De repente eu tive uma visão. As coisas tinham que mudar. Elas simplesmente tinham. Era uma espécie de otimismo estranho que se apoderava de mim. Não um otimismo besta, de sair por aí sorrindo pra qualquer babaquice. Era só uma sensação de que as coisas precisavam mudar e eu podia fazer isso. Não podia deixar esse fogo se acabar. E pra isso eu tinha algumas coisas a cumprir. Não iam ser faceis, e eu sabia muito bem disso. No próximo final de semana eu viajaria pra minha cidade natal, veria alguns amigos e me divertiria um pouco. Decidi de uma vez por todas que ia ser um final de semana pra me preparar pro que viria em seguinte. Um pouco de diversão, as ruas que eu conheço e os bares que eu sempre frequentei. Depois disso era meu retiro pessoal. Nada de beber nem comer porcarias por um mês. Nada de lamentações baratas.
Era o último semestre da faculdade e eu precisava fazer alguma coisa. E eu ia fazer. Um tempo depois eu embarcaria pra passar uma temporada fora do país e não podia deixar que as coisas se arrastassem assim até lá. Elas precisavam mudar antes de eu me ausentar de São Paulo e do Brasil. E eu sabia que podia. Agora eu sabia mais do que nunca. Tive a certeza plena de que eu era muito maior do que pensava que era. Não que me achasse grande coisa, mas não era tão ruim quanto pensava que fosse antes. Eu podia fazer isso acontecer. Eu ia aprender a tocar violão, eu ia comprar uns óculos escuros, eu ia ser um cara realmente legal. Eu ia escrever melhor, e ia fazer umas músicas de verdade. E também ia fazer uma tatuagem.
Decidi tudo isso de repente. Mas eu precisava parar de beber. Era uma necessidade urgente. Não em caráter definitivo, mas temporário. Precisava do controle sobre mim mesmo. Precisava me limpar por completo. Parar de comer fast-foods e outras porcarias. Estava tudo ali na minha frente. Eu ia fazer o esforço que fosse necessário. Calculei que um mês era o tempo perfeito pra colocar tudo em ordem, tanto fisíca quanto espiritualmente. Mantras ressoavam em minha cabeça. Eu iria reler o Vagabundos Iluminados. Eu iria meditar com Jack Kerouac. Eu iria encontrar a paz que eu nunca tive. O controle sobre mim mesmo. A vida nas minhas mãos. No fundo mesmo eu sempre soube que poderia acreditar nas coisas. Elas sempre estiveram na minha mão. Não precisava mais me importar com todo o resto. Só precisav afechar os olhos e ouvir as músicas. Acender um cigarro e olhar pela janela. O interior mais importante do que qualquer exterior. Minha podridão pra bem longe de mim. Eu ia me purificar como nunca havia feito antes.
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