quarta-feira, janeiro 21, 2009

sexta-feira, janeiro 16, 2009

Gringos chatos e chateações no exterior

Na mesma casa que estou ficando aqui em Buenos Aires estão hospedados também dois estudantes suíços. Um deles tem em torno de 25 anos, é suiço e mora em uma pequena cidade da parte italiana da suiça, cerca de trinta quilômetros de Milão, cidade natal de seus pais (e que graças a isso o renderam a dupla cidadania suiça-italiana). Por causa disso fala um espanhol enrolado, como que uma mistura de espanhol com italiano, com os trejeitos típicos de se falar dos ítalos. O sotaque carregado e alguns gestos com a mão. Apesar de tudo é um cara calmo, que sabe ficar quieto quando preciso. Tem aparencia jovial, um tanto metrosexual que usa secador e tem diversos cremes e outras porcarias do tipo. Usa roupas de marca, gosta de house e música eletrônica, mas apesar de tudo é um cara bacana, que fica na dele e é simpático quando preciso. É com esse que divido o quarto, por causa de um rolo enorme que não vale explicar agora. Mas é um bom companheiro de quarto, exceto pelo fato de reclamar quando uns desses dias atrás eu cheguei completamente bêbado de madrugada, tropeçando nas coisas e fazendo um barulho infernal que contribuiu para que ele não conseguisse "dormir mais depois de ter sido acordado pelos barulhos". No outro quarto fica mais um suiço, esse da suiça-germânica, mas que também fala italiano, francês, inglês, um pouco de chinês e agora espanhol, que ele faz questão de estudar todos os dias. É simpático, porém seus jeitos podem realmente irritar depois de alguns dias. Quando me vê agita os braços, me cumprimenta e faz coisas do tipo, mas ás vezes faz umas esquisitices de dar medo. Logo que me conheceu e que eu contei que fazia jornalismo perguntou se gostava de ler, e o quê. Imaginando que ele jamais teria ouvido falar em Kerouac, Fante, Bukowski, Burroughs e etc eu completei com outros grandes atores mais conhecidos que gosto. "Heminghway, Dostoiévski e coisas assim." Um grande erro, pois ele ficou super feliz de eu conhecer Dostoiévski com apenas 'quase' 19 anos.

Uns dias depois, quando zanzávamos pela residência tentando pensar em algo a fazer de turismo pela cidade descobri que ele gostava de museos. Até aí tudo bem, nesses lugares você pode realmente encontrar arte de ótima qualidade e passar um bom tempo admirando coisas e adquirindo cultura. O erro foi descobrir que suas prioridades são extremamente avançadas no estágio de ser um adulto chato querendo ser culto e parecer muito importante para as outras pessoas. Tem vinte e nove anos, em média de um metro e noventa, cabelos pretos curtos, usa cavanhaque e se veste com bermudas esquisitas típicas de um turista de um país frio em um país quente e camisas polo listradas. Gosta de estudar em seu quarto, e também gosta de perguntar porque os outros não estudam e não fazem isso ou aquilo. Tenta ser um cara bacana, agitando os braços quando te vê, perguntando sobre como foi seu dia, te chamando para tomar umas cervejas e coisas assim, mas sua aurea disfarçada de tentativa de ser culto é um pouco irritante.

Ele não é daqueles tipos que tentam falar as coisas para se exibir, e nem tenta desprezar as outras pessoas por não pensarem como ele, igual diversos cultos e pseudo cultos por aí, mas tem alguma coisa em seu ar que irrita depois de certo tempo de convívio. É como se tivesse uma necessidade de que as outras pessoas fossem como ele, e isso fica claro em suas esporádicas conversas estranhas que são interrompidas por breves silêncios como se ele quisesse avaliar sua inteligência ou coisa do tipo em relação a dele. É uma manía deveras irritante e sem graça e eu pude perceber hoje quando ele bateu na porta de meu quarto e me chamou pra tomar uma cerveja. "Tudo bem, vamos lá". Com o calor do caralho que faz nessa cidade nessa época do ano e como eu estava querendo tomar uma mesmo achei que era a ótima idéia.

Os problemas começaram ao chegarmos ao bar. Como eu já disse antes, a rua em que vivemos em Buenos Aires é completamente cheia de bares. Eu não demorei muito tempo a descobrir quais são os mais baratos e que mais compensam para os apreciadores de cerveja. E lá fomos nós ao bar que vende garrafas de quilmes de 1 litro por 10 pesos (uma diferença brutal em relação aos outros bares, que vendem geralmente em torno de 15 ou mais, bem mais em alguns casos). Ele queria apenas um copo de cerveja, de preferência tirada, como chopp, e não conseguia falar isso para o garçon. É claro que eu, com meu espanhol primário facilitado pelas semelhanças entre a língua dos porteños com a nossa tive grande vantagem sobre seu bom espanhol de suiços poliglota que passa boa parte do tempo livre no quarto fazendo exercícios. Não que eu fale muito melhor que ele, mas considerando a facilidade da semelhança entre minha língua materna com a que estou aprendendo e sua dedicação para o estudo da conjugação dos verbos eu diria que estamos em um nível de empate.

Mas voltando ao assunto, depois de eu conseguir convence-lo que ali não havia chopp e somente cerveja engarrafada começou outro problema que me deixou ao ponto de quase desistir de beber com esse cara. Ele queria porque queria uma long neck, que aqui são extremamente caras e desvantajosas em compensação a garrafa de 1 litro. Depois de muito trabalho para convence-lo a pedirmos a de 1 litro, com ele resistindo por dizer que só queria beber um pouco e eu insistindo e dizendo que eu beberia o resto arranquei dele a frase pérola: "mas aí eu vou pagar por mais do que eu vou beber", ou algo do tipo. Era o apíce. O cara ganha em euro, o que signifca que sua moeda vale aqui quase cinco vezes mais, eu tenho reais, que valem somente 40 centavos a mais, e ele estava ali discutindo uns mls de cerveja por um dinheiro de merda. Mas claro, como eu sou brasileiro e não desisto nunca convenci o suiço a pedirmos a cerveja de um litro sob a justificativa de que eu pagaria a garafa. Como esperado, ele bebeu pouco mais de um copo e eu matei o resto da garrafa.

Mas a pior parte começava agora. Após alternar entre intervalos de breves silêncio ele me perguntava se eu sabia como conjugar tal verbo. Se a questão fosse para a sua ajuda, seria bem válido, eu só falaria que não saberia e ficaria tudo ótimo, com ele indo procurar nos seus livros e me deixando em paz. Mas ele queria me testar, ou algo assim, o que é uma coisa deveras imbecil já que eu não tenho a mínima paciência para conjugar verbos em nenhuma língua e posso acertá-los muito bem na grande maioria das vezes tendo uma frase como contexto para a conjugação. Mas claro, o grande chato suiço continuou insistindo, até eu sugerir que ele me disesse frases como contexto e mostrar para o culto que eu sabia a porcaria toda. Finalmente pensei que ele me deixaria em paz, mas nada pode ser tão ruim que não possa piorar:

- Você já ouviu falar de Jean-Jacques Russeau?

- Já sim, o filósofo. Respondi na lata e torci para que o assunto acabasse ali. Ele me olhou em silêncio por algum tempo, alternando sorrisos estranhos e me olhando como se estivesse pensando em algo, de uma forma que me irritou bastante. Não tardou a ele voltar a me incomodar com suas conversas extremamente chatas:

- Você conhece Darwin?.
- Sim, conheço, teoria da evolução e a coisa toda.

Ainda me olhando pausadamente em silêncio e alternando com irritantes sorrisos de canto de boca ele prosseguiu:

- Sabe porque os mosquitos pretos vivem muito tempo e os mosquitos brancos somente alguns dias?
- Não.
- Porque eles são brancos, e existem muros brancos, percebe?
- Não.

Fazendo gestos leves com a mão ele tentava fazer algo como um muro e um mosquito voando em direção a ele, enquanto continuava a dizer:

- São brancos, e os muros são brancos também.
- Eles se espatifam, ah, compreendi. Falei para tentar encerrar a conversa de uma vez por todas. Mas claro que não. Ele queria dizer alguma coisa muito profunda ali com toda sua inteligência ou merda do tipo, e é óbvio que eu só queria tomar minha cerveja e fumar uns cigarros enquanto amaldiçoava o calor e procurava alguma garota bonita pra parar os olhos por algum tempo.

Mas a coisa não estava boa para o meu lado, não haviam muitas garotas por perto e ele continuava no silêncio enquanto me olhava com olhos arregalados como um peixe morto.

- Eu sou uma pessoa que penso demais, sabe, então quando leio filosofia eu penso muito.
- Ah, sim, compreendo, é interessante mesmo, pois você lê um ponto de vista com grandes argumentos e depois lê outro com bons argumentos também, e tudo isso fazendo muito sentido com a evolução humana e a sociedade que vivemos, inserido em cada cultura e nas relações humanas e....

Desabrochei a falar besteiras sem sentido só pra fingir que concordava com ele e encerrava o papo por ali. Funcionou. Deus pai, era a melhor coisa da noite. Bebi minha cerveja rápido e pedimos a conta. Paguei e vi que ele lançou a sua metade para mim. Menos mal assim.
Ainda faltam nove dias aqui, e só o que eu tenho a fazer é evitar o máximo esse tipo de conversa, e se possível evitar seus convites para dar umas voltas por aí também, porque como diria minha avó - antes só do que mal acompanhado - e cá entre nós, eu sempre preferi mesmo a minha própria companhia.

quarta-feira, janeiro 14, 2009

Buenos Aires, bairro Retiro...uns 40 graus lá fora e eu derretendo e me recuperando de uma grande ressaca aqui dentro. Não tenho vontade de fazer nada além de continuar na cama, como fiz o dia inteiro. Mentira, levantei e saí a rua pra comer alguma coisa, o que foi uma experiência bastante desagradavel, eu confesso.

Divagando, escrevendo, delirando. Penso em escrever um artigo sobre a morte do Ron Asheton, sobre os melhores discos de 2008, sobre o que esperar do rock em 2009, mas não consigo ter vontade de fazer nada disso agora. E além de tudo, quando são coisas que envolvem datas e considerações sobre os anos atuais eu fico completamente perdido, já que minha vida se resume a ler e ouvir coisas de muito tempo atrás. Estou datado, revirando coisas de um passado que não vivi.

Leio que um de meus artistas favoritos - e um dos únicos atuais que ainda me fazem ter esperança - vai dar um tempo da música pra se dedicar a literatura. Bom para ele, que vai descansar uns tempos e se dedicar a outra grande atividade, mas péssimo para os fãs. Mas é isso aí, ninguém pode aguentar tudo por muito tempo. Nem ele, nem vocês, e muito menos eu.

quinta-feira, janeiro 08, 2009

Eu ainda estou vivo ou isso não passa de um delírio sem fim?

Entro na sala de minha aula de espanhol num prédio antigo do centro de Buenos Aires, entre a Suipacha e a Bartolome Mitre. Cumprimento a professora, uma mulher de 33 anos com um sorriso constante e um jeito de boba e feliz com a vida que chega a irritar pra valer. Além disso ela ainda leva dez ou quinze minutos para explicar coisas que a antiga professora explicava em cinco. Cumprimento um colega ao lado e na minha frente vejo um novo aluno, um cara de uns quarenta e tantos ou cinquenta anos, meio baixo, gordo mas não obeso, careca e com um bigode tipo o do robotinic acima dos lábios. Com aquela cara era meio fácil de descobrir que era russo, mas foi só conversando com ele no meu español primário e dificultoso que descobri que ele era um polonês que havia crescido na rússia e que agora lecionava russo em uma universidade da Koréia. É certo que eu devia ficar mais interessado nessa inusitada e curiosa história da vida do senhor com cara de bandidos russos de filme norteamericano (o que obviamente não faz nenhum sentido além da semelhança física, já que o senhor me pareceu muito gentil), mas sabe lá Deus porque naquele momento em que conversavamos e ele falava sobre suas ocupações e sua vida eu tive um dejá-vu um tanto quanto estranho. Isso é ainda mais estranho tendo em vista que tenho tido diversos dejá-vus nos últimos tempos. Eu não sei se isso é alguma ilusão da minha mente, se eu estou enlouquecendo ou qualquer coisa estranha desse tipo, mas a parte boa é que eu não me assusto mais com essas coisas.

Lembro que quando eu era criança, e nem mesmo sabia que dejá-vus tinham esse nome, eu ficava um bocado assustado quando isso acontecia. Pensava que era algum espírito, alguma entidade estranha ou coisa sobrenatural, ou pasmém, ate mesmo o diabo. Todas essas bobagens da minha imaginação talvez pudessem derivar da minha criação católica na infância, frequentando igrejas, rezando antes das refeições e antes de dormir, decorando pais-nossos e aves-marias, lendo bíblias infantis com ilustrações e outras coisas do tipo, mas também passa pela minha cabeça o inverso. E se essa porra toda tiver mesmo uma explicação sobrenatural? Eu realmente não sei, e realmente não gosto de pensar nisso, mas como disse antes o lado bom é que essas coisas não tem me preocupado nem um pouco ultimamente. Talvez eu tenha perdido qualquer senso de crença ou apenas esteja distraído, mas isso não vem ao caso agora. O que vem ao caso são as malditas considerações sobre o ano de 2008, que já acabou há 8 dias e eu ainda não consegui tirar nenhuma conclusão sobre isso.

Eu sempre tive uma noção e uma idéia de que os meses, dias e horas são apenas formas de contagem humanas, e que não é a virada de uma data ou coisa parecida que vai mudar alguma coisa na vida de qualquer pessoa. É claro que quando você faz aniversário você se torna mais velho, mas as mudanças vem com o tempo, e não naquele fatídico dia. É daí que eu tiro a conclusão de que as datas e esse tipo de contagem são muito importantes para a organização da vida humana, mas são extremamente imbecis e fora da realidade. Foi por este e outros motivos que com o passar do tempo deixei de fazer retrospectivas do ano que se passava e de ter resoluções inuteis para o próximo ano. Este ano não será diferente, e espero que no próximo também não, mas acho que vale considerar um ponto importante. Eu sou um humano, um humano jovem, e um humano jovem diferente dos outros humanos jovens em diversos aspectos (e igual também em diversos outros). Então, sendo essa merda de versão de espécia de humano jovem que sou, lembrei de todas as espectativas que coloquei sobre o último ano. E claro, quando você coloca muitas expectativas (não resoluções, só expectativas aleatórias), você obviamente vai quebrar a cara até pior do que se tivesse feito resoluções imbecis como emagrecer, comprar um carro, ser promovido e etc. Expectativas te deixam com uma esperança vaga de que algo vai mudar de repente. De que você vai entrar em um bar sujo e barato como os que você costuma frequentar e encontrar uma garota linda e que tenha tudo a ver com você. Que você vai ler bons livros que vão te agradar muito, mas que só por causa disso você vai se sentar em frente ao computador e vai escrever coisas geniais como as que você lê. É esse tipo de coisa que eu preciso evitar, e é esse tipo de coisa que eu já estou evitando. Não adianta perder tempo com bobagens, a vida já é uma grande bobagem para que despejemos tantas outras por aqui. As minhas "resoluções" para o novo ano são simples e fáceis de serem cumpridas. Só tenho que me manter vivo por aqui e continuar fazendo as mesmas coisas de forma mecânica e fria. Quanto menos sentimentos melhor. Acho que é isso. Poderia despejar mais um monte das minhas baboseiras sobre como eu tenho me desiludido com a coisa toda de escrever e sobre como eu acho que não vou ser merda nenhuma nunca e sobre como tem sido meus porres e meus dias e noites mas além de não ter mais saco para fazer isso não seria muito diferente das outras coisas que já escrevi.

Meu vocabulário é limitado e minha paciência é mínima. E é por essas e outras coisas que abdico de escrever, por melhor que tenha sido acreditar nisso tudo durante tanto tempo, é hora de encarar a realidade e me conformar com o fato de que não vai mudar muito de como é agora. Eu ainda vou continuar rabiscando essas notas, ainda vou continuar mantendo diários que não são atualizados quase nunca e vou continuar frequentando a faculdade de jornalismo, mas as coisas não vão ser mais como eram antes na minha imaginação, e essa é a melhor coisa que vai acontecer nesse ano.

E que assim seja,

até que eu mude de idéia.

sexta-feira, janeiro 02, 2009

Considerações pessoais sobre o ano novo e as mesmas bobagens de sempre

E quando os fogos explodiram sobre o céu de puerto madero, e estavamos todos na entrada da ponte da mulher e o porto de Buenos Aires parecia lindo, enquanto o americano da Flórida tirava fotos, a inglesa falava com seu namorado por telefone, o casal de holandeses se abraçava e nós brasileiros bebiamos e todas essas coisas. Foi aí então que, olhando para o céu eu tive a única chance de cada ano de se fazer um pedido. Não costumo acreditar nessas coisas, se elas nunca funcionaram antes não é agora que irão funcionar. Mas fiz um pedido, e não demorou muito a me arrepender de tal desejo. Os fogos subindo e explodindo no céu enquanto eu apenas pensava na primeira coisa que me viesse a cabeça. Não podia ser um desejo premetidado, nem nada tão banal quanto todos os outros. Eu simplesmente deixei que a primeira coisa que me passasse a cabeça viesse a tona e pronto, quando vi eu havia feito o pedido mais imbecil de todos. "Não quero morrer nesse ano". Simples e totalmente oposto ao que eu havia pensado na maior parte dos momentos. Talvez pudesse ter pedido algo como "só quero viver mais um ano" ou "me leve logo daqui, se é que existe alguém aí", mas não, não, não... eu fora novamente um tolo e pedira uma prorrogação dessa jornada de merda que somos obrigados a passar aqui. E depois, de todas as bebidas, de todas as coisas, quando eu conversava com a garota inglesa e ela me dizia sobre suas músicas preferidas e outros tipos de coisas, foi então que me dei conta de que só não tinha a coragem necessária para os derradeiros momentos porque - além é claro de ser um grande medroso - eu ainda tinha esperanças em coisas como a música e os livros. Eu gostaria de estar ali também, mas sabia que isso só seria possível com muito talento e muito treino, e eu não havia nascido com o primeiro nem tinha a disciplina necessária para atingir o segundo. Era como se estivesse condenado a algum tipo de vida eternamente sem graça a qual eu definitivamente não estava disposto a viver. Mas afinal, os dias eram assim. Tinhamos que nos levantar, que nos vestir, que cumprir com nossas terríveis obrigações e nos relacionar com as outras pessoas até o dia em que o bom Deus tivesse pena de nossas almas e nos levasse para descansar em um lugar melhor. Grande bobagem, das mais bem contadas. Não temos muitas opções. O mundo está aberto, mas se não há dinheiro também não há muitas opções. Ninguém quer terminar pedindo dinheiro na próxima esquina. Ninguém gosta de dormir em metrôs e de sentir fome. Somos um bando de animais com necessidades e a porra toda. Jamais poderiamos ser realmente livres e jamais seriamos realmente livres. Presos a uma carcaça de carne e rodeados dos mais variados imbecis que se julgavam e se admiravam pela beleza de sua carcaça e pelo poder de compra das mais estapafúrdias e terríveis coisas.

Já me peguei pensando o que faria se me tornasse milionário. Sinceramente, pude chegar a conclusão de que não duraria muito tempo. Não me agradam carros de luxo, grandes mansões e todos os tipos de bobagem que apetecem a vida desses malditos infelizes. As bebidas caras sim, essas seriam bem utéis. Não consigo ver nada além de milhares de discos, livros e garrafas dos melhores uísques que possa ser comprado com dinheiro. Na real, penso porque nós todos não explodimos por aí e nossas carnes não sejam comidas por grandes abutres famintos. Ou que pelo menos isso poderia acontecer comigo ou coisa que o valha. Mas é claro, voltaremos assim a mesma discussão do que é certo ou errado e ao confronto entre minha eterna personalidade medrosa e a vontade de dar o fora da coisa toda. Já pensei nas mais variadas maneiras, e posso confessar que realmente achei que algumas sejam realmente tentadoras do ponto de vista de capacidade indolor e de efetividade ao fim desejado, mas tudo isso não passam de pensamentos deprimentes e sem nenhum tipo de nexo que nutro em minha cabeça cheia de bobagens e futilidades e todo o tipo de coisas ridiculas que podem apetecer um jovem um tanto quanto deprimido e fascinado por contra cultura e rock and roll do século XXI, onde nada se inventa e tudo se copia, e todas as pessoas são tão vazias e infelizes e babacas que só podemos lamentar e nos entupir de prozac e todas essas merdas. Vale a pena dizer que não tomo essas merdas, nem acho nada bonito quem o faça, mas também sou um ferrenho de que cada um deve fazer o que quiser com a merda de seu corpo e sua vida, desde que não afete outras pessoas. Se você quer se matar, vá em frente, acho que essa talvez seja a maior prova de coragem que alguém possa dar nos dias de hoje - mas essa já é outra discussão, para outro capítulo - agora se o infeliz quer fazer mal para outras pessoas merece ir para o pior inferno de que se tenha notícia. E Deus meu, se o senhor existe e se o senhor sabe quem eu sou, me castigue pelas vezes que fiz mal a outras pessoas que não a mim, e entenda que nunca foi essa minha intenção.

Essa divagação está ficando cada vez mais chata e niilista. Não me recordo de nada tão tedioso que tenha escrito nos últimos tempos quanto essas poucas e entediantes linhas. Mas bom, talvez devesse seguir em frente, e você sabe... levar a vida enquanto se puder levar, fazendo o que for melhor para passar o tempo e rezando para que você não seja o próximo que eles escolham para crucificar aqui.

quinta-feira, janeiro 01, 2009

O apartamento de dona Olga fica na Reconquista, no bairro do Retiro, somente duas quadras da avenida Florida e três da plaza San Martin. É um prédio antigo e pequeno, e apesar de só ter cinco andares há um daqueles elevadores antigos, que se parecem com gaiolas chiques e tem duas portas que devem ser abertas manualmente. É um bocado interessante, pois sempre fui claustrofóbico e sempre detestei andar nos elevadores convencionais, onde você fica preso naquela caixa olhando sua deprimente imagem no espelho, mas se não há espelho é ainda pior porque a sensação de claustrofobia é maior. Sempre subi e desci em elevadores contando mentalmente os segundos para que a porta se abra e eu saia em segurança, mas isso não vem ao caso agora. O apartamento é no segundo andar, e é um duplex com dois comôdos, cozinha, banheiro e sala na parte de baixo e dois quartos na parte de cima. Meu quarto é o primeiro e mais próximo da porta. É otimo para sair e entrar sem fazer muito barulho e sem incomodar nem ser incomodado. A reconquista é cheia de pubs e bares onde os jovens se reunem para tomar cerveja. As cervejas nos bares são muito caras, absurdamente mais caras que no supermercado. Coisa de sete a dez pesos de diferença. É absolutamente proibido fumar em qualquer lugar fechado, por isso é muito normal ver pessoas fumando nas ruas, o que da a impressão de que a maioria das pessoas fuma, o que talvez seja verdade... ou não.

As garotas são na grande maioria muito bonitas. É normal andar pelas ruas e se apaixonar por alguma garota. Elas também são muito simpáticas e amigáveis, mas como nem tudo pode ser perfeito, elas também são muito dificeis. Os caras são na maioria gentis e sempre querem falar sobre futebol quando você diz que é do Brasil. Te perguntam sobre as garotas brasileiras e sobre como se sente em Buenos Aires. São boas pessoas na maioria. Os taxis são baratos, mas alguns tentam ser espertos pra conseguir tirar uma grana a mais de você, por isso vale a pena ficar de olho para não pagar por caminhos mais longos nem receber notas falsas de troco.

As ruas são estreitas e cheias de prédios antigos e cafés. Tem um ar europeu e o trânsito não é tão ruim quanto em São Paulo. Exisem pequenas lojas que funcionam vinte e quatro horas por dia e vendem doces, refrigerantes e muitos tipos de coisas, além de terem cabines telefônicas chamadas de locutórios, que funcionam com uma espécie de taximetro em que você liga e quando terminar a ligação paga no caixa, o que sai mais barato que fazer ligação de celulares ou de orelhões. A única coisa ruim dessas pequenas lojas é que elas não vendem cerveja, e as conveniências de posto também não o fazem.