Combinara com um dos rapazes da fábrica para ajudar a carregar minhas tralhas (que não eram poucas) até o terminal rodoviário. Ele apareceu um pouco depois do combinado, isso era normal, estava me prestando um favor. Pegamos as coisas e caminhamos em silêncio pro terminal.
A garoa fina e o ar gelado nos faziam companhia. O passado metralhava meu cerébro com imagens anti-heróicas.
Apertamos o passo. A chuva começava a engrossar. PAramos num bar em frente ao terminal e pedimos um litro de vinho. Bebemos olhando a chuva que lavava a cidade e deixava seus neons com um brilho mais denso entre os prédios.
O rapaz da fábrica me propôs uma partida de baralho. Andava com um baralho no bolso da calça. Queria apostar quem pagaria a bebida. Passava a maior parte do tempo em bingos, snookers e slaões de dados. Quando não tinha dinheiro para apostar descolava algum bico nos finais de semana como pintor ou carpinteiro pelos bairros da cidade e assim garantia suas apostas. Uma vez eu o vi perder uma boa quantia no baralho prum cara mafioso, dono de uma casa lotérica. A cada partida ele esmurrava a mesa e gritava com uma voz rouca: "O azarão vai ter seu dia de campeão".
Não aceitei o jogo e paguei a bebida. Nunca tive talento para jogos de azar. Por isso não gostava de apostas.
Secamos a garrafa, pegamos as coisas e entramos no terminal.
Meia noite e quinze, o ônibus atravessava a escuridão, pessoas dormiam. A distância deixava meu coração pequeno. Nunca tinha sentido meu coração pequeno. Chorei.
Leonardo Leon - Notas de Balcão
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