domingo, março 21, 2010

E eu penso naquilo que a Anna Karina diz na clássica cena do carro em Pierrot Le Fou de que a vida deveria ser tão bonita como nos livros, e afinal Godard estava mesmo certo porque mesmo quando os livros são tristes eles conseguem ser maravilhosamente poéticos e belos, porque ainda há idiotas que conseguem ver poesia em balcões de bar e acreditar que algumas pessoas são muito mais do que simples bêbados ou trabalhadores e que a vida afinal deve ter algum tipo de significado superior e santificado. Mas talvez isso tudo não passe de mais um devaneio tolo de um pobre pensador particular.

sexta-feira, março 19, 2010

We should have had more luck.

It wasn't me

It wasn't me
or my clothes
or the poems I wrote.

It wasn't you
or your life
or the things you passed by
or the way you disguise.

It was soul
or something more
above or below
your many ways to go
far away
and forever stay
in another place
blessed and
full of grace.

terça-feira, março 09, 2010

Sobre Kerouac, Brian Wilson e a sensibilidade.

São Paulo meio quente numa noite tediosa e toda esquisita (mas “esquisita” de um jeito ok, e não ruim como em outras noites esquisitas) e eu lendo Visões de Cody e pensando em Kerouac e escrevendo imitando Kerouac e pensando que eu to sacando alguma coisa quando na verdade eu não to sacando nada, mas eu gosto de saber o quanto me faz bem ler o cara (e até mesmo imitá-lo) e eu paro e penso algo como “mas peraí, cadê o estilo que eu tanto procurei (e que não encontrei) minha vida inteira?” e o estilo não existe porque o que eu faço é imitar KEROUAC mas me faz um bem danado danado de verdade escrever notas que eu sei que ninguém vai ler e tudo isso rapidão digitando sem parar e imaginando como o cara fazia aquilo tudo com todas as reflexões (e todas as “visões de um grande rememorador” como batizou Ginsberg) cheio de benzedrina e outras boletas na cabeça e um montão de histórias pra tocar e eu não tenho nenhuma boleta, nenhuma bebida e nenhuma história interessante pra contar, mas nada disso importa muito porque cês sabem que o mais importante ás vezes é o menos importante, e nem eu mesmo sei se isso que eu disse faz algum sentido, mas soa bonito refletir e escrever numa noite dessas.

Fico ouvindo os Beach Boys e pensando em Brian Wilson. Assisti Beautiful Dreamer um dia desses. É o documentário que fala sobre a vida do Brian Wilson e o disco Smile e eu gostei muito desse documentário. Depois descobri que ele foi dirigido pelo biógrafo do Wilson, e talvez seja isso que faça a coisa ficar tão sincera como foi. É um belo documentário, e é muito triste quando falam da época em que o Brian abandonou o projeto SmiLE e acabou tendo todos aqueles problemas psicológicos e a ouvir vozes que diziam “we’re gonna kill you” e outras coisas do tipo, e é um bocado triste ver um dos maiores gênios da música e um cara de uma sensibilidade e um talento tremendos entrando em paranóia, porque caras assim não merecem esse tipo de coisa, não mesmo. Caras com sensibilidade de verdade, não essa sensibilidade barata que tentam empurrar pra gente toda hora com filmes ruins, livros de auto-ajuda e novelas de televisão, mas sensibilidade de verdade, de caras que viveram o sonho e o pesadelo da vida de verdade e que conseguiram escrever, compor ou filmar coisas maravilhosas e verdadeiras, e tudo o que eu sempre busquei foi uma maneira de fazer isso, de fazer isso de verdade, eu não sei como, nem no que, e talvez até tenha sido por isso que eu tenha abandonado o jornalismo e praticamente tudo que eu tentei fazer na minha vida, porque TUDO o que eu sempre quis foi achar um pouco de verdade, de sensibilidade, de VIDA nessa coisa toda.

E eu posso e provavelmente sou um tolo, mas eu realmente acredito na bondade das pessoas. Quer dizer, eu sei que na maioria do tempo todo mundo é tão filha da puta quanto pode ser, e todo mundo põe todo mundo pra baixo, e tenta passar a perna em todo mundo e não se importa se você tá sozinho numa noite de sábado vagando com uma garrafa na mão porque pra eles você é só um “bêbado arruaceiro” e um vagabundo que não quer nada com nada, mas eu ainda acho que por trás de todo esse cenário de terror e essa cortina de indiferença existam muitas pessoas boas e geniais no mundo, pessoas que andam pelas ruas montando textos e poemas em suas cabeças, que cantam Beatles escorados nos bancos dos metrôs e que lêem Hemingway ou qualquer outro grande escritor com a atenção e a curiosidade de alguém que quer saber qual é o mistério e a paixão por trás daquelas páginas que não por acaso são chamadas de “romances”. E é por isso que eu sei que, apesar de todo o caos, de toda a loucura, de toda a falta de sensibilidade e sinceridade no mundo, ainda haverão esses malucos tocando guitarras em garagens e escrevendo em quartos apertados e enchendo suas estantes com grandes livros e discos porque eles sabem que tudo isso é mais importante que toda e qualquer coisa que eles tentam nos empurrar a qualquer custo goela abaixo enquanto nós só queremos ser verdadeiros e sensíveis o suficiente pra entender que a poesia é algo muito além de versos copiados em cartões vagabundos de dia dos namorados.

segunda-feira, março 08, 2010

hai-kais

não há razão para sofrimento
sumiremos
em pouco tempo.

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entra ano, saí ano
e tudo continua
exatamente igual.

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tenho envelhecido e engordado
e isso não é fruto
de nenhum mau olhado.

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tudo o que faço
é amarrar e desatar
meus velhos laços.

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olho pro horizonte
enquanto penso
em amigos de longe.

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solidão
não é nada mais
que um dia de cão.

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ainda acredito
num futuro
mais bonito.

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garrafas de cerveja
padecem sob a mesa
vazia.

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inspiro e respiro,
o mundo
dá um giro.

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derramo uma lágrima
pra cada garota
não conquistada.

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o apagar das luzes
é o início
da via crucis.

domingo, março 07, 2010

o problema não é não ter nada, é não ter nada de especial.

quinta-feira, março 04, 2010

sobre sua própria mediocridade

sento e escrevo
dois ou três poemas
ruins, muito ruins.
e não os apago ou os altero
simplesmente os deixo lá
padecendo em sua própria mediocridade,
enquanto ouço Neil Young e penso em
garotas que conheci e em
garotas que nunca vou conhecer.
e me pergunto por que
todo idiota pensa que é poeta
e cada idiota pensa que seu poema é
o novo O Corvo.

e você pode dizer
que não dói quando
você pensa em garotas que conheceu
e em garotas que nunca vai conhecer,
mas você estará mentindo e
qualquer idiota que pensa ser poeta
vai poder te dizer isso
com a propriedade e a afirmação de um alguém
que conheceu algumas garotas
e que nunca vai conhecer as outras
mas sabe um bocado bem como é
escrever dois ou três poemas
ruins, muito ruins
sobre sua própria mediocridade.
a rasgação de seda
e as pessoas que passam boa parte do tempo
acreditando que todos estão contra elas.
canais de tevê a cabo que exibem
programas de vendas de jóias nas madrugadas.
será que eles pensam que
as pessoas não assistem tv de madrugada?
será que eles não pensam que
o único motivo de se assinar tv a cabo
são as madrugadas?
solitárias e esquisitas
mas mesmo assim
muito melhor que os dias,
os malditos e longos dias.

e as pessoas que passam
boa parte do tempo
achando que todos estão contra elas.
e as pessoas que passam
boa parte do tempo
achando que ninguém está com elas.
e o mais duro é quando você percebe
que tudo isso não é nada além
da mais pura verdade.

e você se pega de madrugada
sentado em frente ao sofá
assistindo aos programas de venda de jóias
e se perguntando por que continua
pagando a tv à cabo
e por que continua
trabalhando pra pagar a tv a cabo,
ou simplesmente por que
continua sentando em frente ao sofá,
pensando bobagens
em mais uma madrugada
solitária e esquisita,
como todas as outras.

quarta-feira, março 03, 2010

Passe a expressão

Esses tais artefatos
que diriam minha angústia
tem umas que vêm fácil,
tem muitas que me custa.
Tem horas que é caco de vidro,
meses que é feito um grito,
tem horas que eu nem duvido,
tem dias que eu acredito.
Então seremos todos gênios
quando as privadas do mundo
vomitarem de volta
todos os papéis higiênicos.

Paulo Leminski