segunda-feira, junho 29, 2009

amaldiçoados em uma maneira particularmente nossa

Acho que faz um bom tempo que eu não pego e começo a escrever qualquer coisa como pretendo fazer agora. Isso faz mal pra sanidade, isso de não escrever. É como se as coisas fossem se empilhando dentro de você, como caixas lotadas de porcaria que você não consegue despachar pra lugar nenhum. Não dá pra dizer que é falta de tempo. Acho que não conheço muita gente que tem tanto tempo livre quanto eu. Não conheço muitas pessoas que são mais preguiçosas que eu, e nem que tem a sorte que eu tenho de poder não fazer quase nada e ainda ter comida na mesa e um monte de luxos. Quando eu paro pra pensar nisso eu começo a ter certeza de que sou um grande filho da puta. Mas isso não é culpa minha, ou é? Eu quero fazer algo. Só não sei o que. Aí fico blasfemando contra um monte de coisas, ouvindo os discos e saindo pra beber esporadicamente. Uma vez li um conto do Hunter Thompson em que ele usava o termo "um exército de Holdens Caulfield". Era sobre estudantes revolucionários de uma universidade da California na década de 60. É óbvio que tinha todo um contexto para a frase, e eu vou usar o termo em outro contexto agora, mas é porque ele caí perfeitamente bem. Olha só pra tudo isso na rua. Olha só todos esses caras e essas minas. Deus do céu. Alguns tem uma luz interior piscando e brilhando e pedindo pra que alguém faça alguma coisa. Eu sempre imaginei que ser jovem era a melhor coisa por causa disso. Ainda não havia um conformismo direto com tudo que a gente adquire quando envelhece. Era a porra de uma luz brilhando e de violência e rebeldia. Não dá pra explicar. Sou muito abstrato e vago quando quero explicar algo. Sou péssimo pra contar histórias e anedotas. É por isso que as coisas funcionam melhor na minha cabeça.

Então, as aulas da faculdade acabaram. Só haviam mais três dias de aula, mas algumas pessoas da faculdade estão com gripe suína e eles resolveram cancelar já. Peguei um ônibus pra Londrina e desci pra cidade que eu amo e odeio. Acho que todo mundo que já viveu um tempo considerável em Londrina tem sentimentos parecidos em relação à cidade. Não dá pra explicar, é só você tendo sentido a atmosfera daqui. Passam as gerações, passam as pessoas, fecham-se os bares, criam-se leis cretinas e a juventude londrinense fica cada vez mais escrota e acuada. Mas não dá mesmo pra explicar. A cidade tem uma dualidade estranha, misteriosa. Conserva costumes de cidade pequena mas aspira ser uma grande cidade. Há pessoas que sonham em sair e se dar bem. Há pessoas que sonham em transformar tudo sem sair daqui. Há pessoas que não se importam com nada, e que continuam aqui mesmo assim. Acho que a cidade tem uma coisa estranha. Apesar de ter um monte de contras, a cidade teve seus vários prós pra mim. Conheci um monte de gente legal aqui. Pessoas verdadeiras. Há menos jogos de imagens. Há mais fofocas, mais bobagens, mas mais verdades também. Não dá pra explicar. Não posso continuar nessas divagações abstratas e insensataz. Eu posso continuar resumindo o que tem acontecido.

Então eu peguei o ônibus e vim pra cá. Encontrei os amigos. Nos entediamos juntos. Fomos aos mesmos lugares de sempre. Encontrei minha garota. Eu gosto dela, ela me faz bem, e gosto de estar com ela. Não sou loucamente apaixonado por ela como era pela outra. E isso me dói pra caralho. Mas tudo bem, porque ela também não é loucamente apaixonada por mim. A gente só se da bem junto. E estou evitando fazer qualquer tipo de cagada em relação a isso. Acho que tem dado certo. Mesmo que ás vezes eu tenha uma vontade quase incontrolável de chegar naquela outra miserável criança e dizer o quanto eu sou ou era loucamente apaixonado por ela e que faria tudo pra ela me dar uma outra chance. Mas ela é só uma criança, não sabe de nada e vê as coisas por um só ângulo. Acho que eu também já fui assim. E eu continuo sendo em partes. Ainda sou muito novo e muito inocente. Mas, foda-se. O meu velho e antigo lema pra quando eu não sei mais o que falar sobre algo. A minha velha desculpa pra minha mediocridade e pra minha falta de assunto e de paciência pra desenvolver qualquer coisa que possa chegar perto de ser um pensamento decente. Foda-se. Foda-se tudo e todos. Que tudo se foda. Eu ainda sou o mesmo que ouvia aos sex pistols todo santo dia e imitava o Johnny Rotten quando bêbado. O mesmo que aos 15 anos usava um cadeado no pescoço pra imitar o Sid Vicious. É só isso que importa.

Gostaria de reiterar, que de alguma forma, apesar de tudo, as coisas estão bem. Tenho conseguido balancear todas as coisas de uma maneira sensata. Tenho conseguido me manter tranquilo e fazer as coisas que gosto de fazer. Tenho me sentido muito bem. Ás vezes penso que isso pode ser um pouco ruim. Não há mais grandes excitações e paixões por qualquer coisa. Não há mais full of life. É uma sensação de um certo vazio, mas ao contrário do que possa parecer, isso não tem me abalado nada. Obrigado quem quer que seja que esteja olhando por nós. Obrigado por qualquer coisa que faça as coisas continuarem indo em frente e não nos deixarem desistir. Obrigado por nosso brilho interno e eterno que esporadicamente ainda irradia como uma grande estrela infinita. Obrigado por haver palavras e bobagens a se falar. Obrigado por haver música de qualidade. Obrigado por todos os grandes escritores. Obrigado por tudo e obrigado por nada. Não sou um total descrente. Não sou um negativista. Sou alguém tranquilo. Estou agarrado a meu toco de árvore no rio e não vou deixar a corretenza me levar. Tudo vai ficar bem. Somos iluminados. Somos mal-amados. Somos abençoados. E somos detestados também. E até mesmo amaldiçoados, quem sabe, de uma maneira particularmente nossa.

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