domingo, agosto 24, 2008
O que será, será
22 de Agosto de 2008 – 02:50
Se me perguntassem o que estou fazendo na vida, ou o que eu estou fazendo aqui embaixo, acho que eu diria que estou pagando por todos meus pecados. Os desta vida e os da passada, se ela existir. Não que eu seja um grande sofredor. Acredito que todos estão fazendo isso. Todos. E não vejo exceção. Não acho que exista uma felicidade realmente verdadeira. Algo duradouro de verdade. Não acredito nisso. Não acredito em nada disso. Acho que todos estamos pagando nossos pecados da melhor e da pior forma. Essa ambigüidade é muito esquisita mas faz todo sentido. Nunca conheci ninguém que se sentisse realmente feliz por muito tempo. Sabe como é. Simplesmente não dura. Não acho que todos vão se suicidar. Não acho que todos vão morrer tristes. Não acredito que todas as partidas sejam ruins. Não acredito que todas as vidas sejam uma merda. Mas também não acho que a maioria delas é boa. Estamos só contemplando nossos sonhos e lutando dia após dia. E acho isso desde o mais rico até o mais pobre. Estamos todos no mesmo barco. Todos debaixo do mesmo guarda-chuva nesta tempestade. E nos tempos de calmaria é tudo a mesma coisa. Num canto qualquer da cidade, do país ou do mundo deve ter alguém pensando nisso agora mesmo. E mais um montão de gente pensando e fazendo outras coisas, especialmente dormindo no caso desta cidade e deste país. Mas eu não estou. Eu estou fumando e ouvindo música e escrevendo. E cheguei à conclusão que por piores que sejam minhas madrugadas solitárias são delas que eu mais preciso. Preciso delas como nunca precisei de nada antes. É meu momento. É meu dia. É minha vida. É tudo que eu não posso abrir mão. É simplesmente quando eu paro pra pensar em tudo isso. Na grande maioria das vezes é melancólica, mas em grande parte também é muito boa. Não que eu tenha grande prazer como teria fazendo outra coisa. Mas é duradouro. E é real. E eu acredito nisso. Acredito que estou fazendo as coisas certas aos poucos. Não conseguiria fazer tudo certo de uma vez. Acho que ninguém conseguiria. Quero ficar escrevendo como se o mundo fosse acabar amanhã. Quero dizer tudo que penso para minhas folhas em branco. Quero me ver impresso em cada palavra e em cada linha. Quero que cada página seja eu, eu e EU. Não sou egocêntrico, pode ter certeza disso. Só acredito que é meu momento e minha vida. Só acredito que minhas madrugadas são tudo aquilo no que eu mais posso e devo acredito. Só acredito que a música me faz pensar na vida. Só acredito que cigarros na janela me levam a pensar em todas as coisas de um modo especial. Só acredito que aqueles quatro ou cinco minutos que a brasa queima a nicotina são alguns dos mais importantes da minha vida. Eu poderia estar trepando, poderia estar bebendo, poderia estar fazendo qualquer outra coisa, e provavelmente estaria adorando, mas acho que nada se compara a estes momentos. Não no sentido de prazer. Não no sentindo de felicidade. Nada disso. Não é um momento feliz. Não é um momento triste. É só o meu momento. Meu único momento. Pra todo o sempre.
É como aquele lugar pra onde você vai quando está triste. É praquele canto que você vai quando quer ficar sozinho. É simplesmente minha solidão. Minha filosofia. Minha droga. Ou qualquer outra coisa assim. Eu não sei como definir. Não sei se estou fazendo da maneira certa. Acho que nem com mil páginas eu conseguiria descrever o que é tudo aquilo. O que é puxar a fumaça e soltar olhando pro céu e pra vizinhança. Um turbilhão de pensamentos se formando. E textos sendo escritos na minha cabeça e quase nunca transpostos no papel da maneira correta como são imaginados. É como se eu fosse o maior escritor de todos os tempos. Como se eu fosse um rockstar de verdade. É a vida em sua mais pura essência. São as paredes do quarto ecoando sons da madrugada. São meus livros na estante. São meus discos empilhados. Meu quarto desarrumado. Meu pôster do Elvis. Meu disco do Ryan Adams. Meu verso do Bob Dylan. É tudo isso e mais um pouco. É tudo aquilo que eu não sei escrever. É tudo aquilo que eu preciso escrever. São todas as garotas que eu preciso fuder. São as mulheres da minha vida que eu nunca vou ter. São as ressacas que eu ainda vou ter. É TUDO ISSO.
Creio em Deus pai todo poderoso. Lembro de repetir isto na igreja. Lembro das missas e da minha primeira e única confissão. Fiquei com vergonha de dizer para o padre que eu tinha feito mais um montão de coisas ruins. E eu desertei minha religião, a religião de meus pais, e nunca mais me confessei. Uma única e incompleta vez. E esse mesmo padre que ouviu parte dos meus pecados e me absolveu com duas ave-marias e um pai-nosso morreu atropelado em frente à mesma igreja próxima a casa da minha mãe alguns anos depois da minha primeira confissão e alguns anos atrás de hoje. Não sei porque estou falando tudo isso. Não faz o mínimo sentido. Acho que nada faz. Estou perdido em meus próprios pensamentos. Estou agarrado aos tentáculos da vida. Estou tentando pular de um trem em movimento. Estou dirigindo por uma estrada deserta. Estou sonhando com coisas que aconteceram e com coisas que nunca vão acontecer. Estou sentindo cada pedaço da minha pele. Estou sonhando com as coisas mais improváveis e abalando meu senso de realidade. Estou entorpecido por uma inesgotável vontade de escrever. E estou fazendo isso. E se algum dia alguém ler isso vai me achar um grande tolo e vai ter dó de mim. Não precisa ter. Nem eu mesmo tenho. Quando me olho no espelho ainda consigo ver alguma esperança, mesmo que mínima. Ainda vão me descobrir. Ainda vou me descobrir. Ainda vou me casar. E vou trepar um montão. E vou ter uma filha. Ou talvez eu seja atropelado e nada disso aconteça. Mas eu ainda acredito num montão de coisas. Pode parecer tolo, e talvez o seja, mas eu ainda acho que serei alguém. Não quero terminar como um fracassado. Não posso terminar como um perdedor. Venho repetindo estes mantras negativos há muito tempo. É hora de mudar. Não sou um merda dum fracassado. Sou Rick Nicoletti, o maior escritor que esta cidade já viu! Sou aquele que vai trazer a boa literatura para os jovens. Aquele que vai viver em uma casa legal num bairro tranqüilo da cidade e vai ter uma mulher jovem e bonita e cerveja na geladeira. Aquele que ainda vai mudar alguma coisa. Inovar alguma outra. Ser lembrado por alguém por muito tempo depois da minha morte. Ou por um monte de gente. Aquele com os livros na estante. Aqueles com as fotos nas enciclopédias. Aquele com o nome no hall da fama de algum lugar. Aquele que não sabe ainda quem é. Aquele que é só ele mesmo. E que vai ser assim pra sempre. E o que será, será.
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