terça-feira, outubro 27, 2009

E eles são aventurescos, um cara recostado na parede tem o mesmo olhar dum garoto de onze anos que fuma o primeiro palheiro encostado na parede da garagem depois do jantar na escuridão interessante de Eau Claire, Winsconsin - o mesmo jeito maroto como se a mãe estivesse dando um sermão nele - o mesmo olhar aventuresco dos caminhoneiros quando param sozinhos numa barraquinha da Coca-Cola emum cruzamento à noite no Texas e a enorme caçamba fica esperando por eles enorme do outro lado da estrada, com o estepe espiando por baixo da cabine que nem o emblema de carneiro fica espiando na tampa do radiador dos Doges - o carneiro voador da estrada - e os dois sujos e soturnos e vindos de longe e quietos estilo Henry Fonda e falando um com o outro dum jeito que não dá para ouvir e quando os dois saem juntos eles se movimentam com a mesma tristeza como se essa aventura a dois estivesse forçando eles a lamentar o mesmo caminho cuidadoso e lá vão eles na noite deles além de qualquer coisa de onde você que está olhando tudo fica, eles foram embora para nunca mais voltar e já foram e vieram como fantasmas atravessando os seus olhos e os mendigos têm a mesma tristeza grave, cuidadosa e aventuresca quando ficam empertigados de pé em frente à parede dum beco olhando para a frente com os olhos e as bocas úmidas de bebida brilhando àluz da lua numa Bowery lunar, cuspindo ou dizendo "Ô amigo, dá um trocado pra mim tomar um café", e nessa frase tem uma afirmativa. "Eu vim de muito, muito longe pra ficar escorado nessa parede - forasteiro - e você não precisa ficar me lembrando dos problemas que tive e dos quilômetros que andei - porque afinal eu sou de Houston e você é um maldito nova-iorquino que nunca teve no abençoado Texas - "

Jack Kerouac - Visões de Cody, pág. 23

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