar com garotos da minha espécie

Acho que a pior das minhas características em relação a relacionamentos é que eu sou do tipo que só se apaixona quando é desprezado. É simples. A garota me da alguma bola, a gente saí algumas vezes e aí se ela não está mais afim é tiro-e-queda. Eu estou tremendamente apaixonado a partir desse momento. Posso não sentir muito apreço enquanto a coisa está rolando, e se acho que não deve rolar sou eu quem termino (apesar de isso já não acontecer há um bom tempo), mas quando é ela que enche a minha bunda com o sapatinho de cristal, pode ter certeza que eu vou rodar de carruagem por todas as ruas da cidade procurando a cinderela e pensando que eu sou o príncipe encantando até ela me mostrar que eu não passo mesmo é do bobo da corte. E se ela tem um outro alguém, aí a coisa piora. Não tanto pela outra pessoa, que geralmente não tem nada a ver com o meu problema, nem mesmo por ela, que resolveu ir pra outra e tem todo esse direito. O problema é comigo. Todos os sinais e alertas de rejeição e insegurança piscam e entram em curto, e eu tomo um porre daqueles enquanto escrevo bobagens e ouço um disco triste. Aí dependendo da situação, esse quadro pode se arrastar por muito tempo. E se eu fico bêbado e encontro a tal garota, pode ser via online, pessoalmente ou por telefone, aí sim começa o festival de auto-humilhação. Arrasto aos pés delas, e como um chiclete, quanto mais pisam mais eu grudo. Pobre diabo, patético homem, garoto desesperado. O pouco orgulho que me resta quase sempre me traí. Aí o mundo caí por terra e fica tudo girando, enquanto eu bebo goles de cerveja atrás de cerveja e alterno com doses de uísque com água e fumo maço atrás de maço tentando me dissolver em fumaça e ser jogado no primeiro cinzeiro sujo. É geralmente nessas horas que eu tenho uma grande idéia de escrever um grande livro sobre toda a minha saga ridícula e normal na vida de todos os milhões de habitantes da terra, mas que naquele momento na minha cabeça parece ser a história mais fantástica de todos os tempos. Fico ali, me sentindo um John Fante, arquitetando meus textinhos sofríveis e vexatórios, repletos de auto-humilhação e versos ruins de literatura barata e desprovida de talento, até a ficha cair de novo e mais um abismo se abrir no meu chão.

Depois, de alguma forma, que eu não sei como, as coisas se ajeitam. Continuam as crises patéticas de garoto egoísta e inutíl, alternadas com porres e conversas sobre futebol e música e filmes e bom humor disfarçando tudo, dando aquele sorriso amarelo e fazendo piadinhas infâmes sobre o céu e a terra e a própria desgraça, até alguma outra pobre infeliz ter o azar de cruzar o meu caminho e a insensatez de me dar alguma bola, e pronto, a coitada tá lascada por um bom tempo. E assim em diante, o garoto-lesma vai se arrastando aos pés das donzelas e despertando o nojo das mais diferentes espécies de fêmea. E aí o ciclo se repete, e quando elas vêem que conseguiram se livrar do carma que o chiclete-boy representa e que a vítima agora a outra, sorriem com certa alivío e pena da pobre coitada da vez, enquanto agradecem aos céus por estarem livres de tamanho infortúnio e torcem para que o pobre diabinho siga seu caminho em paz grudando de sapato em sapato até achar algum que o sirva e que o aguente, e que de preferência não atravesse muito o caminho delas, porque naquele chiclete elas não pisam mais e vão ficar de olho e atenção redobrada pra que o raio não caia duas vezes no mesmo lugar, porque a chance de ser eletrocutadas numa dessas é grande.
Mulheres vão e vem. Mais vão do que vem.

quinta-feira, maio 28, 2009

O inferno era logo ali e nós estavamos a um passo do bar mais próximo

Eu nunca precisei trabalhar. Não que eu me orgulhe disso, pelo contrário, mas também não posso dizer que me sinto culpado. Sou um grande ocioso, e por diversas vezes tive idéias brilhantes e planos mirabolantes para negócios e empreendimentos que nunca deram certo. Nunca consegui levar nada adiante, desde pequeno. Aula de taekwondo, aula de futebol, aula de natação, aula de violão, aula de gaita, aula de baixo, escrever um livro, montar uma revista, gravar um curta e centenas de outros planos frustrados. Nada disso deu certo, e a grande maioria pela mais pura falta de empenho. Algumas pessoas sempre me dizem que, só tenho dezenove anos e que algo vai acontecer, mais cedo ou mais tarde. Acho que é verdade, e tento não me preocupar. É claro que ás vezes me preocupo, todos nos preocupamos, uns mais, outros menos e assim por diante. De qualquer maneira eu sempre tinha alguns livros em mãos, alguns filmes, alguns discos e toda essa bobagem que eu já estou cansado de escrever sobre. Mas esses eram meus grandes passa-tempos e fontes de cultura, imaginação ou qualquer bobagem que me fizesse seguir em frente. Podia não haver muito dinheiro (apesar de nunca faltar), podia não haver nenhuma garota e ninguém por perto, mas ali estava algo que me salvava.

Era complicado quando realizava que as coisas não seriam como planejei. Sempre fui um sonhador solitário. Cansei de escrever essa bobagem toda. Não há mais raiva, não há mais amor, não há mais nada que valha a pena. Não sou um fodido, não sou um dos grandes, não sou merda nenhuma. Sou um cidadão da classe média, não sou bonito, não sou feio, não sou inteligente, não sou burro, não sou esperto, não sou ingênuo, não sou experiente, não sou inexperiente, não sou chato, não sou legal, não sou absolutamente bosta nenhuma e essa MERDA toda está me dando no saco cada vez mais. Essa merda toda de abrir a página e escrever e escrever e escrever e perceber que eu não passo de um eterno dejá-vu repetitivo e sem graça, e que todos ao meu redor estão fazendo algo e vencendo e perdendo e quebrando as suas caras e VIVENDO enquanto eu estou aqui sonhando e dormindo e acordando e preocupado com porra nenhuma.

Vou correr para a primeira porta que estiver aberta, porque eu sou muito preguiçoso para tentar achar alguma outra, e aí vou me enfiar embaixo das cobertas e colocar o travesseiro na cabeça e dizer - DEUS DEUS DEUS EU NÃO SOU NINGUÉM EU NÃO SOU UM DIABO EU NÃO SOU UM ANJO, EU NÃO SOU NADA NEM NINGUÉM - e aí ninguém vai ouvir nem vir me acolher nem vir me xingar, nem me bater nem acariar nem porra alguma e eu vou olhar para a garrafa de uísque meio cheia meio vazia e vou dizer - você! você! você! é a culpada de tudo isso - e de alguma maneira ela vai se estilhaçar no chão e me cortar os pés e os pulsos e todo o resto e vou sangrar até morrer (mas eu não vou morrer) e vou dramatizar como sempre faço, enquanto cuspo sangue no chão e pinto casinhas e pessoas com sorrisos no rosto com meu próprio sangue nas paredes e o despertador vai tocar e eu vou acordar e tudo não vai ter passado de um sonho ruim, mas então eu vou ter outro dia e outra noite pela frente e tudo vai recomeçar e eu vou perceber que não é um sonho ruim, é a vida que é assim mesmo e Deus está em tudo, inclusive em mim mesmo, e eu faço parte de um universo cósmico e visceral interligado por diversas linhas de raciocínio e sentimento e as dicas e as provas estão espalhadas por toda a parte esperando para serem descobertas por nós, e aqueles que a acharem terão o elíxir da serenidade eterna e da paz de espírito AMÉM.

segunda-feira, maio 25, 2009

Eu vivo um eterno dejá-vu.

sábado, maio 23, 2009

32 dias

32 dias sem beber. 32 dias sem uma gota de álcool. Sento na mesma do bar. Grandes amigos reunidos ali. Conversando sobre qualquer bobagem. O estômago ainda é uma bomba-relógio. Que se foda tudo. Desce uma cerveja, garçonete. O preço dos bares de Londrina são realmente bem mais baratos que os de São Paulo. Uau, eu tinha esquecido de como essa merda era boa. Desce outra. E outra. E lá vamos nós pra mais uma. Já altos papeando alto e berrando qualquer coisa. O novo do Bob Dylan na vitrola. James Brown, Creedence. É rock and roll porra. Cerveja e rock and roll. Pra completar a tríade só faltava alguma mulher. Que se foda, estamos nós aqui e isso nos basta. Ou não? Nunca sei, mas não faz mal.

Rodando pela cidade dentro do carro. Cantarolando músicas de Bob Dylan. Discussões ásperas sobre bossa nova e mpb e o porque eu odeio toda essa merda e sou muito mais o bom e velho rock and roll. "Mas você não gosta de música brasileira?". Aí tem os Replicantes, os Cascavelletes, Júpiter e Wander solo, Os Mutantes, o Cherry Bomb, a Jovem Guarda e um montão de coisas bacanas, derivadas do rock norte-americano. Encerramos a discussão brindando com mais uma cerveja. O bar está fechando. Somos os últimos clientes. Que saudade disso tudo. Chamando o garçom pelo nome. A saídera, a conta, um cigarro, mais um cigarro, acabou o maço, outro maço. Vamos pra outro lugar. Rodando pela cidade. Comendo um gorduroso e suculento pastel da madrugada. O estômago é uma bomba-relógio. Bob Dylan, olhai por nós.

Vamos pra casa. Amanhã tem mais. Ressaca e a desidratação. Ruim, horrível, mas até isso fez certa falta na normalidade do meu cotidiano. É isso aí. Não posso mais aguentar. Desce mais uma garçom. Eu sou inveterado, e minha relação com essa loira de boné como diria Noel Rosa é uma relação em eterna lua de mel, sem tempo para discutir o relacionamento, que graças a Deus é aberto pois ainda há as doses de whisky e os discos de jazz e thelonious monk e charlie parker botando tudo pra quebrar. E isso é pra sempre, pode ter certeza.

quarta-feira, maio 13, 2009

O capitão saiu para o almoço e os marinheiros tomaram conta do navio

03/11/91 – 00:48

Dia frouxo. Entrei na piscina de hidromassagem como um boa-vida. O sol estava brilhando e a água borbulhava e fazia redemoinhos, quente. Relaxei. Por que não? Dê um tempo. Tente se sentir melhor. O mundo inteiro é um saco de merda se rasgando. Não posso salvá-lo. Mas recebi muitas caras de pessoas que disseram que meus livros salvaram suas vidas. Mas não escrevi pra isso, escrevi para salvar a minha própria vida. Sempre estive por fora, nunca me adaptei. Descobri isso nos pátios das escolas. E outra coisa que aprendi foi que eu aprendia muito devagar. Os outros caras sabiam tudo; eu não sabia merda nenhuma. Tudo estava imerso numa luz branca e estonteante. Eu era um idiota. No entanto, mesmo quando eu era um idiota, sabia que não era um idiota completo. Eu tinha algum cantinho de mim que estava protegendo, havia alguma coisa lá. Não importa. Aqui estava eu na piscina e minha vida estava terminando. Não me importava, já tinha visto o circo. Ainda assim, sempre haverá mais coisas para escrever até que me atirem na escuridão ou seja o que for. Isto é que é legal sobre a palavra, permanece indo em frente, buscando coisas, formando frases, se divertindo. Eu estava cheio de palavras e elas ainda saíam em boa forma. Eu tinha sorte. Na piscina. Garganta ruim, dor de cabeça, eu tinha sorte. Velho escritor na piscina, meditando. Legal, legal. Mas o inferno está sempre lá, esperando para se abrir.
Meu gato amarelo veio e me olhou na água. Olhamos um para o outro. Sabíamos tudo e nada. Daí, foi embora.

Charles Bukowski; O Capitão saiu para o almoço e os marinheiros tomaram conta do navio.

sábado, maio 09, 2009

Como os personagens dos livros de Kerouac

Lembro daquilo tudo que me diziam quando eu reclamava da vida tendo apenas 16, 17 anos. Não que agora eu tenha muito mais que isso, mas de certa forma as consequencias da vida já começam a pesar e a cobrar a conta por uma adolescencia de irresponsabilidades juvenis. Lembro que sair a noite em dias frios, com um ou dois casacos e respirar aquele ar peculiar de uma noite de inverno, sentindo as narinas esfriarem e UAU, aquilo era demais! Toda aquela paixão e todo aquele sentimento de novidade e de que - algo ainda havia pra acontecer e seria algo bom e algo incrível e todos nós (eu e aqueles que me cercavam) estavamos destinados a uma grande parcela de coisas boas - e sinto falta de toda essa esperança bonita e inocente. Lembro das primeiras vezes que andei em São Paulo, assustado e impressionado como um garoto caipira que acaba de chegar na maior cidade da américa do sul (que era o que eu realmente era), e DEUS DO CÉU, como aquilo era excitante e aterrorizante ao mesmo tempo, mas não aterrorizante de uma maneira ruim e sim de uma maneira muito peculiar e até mesmo prazerosa, como aquela que eu tive quando assisti O bebê de Rosemary a primeira vez. Mesmo sabendo que era só um filme havia algo que me excitava e me amedrontava ali e bom, eu sabia que era algo genial acontecendo, e foi exatamente a mesma coisa ao andar pelas ruas da cidade pela primeira vez. Agora aquilo tudo se foi, eu conheço algumas ruas decor e salteado e tenho que cruzá-las todos os dias para ir e voltar de determinados lugares onde eu preferia não ter que ir.

Mas não é dia para dramalhões e sim para boas lembranças e bons sentimentos em relações a diversas coisas e OLHE SÓ tudo isso a nossa volta. Lembro também da primeira vez que li on the road e puta que pariu, aquilo realmente MEXEU comigo de uma forma única e eu achei que talvez, com meus dezesseis anos, pudesse sair por aí desafiando meus pais e minhas obrigações presentes e futuras (das quais eu não consegui fugir) pra viver uma vida real e bela que eu havia presenciado naquelas páginas. A mesma coisa com o primeiro disco dos Ramones e a sensação de que - Havia algo a ser feito, e poderia ser feito por mim, porque não? - e é por isso que estou aqui escrevendo e rezando para um Deus pessoal e clamando em voz baixa para que tudo aquilo volte e voltem os calafrios e frios na barriga e todo aquele sentimento de novo e assustador e aí então, OH CÉUS, aí então eu possa conseguir uma boa história e seguir meu próprio caminho onde as coisas vão se encaixar e vai haver uma boa garota e os velhos e bons amigos rodeados de garrafas de bebida e cigarros e histórias pra contar e poemas pra ler, e aí estaremos TODOS JUNTOS DE NOVO e seremos como os personagens dos livros de Kerouac, ou talvez, quem sabe, personagens de nossos PRÓPRIOS livros e eu penso o quão fantástico isso seria e apago as luzes e me preparo pra dormir com a esperança de que alguma coisa dessa aconteça.

Campos de morango para sempre

eu não podia ter parado
ter fraquejado
em momentos de
DOR e TRISTEZA e
toda essa MERDA
que assola todos nós
alguns dias
que me desanimou
MUITOS dias
que me fez
parar pra pensar
e pensar até
não chegar a nenhuma CONCLUSÃO

eu não podia ter parado
fraquejado
desistido de sonhos impossíveis
não tão impossíveis assim
para todos nós
que ainda acreditamos
em ALGO A MAIS
que nos satisfaça
e que nos faça correr por
campos de morango para sempre

e então
numa noite fria e sileciosa
na casa de minha mãe
escrevendo um poema
abstêmio
fortes dores no estomago
cigarro atrás de cigarro

caminhando em direção a algo
mesmo parado EU SEI QUE
ainda há uma luz no fim do túnel
um reflexo no final do copo vazio
do que FOI, que SERÁ e do que AINDA vai SER
AGORA
e SEMPRE
até quando eu
puder aguentar
o que mais tiver
POR VIR