As calças justas e rasgadas, as pernas entortadas e a guitarra e o baixo quase no joelho. Os riffs simples e rápidos, as músicas com pegada rápida e impactante. E o vocalista ali, magro, alto e todo esquisito, com aqueles óculos redondos no rosto, segurando o microfone sempre com a mão esquerda e se apoiando no pedestal de uma maneira estranha enquanto esporadicamente aponta pra algum lugar no meio da multidão e balbucia umas frases da música. E os cabelos tigelinha, as camisetas curtas e sujas e as jaquetas de couro. É óbvio que você já sabe de quem eu to falando. E se você entende o que eu digo (o que eu espero que entenda), é meio básico saber que só esses caras aparentemente não entediam de nada mas entendiam de tudo. Eram como poetas do submundo, saídos dos confins de uma nova iorque caótica e confusa. E como todo jovem eles também tinham seus problemas, e só o que tinham a fazer pra se salvar dessa merda toda era cheirar cola, beber umas cervejas e tocar rock do jeito que fosse possível.
Esses eram os caras. Eu posso falar isso sem medo. Esses são os caras que me salvaram a vida. Esses são os caras que moveram gerações. Que transfomaram simples notas e frases em hinos da juventude. Eles entendiam da coisa. Eles eram uns fodidos, mas sabiam o que fazer. Eram gênios enclausurados em suas próprias lâmpadas de confusão. Eu me lembro dos Ramones todos os dias. Eu penso nos Ramones todos os dias e eu escuto aos Ramones quase todos os dias. É muito além do punk, de se inconformar com toda a merda que nos cerca. É uma coisa pessoal. É como uma doença na alma. É como um estado terminal crônico, que não te mata mas também não te deixa viver.
E haviam as garotas, mas na verdade não haviam as garotas. Lembro de assistir no documentário End Of The Century um trecho de uma entrevista com o Dee Dee onde perguntavam sobre as garotas no início da banda e ele simplesmente respondia que "não haviam garotas". Aquilo tudo é muito chocante. É muito simples, é muito comum e muito genial. Eles não tinham a faca, não tinham o queijo, mas tinham a cara e a coragem. Lembro de escutar aos Electro Shock Combo no Bar Potiguá da Rua João Pessoa, em Londrina. Lembro dos Ramoneiros londrinenses espremidos no bar apertado e da cerveja sendo arremessada pro alto enquanto a galera em êxtase entoava os trechos dos clássicos. Lembro dos punks pogando ali na frente. Lembro de acabar o show todo suado e de como aquilo tudo foi importante pra minha vida.
Não tem muito mais o que falar. Isso é basicamente tudo. Como uma música dos caras, isso acaba de repente e você se sente atordoado como se tivesse levado uma porrada e não saber de quem nem de onde veio. Mas não é uma sensação ruim, muito pelo contrário. É como se alguém te entedesse de verdade. É como se alguém dizesse tudo aquilo que você sempre quis dizer mas não sabia como. É como ler a O Apanhador no Campo de Centeio aos quinze anos. É como tomar um porre pela primeira vez, e se apaixonar perdidamente por uma garota que nunca vai te dar a mínima. Eu ainda acredito no sonho. Eu ainda acredito que no céu também há lugar para os pecadores. Eu acredito nos Ramones. Sempre vou acreditar. Você nunca deveria ter aberto esta porta.
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