domingo, dezembro 13, 2009

Nossa vida meio errante ou Porque as madrugadas na cidade são tão surreais e solitárias.

Até que ontem a noite foi uma boa noite. É difícil ter boas noites. Você tem que se preocupar com muitas coisas como a música que está tocando, as pessoas que estão te acompanhando, a grana pra você beber, o papo que você vocês vão conversar e onde você vai sentar. Tudo isso leva um bocado de tempo e pode ser bem mais complicado do que parece. Claro que em grande partes das vezes você se contenta em sentar ali em qualquer canto, ouvir qualquer coisa que tiver tocando enquanto imagina e cantarola tuas próprias músicas favoritas na tua cabeça, falar sobre qualquer coisa como as pretensões do Brasil na copa do ano que vem e a dificuldade de cada grupo ou sobre tal disco de tal banda e sobre aquele filme que você viu ou ainda não viu mas tem que ver porque tá todo mundo vendo e dizendo que é um barato e pode ser que ele seja mesmo. E sabe, acho que quando você consegue finalmente ficar numa boa nada pode ser mais perfeito. É claro que sempre há um jeito de se pensar que poderia estar melhor, que poderia ter uma garota aqui, ou que aquela maravilhosa garota amiga de uma amiga tua ou coisa do tipo podia ser tua, mas é óbvio que ela não vai ser porque bom, você não é o tipo dela e na verdade não é o tipo de muita gente, mas esse não é o tipo de coisa que tem te incomodado ultimamente porque é mais preocupante pensar em como cobrir a conta do banco estando desempregado e em como continuar bebendo com esses problemas financeiros e em como comprar aquele livro das correspondências do Rimbaud ao invés de garotas.

De qualquer forma, acabo saindo de casa só pra não ter que ficar encarando as paredes. Eu não quero soar pessimista, porque muitas vezes as noites são bacanas, os dias seguintes que não são. Mas isso não vem ao caso, porque se você teve uma noite tranquila e divertida, o que mais você pode pedir? É muita pretensão querer ter tudo. Primeiro você tem que se preocupar em aprender a não ter nada, aí depois você pode sair em busca de tudo. Mas sabe como é, sempre tranquilo pra não perder a cabeça. Muita gente perde a cabeça com esse tipo de bobagem. Muita gente perde a cabeça com todo tipo de bobagem. Elas vão simplesmente acumulando suas frustrações até que a coisa toda exploda bem na cara delas. Acho que isso é uma coisa me que me amedronta pra valer. Se um dia as coisas explodirem na minha cara vai ser um bocado difícil de juntar os cacos depois. Já é um bocado difícil manter eles unidos agora, então não quero nem imaginar o que pode acontecer se tudo explodir. Mas que diabos eu to falando com essa coisa de explodir e essas metáforas baratas? Eu acho que eu podia falar sobre a noite de ontem, que como eu disse antes, foi muito tranquila e divertida. Encontrei alguns amigos, bons amigos, é sempre bom ter bons amigos por perto. Eles te salvam da tua própria loucura, e não importa se o papo é sobre aquele episódio de Family Guy ou sobre o fantástico Into The Wild do Sean Penn e a fabulosa trilha sonora do Eddie Veder, o que importa é ter os bons amigos por perto. Eles te salvam do teu terremoto pessoal e te dão uma certa calmaria, ao menos por umas horas. É basicamente o que fizemos ontem, de maneira bem menos complexa e muito mais prática do que a que eu insisto em montar e escrever na minha cabeça. A gente simplesmente chegou na Augusta, sentou num boteco que tocava Skank e ficou bebendo e falando bobagens. Eu não gosto de Skank, e ninguém ali gostava, mas a gente estava numa boa e não era aquilo que ia nos atrapalhar. Mas sempre há uma solução, e esse amigo meu tinha uma colêtanea dos Cramps tocando outros grandes nomes do rock no pendrive dele, e a gente conseguiu pedir pro dono do bar colocar e ficar ouvindo. As coisas melhoraram muito daí. Na verdade não melhoraram tanto assim, mas já foram o suficientes pra deixar tudo um pouco mais animado. Depois disso a gente resolveu descer a Augusta. É divertido descer a Augusta numa noite de sábado, em direção ao centro profundo. Chegar até a Roosevelt, meio perigosa e meio charmosa decadente. É quase fascinante. Não tem muito mistério, mas ao mesmo tempo tem um enorme contingente poético por aquelas esquinas. Por todo o centro de São Paulo eu diria. É aquela coisa das construções antigas, das ruas sujas e dos becos misteriosos. É perigoso, decadente e encantador. Te assusta e te fascina com a mesma intensidade. Chegamos até os Parlapatões e ficamos entornando mais umas cervejas. Comi um salgado e descemos pro Biro's. Encontrei outro amigo, um bom amigo. Já passavam das cinco e meio da manhã. O tempo voa em noites assim. Tomamos mais uma saídera e pegamos o caminho de casa. Ás vezes é tudo uma questão de ponto de vista. Não havia nada do que reclamar depois de uma boa noite dessas. Nem mesmo a ausência de mulheres. O certo era ficar tranquilo e tomar o caminho de casa. Amanhã seria mais um domingo daqueles com ressaca e suas reflexões. Era melhor estar preparado.

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