Então nós estávamos ali, em uma das maiores livrarias da cidade e uma das maiores em que eu já havia estado na minha vida. Até ali minha viajem não tinha sido nada demais, exceto por uns acontecimentos terríveis que jogavam meu humor lá embaixo, mas isso fica pra outra história.
Rodamos um pouco pela sessão de dvds e encontrei o dvd do Trainspotting por 15 reais. Subimos para a parte dos livros. Procurando os preferidos, os pockets da Lp & M na mesma prateleira giratória de todas as bancas e livrarias do país. Olhei um pouco e achei “on the road”. Boa oportunidade, já tinha achado outras vezes mas 20 reais em Londrina é muito, pode significar a noite num bar, mas como estava viajando em São Paulo era um ótimo preço para levar esse clássico que tempos atrás havia aberto minha mente para um novo mundo. Ou eu to mesmo viajando, o que importa é que agarrei o livro e continuei andando e procurando outras coisas.
Nesse tempo o Hermano achou os do Fante. “A caminho de Las Vegas” e “Espere a primavera, Bandini”. R$ 31 cada. Me deu uma vontade tremenda de levar o caminho de Los Angeles, era o primeirão dele e eu ainda não tinha lido. Andamos mais um pouco vendo uns livros curiosos. Livros sobre os melhores discos de todos os tempos, sobre os mais vendidos de cada década e por ai vai. Voltei a sessão de pockets e encontrei alguns Bukowski. Peguei o “notas de um velho safado” e levei também. Hermano decidiu levar o “Caminho de Los Angeles”.
Perambulamos pela parte dos discos. Todos dos Stones, todos dos Beatles, alguns do Rod Stewart e um monte de outras coisas legais. Achei o “All the Young Dudes” do Mott The Hople por 70 e poucos reais. Sem chances e sem dinheiro no bolso.
Pagamos e saímos. Liguei pra uma amiga e fomos nos encontrar na rua dela. Não foi tão difícil de achar, exceto pelo fato de que eu entendi o nome da rua errado, mas com o mesmo final, e logo achamos. Ruazinha pequena e tranqüila, alguns malacos aqui e outros acolá fazendo seus corres, mas sem nem mexer nem notar a nossa presença ali. Se fosse em Londrina há essa hora provavelmente já estaríamos só de cuecas. Uma pizzariazinha pequena, em que as pouquíssimas mesas ficavam na calçada. Eram duas, no máximo três mesas que apertadas ali em frente faziam a clientela da pizzaria. Mas também tinham os entregadores, o que devia ser o forte deles pois dava pra ver que os motoqueiros saiam e voltavam com mais freqüência. Pedimos e comemos tomando cerveja. Acabamos e continuamos tomando cerveja.
Ela chegou um tempo depois. Sua filhinha era linda, e ela era mais bonita do que eu esperava. Compramos umas cervejas e subimos no prédio antigo e grande, com apartamentos grandões e legais, alguma semelhança com aqueles prédios antigos dos filmes americanos.
Seu apartamento era ótimo, cheio de pôsteres legais, rabiscos da menina na parede e um sofá vermelho legal. E do lado desse uma estante com os discos e livros, todos de excelente bom gosto.
Ela colocou o som pra tocar. A primeira música que ouvi foi Yesterday’s numbers. Não podia ser outra, não mesmo.
Fiquei brincando com sua filha. A menina era incrível. Tinha lá seus quatro anos e era bonitinha demais. Me apresentou todos os seus brinquedos, todas suas bonecas, todos esses devidamente batizados com ótimos nomes.
Contei uma história pra ela dormir mas ela não dormiu. Foi a história da pequena sereia num livro que ela tinha por lá. Depois voltei pra sala e ficamos conversando. Ouvimos Lou Reed, Big Star, depois Johnny Thunders e ai os Stones. E mais Stones, e cantamos Stones bebendo cerveja. It's all over now, she'll never break this heart of stone. Fazia tempo que não me sentia tão bem assim.
Pegamos o táxi e voltamos pra casa enquanto a chuva caia pela cidade naquela noite de terça-feira e as pessoas dormiam esperando o dia de trabalho seguinte enquanto outras entornavam seus copos e garrafas num canto qualquer.
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