Então, tive o fardo da indiferença que me mordeu o coração e me cuspiu à alma.
E tudo era negro e insolúvel, e a vida parecia cada vez mais um filme monótono e entediante.
Os outros eram os melhores, e à margem deles eu estava.
E todos acreditavam em algo e veneravam suas próprias imagens, enquanto eu me flagelava e rezava pelo passar do tempo.
No que acreditavam todos os outros?
Me lamuriava em sonhos e me derretia em palavras.
O inferno, o inferno! Me dói a alma pensar em meu futuro.
Me desanima pensar no passado e me frustra olhar o presente.
Quão quente seria o inferno, e qual seria o tamanho do tridente do demônio?
Me parecia tudo tão inimaginável, tudo tão descrente e desinteressante.
Me faltava gosto em todas as comidas, e nenhuma bebida me matava a sede.
A maldição que me abatera não fora rogada por outros.
Era fruto de mim mesmo, e como num pesadelo, o diabo se esforçava em cumprir meu desejo.
Doia tudo. Os braços, o estômago e todo o corpo, enquanto a alma se dissolvia em bebidas. Na fumaça de meus cigarros se dissipava no ar. Pouco a pouco se acabava com o que havia pra se acabar.
O fim! O fim. Esperava por ele todos os dias. Aguardava que batesse à minha porta. O convidaria a entrar e seria um bom anfitrião, pronto pra partir.
Mas isso eram só palavras! E no fundo eu bem sabia que o fim me causava arrepios e muito me amedrontava.
Se por um lado me julgava superior, por outro me sentia um nada. E bebia e escrevia sobre isso em solitárias madrugadas.
Fazia de meus escritos minhas próprias orações, e de meus escritores favoritos meus próprios santos. E rezava em verso e prosa, em voz baixa e assustada, pra ninguém ler ou escutar.
Creio então que ainda espero.
Faço dos dias minha penitência e cumpro as horas da minha vida, uma após outra, enquanto escrevo e espero algo que me faça cair e acordar, e seguir e viver.
Enquanto os dias forem dias e as noites forem noites, haverá ainda a esperança de se fugir à foice!
Um comentário:
Tão bom!
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