sábado, dezembro 17, 2011

poderia ter dado tudo certo, se não tivesse dado tudo errado.

sexta-feira, dezembro 16, 2011

jazz na vitrola
cerveja na cachola
a vida é o agora
outra noite
outra madrugada
a mesma velha piada

terça-feira, dezembro 13, 2011

"é só a última garrafa!"
berramos uns para os outros
num idioma meio louco
típicos idiotas
perdidos numa noite
não muito agradável
não muito afável
sem garotas por perto
sem destino certo
o inferno é logo ali
ou talvez seja
nas nossas cabeças.
"mais uma garrafa!"
gritamos pro garçom
o fim se aproxima
na saídeira e no maldito
papel em sua mão.
she left me alone
one of these nights
it's been quite awhile
now
it's been so much time
now.

my world is empty
but it doesn't matter to me
i'm still on the run
i'm still free

she left me alone
in one dark night
I wonder where is she now
I wonder where's my mind

hope she's ok
hope she's doing well
hope someday we meet each other
in heaven or hell.

it's never hard when you know
you ain't got a place
in this god damn world

it's never that hard when you hear
the birds singing up the trees

and when you do it,
it doesn't even matter
if she stills here.

hope she's ok
hope she's fine
hope I can find
my last piece of mind.

sábado, dezembro 10, 2011

da série: hai-kais vagabundos de um bebum moribundo

as latas vão se acumulando
e eu vou chorando
oh baby, que engano!

terça-feira, novembro 08, 2011

people go to europe
people go to spain
people go anywhere
but I still remain

oh I still reamin
in the shadows of my own
in this life of being alone
sometimes i feel very sorry
for being always with nobody
but somehow i can't explain
what am I still remain

pass the days, pass the years
nothing matters to my tears
i try hard to make a way
i try hard but cannot say

that's the only thing to do
you and I are meant to be
but when I think of you
I just wonder, why me?

guess i'm some kind of curse
guess you're even worse
we'll meet in the end
we'll never do it again

and on vacations, at home i am
watching movies without my friends
drinking lonely in the night
looking for a spark of light

everybody do their own
business, all they ever get a home
when they want, they can't leave
I just can't stop my speed

people go to europe
people go to spain
people go anywhere
but i still remain

sábado, novembro 05, 2011

ode a Fante

Será que ele imaginou que um dia
alguém estaria
com sua foto na parede?

será que ele imaginou que um dia
todos os seus sonhos e agonias
seriam idolatrados e até invejados
por garotos como eu?

será que ele sabe
que seu livro é meu favorito?
que suas palavras me ajudam a
seguir em frente
dia após
dia?

será que ele alguma vez pensou
que num país distante
da sua itália e da sua américa
bate um coração
pensando nele e em sua
Camila?

será que ele sabe
que é meu escrito favorito?
que minhas palavras são apenas
continuação de seus gritos?

será que ele também acharia tudo isto
tão ruim como eu acho?
será que ele me diria
pra seguir em frente ou
deixar tudo
para trás?


o que será que ele faria
se estivesse aqui
em meu lugar?


será qeu ele gostaria
de mim ou
do que eu escrevo?

ah, provavelmente não
não precisa disso, bulldog
você ainda é o maior
e não sou eu que vou
mudar isso.

definitivamente, não.
mas ainda te amo, como amei
poucos ídolos nessa minha
pobre vida.

tenho sua idade
naquele livro
mas não chego perto
do que você foi.

ainda te amo
e te amarei pra sempre.
sem você, nada disso faria
sentido.

não preciso mais pedir sua ajuda.
tudo o que eu preciso, esta lá
escrito em seus livros.

obrigado, John Fante.
você me deu tudo
que preciso.

descanse em paz, bulldog
você ainda é o maior
e nada vai mudar.
he stills writting
he stills trying
to be
something else.

sexta-feira, novembro 04, 2011

I know me and I know things couldn't been quite alright for a long time.

terça-feira, novembro 01, 2011

I accept myself
and who am I
besides that

I accept myself
and I know things aren't quite
what I dreamt about

I accept myself
in a kind of joke
in a kind of pray

I accept myself
blue turning to gray
I accept myself
keeping me away
from the people who have hurted me.

I accept myself
as much as I
accept you
but I don't think I like you
that much
I don't even think I like me
enough.

It's okay, baby
it's just part of the deal
you get what is yours
I keep with my ill

I accept myself
maintaining my pride
I just accept myself
keeping me on the fine line
between life and whatever
is coming next.

I just accept myself
and this is what rests
here in my old poor
heart.

segunda-feira, outubro 31, 2011

suas ligações no meio da noite só pra me dizer boa-noite

Sadness to the bones. Tristeza até os ossos. Pensei nesse título enquanto sofria de mais uma noite de insonia. Daria um belo nome pra uma música de blues, pensei. Mas eu não era músico, então desisti da ideia de criar um blues. Carla me liga no meio da madrugada. Ela normalmente faz isso. Carla vive em Curitiba, e não a vejo há alguns anos. Na primeira e única vez que nos vimos, quando nos conhecemos, nos atracamos em uma praça e acabamos conhecidos como os tarados da praça. Isso foi em Londrina, há um bom tempo. Nos reencontramos nesse mundo perverso e inútil que é a internet. Carla me liga para me falar sobre sua vida de adultérios e me prometer visitas que nunca se concretizam. Carla me conta sobre suas aventuras sexuais com vocalistas de bandas ruins e dá risada dos meus comentários mal-humorados e irônicos. Carla diz que eu sou sexy de uma maneira inusitada. Ela é uma das poucas pessoas que acha isso. Talvez, hoje em dia, seja a única. Carla é bonita, jovem e bem-sucedida. Mas sua mente inquieta e suas ideias estapafurdias sempre a deixam em situações difíceis. Então Carla me liga para contar as bobagens que fez. Carla diz qeu sou um bom garoto, que durmo e trabalho e estudo, e que fico sentimental quando bebo. Ela tem razão em tudo isso, mas não sei se sou mesmo um bom garoto. Algumas vezes liguei para Carla totalmente bêbado procurando alguma palavra de afeto. ela soube ser bacana e aguentar minhas lamúrias. Carla continua bundando e causando em Curitiba. Eu continuo vivendo e me lamuriando em São Paulo. Mas Carla bundeia e causa com outras pessoas, eu me lamento sozinho. Carla tem um namorado, oficialmente, como ela gosta de frisar. Ele se mandou pra França, pra curtir a vida com a grana do pai, um empresário bem-sucedido da capital do Paraná. Carla sente sua falta, mas não parece ligar de traí-lo com metade da cidade. Ás vezes ela se sente mal, e me liga para me contar. Carla diz que está esperando que ele volte da europa para resolver sua vida. Enquanto isso deve causar e bundar um pouco mais por Curitiba. Carla se acostumou a uma boa vida e à bohêmia. Carla não sabe o que é sofrer de verdade, e duvido que alguma vez tenha se emocionado com uma música country tristonha do velho Hank Williams. Mas Carla gosta de Tom Waits e tem um belo corpo. Isso já é bom demais, quase tão bom quanto ela ouvir os meus lamentos. Talvez ela também ache bom que eu ouça as histórias de seus desbundes e infidelidades libidinosas. Talvez ela apenas queira alguém para dar boa noite antes de pegar no sono depois de uma 'balada' regada a vinho ou champagne importado. Talvez ela só queira ser amada por alguém. Talvez todos nós queiramos isto também. Talvez todos nós acabemos no mesmo lugar.

Carlos, 'O Chato', e meus velhos auto-questionamentos idiotas

Oh, puta que o pariu. Quase dois maços por dia. Aonde é que eu vou parar? Continuo acendendo esses malditos matadores de solidão. É simples, eu nunca tenho nada pra fazer. Quer dizer, tenho uma porrada de coisas pra fazer, mas nada que valha a pena. Então acendo cada uma dessas porcarias só pra matar o tempo enquanto assisto um episódio de um seriado ou ouço um bom disco de rock and roll. Oh, puta que pariu. Nenhuma garota há muitos dias. Aonde é que vou parar?

Conheci um cara por acaso numa dessas bebedeiras inconsequentes e estúpidas de uma madrugada de um desses tediosos meios de semana. Beirava os quarenta anos, com uma namorada loira da mesma idade, e aparentemente bacana. Mas todo mundo que é aparentemente bacana acaba sendo um puta chato. Não foi diferente. Encontrei o casal novamente por acaso noutra bebedeira. Eu tinha apitado um beck du bão com uns amigos. Não sou de fumar esse troço, mas naquele dia mais uma das minhas estúpidas ideias tinha me vindo a mente. Então, tô lá, doido igual hippie, quando encontro esse casal. eles se ofereceram a pagar a cerveja. Mais um erro cometido por mim. Se alguém se oferecesse pra pagar cerveja assim sem te conhecer direito é porque definitivamente vai te causar problemas. Mas é claro que, com minha boa e velha estupidez, eu não consegui nem pensar nisso naquela hora. Sentei e entornei latinhas de brahma com o casal. por acaso, descobri que o cara morava no meu prédio. e pra piorar, no meu andar. é claro que ele passou a bater na porta de casa com certa frequencia. tudo o que tinha a fazer era dispensá-lo com alguma desculpa. não mencionei que também fiz a cagada de dar meu telefone. agora ele também me ligava me chamando pra beber todos os dias. numa dessas intromissãos ao meu apartamento, chegou com umas latinhas e em quinze minutos de papo contou que tinha dois filhos e que tinha conhecido a mina pela internet. meu deus, como essas pessoas podiam viver. como qualquer pessoa podia viver? bom, ele se despencou de uma cidade qualquer do rio de janeiro pra morar com a mina. moraram dois anos, até descobrir que ela tinha suas loucuras e que era viciada em bingo. uma baita duma história maluca. sacou o celular e mostrou na câmera uma foto da mulher ao lado de uma máquina de bingo que contabilizava quarenta e cinco mil reais. "perdeu tudo em uma semana, Gabriel", me confidenciou. "já tentei ligar pra polícia pra fechar o bingo ilegal, e sabe o que o policial me falou?". Não sabia. "me disse pra levar ela pra uma igreja, você acredita em algo assim?". oh, puta que pariu, era uma das histórias mais absurdas e idiotas que eu já tinha ouvido. Carlos, o vizinho ainda não batizado nessa história, terminou de me contar suas incursões pela vida e insistiu para que eu saísse. "eu pago a conta", era seu argumento. não podia negar que era um bom argumento, mas consegui resistir e neguei sua proposta.

nos dias que se seguiram, Carlos, carinhosamente apelido de 'O Chato', em mais uma de minhas demonstrações de falta de criatividade, me ligou insistentemente. consegui desvincilhar dia após dia. finalmente, depois de uma semana, desistiu de ligar pelo primeiro dia. celebrei comprando algumas latas de cerveja e assistindo breaking bad no apartamento. depois, fui a casa de uma amiga. ela estava lá, com outra amiga dela qeu eu já conhecia de uma ou outra vez em um ou outro boteco. minha amiga foi dormir, então tentei algo com a amiga dela. não deu em nada, desisti e voltei pra casa.

a madrugada de um domingo é provavelmente a pior de toda a semana. bem, o final de semana foi mesmo uma merda, mas saber que a semana vai efetivamente começar é sempre desanimador. não havia muito mais o qeu ser feito. eu não me dava bem com uma garota há bastante tempo. não ficava realmente bêbado, efetivamente descontrolado, há um longo tempo também. não fazia nada de que me orgulhasse muito há esse mesmo considerável e relativamente longo tempo. não comprava um novo disco ou lia um bom livro também. a faculdade e o trabalho consumiam boa parte do meu tempo. de certa forma, eu era um sortudo por gostar do meu trabalho. com exceção do salário praticamente inexistente que ganhava, era algo que eu era bom fazendo. ou pelo menos tentava ser. ou pelo menos engava as pessoas, e meu chefe, de que era. de qualquer forma, a faculdade me consumia um bom tempo. sentava lá e ouvia os professores falarem sobre toda e qualquer bobagem. no final de cada bimestre, respondia algumas questões decoradas em uma folha, umas chamadas nos finais das entediantes aulas e voy-lá, era isso mesmo. um grande e monumental pé no saco. o ano se arrastava devagar e eu me imaginava quando é que ia voltar a sentir algo diferente. não me referia a garotas ou bebedeiras, apesar disso ser muito importante e fazer parte do pacote. me referia àquele sentimento que tinha quando mais novo, quando tudo parecia meio encantador e esperançoso. talvez ele tivesse ido embora, mas, diferente de Carlos, 'O Chato', ele não ia insistir para voltar. Resolvi que era melhor desistir de pensar. Apaguei as luzes e dormi. Seria mais uma longa semana e mais alguns longos dias de trabalho e auto-questionamentos idiotas. Era melhor estar preparado.

cigarretes and a good old folk song

sick of it all. can't even write. at least not in english. but, who the hell am i'm trying to cheat? never could write in portuguese too. so i just stand here, in front of the fuckin pc, tiping letter by letter, word by word, never founding why. i've been drinking so much less and smoking so much more, and my old tought's keep laying in my head like it always been. it's so hard to find a way out when you don't even know where to start. it's so hard to start when you don't even know where you'll get out. it's so hard to do any fuckin thing at any fuckin' time just because some reason keep telling you to go on. and you go on. and on, and on, and it's always that, always that, never getting better, oh, never getting straight. setting to the sun. setting thru your mind. just wasting my time. I know it's all bullshit. You know it too. Maybe we just have to sit here and light cigarretes listening to a good old folk song. it will get better. I hope so.

used to be

used to be passionate and curious about life
now i'm just
bored.

domingo, outubro 30, 2011

Costumava ter problemas com a humanidade. Agora tenho menos humanidade e mais problemas.
Baby, todas essas coisas nos filmes acontecem de verdade, mas não com pessoas como nós.
- Qual é sua posição política?

- Sou apocalíptico.

domingo, outubro 16, 2011

Todas essas tristezas dentro do meu coração, me maltratando de verdade. Elas nunca vão embora. Eu continuo bebendo minhas cervejas e ouvindo Belchior, pensando em amores nunca conquistados. A vida é um pouco sádica e triste, mas é o que nos restou. Continuo vivendo devagar, ainda sem saber escrever, ainda sem saber fazer nada muito bem, mas continuo, só continuo, em frente, pensando nos meus heróis, que já não vem mais me salvar. É muito tarde, eu acho, É muito tarde pra acreditar em algo. Fatalista até os ossos. Eu amei garotas mais do que eu podia, e não tive nada em troca. Eu amei até meu corpo todo doer, até sentir que não podia mais amar, e nada disso deu eu nada. Eu errei, em todos meus caminhos, e continuo errante, por estradas desconhecidas. Ainda vou pensar em tudo o que poderia ter sido, mesmo sabendo no que tudo acabou sendo. Ainda me sinto só e apaixonado, por algo que nunca vou descobrir. Minha tristeza é uma maldição, ou talvez seja uma dádiva. Vou pensar em tudo isso até o dia em que eu morrer. Até o dia em que eu morrer, o que, se Deus quiser, não deve demorar. Até lá, espero que tudo esteja bem pra todo mundo. Espero não soar falso também. Talvez seja um pouco, mas eu juro, dessa vez, é só a verdade.

quinta-feira, outubro 13, 2011

Não importa mais estar sozinho em casa a meia-noite de uma quinta-feira pensando nas mesmas velhas coisas tristes. Já enfrentei essa situação o número suficiente de vezes pra saber que as coisas passam. Elas não costumam melhorar, mas seguem em frente com certa calma, e isso é um tanto confortador. Não devo mais pensar em garotas que só me fizeram mal. Não devo mais acreditar na tola esperança. Está tudo bem, baby. Continuamos indo ao bar e nos divertindo com os velhos amigos. As mesmas piadas ainda escondem nossas angústicas. Não há muito o que lamentar, são só as coisas como elas são. Perdi a paciência de reclamar, de me indignar e até de me entristecer. Tá tudo bem, de verdade. Mesmmo que ninguém nunca leia isso, nem nada do que eu escreva no futuro, está tudo bem. Mesmo que eu esteja muito cansado e tenha trabalhado bastante e tentado seguir com minha vida, está tudo bem. E se a bebida acabou, bem, não é tão fácil, mas ainda assim está tudo bem. Não há mais tempo nem paciência para o desespero. É hora de encarar as coisas de frente. Só isso, seguir em frente, eu tenho certeza que você sabe como é. Nós sempre soubemos de coisas assim. Foi errado me declarar daquela forma. Foi errado cair a seus pés e implorar por alguma bobagem. Veja bem, não sou esse tipo de cara. Ou talvez seja. Ainda não entendi o tipo de cara que me tornei, e nem imagino se isso é ruim ou bom ou, sabe deus o que, péssimo e aterrador. Tá tudo bem, tudo numa boa, nós ainda estamos por aqui, com um peso um pouco maior e um pouco mais cansados com nossas novas responsabilidades, mas não creio que sejamos atropelados ou que venhamos a sofrer um ataque do coração repentino até cair morto no chão. Seria sorte demais, baby, e sorte demais nunca funcionou bem para um cara como eu, que gostou um tanto assim de garotas como você.

segunda-feira, setembro 19, 2011

Domingo de tédio. Um puta pleonasmo. Levanto ás quatro da tarde com uma clássica ressaca cervejista da noitada esticada até ás nove e meia da matina. Augusta de todos os santos e os santos de toda a augusta já passados ponto, subindo em direção aos jardins com o sol a pino na cabeça e famílias fazendo compras nas primeiras horas do primeiro dia da semana.

Passo o dia todo bundando em casa, matando a ressaca com água bebida direto da garrafa e vendo o tempo passar. Aí, resolvo ir ao cinema. Tomo um banho e desço a augusta novamente. Cinema grande, patrocinado por banco, ingresso caro. Nessas horas ainda é bom ser estudante, mas só nessas horas. Na fila, encontro uma gracinha que estudou comigo há alguns anos. De pernocas de fora, a bela acompanha uma amiga e usa uma sainha matadora pra um pobre lascivo solitário na secura como eu. Batemos um papo rápido, e ela sugere “vamos combinar um chopinho¿”, “opa, vamos sim, estou sempre pronto”. Mas que rapaz oferecido. Entrego minha pré-disposição para o consumo de um chopinho e minha carência afetivo-sexual numa só tacada. A guél não se importa, ou parece não se importar, e nos despedimos com beijinho e, se eu não estou enganado, um certo ar de que algo ainda vai acontecer entre nós nesse tal chopinho. E se não acontecer, ainda vale a pena ver aquelas pernocas e falar sobre qualquer coisa.

Entro na sala e escolho um dos lugares disponíveis. Casais lotam o recinto e papeiam e comem pipoca e abrem latas de refrigerante a todo o tempo. O filme começa. Ao meu lado esquerdo, um casal com cara de sonso. O cara, careca, meio brucutu, meio tontão, tá na cara que só quer fazer uma moral com a donzela. A moça, não a vejo, está do lado dele, duas poltronas de mim. Falam ao longo de todo o filme. Comentam cenas e questionam fatos. Ao lado direito, duas bichas velhas fazem o mesmo, mas com um tom mais cult e kitsch porém igualmente bobo. Comentários óbvios são soprados cena por cena. “Oh, que linda”. “Não, ele vai contar pra ela!”. Se cinéfilos são chato, coisas como essa são razões mais que justificáveis. Desencano e entro no cano da película. Filme bom, dos bens feitos, reflexivos. Acaba, e a sala toda debanda com cara de quem comeu e não gostou. Ainda não sei o que achei direito, mas passo um tempo sentado na poltrona e esperando os weekenders darem no pé.

Lá fora, acendo um cigarro. Tortura de cinema é isso, não poder fumar ao longo do filme. Que coisa linda aquele pessoal da nouvelle vague, fumando o tempo todo, acendendo cigarros a torto e a direito, revolucionando a tal da sétima arte e influenciando deus, o diabo e a terra do sol, pro pessoal proibir o tão charmoso cigarro que eles mesmos nos fizeram acreditar que era bom. E porra, é mesmo uma maravilha. Não quero entrar no mérito da saúde, deixa isso pros especialistas. Da minha especialidade cuido eu, e o pitar de cigarrinhos provavelmente é a maior delas.

Volto pra casa contemplando a solidão da meia-noite do domingo. Avenida Paulista esvaziando aos poucos. Dois mendigos já dormem na calçada. Uma pedinte ainda permanece por ali. O sinal fecha, um cara cruza a avenida de skate, joga uma embalagem do McDonalds no lixo e volta pro outro lado fazendo manobras e empinações. Ainda deitado, o mendigo bate palmas em admiração.

sexta-feira, setembro 16, 2011

Os mesmos personagens continuam aqui. O garoto bêbado inveterado e desbocado. O jovem poeta sonhador à procura de um amor. O jornalista musical ávido por rock and roll. O boêmio tentando compor sambas sobre a dor e a infelicidade. O pseudo-intelectualóide metido a palpitar sobre as mazelas universais. O cinéfilo frequentador de sessões vazias contemplando a solidão. O pobre diabo que crê ser injustiçado por um mundo ruim. O cretino que quer destruir o mundo. O garoto que queria compor uma balada parecida com os Beatles. O jovem punk querendo anarquizar o sistema e desmoralizar a podridão da sociedade. O maníaco-depressivo flertando com o suicídio. O anjo abençoado que crê em auréolas e milagres de vagabundagens urbanas.

Os personagens continuam aqui, me assombrando e se alternando em uma velocidade impressionante. Os personagens nunca vão embora, e se mantem num constante fluxo. As personalidades sendo trocadas como roupas velhas, e os sonhos intactos, nunca alcançados, pouco procurados, muito batalhados. A esperança latente e sofredora, pobre tolice juvenil de um futuro que nunca chega, de um encontro casual que mudará o curso do inevitável destino para sempre. Esse destino traiçoeiro que me leva a cometer as maiores loucuras, ou a me trancar em casa com medo do mundo lá fora, ou a encarar o mundo lá fora com medo da solidão aqui dentro. Os personagens continuam aqui, e algo me diz que sempre continuarão. Os personagens-fantasmas sussurrando conselhos fantasiosos em meu ouvido, me dizendo para seguir em frente, para não seguir em frente, para batalhar, para desistir, para fazer alguma coisa que mantenha o coração batendo e o sangue pulsando nas veias um pouco entupidas de fumaça de cigarro e bebida.

Andando pela rua, sempre em direção a algum lugar. O cigarro pendendo na mão, as tragadas curtas e profundas, a fumaça subindo no ar. Milhões de pessoas se cruzando na cidade, cada qual para seu lado, cada qual com sua vida, cada qual com seus sonhos, eu também, eu no meio, eu perdido, eu tentando me encontrar, tentando encontra algo na multidão, nas pessoas, na solidão, nas bitucas de cigarro pendendo no chão, nas palavras do livro que leio dentro do ônibus, chacoalhando em direção ao trabalho, em direção à faculdade, em direção à lugar nenhum e a todos os lugares do mundo. O balcão do bar, gelado, impessoal, mas de uma maneira estranha confortador, como se eu pertencesse aquele lugar, como se eu sempre tivesse pertencido. As garrafas se amontoando no canto do apartamento, os copos esvaziando, o disco girando e a música inundando a pequena kitnet de alegria, tristeza, vida ou beleza, tudo em uníssono, tudo de uma só vez, apoteose de imaginação maluca inocente e inexperiente. Absorção de qualquer tipo de frase batida que te faça seguir em frente. Absorção de qualquer pequeno significado em um futuro melhor. Os pais lá longe, muitos quilômetros de distância, os verdadeiros amigos também, as garotas que te fizeram sofrer também, e todos juntos nos meus sonhos, na minha cabeça perturbada, que ferve como uma locomotiva e solta a fumaça dos cigarros que se tornam bitucas apagadas no cinzeiro.

E que diabos eu procuro? não faço a mínima ideia. Não tenho mais medo do escuro. Não tenho medo de muitas coisas. A decepção não mais me assusta. A alegria tampouco me anima. O sangue corre com menos velocidade e o coração já não pulsa lá muito bem. A barriga está crescendo, o tempo diminuindo, e os velhos sonhos se amontoam lá no fundo, junto com as pilhas de papéis que abrigam versos e prosas inúteis e pouco inspiradas. Palavras geniais, pensara eu enquanto escrevia, palavras que vão mudar o mundo, ou parte dele, que vão se juntar num grande livro, que farão companhia aos meus grandes heróis na estante das bibliotecas. Mas elas ainda continuam ali, empilhadas, quase nunca lidas, pouco relembradas. Palavras, palavras, perdidas, achadas. Um dia todo esse papel vai pro lixo ou vai ser queimado. Um dia essa minha carcaça vai ser cremada ou enterrada. Um dia esses meus sonhos não vão valer mais nada. Nesse dia, alguém por aí vai pensar alguma coisa parecida numa outra madrugada. Quem sabe a gente não se encontre dia desses? Pode ser aqui, ou pode ser em outro lugar. Não tenho pressa. Não há necessidade. Será só mais outro garoto perdido na imensidão dessa cidade e de sua própria cabeça, mais ou menos como eu agora.

quinta-feira, setembro 15, 2011

elas acharam seus escolhidos
elas estão bem
e dormem acompanhadas
e conversam sobre
músicas em comum.
agora, sou passado
continuo trabalhando muito
e bebo vinho sozinho
escutando blues
em noites estranhas.
tenho estado muito cansado
e já faz algum tempo
que não me importo mais
com nada disso.
elas acharam seus escolhidos
mas, de alguma forma
acredito
que estou melhor
ouvindo blues e
bebendo vinho
em minha kitnet
sozinho.

terça-feira, setembro 13, 2011

Tudo o que eu tenho feito é esperar a vida passar, quieto no meu canto. Ás vezes as chances vêm e vão embora antes que eu possa percebe-lás. Ás vezes elas nem mesmo aparecem. Dias, meses e até anos sem aparecer. São momentos ruins, constrangedores e desesperadores. Mas as chances voltam a aparecer, em menor e maior escala. Tento agarrar uma delas e na crista da onda sentir o turbilhão e deixar ele me levar pra qualquer lugar. Já bati nas pedras muitas vezes, a maioria delas. A outra parte perdeu a força antes que eu pudesse alcançar o objetivo final. Mas ainda entendo que basta esperâ-lás sem enloquecer. Fazer analogias baratas e beber por dias a fio é um bom remédio para essas épocas desafortunadas. Não esquentar a cabeça também é importante. Algo ruim acontecer não é o fim do mundo, nunca é.

domingo, setembro 11, 2011

quantas vezes não afirmastes
em teus desesperos anacrônicos
que desejava a morte mais que a amada
que tanto perseguistes
por quem tanto chorastes
se me dizes as causas
de seu mórbido desespero
posso com certa audácia
menear com destempero
te levar ao fim do mundo
onde não mais chorarás
te levar ao fim do mundo
onde nada importarás.

terça-feira, agosto 30, 2011

Kátia costumava aparecer e desaparecer sem motivo aparente. Ela costumava me ligar às duas da manhã e dizer que daria uma passada por aqui. "Tudo bem", eu dizia, e então ela passava e trazia uma garrafa de vinho. Kátia gostava de vinho, e bebíamos ouvindo discos do Cheap Trick na vitrola. Kátia não me deixava tirar sua calcinha. Ás vezes ela me deixava brincar com seus peitos e me dava um ou outro beijo, mas normalmente ela preferia ouvir os discos e reclamar sobre seus relacionamentos frustrados. Kátia era uma chata, mas uma dessas chatas legais. Ela podia falar sobre suas bobagens o tempo todo, mas eu não me importava muito. Ela trazia vinho, eu pedia pizza e normalmente ficava calado, olhando para a parede. Quando estava um pouco mais alto, achava que devia falar. Mas eu nunca falava nada decente, e Kátia costumava pegar no sono muito rápido quando eu tentava explicar pra ela teorias absurdas sobre filmes antigos. Kátia não queria saber se determinado filme esquecido do Woody Allen ou do Fellini eram importantes para mim ou para a história do cinema. Kátia queria saber porque ela não podia ser como as outras garotas e arranjar um bom namorado. Eu também já havia tentado descobrir isso sobre mim, mas havia desistido de procurar a resposta. E além de tudo, acreditava que a paz de ficar sozinho talvez compasse a carência física e tristonha de um sábado a noite ao som de Tom Waits. "É o coração do sábado a noite Kátia, o coração, a garrafa, não importa, é só o coração do sábado a noite!", eu costumava berrar já bêbado para Kátia. Ela não se importava, ela nunca se importava, e acho qeu eu não devia me importar também. Mas, por alguma razão estúpida, eu gostava daquilo. Como também gostava da Kátia, e da pizza, e das garrafas de vinho que ela trazia e que se amontoavam no canto da cozinha no início da manhã de domingo. Eu gostava do coração do sábado a noite, mesmo que ele não tivesse um coração de verdade.
Eu finalmente cheguei lá. Finalmente encontrei um emprego que gosto, em um horário flexível. Finalmente posso me sentar em meu próprio apartamento e ouvir discos contemplando a solidão. Finalmente posso assistir filmes no cinema sem pensar mais em coisa alguma. Mas, se eu finalmente cheguei lá, porque ainda não consigo sentir isso?

Na verdade, tudo continua a mesma coisa. Posso mudar para uma mansão, arranjar o melhor emprego do mundo e ter todo o tempo livre para ir ao cinema, o problema é que essa cabeça em cima dos meus ombros vai continuar sendo a mesma. E tudo o que está dentro dela continuará aqui. Sei que não posso fugir disso, é a única certeza que tenho, depois da indissolúvel certeza absoluta que todos nós temos. Talvez eu esteja esperando apenas pelo final. Talvez eu sempre tenha esperado pelo final e todo o resto tenha sido apenas uma contemplação inútil e sonhadora sobre planos não concretizados.

Dia desses, no ônibus, me peguei pensando no que aconteceria se ele de repente virasse. Tentei acreditar que perderia algo, mas não consegui. Tive certeza de que não perderia nada, então comecei a pensar que talvez eu esteja apenas seguindo meu caminho. Não consigo mais sentir as coisas como outrora. Agora, talvez, seja apenas uma longa estrada para a perdição. Quando um homem perde o medo de perder, está tudo perdido. E eu perdi o medo de perder. E também perdi o medo de descobrir o que há depois. Depois, depois... é só o que vier. E o que vier não poderá mais voltar. Quando isso acontecer, é o fim, simples assim. Outras pessoas morarão neste apartamento, e pegarão o mesmo ônibus, e preencherão minha vaga no emprego e verão outras sessões de cinema que eu não vou mais poder ver. E com o tempo, tudo continuará exatamente igual. O vento soprará pela janela do apartamento, e o novo morador talvez a feche e talvez não repare na bela árvore que eu costumo reparar. A árvore talvez também não esteja mais ali depois de um tempo. E talvez nem mesmo o apartamento. Uma multi-nacional pode demolí-lo e construir um shopping center no lugar. Não me importará mais. Não sei se algum dia já importou. Outros discos tocarão em outros lugares, e um punhado de canções tristes darão algum sentido temporário a outras existências estúpidas. E quando isso acontecer, bem, eu não estarei mais aqui para saber o que acontece. Espero descobrir algo até lá. Se houver algo a ser descoberto. Creio que sim. Espero que sim.

segunda-feira, agosto 29, 2011

- Gostaria de pular tudo isso. Uma grande parte indo embora. Apenas acordar e BAM, me deparar comigo mesmo já no final da vida. Talvez haja uma contemplação absurdamente fantástica nesses tempos finais. Os últimos dias antes de partir devem ser ótimos. Vocês simplesmente aguarda que eles venham e te levem daqui. E aí acabou a dor, a tristeza, a procura pela felicidade e todo o resto. Simples assim, só, acabou.

- Por que você tá dizendo essas coisas?

- Simplesmente porque é verdade. A mais cruel e linda verdade.

- Não creio que a vida seja assim.

- Ela é. E isso é ótimo, não tinha porque ser diferente. Você simplesmente vive, esperando qeu as coisas aconteçam, tentando se esforçar, tentando acreditar, tentando alcançar algo que você nem sabe o que é. E se você consegue, e daí? Você vai querer sair atrás de outra coisa. Não há nada tão belo nisso. É ali no final que a poesia acontece. Você ouve sinfonias perfeitas e o melhor filme do mundo passa na tua frente. É perfeito, simplesmente perfeito.

- Não creio que seja assim.

- Mas é.
as pessoas continuarão vivendo
e os discos continuarão girando
os bares continuarão abertos
e novos filmes serão exibidos nas salas de cinema
e discos serão lançados
espetáculos serão encenados
e bibliotecas continuarão dando alguma esperança
a pessoas sozinhas
que por sua vez, continuarão em pequenos apartamentos
ou em quartos de pensão
ouvindo discos e sonhando
com algo melhor.
a vista da janela é bonita
a uma da manhã
enquanto Leonard Cohen canta
sobre uma garota que o abandonou
assisto a um filme antigo
as paredes do apartamento escuro
brilham com os fotogramas preto e branco
a vista da janela mais bonita do que nunca
a uma da manhã
minha vida passando devagar
enquanto contemplo
os velhos sonhos não realizados
e as músicas tristes
não me deixam esquecer
que talvez ainda há algo aí fora
para mim e pra você.
a vista da janela é exuberante
a uma da manhã.
imagino o que acontecerá
quando amanhecer.
a vista da janela ainda será bonita
e algo me diz que ainda estarei aqui
pensando
em você.

sábado, agosto 27, 2011

all alone in my apartment
listening to the velvet underground
oh god, how i miss someone around.

smoking cigarretes
one after one
oh god, do you think i'm having some fun?

don't need no one
to tell me the truth
just need the life
that i read on books

don't need no one
to tell me what to do next
just need the songs
of my old records

just want someone
to watch for me
someones who's there
who will always be.

don't leave me here all alone
i'm just the guy
waiting for your call
by the phone.
"We're all faced throughout our lives with agonizing decisions, moral choices. Some are on a grand scale, most of these choices are on lesser points. But we define ourselves by the choices we have made. We are, in fact, the sum total of our choices. Events unfold so unpredictably, so unfairly, Human happiness does not seem to be included in the design of creation. it is only we, with our capacity to love that give meaning to the indifferent universe. And yet, most human beings seem to have the ability to keep trying and even try to find joy from simple things, like their family, their work, and from the hope that future generations might understand more."

Woody Allen - Crimes e Pecados

quarta-feira, agosto 17, 2011

Ela achava que eu era um tipo de Jack Kerouac. Ela achava que eu era doce, sonhador e escrevia bem, mas eu não era nada disso, e também não era um tipo de Jack Kerouac. Tambem não era um tipo de Bukowski, ou de John Fante, ou de Rubem Fonsenca, ou de qualquer outro escritor. Eu era um tipo de Rick Nicoletti, O tipo de Rick Nicoletti, e isso não era necessariamente algo bom.

Ela sabia que eu trabalha em uma revista cretina de música e tentava encaixar matérias sobre Elvis e Ryan Adams no meio de matérias sobre Lady Gaga e Blink 182. Ela também sabia que eu cortava o dedo abrindo garrafas de cerveja e enrolava papéis higiênicos enquanto o sangue escorria pelo chão e um disco de Dexter Gordon ecoava pela pequena kitnet vazia.

Ela sabia que eu sonhava com algo diferente, mas que também não sabia com o que eu sonhava. Ela sabia que Rick Nicoletti gostaria de fazer alguns filmes à la Jarmusch, umas músicas à la Van Morrison e uns poemas a là Rimbaud, mas ela também sabia que eu não ia conseguir fazer nada disso.

Ela sabia que eu era Rick Nicoletti, e isso era incrivelmente bom e terrívelmente ruim. Ela sabia que Rick Nicoletti gostaria de ficar trancado em casa sem falar sobre coisa algumaa. E ler livros antigos e beber cerveja. Ela sabia de tudo isso, e talvez este seja o grande motivo pelo qual ela se afastou. Eu não a culpo, eu nunca vou a culpar. Ela sabia de tudo isso, e mesmo assim, mesmo que por pouco tempo, ela ficou.

terça-feira, agosto 16, 2011

estavamos em um bar
às três da manhã.
você me dizia
que sonhava em se casar
eu te dizia
que sonhava em me mandar.
"pra onde?"
era o que você perguntava
"pra qualquer lugar",
era o que eu te falava.
"a vida pode ser boa",
você me dizia.
"a vida nunca é boa",
eu respondia.
você me chamava
de pessimista
eu te chamava
de hedonista.
você acreditava
num mundo melhor.
eu acreditava
em estar só.
você foi embora
pra nunca mais voltar.
eu continuo
no mesmo lugar.
no,
don't leave me
here.

no,
don't make me
cry.

no,
i'll never
go by.

no,
you're not
with me

no,
I never
could see.

no,
I'm not
alone.

yes,
I need
someone.
grab my arm
grab my toe
grab my hand
grab my soul
grab my dreams
up on your shoulder
grab my love
before it's over.
grab my mind
deep on your chest
grab my love
that's all I left.
imagino o que cada uma delas
está fazendo agora.
posso visualizá-las casadas
bem sucedidas e
realizadas.
posso imaginá-las com filhos
vivendo suas vidas
de forma tranquila
e preparando a janta
assistindo ao telejornal
na televisão.
eu continuo aqui
as coisas ainda não mudaram tanto
pra mim.
provavelmente
elas nunca irão mudar.
provavelmetne
é aqui que vou
continuar.
posso imaginá-las
me esquecendo em suas memórias.
uma triste lembrança
apagando devagar.
imagino se um dia
elas vão se lembrar.
ah, bobagem.
elas que fiquem
com suas memórias.
continuarei aqui
perseguindo
a glória
que provavelmente
nunca
virá.
sentado no ônibus
ninguém olha pra mim.
eu também
não olho pra ninguém.
curioso saber
que na próxima esquina
este pode ser o fim.
uma curva errada
e nós estaremos
em outra jornada.
bem longe
de você
ou de mim.
simples
assim.
eu costumava acreditar
costumava ter algo para lutar
costumava ler com emoção
e escrever com paixão
e andar passo por passo
esperando que algo acontecesse
ao virar a próxima esquina.

eu costumava me olhar no espelho
e enxergar esperança
enxergar tristeza também
mas enxergar esperança
de que havia algo lá fora
guardado
só pra mim.

eu costumava brandir os punhos
e falar coisas com orgulho
e me sentir importante
e sonhar com coisas
distantes.

eu costumava pensar em pessoas
que nunca conheci
e costumava imaginar tempos
que nunca vivi
mas o tempo chegou, querida
ele finalmente me alcançou
agora não tenho mais
para onde correr.
não tenho mais
onde me esconder.

eu costumava pensar
em mim e em você.
gostaria de prever
o que vai acontecer
quando você for embora
e me deixar aqui
conformado em saber
o que eu tentava entender.

terça-feira, agosto 09, 2011

It's Raining In Love

I don't know what it is,
but I distrust myself
when I start to like a girl
a lot.

It makes me nervous.
I don't say the right things
or perhaps I start
to examine,
evaluate,
compute
what I am saying.

If I say, "Do you think it's going to rain?"
and she says, "I don't know,"
I start thinking : Does she really like me?

In other words
I get a little creepy.

A friend of mine once said,
"It's twenty times better to be friends
with someone
than it is to be in love with them."

I think he's right and besides,
it's raining somewhere, programming flowers
and keeping snails happy.
That's all taken care of.

BUT

if a girl likes me a lot
and starts getting real nervous
and suddenly begins asking me funny questions
and looks sad if I give the wrong answers
and she says things like,
"Do you think it's going to rain?"
and I say, "It beats me,"
and she says, "Oh,"
and looks a little sad
at the clear blue California sky,
I think : Thank God, it's you, baby, this time
instead of me.

Richard Brautigan

domingo, agosto 07, 2011

Não importa muito mais. Há um ponto indivisível e não há mais volta. Se suas esperanças já se foram aos 21 anos e meio, não há mais muito o que esperar de todo o resto. As garotas que não te amaram não te amarão mais. Você não ficará bonito ou mais esperto. A vida seguira seu curso natural, devagar e misteriosa, e na maiora das vezes penderá para o desastre. Ele rondará em sua volta o tempo todo, como uma ameaça sussurrada. Mas você não pode dizer que não esperava. É sempre bom estar preparado para que o teto caía sobre sua cabeça. Você não poderá dizer que não sabia. Você sempre soube. Há um ponto indivisível na vida onde beber uma garrafa de vinho sozinho em seu apartamento é o máximo de tranquilidade que você pode atingir. É uma reflexão difícil e nada agradável, mas é simplesmente a realidade, as coisas como elas são, como eles costumam dizer em peças de teatro e programas de televisão. E o mundo continuará girando, independente de suas vontades ou problemas pessoais. Sua vida não é nada além de um pequeno grão nesse mar de areia gigantesco. E acredite, nenhum de seus problemas importa muito. O mais sensato é mesmo abrir uma garrafa de vinho e ouvir um bom disco. Talvez as coisas façam mais sentido assim. Talvez não.

quarta-feira, agosto 03, 2011

Because something is happening here
But you don't know what it is
Do you, Mister Jones?

quinta-feira, julho 21, 2011

"Esse sujeito, esse Kemp, não é um jovem exemplar. Foi criado com dois banheiros e futebol americano, mas em algum ponto da história alguma coisa deu errado. Agora tudo o que ele quer é Fugir, Cair Fora. Não está nem aí para St. Louis nem para seus amigos, sua família ou qualquer outra coisa... tudo o que ele quer é encontrar algum lugar onde consiga respirar..."

Hunter S. Thompson - Rum: Diário De Um Jornalista Bêbado
Mas tudo isso não passava de masturbação mental. No fundo, sabia que não desejava nada mais do que uma cama limpa, um quarto iluminado e algo de concreto que eu pudesse chamar de meu, até qeu ficasse cansado. No fundo da minha mente, pairava uma suspeita terrível de que eu finalmente superara uma fase. O pior é que não me sentia nem um pouco mal com isso, apenas cansado e um tanto confortavelmente distante.

Hunter S. Thompson - Rum: Diário De Um Jornalista Bêbado
"Os amigos vão se tornando cada vez menos importantes. Adoro Francis [Ford Coppola] e Steven [Spielberg], mas nós não nos vemos com tanta frequência. Não espero mais muita coisa das pessoas e não quero que elas esperem muito de mim. Só quero que me deixem em paz."

Martin Scorsese - Como a Geração Sexo, Drogas e Rock'n'Roll salvou Hollywood

segunda-feira, julho 18, 2011

O disco do Stevie Wonder girava na vitrola enquanto eu acompanhava com os olhos a bolacha girar 33 rotações por minuto. Eu tinha entornado algumas latas de cerveja e dado uns dois tirinhos, então estava acelerado e enérgico como uma pilha. O disco do Stevie Wonder era ótimo, mas seu experimentalismo calmo e cool não ajudava a me animar. Saquei o disco e coloquei Exile on Main St, meu disco favorito dos Stones. A voz do Mick Jagger ecoou pela sala, enquanto eu pulava de um lado pro outro sem saber muito bem o que fazer. Era uma merda ficar sozinho nesse tipo de situação. Pilhado e querendo conversar, mas sem ninguém por perto. Ouvi algumas faixas do disco bebendo mais algumas cervejas, sentei em frente ao computador e comecei a digitar as primeiras coisas que vieram à cabeça. Quatro poemas sobre colhedores de arroz vietnamitas, dois sobre pick-ups do meio-oeste norte-americano, dois sobre uma garota que conheci na escola há uns dez anos atrás e um sobre a posição das garrafas de cerveja no canto da lixeira do quarto. Todos eram horríveis. Comecei um roteiro, sobre um garoto que pula no pescoço do amigo depois de um dia de loucura, e joga fora uma amizade de anos por pura bobagem, mas também ficou horrível. Desisti de tudo, virei o disco dos Stones e terminei as cervejas e a noite ouvindo blues. Ainda pilhado, considerei ir até algum lugar. Era uma ideia estúpida, então apaguei as luzes e me meti na cama. Fazia um frio considerável, me cobri e esperei o sono vir. Ele não veio, então passei boa parte da noite me revirando no colchão. Consegui pegar no sono quando o dia amanhecia. O sol era bonito ás seis da manhã, mas me arranhava os olhos e atrapalhava meu sono.

Recuperando minha criança interior

Em Julho de 2010 eu havia sido abandonado por mais uma garota e estava emocionalmente em frangalhos. Eu recém havia me demitido de meu cretiníssimo emprego numa empresa de call center líder de reclamações, então passava o dia todo trancado em casa, assistindo filmes antigos, ouvindo discos e colecionando moedas para conseguir comprar cigarros. Com sorte também descolava um jeito de beber, e era basicamente o que mais fazia naquela época. Comecei a ver uma terapeuta. Ela me disse para ler alguns textos e refletir sobre minha vida. Me passou um texto que dizia que deviamos recuperar nossa "criança interior". Achei aquilo uma grande bobagem. De certa forma, eu nunca havia mesmo deixado de ser uma criança, logo, não precisava recuperar minha "criança interior" ou qualquer outra coisa desse tipo. Precisava era recuperar minha auto estima e conseguir algum dinheiro.

A terapeuta me mandou ver um psiquiatra. Disse que eu tinha síndrome maníaco-depressiva. Fui até o tal psiquiatra. Ele conversou comigo durante cinco minutos e receitou um medicamente, com ordens expressas de que eu não deveria beber. "Isso não vai ser possível, doutor", foi o que respondi. Ele disse que eu deveria evitar beber em excesso enquanto estava sob medicamento. É óbvio que descumpri suas recomendações.

A terapeuta continuava me dizendo bobagens. Dizia que eu deveria encontrar a alegria nas pequenas coisas da vida. Para ela, eu era ácido, irônico e mal-humorado, e não posso dizer que ela estava errada. Não sei se foi o medicamento que fez algum tipo de efeito, mas com o tempo passei a me sentir melhor. Parei de frequentar a terapeuta. Mudei de cidade, arranjei um novo trabalho e nunca mais vi a garota que havia me abandonado. Na última vez que ouvi falar dela, estava namorando e feliz. Me senti bem por aquilo. Eu ainda bebia e ouvia das raras garotas com quem saia de que eu agia como uma criança, e que deveria parar de beber e amadurecer. Mais uma garota me largou, mas agora eu já não me importava muito. Comprei algumas garrafas de uísque e passei alguns dias jogando video-game e lendo gibis. Percebi que a terapeuta estava certa. Recuperar minha criança interior era mesmo algo importante.

sábado, julho 16, 2011

the last girl who laid with me
never set herself free
she found redemption
in the arms of other man
she found true love
and for him she'd stand
at his side she felt beauty
at his side she felt great
I wonder in which point
I made more mistakes.
now heaven is no paradise
as i lay in my bed
i dream about a time
of completely knowledge.
she's out in the world
I'm locked in my room
I wonder what for
she said "see you soon".

quinta-feira, julho 14, 2011

Detesto tudo, perdi o contato com as pessoas, fico vivendo uma vida toda pra dentro, lendo, escrevendo, ouvindo música o tempo todo.

Caio Fernando Abreu

terça-feira, julho 12, 2011

Taróloga Carmem

Naquele tempo eu trabalhava como estagiário de comunicação em uma empresa cultural. Meu trabalho consistia basicamente em selecionar algumas notícias de outros veículos para postar no site da empresa e ficar o resto do tempo fingindo que eu estava fazendo algo de verdade atrás do computador, o que era consideravelmente difícil, já que dedicava boa parte aos sites de humor e tinha que manter a expressão séria.

Voltando de metrô para casa, descia na estação e via um homem de cerca de quarenta anos, franzino, quase careca e usando óculos parado em frente à saída da estação, entregando panfletos aos transeuntes. Normalmente eu não costumava pegar aqueles panfletas, pois já sabia do que se tratavam, mas naquele dia, talvez afetado por uma consciência fraternal á condição trabalhista daquele homem que eu via todos os dias, decidi pegar um dos papéis. Bati o olho e lá estava o anúncio:

Taróloga Carmem
Resolvo todos seus problemas e aconselho sobre os caminhos de sua vida
*Amor
*Saúde
*Vícios
*Negócios
*Depressão

Numerologia, tarô indiano, búzios africano, vidências nas águas místicas. Trago a pessoa amada com rapidez e garanto seu sigilo. Venha me visitar, descontos especiais.

Há pouco tempo eu havia sido abandonado por mais uma garota. Não que eu me importasse muito, mas aquilo devia ser um sinal importante. Minha saúde sempre fora boa, mas ultimamente, talvez pelo cigarro, eu vinha tendo crises de tosse intermináveis e sendo atacado por gripes semanalmente. Vícios, eu mantinha dois, bebia e fumava compulsivamente todos os dias. Nos negócios a situação também não estava melhor. Devia duzentos reais ao banco, e com meu pequeno salário ainda longe de vista, sabia que com os juros predadores e meus gastos usuais a chance de dobrar o valor era considerável. Depressão, bom, disso eu não podia reclamar. Já havia tido meus tempos ruins, mas agora me conformava com uma sorte pouco favorável que havia se instalado há alguns anos. Pra ser mais correto, desde a adolescência.

É claro que eu sabia que tudo aquilo não passava de bobagem. Certa vez, numa feirinha do litoral, paguei cinco reais pra uma pobre cigana idosa supostamente ler minha mão. Ela disse que eu encontraria a garota da minha vida e arranjaria um grande emprego. Eu estava desempregado e solteiro há um tempo considerável. Nada aconteceu durante um tempo, e tive ainda mais certeza que a pobre cigana de nada sabia. Tempos depois, consegui um emprego como operador de telemarketing. Foi o pior emprego que já tive. Ao menos, trabalhando lá, conheci uma garota e me apaixonei perdidamente. Ficamos juntos por um tempo, pouco. Logo depois, ela me abandonou por um estudante de medicina. A cigana tinha acertado exatamente o contrário. Pobre cigana. Pobre de mim.

Apsar dos pesares, talvez a taróloga Carmem fosse melhor. Eu não tinha nada a perder. Quer dizer, eu poderia me endividar ainda mais, mas nada que fosse piorar muito minha já lastimável situação. E se a taróloga Carmem soubesse o que me dizer? De súbito, andei até o endereço indicado. Um pequeno cartaz mal-feito estava colado a parede da pequena e estreita porta. Toquei a campainha e uma voz surgiu no interfone lateral.

- Pois não?
- Vim pra ver a taróloga Carmem, a que resolve todos meus problemas.
- Pois bem, pode subir.

A porta fez um barulho e se abriu. Uma longa escada levava a um lugar escuro. Andei até lá. Carmem estava sentada em uma antiga poltrona, atrás de uma mesa redonda com uma toalha púrpura, onde cartas e pedras estavam espalhadas por cima.

- Pois bem meu jovem. Quais são seus problemas?

A taróloga Carmem tinha uma voz áspera e falava devagar. Fiquei estático, não sabia que diabos havia ido fazer ali.

- Senhora Carmem, vossa senhoria Carmem, excelentíssima Carmem, não sei como devo chamá-la...

- Apenas Carmem.
Ela me interrompeu.

- Pois bem, senhora Carmem. Gostaria de saber como conseguir uns trocados. É que ando passando por algumas dificuldades financeiras e...

- Você trabalha, meu filho?

- Trabalho sim senhora, dona Carmem.

- Você bebe, meu filho?

- Bebo sim senhora, dona Carmem.

- Beber faz mal. Parar de beber tens quê.

A taróloga Carmem então falava como o mestre Yoda. Pode parecer bizarro, e até inacreditável, mas por alguma razão estapafurdia o fato da taróloga Carmem falar como mestre Yoda me confortava. Eu era um grande fã de Star Wars e acreditava que de alguma maneira, eu poderia também ser um nobre cavaleiro não descoberto, tal como Luke Skywalker.

- Primeiro parar de beber deve. Para isso deve tomar todos os dias dez gotas disso aqui.

Carmem jogou em minha direção um vidro com um líquido verde-escuro dentro. Decidi que era hora de ir embora. Aquilo já estava ficando muito estranho. Nem aspirina eu tomava, quanto mais um remédio de cor esquisita fornecido por alguém que se dizia taróloga.

- Isso é uma poção mágica extraída de animais silvestres da África e combinada com ervas medicinais do Amazonas. Parar de beber vai em alguns dias. Caso não tome, continuar a beber vai, e muito perderá em breve.

Aquilo me arrepiou. Pude sentir a onda de medo tomando conta de mim. A taróloga Carmem era mesmo maluca, e se tomar o líquido me parecia ruim, ser amaldiçoado por aquela senhora que falava como Yoda me parecia pior ainda.

- Tomarei, senhora Carmem, tomarei. Mas agora preciso ir embora. Quanto devo à senhora?

- Meu filho, esse medicamento é raro, então o preço não é barato. Mas pra você farei por setenta reais mais o preço da consulta, que é vinte.

Estava apavorado. Não tinha mais consciência de mim mesmo. Não sabia o que fazer. Fiz o que era mais óbvio.

- Tudo bem, senhora Carmem. A senhora aceita cartão de crédito?

A taróloga Carmem retirou de debaixo da mesa uma máquina de cartão. Paguei e fui embora pra casa, com medo e preocupado.

Passavam-se das nove da noite. Eu bebericava uma cerveja e ouvia um disco do Creedence na vitrola. A preocupação me consumia. Deveria tomar o remédio já comprado e estar à mercê do que acontecesse por ele ou aguentar as consequencias da praga da taróloga Carmem? Resolvi que tomar o remédio era a decisão mais sentada.

O gosto era ruim. Lembrava vinagre com toques de açucar. Porra de animais silvestres africanos e frutas amazonenses o caralho. Aquela taróloga safada fazia isso com mantimentos estragados da cozinha e vendia por setenta reais. Mas de certo modo, teve um bom efeito. O tal líquido dava um sono danado, e aquilo me ajudou um bocado com meu duradouro problema de insônia.

Alguns dias depois, parecia ótimo. Estava sempre disposto, e realmente bebia menos. Aos poucos conseguia pagar minhas dívidas. Voltei ao recinto de dona Carmem e comprei mais dois vidros da tal poção com gosto de vinagre e açucar.

A vida ia bem. De alguma forma, as pessoas me tratavam melhor. sobrava mais dinheiro, e eu me via frequentando restaurantes de alta gastrônomia e bebendo vinhos importados. Com moderação, como a taróoga Carmem me prescrevera. Indiquei Carmem a amigos próximos que passavam por problemas. "Peça a poção verde, é tiro e queda", indicava com conhecimento de causa. "Isso tudo é uma bobagem, Rick. Essa mulher é uma vigarista e você está louco". Cretinos. Mal conheciam a taróloga Carmem e blasfemavam sobre ela. A pobre mulher só estava tentando ajudar pessoas em apuros.

Um dia, voltando pra casa, encontrei o homem franzino de óculos que entregava os panfletos da taróloga Carmem. Há algum tempo não o via por ali, e agora aparecia sem panfletos nas mãos. Resolvi conversar com ele, saber a razão de ter largado um emprego que indiretamente ajudava pessoas a irem ao caminho dos sábios conselhos da taróloga e de sua incrível poção.

"Garoto, aquela mulher é uma vigarista. Sinto muito em ter te feito ir até lá e gastado seu dinheiro, mas ela é uma vigarista", foi o que ele me disse.

"Porque você estava falando isso? A taróloga Carmem me ajudou. Estou muito melhor agora tomando a poção de animais silvestres e frutas do Amazonas", repliquei.

"Quatro pessoas que tomaram estas poções malucas dela morreram, e mais uma dúzia está no hospital."

Aquilo me fez subir um frio à espinha. Em casa, joguei os vidros fora. De repente, comecei a passar mal. Seria eu mais uma vítima da maléfica taróloga Carmem? De repente, a visão ficou turva e desmaiei.

Acordei de frente para um teto branco. Barulho em volta, pessoas conversando e muito agito. Era um hospital. O homem franzino de óculos havia chamado uma ambulância para minha casa, já prevendo o pior. Passei meses me recuperando. A tal poção era uma mistura de porcarias caseiras que haviam atacado o fígado de quem fazia uso delas. Depois de um bom tempo de cama, voltei para casa.

Resolvi passar no recinto de Carmem para tirar satisfações. Na frente, não havia mais o cartaz com seu nome. Toquei o interfone e ninguém atendeu. Uma vizinha, me vendo parado em frente à porta, disse que Carmem havia mudado. Com o dinheiro, comprara um carro importado e sumira no mundo. Nunca mais ouviram falar dela.

Voltei a beber, e me demiti de meu emprego. Tempos depois, fui preso por atacar uma cigana que agarrou minha mão numa calçada do centro da cidade. Soube que o homem franzino se suícidou de remorso. A polícia disse que a taróloga Carmem foi vista pela última vez no Rio de Janeiro. Havia realizado diversas plásticas e ao saber da procura dos oficiais havia fugido com um namorado modelo, loiro e alto para a Europa. Agora o problema era da Interpol, foi o que eles disseram. A taróloga Carmem conseguia mesmo resolver problemas. Ao menos, os dela.

segunda-feira, julho 11, 2011

o mundo caindo lá fora e eu tranquilo aqui dentro, assistindo os filmes que salvaram a minha vida.

segunda-feira, junho 13, 2011

Casablanca

Charlie acordou naquele dia sem saber o que fazer. Recém fora demitido de seu emprego como taxista. O chefe da companhia desconfiou que ele andava dirigindo após beber, o que não podia ser considerado uma mentira.

Charlie calçou os chinelos e tomou um banho quente no chuveiro elétrico do banheiro do quarto que alugava numa pensão mediana. A senhoria era uma grande pentelha, e não aceitava que se recebessem visitas após ás dez da noite. Ultimamente aquilo não tinha sido um grande problema, já que Charlie não tinha uma companhia feminina há um tempo considerável.

Charlie trocou de roupas e andou até a padaria. Tomou um café puro e comeu um pão com manteiga. Passou na banca de jornais e comprou a última edição de uma revista de cinema. Agora que estava desempregado Charlie vislumbrava a possibilidade de ver os clássicos que sempre ouvira falar e nunca tinha assistido. Nos tempos atuais as pessoas iam até os cinemas e pagavam para assistir filmes usando óculos coloridos. Charlie assistia Casablanca em sua televisão de quatorze polegadas e se indagava de como era sortudo aquele Humprey Boggart. O cara era dono de um bar e ainda tinha uma boa garota. O resto da história não importava muito para Charlie. Ele também gostaria de ter uma garota e ser dono de um bar, mas aquela era uma realidade muito diferente da sua.

Foi num dia comum em que Charlie se viu deparado com o inusitado. Ele acabara de entrar num bar e tomava uma dose de uísque barato quando a garota avançou porta adentro. Era loiar e tinha cabelos lisos mas desgrenhados. Usava uma maquiagem vagabunda e parcialmente borrada. A garota trajava um vestido preto curto e meias arrastão rasgadas. Nos pés, pobres sapatos de couro há muito desgastado. Charlie sentiu pena e atração pela garota ao mesmo tempo. Ela se sentou e por coincidência pediu o mesmo uísque barato que Charlie bebia.

A garota virou o copo em uma só talagada e pediu outra dose ao barman. Charlie permanecia quieto em seu canto. A garota virou a segunda dose, deixou uma nota no balcão e saiu porta afora. Charlie sentiu vontade de ir atrás dela. E foi isso qeu fez após pagar sua conta.

Charlie andou nas ruas escuras e viu que a garota se dirigia até uma esquina. Ela lixava as unhas e olhava ao relento. Charlie imaginou o qeu a garota pensava naquele momento. Talvez um grande amor perdido, nas contas a serem pagas no final do mês ou num filme de Humprey Boggart. Essa última hipótese era muito improvável, e Charlie sabia disso, mas gostava de acreditar em coisas de sua imaginação. Charlie já tinha uma experiência de vida considerável para saber que ela era uma garota de programa. Um carro se aproximou e a garota entrou após conversar por alguns minutos com o motorista. Charlie sabia que ela voltaria, então decidiu esperar.

Charlie esperou por horas a fio ao longo da noite enquanto a rua se tornava cada vez mais escura e deserta. Fazia frio, e Charlie usava um desses casacos leves que não tem grande serventia em baixas temperaturas. Charlie pensou em desistir, mas quando arriscou os primeiros passos em direção à sua casa, o carro parou e a garota desceu. Estava ainda mais desgrenhada e com a maquiagem ainda mais borrada, mas de alguma forma Charlie achou que ela estava ainda mais bonita dauqela forma. Era uma espécie de cachorro de raça abandonado. A qualidade estava lá, mas havia sido escondida por anos de sofrimento e uma vida estranha.

Charlie decidiu se aproximar. A garota não o notou. Charlie a tocou no ombro, enquanto arriscou algumas palavras. Sua voz se embolou, e Charlie gaguejou perguntando o nome da garota.

"Você não precisa saber meu nome, se quer saber só o preço". Charlie não estava interessado no preço. Ele não tinha dinheiro e não era o tipo de relação que gostaria de estabelecer com aquela garota. "Hoje eu me chamo Judy, ok? Judy, mas só por hoje". Charlie se apresentou com seu nome verdadeiro e tentou puxar algum tipo de assunto. Sua voz não saia, e a garota já o olhava com desinteresse. "Você já assistiu Casablanca?", foram as únicas coisas que Charlie conseguiu dizer. "Nunca ouvi falar nisso, mas se você tem uma casa branca e bonita eu acho é ótimo". Charlie não tinha uma casa branca e bonita, e nem mesmo sabia mais o que dizer. Se afastou da garota sem dizer tchau. Andou alguns passos e recostou-se atrás de um muro. Ainda podia ver a garota, mas ela não podia mais ver Charlie.

Dali há pouco outro carro encostou. A garota entrou e sumiu novamente. Charlie decidiu que era hora de voltar pra casa. Caminhou com milhões de ideias do qeu deveria ter feito na cabeça, e se sentiu patético por tudo aquilo.

Charlie chegou ao seu quarto de pensão, serviu-se de uma dose de uísque e assistiu Casablanca mais uma vez. A garota do filme se parecia com Judy, ou qualquer que fosse seu nome. Charlie adormeceu com o copo na mão antes do final do filme. Naquela noite, ele sonhou que era Boggart e que Judy era a garota do filme. Mas Charlie sabia que eles nunca teriam Paris, e provavelmente nunca teriam nem mesmo aquele quarteirão escuro e frio.

O dia seguinte era uma segunda-feira, dia de faxina na pensão onde Charlie morava. A empregada tinha uma chave própria, que usava para entrar e limpar quarto por quarto. Quando entrou no quarto de Charlie, se deparou com o vazio. Todas as coisas tinham sumido, e também o homem que desde que fora demitido dormia até meio dia. Eram dez e meia da manhã, e um bilhete havia sido deixado na cama. A camareira não sabia ler muito bem, mas com alguma dificuldade pode decifrar as palavras escritas naquele pedaço de papel. "Fui pra Casablanca. Diga pra Judy que a estou esperando lá". Charlie nunca mais foi visto desde então, e sua ausência não foi muito sentida.

Judy continou trabalhando na mesma esquina, e nem mesmo se lembrou daquele homem estranho que dizia ter uma casa branca. Charlie foi encontrado anos depois, em um antigo cinema do centro da cidade que exibia Casablanca em uma sessão retrô especial. O lanterninha pode perceber que ele estava frio e não respirava quando as luzes se acenderam. Naquela mesma noite, Judy foi espancada por um cliente violento. Por alguma razão, ela lembrou-se de Charlie. "Talvez aquele fosse um homem bom", foi o que ela pensou enquanto a ambulância a levava para o hospital. Judy nunca mais foi tão bela.

only the lonely

Eu costumava me sentar sozinho com uma pequena cerveja na mão enquanto ficava olhando o disco girar na vitrola e Roy Orbinson cantar para o quarto vazio. Naquele tempo eu passava muito tempo sozinho, ainda mais tempo do que passo hoje. Naquele tempo eu quase não saia do quarto, o que poderia ser muito bom ou terrívelmente mal ao ponto de eu quase enlouquecer. Pedia pizza pelo telefone e ficava esperando o entregador atrás da porta, e quando ele chegava em abria só uma fresta, sem soltar aquela corrente que prendia a porta ao batente, e pedia pra ele passar a pizza na vertical mesmo, e era o que ele fazia. É óbvio que isso fazia com que o queijo grudasse na tampa da caixa e que a pizza muitas vezes ficasse toda danificada, mas eu não queria ver ninguém naquela época, muito menos o entregador de pizza. Infelizmente, vez ou outra eu ainda precisava sair pra comprar cigarro e reabastecer a casa com cerveja, comida e outros suprimentos de necessidade. Eu me escondia entre as ruas e procurava sair num horário tranquilo, como onze da noite às duas da manhã, quando o supermercado 24hs já estava praticamente vazio. Eu colocava tudo no carrinho e corria pro caixa, e não respondia nem mesmo a menina do caixa quando ela perguntava se eu queria o tal cpf na nota. Tudo o que eu conseguia fazer era balançr a cabeça negativamente enquanto olhava pra baixo e empacotava tudo o mais rápido possível. Aí eu voltava pra casa, abria mais uma cerveja e ficava ouvindo Roy Orbinson no vinil.

Um dia o disco do Roy Orbinson quebrou. Percebi que era hora de sair de casa. Coloquei as mesmas roupas velhas que quase não saiam do armário e decidi procurar um emprego. Parei na banca de jornal da esquina e olhei os classificados. Nada parecia interessante, então amassei o jornal e o joguei no lixo.

Parei pra tomar café numa dessas lanchonetes vagabundas que ficam nas esquinas das avenidas movimentadas. Tinha pedido com açucar, mas eles só tinham adoçante. Tomei puro, enquanto pensava o que poderia ser feito do resto da minha vida. Paguei a conta e saí da lanchonete. Andei alguns passos, desviando das pessoas que caminhavam rápido e se ultrapassavam no ritmo da cidade, até que parei e vi aquele grande prédio. "RÁDIO ROLL" era o que dizia no letreiro. Decidi subir.

Na portaria, o segurança queria saber quem eu era. "Eu sou sobrinho do Dr Fernandes, vim do Rio de Janeiro pra falar com ele". Eu não tinha nenhum tio vivo, nem mesmo algum parente ou conhecido que se chamasse Fernandes, mas sabia que em toda empresa havia um deles. O segurança se sentiu muito confuso para ligar e confirmar, e como provavelmente achou que eu não oferecia perigo, me deixou subir.

Entrei no elevador e subi até o oitavo andar. Eu não sabia o que havia no oitavo andar, mas me soou como um bom número. Era onde ficavam as salas de mixagens. Perambulei um pouco por lá, até perceber que não tinha nada que me interesasse. Peguei as escadas e fui até o sétimo. Alguma espécide e escritório administrativo, também não era nada que me interesasse. Entrei no elevador novamente e desci no 10o andar. Ali estavam elas, as cabines de produção. Os locutores falavam de salas com vidros e paredes espumadas, enquanto produtores e redatores corriam sem notar minha presença. Andei mais um pouco, até achar a sala de discos. Música clássica, MPB, Samba, Trilha Sonora. Chequei as sessões até achar aquela que me interessava. "Rock and Roll, clássicos". Procurei entre alguns discos até achar e puxar um deles para mim. "Roy Orbinson, the best of". Andei com o disco procurando alguma vitrola. Um lugar daquele tamanho e não havia uma vitrola. Decidi ir até as salas de locução, onde os esbaforidos locutores falavam ao público e colocavam os últimos sucessos para tocar. Achei uma vitrola, logo ao lado da sala de um desses locutores. Coloquei o disco, posicionei a agulha e deixei tocar. Apertei alguns botões da gigante máquina cinza que estava acima da vitrola. O disco começou a tocar. Girei um botão que parecia ser de volume, e aumentei até o máximo. O som dominava todo o ambiente. Roy Orbinson cantava que só os solitários sabem como ele se sentia naquela noite. Only The Lonely soava alto e eu encarava o disco girando como costumava fazer em casa. Então, eles chegaram.

A coisa toda durou pouco menos de cinco minutos. Os seguranças me agarraram e me levaram para o elevador. Funcionários gritavam desesperados enquanto mexiam nos diveros botões da máquina. O locutor estava ainda mais esbaforido, e parecia muito sério ao falar com os ouvintes, muito diferente da disposição animada que demonstrada ter antes. "A porcaria da sua música tocou pra todo o país, seu filho da puta, pra todo o país, você tá entendendo?". Eu não estava entendendo. "Que porra te deixou entrar aqui, seu ...." e debandou a me chamar de todos os tipos de palavrões possíveis. Eu ainda não estava entendendo. Me jogaram pra fora do prédio, e disseram que eu tinha sorte por eles não chamarem a polícia. Estava me levantando quando senti algo ser arremessado na minha barriga e cair nas minhas pernas. "E leva essa porcaria daqui, seu infeliz". Era o disco de Roy Orbinson. Peguei-o com as mãos e caminhei até o mercado. Comprei algumas cervejas e uma lasanha congelada, e dei boa noite para a caixa quando saí. Cheguei em casa e coloquei o disco de volta na vitrola enquanto tomava uma cerveja devagar. Roy Orbinson era mesmo sensacional.

domingo, junho 12, 2011

o único poema

Esse é o único poema
que eu posso ler
Sou o único
que pode escrevê-lo
Não me suicidei
quando as coisas deram errado
Não acabei
nas drogas ou no magistério
Tentei dormir
mas quando não conseguia dormir
Aprendi a escrever
Aprendi a escrever
o que pudesse ser lido
em noites como essa
por alguém assim como eu

Leonard Cohen
who cares what it does
since you broke my heart?

terça-feira, junho 07, 2011

Todas elas acham que eu nao passo de um garoto estúpido. E o pior é que na maior parte das vezes elas estao mesmo certas. O grande problema é que eu nao vou ser sempre um garoto, mas provavelmente vou ser sempre estúpido. "Eu nao quero machucar seu coração". Elas dizem esse tipo de bobagem o tempo todo, é foda de aguentar. "Você vai conhecer garotas incríveis, e vai se apaixonar e vai se separar". É foda de aguentar. "Eu já estou conformado", é só o que eu posso dizer. "Você tem só 21 anos, não devia pensar assim". Meu Deus, será que elas nunca percebem que 21 anos é tempo demais pra um estúpido como eu? Elas deveriam perceber. Oh, sim, elas deveriam perceber. É nesse tipo de bobagem que eu penso quando abro uma dúzia de cervejas pequenas compradas na promoção do posto da esquina e ouço um disco do Clash. É esse tipo de coisa que me faz ficar abismado com todo tipo de coisa. Elas não entendem, elas continuam achando que é só uma fase. "Você vai parar de beber tanto, e com sorte também para de fumar." Será que elas não entendem qeu eu não quero parar de beber, e muito menos de fumar? Quando é que será que elas vão entender esse tipo de coisa? E passo as noites me indagando cretinices dessa natureza. Mas está tudo bem. Eu sei que em breve elas irão embora, e eu ficarei novamente sozinho, encarando essas paredes, bebendo cervejas e vendo a fumaça do cigarro subir para o teto do quarto e sumir pela janela. E os mesmos discos estarão tocando na vitrola. E então eu saberei, com uma certeza esúpida como eu, que em todos os outros pontos elas provavelmente estavam cobertas de razão, mas, pelo menos nesse, eu venci.
meu amor, eu não menti
quando disse que eu
precisava partir.
é que estou de mudanca
e os vizinhos nao gostam mais de mim
mas não tem problema, meu amor
eu nao posso ter
uma grande despedida
e que as coisas já estao
todas arrumadas
e eu estou de partida.
fica com deus, querida
quem sabe não nos vemos
na próxima vida.

domingo, maio 15, 2011

Deus, você sabe que eu nunca te pedi
muitas coisas.
talvez eu tenha sido
um mau garoto
talvez eu tenha aprontado
poucas e boas
e bebido demais
e magoado pessoas
de bom coração.
mas Deus, você também sabe
que eu não sou de todo mal
eu fiz coisas das quais me arrependo
mas tudo que sempre te pedi
foi apenas
uma boa garota
que de preferência
goste dos Ramones
e de filmes do Sergio Leone.
Deus, eu sei que não fui bom
mas não é pedir muito
ter alguém pra fazer companhia
numa noite quieta e fria
como essa
que me restou.
quando seus fantasmas não tem mais nome
quando as assombrações te perseguem
sem se identificar
sem mostrar o rosto
atrás de você
todo o tempo
tentando te pegar
te arrastar
pra algum lugar.
quando seus fantasmas te rodeiam
de forma sorrateira e delicada
e te dão conselhos ao pé do ouvido
e te encaminham pra fora dos trilhos.
quando as assombrações estão de volta
te inspirando às coisas ruins
te fazendo desacreditar
te fazendo querer mudar.
não dê ouvidos
elas irão embora
pra nunca mais voltar.
essas malditas assombrações
não passam de estúpidas alucinações
vivendo dentro da sua cabeça
bem atrás dos teus olhos
onde você
nunca pode enxergar.
fico te pedindo pra voltar
mas eu sempre soube que você
nunca esteve aqui
perto
de mim.
vejo os gatos pela janela
vadiando pela noite
como eu costumava fazer
em tempos não tão distantes.

tomo café e fumo cigarros
como se o mundo fosse acabar.
me agarro a meus livros de cabeceira
e rezo pra algum tipo de deus
tentando não chorar.

o roteiro é sempre o mesmo
e eu continuo fazendo
as mesmas coisas que fazia
há anos atrás.

nunca consegui descobrir
se isso é bom ou não
é só a mesma velha solidão
que nunca me abandonou.
We're nothing but the idiots we used to laugh about.
I'm just livin my life
I hope you understand what I say
I always get the other way.
you'd never knew
how much you've helped me
to get through
Sentado na calçada, contemplando a lua com meu maço de cigarros.

sábado, maio 07, 2011

eu guardo uma garrafa de uísque no armário
e nas noites tristes
eu bebo ela sozinha
contando os dias
pro mundo acabar.
All the love poems that I wrote for you (and for the other girls too)
eu sabia que um dia
esqueceria seu telefone
que as coisas passariam
e eu não mais me importaria
com qualquer coisa que você pensasse
sobre mim.
eu sabia disso tudo, baby
e não sei porque
eu me deixei enganar
eu me deixei ser feito
de tolo, de um inocente
apaixonado por seu destruídor encanto
mas nada mais disso importa
agora que as coisas passaram
agora que nem mesmo lembro
seu velho número de telefone.
você achou que eu ia me importar a vida inteira
mas a vida inteira é demais
mesmo para alguém
como eu.

domingo, maio 01, 2011

isso tudo que você faz comigo
me destrói, me acaba
me deixa mais triste
que os pobres diabos
que se encontram por aí.
isso tudo que você faz comigo
me faz pensar em como a vida é ironica
em como as coisas podem ser
terrivelmente cruéis.
isso tudo que você faz comigo
é talvez a pior coisa
que eu já tenha sofrido.
penso em você, bela e cruel
seus pretendentes te darão flores,
te prometerão seus amores
entre outras muitas coisas
que não cabem aqui ser ditas.
quanto a mim, quando penso em
tudo isso que você faz comigo
desejo do fundo da minha alma
nunca ter te conhecido.

quinta-feira, abril 28, 2011

vou declarar meu amor
para garotas que não amo
e ver se isso me ajuda
a te esquecer.
vou dizer a elas
tudo que eu sempre
quis te dizer
talvez elas possam
entender.
vou recolher flores de praças
e fazer coisas espontâneas
e ser uma pessoa apaixonante
talvez elas possam
reconhecer.
vou fazer tudo aquilo
que eu queria ter feito
por você
vou fazer tudo aquilo
que eu queria que fizessem
por mim mesmo.
desta vez eu espero
que as coisas se tornem
mais que um desejo.
vou escrever os melhores poemas do mundo
mas dessa vez, meu amor
eles não serão sobre você
acredite em mim quando eu te digo
você teve sua chance
mas eu não sou um brinquedo
por favor, não me odeie
isso é tudo
o que eu preciso fazer.

quarta-feira, abril 27, 2011

quando a última cerveja se acaba
quando seu último amor foi embora
sem te dar ao menos um beijo
sem te dizer ao menos
adeus
quando tudo isso caí na sua cabeça
quando Deus parece estar distante
e quando os discos são seus melhores amigos
quando a vida corre, corre, mais rápida do que nunca
quando você se imagina feliz
quando você se questiona
o que é felicidade
ou o que é tristeza
quando você sabe o que é tristeza
e quando não gosta nem um pouco
disso tudo.
quando você reza sem nem ao menos
acreditar
quando você chora sem nem ao menos
ter lágrimas pra rolar.
quando tudo isso acontece
quando nada acontece.
quando a última cerveja se acaba
e quando seu último amor já foi embora
sem nem ao menos te dar um beijo
só o que você pode fazer
é se agarrar
ao seu último
desejo.
eu já vivi essa história toda antes
e todos os capítulos
foram ruins.
eu sei decor
o que vai acontecer
no próximo ato.
eu também posso te dizer
o meu próprio.
eu só queria que pelo menos uma vez
uma de vocês não fosse
tão cruel.
pode não parecer
mas vocês são provavelmente
as coisas mais cruéis que já me aconteceram.
e por algum motivo estúpido
eu continuo seguindo em frente
e continuo caindo
nas mesmas velhas
amardilhas.
já não acho que algo mude
é sempre a mesma história
e eu tenho sempre o mesmo papel.
só o que muda
é a outra personagem.

domingo, abril 24, 2011

Preciso me manter um tempo afastado da bebida e das pessoas ruins, e reler livros de Jack Kerouac e cantar canções felizes dos Beach Boys, sonhando com um tempo melhor. Um tempo melhor.

sexta-feira, abril 22, 2011

porque tudo que buscamos é a santidade que nunca encontramos.

quarta-feira, abril 20, 2011

I thought i could be happy
I thought i could be free
can't you see, baby
i'm nothing but me.
let's drink and celebrate to the life we never had.

segunda-feira, abril 18, 2011

você tem que viver
você tem que se contradizer
que arrumar problemas
e ás vezes, algumas brigas
alguma confusões
algum tipo de indecisão
e dizer coisas infundadas
e ter sua próprias convicções.
você tem que viver a vida
que conhecer garotas adoráveis
e se apaixonar
e se entregar
de corpo e alma
mesmo que isso signifique
sua ruína.
você tem que beber
quieto, e fazer poucos comentários
sobre a condição humana
sobre o que as pessoas deveriam estar fazendo
ou sobre maneiras de salvar o mundo.
você tem que ter amigos, e tratá-los como se aqueles momentos
nunca mais fossem voltar
porque você bem sabe que na verdade
eles não irão.
você tem que viver
que aprender
de maneiras dolorosas
e fazer coisas estúpidas
e dizer coisas boas
e algumas poucas
ruins.
você tem que viver
mesmo que isto
custe caro.
você tem que viver
mais do que você pode
mais do que você iria
se pudesse escolher.
você tem que viver
mesmo que isso signifique
se perder
de uma vez
por todas.
eles não sabem o quanto são sortudos
eles nem mesmo imaginam
o quanto a vida foi complacente
os dando estas cabeças vazias
estes pensamentos rasos
e problemas que podem ser resolvidos
com algum dinheiro ou
alguma boa vontade.

eles não sabem o quanto são sortudos
por não ter que viver todos os dias
as mesmas coisas
que se passam
por aqui.

eles não sabem o quanto são sortudos
por financiamentos, hipotecas,
contas de água, luz e telefone.

eles não sabem o quanto são sortudos
por passarem como foguetes
por não deixarem rastros
por não viverem de forma tão
inconsequente.

eles não sabem o quanto são sortudos
por não ter que viver todos os dias
as mesmas coisas
que se passam
por aqui.

eles não sabem o quanto são sortudos
talvez eles nunca
irão saber.

quarta-feira, abril 13, 2011

I'm not as good as you think I am. I'm not as good at all.
eu quase te esqueço
garota, eu enlouqueço
quando você volta
e diz os maiores absurdos
que eu ainda sou idiota o suficiente
pra acreditar.
eu quase te esqueço,
quando você não aparece
te imagino com outros idiotas
tão idiotas quanto eu
mas um pouco mais sortudos
por ter você, mesmo por
pouco tempo.
eu quase te esqueço,
garota, eu enlouqueço
tentando
te esquecer.

domingo, abril 10, 2011

over the river flow

you threw my dreams
over the river flow
and down they go
and down they disappear
to never come back
to never come true.
when you leave
you took then with you
you just disappear
you don't even leave a clue.
I wonder how you're doing now
I wonder where you've been
I've hope someday
you could bring my dreams
back to me.

deep inside my heart

it's inside of me
deep inside my heart
there's this thing
beating, exploding, making fun of me.
deep inside my heart
where it lives
where it makes all those
cheap tricks with my life.
it's inside of me
telling me to do things wrong
telling me to be like this
to put myself in trouble
to make mistakes, to lose my fates
it's inside of me
deep inside my heart
beating, exploding, making fun of me
telling me I can't win
telling me I'd never be
as great as they are.
deep inside my heart
where it lies
quietly and sadly
making me feel
the worst guy
and it's terrible
even being just
for a while.

the truest thing

I cried rivers for you
I cried then all
I cried desperately
I cried sadly and
thought the world would fall apart.
thought I've never been smart
for loving you
so much
that my heart aches for your brightness
that my heart cries for your sadness
oh baby,
I cried rivers for you
and believe me
that's the truest thing
I could ever do.

essas belíssimas cretinas

essas belíssimas cretinas
sempre acabando com a minha vida
de uma forma ou de outra
elas sempre estão de volta
em corpos diferentes
com cores de cabelo diferentes
em idades e tamanhos
diferentes.
elas sempre estão de volta
reaparecendo como assombrações
elas continuam dizendo
as mesmas velhas desculpas
as mesmas velhas bobagens
e eu continuo acreditando
eu continuo me acabando
e implorando, me humilhando
mesmo sabendo que no final
vou acabar no mesmo lugar em que
sempre estive.
porque de uma forma ou de outra
eu não poderia viver sem
essas belíssimas cretinas.

sexta-feira, abril 01, 2011

"Há sempre uma mulher para te salvar de outra, e assim que ela o salva está pronta para destruí-lo"

Charles Bukowski

segunda-feira, março 28, 2011

- O que você faz?
- Sou escritor.
- Que tipo de escritor?
- Do tipo que ninguém lê.

terça-feira, março 22, 2011

but I'd never knew
what could I've done
without you.

segunda-feira, março 21, 2011

i think about you
everytime
i'm all alone
and i'm all alone
everytime
i think about you.
what can I do, my lover
now that the beer
is over.

some girls made it worth

some girls
they made it worth
they made it worth everytime they
say they love us
and they love our sad poetry
(even if it's not true)
there are some girls
who smile sincerely
and made me believe
about a whole new world
of good things
(even if this world don't exist)
but these girls
made it all worth
i hope i can say
that i love 'em
even if they're just
three of then.

domingo, março 20, 2011

foi em vão
ou não?
eu não sei
nunca soube
e acho que nunca
vou saber
o que eu faço
pra você
não me esquecer?
pros diabos, baby
acho que eu finalmente
cansei de sofrer.
você pode não acreditar
mas há pessoas cujo simples sorriso
nos faz acreditar
em algo
melhor.
- Você não faz o meu tipo.
- E quem faz?
- Basicamente, ninguém.

Confession

waiting for death
like a cat
that will jump on the
bed

I am so very sorry for
my wife

she will see this
stiff
white
body
shake it once, then
maybe
again

"Hank!"

Hank won't
answer.

it's not my death that
worries me, it's my wife
left with this
pile of
nothing.

I want to
let her know
though
that all the nights
sleeping
beside her

even the useless
arguments
were things
ever splendid

and the hard
words
I ever feared to
say
can now be
said:

I love
you.

Charles Bukowski

quarta-feira, março 16, 2011

We are all in the gutter, but some of us are looking at the stars.

Oscar Wilde

Depois da tempestade dourada, aonde os bares continuam abertos

E de repente eu me lembro de noites não tão distantes assim, eu e meu grande amigo Kurt na Parati de seu pai, escutando o After The Gold Rush, bêbados, indo atrás de drogas, indo atrás de garotas, indo atrás de bares, sacando que apesar daquela cidade ser um poço de indiferença e tédio nós ainda sacavámos alguma coisa, ainda estavamos tentando alcançar alguma coisa, porque, por Deus, a vida ainda pode ser boa quando quer. E pra falar a verdade, não tinha nada demais acontecendo naquela época. Nós dois andavamos muito tristes por causa de garotas que tinham nos abandonado, e aquele disco do Neil Young caía como luva pros nossos estados de espírito, abandonados e tristes, e tentando de alguma forma alcançar o céu, nosso próprio céu, não importando o que ele significasse. E é odioso pensar que na época não valorizávamos muito aquilo. Parecia só o tédio, e mais nada. Mas tinhamos um ao outro, uma grande amizade, um grande parceiro esse Kurt, e nós divagávamos sobre nossas decepções sem entrar em muitos detalhes, porque claramente não nos sentiamos bem falando daquilo com ninguém, nem com nós mesmos. E tudo isso fica ainda mais claro agora, percebendo que esses dias nunca mais vão voltar. O que nós podíamos ter feito? Nós vivemos. Era o que nos restava fazer. E agora restaram essas lembranças. Bons tempos, eu te digo. Apesar de tudo, apesar de tristezas, amarguras e outras coisas ruins, nós vivemos bons tempos. Nos embebedamos e lamentamos, e corremos atrás de diversão, na maioria das vezes não a encontrando, mas nós corremos atrás, e eu te digo aqui, que devo agradecer esse meu grande amigo e a vida e até mesmo aquela garota que acabou comigo na época, por entender que eu era um miserável, mas eu ainda tinha algo pra correr atrás. E independente do que fosse, eu iria correr atrás. E muito obrigado a todos eles, a Neil Young, e aos bares que permaneciam abertos até ás cinco da manhã. Sem esse tipo de coisa, talvez eu não soubesse mais o que fazer. Mas será que um dia eu soube?

segunda-feira, março 14, 2011

fora da cidade essa noite

não é nada além
do que eu já disse antes.
continuo bebendo
continuo fumando
e até sonhando.
oh, baby, gotta get out of this town
tonight.

mais do que você jamais vai saber

é tudo mentira
você nunca me amou
nem você nem ninguém
mas você acha que eu ligo?
não, eu não ligo
eu continuo tendo
meus discos e livros
e nada do que você diga
vai mudar isso.
eu prefiro ficar
quieto no meu canto
eu prefiro chorar,
desabar em pranto
mas eu não vou mais me arrastar
oh, eu não vou mais me humilhar
eu ainda prefiro
ficar quieto no meu canto.
você acha qeu eu ligo?
afinal de contas eu ainda tenho
meus discos e livros.
e isso é mais do que você
jamais vai saber.

esses versos sem-vergonha

baladas de punk rock
sobre garotas que se foram
garotos bêbados que tocam guitarras
arregaçando os amplificadores.
mas eu não toco guitarra
na verdade eu não toco é nada.
aí eu sento aqui, escrevo esses versos sem-vergonha
pensando nos amores que eu tive e que se foram
pensando em dar um gole de uísque direto da garrafa
mas já tá meio tarde, e amanhã eu tenho que trabalhar.
então eu desencano, deixo a ideia pra lá.
e ouço mais uma balada punk rock
pensando o que eu devo fazer
pra tudo melhorar.

Elvis Presley tocando na madrugada

Elvis Presley tocando na madrugada.
eu solitário no meu quarto.
Oh baby, tu não imagina
a falta que me faz.
oh baby, tu não imagina que estranho
é ficar ouvindo o alarme dos carros disparados na rua
ás 02:17, totalmente sozinho, lendo um livro e imaginando
que diabos acontece quando a gente passa por algumas curvas da vida.
oh baby, tu não imagina
a falta que me faz.
tu não imagina
e nunca vai imaginar.
mas não tem problema.
de alguma forma
eu nunca vou te abandonar.

sexta-feira, março 11, 2011

Uma Noite em Newhaven

Subitamente, senti-me tão tremendamente feliz que tive ímpetos de levantar-me e gritar ou cantar. Mas só podia pensar: "Bon voyage!". Que frase aquela! A gente passa a vida inteira vagabundeando por aí, a murmurar uma frase tomada por empréstimo aos franceses, mas, será que alguma vez, realmente, chegamos a fazer uma boa viagem? E será que compreendemos que, mesmo quando caminhamos até o bistrô ou até o armazém da esquina, o que estamos fazendo é partir numa viagem, da qual talvez não retornemos jamais? Se acaso sentíssemos intensamente que cada vez que zarpamos de casa, embarcamos numa viagem, será qeu nossas vidas seriam um pouco diferentes do que são agora? Enquanto fazemos nossa viagenzinha à esquina, a Dieppe, a Newhaven, ou a outro lugar qualquer, a Terra também está viajando, para ninguém sabe onde, nem mesmo os astrônomos. Mas, todos nós, quer nos movamos daqui à esquina, ou daqui à China, viajamos juntos com nossa mãe, a Terra, que viaja junto com o Sol, o qual, por sua vez, arrasta consigo todos os planetas... Marte, Mercúrio, Vênus, Netuno, Júpiter, Saturno, Urano. O firmamente inteiro viaja, e, se você prestar atenção, poderá ouvir o ecoar de um "Bon Voyage!" "Bon Voyage!" Se você se mantiver bem quieto, sem fazer perguntas tolas, compreenderá qeu viajar nada mais é que uma idéia; que tudo na vida se resume nisso, numa viagem dentro de outra. Que a morte não é a última delas, mas o princípio de uma outra, cujo porquê e destno desconhecemos. Mas, mesmo assim, "Bon Voyage!" Tive vontade de levantar-me e cantar tudo isso em dó menor. Via o Universo como uma rede de caminhos, alguns profundos e invisíveis como as órbitas planetárias; e, nesse vasto e nebuloso ziguezaguear pelas passagens fantasmagóricas, existentes entre um domínio e outro, podia ver todos os seres, animados e inanimados, acenando uns para os outros: as baratas para as baratas, as estrelas para as estrelas, o homem para o homem, Deus para Deus. Todos a bordo, para a grande viagem a lugar nenhum. Mas, de qualquer maneira, "Bon Voyage!" Da osmose ao cataclismo, tudo é perpétuo movimento, vasto e silencioso. Permanecer imóvel, dentro deste grande e alucinado movimento, mover-se com a Terra, por mais que ela cambaleie, unir-se às baratas, às estrelas, aos homens e aos deuses, isso é viajar! E, lá fora, no espaço onde nos movemos, onde deixamos nossas trilhas invisíveis, será possível que se ouça um eco débil e sarcástico, uma vozinha inglesa, untuosa e anêmica, perguntando com incredulidade:

"Ora, vamos, Sr Miller, não me está querendo dizer que também escreve livros de medicina?"

Sim, por Cristo, agora posso afirmar com a consciência tranquila. Sim, Sr João-Ninguém de Newhaven, eu também escrevo livros de medicina, maravilhosos livros de medicina, que curam todos os males no tempo e espaço. De fato, agora mesmo estou escrevendo o maior de todos os purgativos da consciência humana: o sentimento de viagem!

Henry Miller - Dias de Clichy e Uma Noite em Newhaven

Feliz Ano Velho

Foi o que eu prometi a mim mesmo. "Se eu não voltar a andar, darei um jeito qualquer pra me matar." Era bom pensar assim. Eu não tinha medo de morrer. Era muito mais fácil a morte que a agonia daquela situação.

- Parabéns, Marcelo. Foram vinte anos bem vividos. Deixará muitas saudades, alguns bons amigos, umas fãs. Fique tranquilo, o Cassy sabe tocar algumas de suas músicas. Um dia, quando ele gravar um disco, irão saber que você existiu. Mas também, se não souberem, tanto faz. De que vale a eternidade? Um orgasmo dura poucos segundos. A vida dura poucos segundos. A história se fará com ou sem a sua presença. A morte é apenas um grande sonho sem despertador para interromper. Não sentirá dor, medo, solidão. Não sentirá nada, o que é ótimo. O sol continuará nascendo. A terra se fertilizará com o seu corpo. Suas fotografias amarelarão nos álbuns de família.
Um dia alguém perguntará:

- Quem é esse cara da fotografia?
- Ninguém que interesse.

Meu R.G. irá para outra pessoa. Meu violão se desintegrará em algum depósito de velharias. Meu gravador será roubado por um trombadinha. As cuecas, minhas irmãs poderão guardar para seus filhos, mas aconselho jogar fora, pois até lá já estarão fora de moda...

Marcelo Rubens Paiva - Feliz Ano Velho

segunda-feira, fevereiro 21, 2011

Imagino se meu irmão algum dia lesse isso

Imagino se meu irmão algum dia lesse isso. Com certeza ele repudiaria, com gentileza eu espero, ele diria talvez o mar seja tudo o que você disse, uma máquina de sonhos, um olho de vidro e assim por diante, mas mesmo que seja verdade é melhor não dizer. Hoje posso lhe contar algo que nunca soube quando vivia ao seu lado, que é um luxo ser capaz de deixar as coisas não ditas, um luxo compartilhado por poucos. Os filhos do vento e das águas não precisam nomear o que seu sangue já sabe, mas quantos podem dominar essa economia, quantos mais devem arranhar e escavar o mundo de mil maneiras diferentes só para estabelecer uma mínima conexão com suas próprias vidas. Heróis e quase heróis, as crianças sagradas intencionavam as constelações à espera, elas podem desdenhar dessa forma de suplicar ao mundo horizontal com palavras e metáforas organizadas, mas não tenho o seu equilíbrio, como tantos têm, eu não inteciono nada, não estou apto a ascender em direção à glória, então devo tropeçar entre meus extremos, devo pechinchar pelo amor que terei, fora de minha breve história particular não há paixão que me revele, como nenhuma singularidade me reivindicou então devo ceder às desbotadas políticas do ordinário, e rogar aos deuses para que eu os prove irreais, assim como eu e meu irmão costumávamos embaçar as vidraças com nosso hálito para que pudéssemos desenhar nelas com os dedos. Ele desenhava contornos para os quais eu planejava olhos complicados, e ninguém te pede para decidir qual de nossos esforços era mais signficativo.

Leonard Cohen

You Do Not Have To Love Me

You do not have to love me
just because
you are all the women
I have ever wanted
I was born to follow you
every night
while I am still
the many men who love you

I meet you at a table
I take your fist between my hands
in a solemn taxi
I wake up alone
my hand on your absense
in Hotel Discipline

I wrote all these songs for you
I burned red and black candles
shaped like a man and a woman
I married the smoke
of two pyramids of sandalwood
I prayed for you
I prayed that you would love me
and that you would not love me

Leonard Cohen

sexta-feira, fevereiro 18, 2011

Estou no céu quando você sorri

Os dias se arrastando e eu ouvindo Van Morrison e os Kinks o tempo todo. Moondance, Saint Dominic's Preview, Arthur, Lola vs The Powerman and the money go round, village green preservation society. Disco e discos e música de qualidade me animando em dias preguiçosos e sonolentos, passando o tempo inteiro no meu quarto de pensão, bebericando cervejas e andando por São Paulo, lugares incríveis, preços abusivos, garotas maravilhosas que nunca vou conhecer. É tudo um pouco Nova Iorque, é tudo muito São Paulo, e quase nada de Londrina. Sinto falta dos amigos. Sinto falta de coisas que não sei quais são. E tudo vai passando devagar e o mundo girando enquanto lembro de sonhos juvenis. Ter uma lambretta, uma jaqueta de couro e ouvir Eddie Cochran o tempo todo. Uma garota loira, ou ruiva, ou até mesmo morena, de vestido de bolinha, agarrada na minha cintura. A lambretta voando e zunindo pelas ruas desertas. Mas São Paulo não tem ruas desertas, e eu não tenho uma lambretta, e nem mesmo uma garota loira, ruiva, ou até mesmo morena. Tudo o que eu tenho são esses sonhos esquisitos e dias tediosos, mas ainda assim, fantásticos. Não sei por que razão eu sou assim. E não sei por que razão eu gosto de ser assim. Ás vezes desgosto, é claro, mas, não há nada demais. Sol e chuva o tempo todo, o verão estranho derrubando água atrás de água e a cidade virando um caos inatingível com seu trânsito e pessoas apressadas indo e voltando do trabalho, da faculdade, de qualquer lugar. Conheci uma garota, ruiva, linda de morrer. Mas ela não gosta dos Beatles. Como alguams pessoas não gostam dos Beatles? Não consigo entender. Mas ela era uma graça. Ela gosta de punk rock, e isso também é legal. Eu também gosto bastante de punk rock, mas confesso que já gostei mais. Mas ela sorri de um jeito especial, e algo acontece quando garotas bonitas sorriem pra mim. E vejo os pobres diabos que jogam xadrez ás quatro horas da tarde em praças do centro da cidade. E fumadores de crack pedindo esmolas, o centro todo decadente, todo feio, perigoso e estranho, o mais Nova Iorque que a América do Sul já conseguiu chegar. Jackie Wilson disse Reet Petite e eu estou no céu quando você sorri.

quarta-feira, fevereiro 09, 2011

"We're on a mission from God"

Coloco uma música triste do Tom Waits e fico pensando que diabos eu tô fazendo aqui de volta, aqui nessa cidade, no meio de milhões de malucos, mais um maluco, perdido, tentando encontrar o rastro de uma estrela cadente que me diga algo além de uma incerteza estranha que eu venho carregando desde que eu era só um garoto, mas afinal de contas, eu ainda sou um garoto. De volta a São Paulo, de volta a minha velha e detestável faculdade, de volta a tudo que eu não entendo e que nunca entendi (e que talvez nunca venha a entender), e tudo isso tentando encontrar soluções incríveis de ideias estapafúrdias e que provavelmente nunca serão colocadas em prática. Encontro um grande amigo por acaso na rua. Eu tava só procurando um apartamento no centro da cidade, naquele dia e nos últimos dois ou três eu tinha andando igual um maluco de cima a baixo da cidade, em vagões de metrô, em ônibus, a pé, principalmente a pé, descendo igual um maluco a paulista ao leste e a oeste, a nove de julho, a augusta, a brigadeiro luiz antonio, todas essas e mais algumas e todas as pequenas ruas também, procurando apartamentos para alugar, mas eu bem sabia que apesar do velho me bancar graças a essa faculdade terrível que eu detestava, eu não tinha grana pra um apartamento. Então eu finalmente tive que encarar a realidade e procurar umas pensões, mas isso é papo pra outra história, já que eu ainda nem encontrei um lugar pra morar e escrevo essas divagações sem sentido e sem propósito hospedado de favor na casa de um amigo de família que já avisou que de sexta não passa, e é por isso que eu tenho que correr atrás de um teto, mas como eu disse, isso é papo pra outra história. A história é que eu estava lá, na portaria, esperando pra subir e ver uma kitnet bem no centro detonado e underground da cidade, pensando que aquilo ali devia ser o mais próximo da Nova York dos anos 80 que o Brasil já tinha chegado, e de repente surge um figura de camisa social, calça preta, bota, chapéu, óculos e lenço, e eu sabia que eu conhecia aquele cara de algum lugar, mas que diabos, eu não conseguia lembrar de onde. Aí o cara para do meu lado e diz "Rick!", e tira os óculos, e era um figuraço de um amigo meu que eu tinha conhecido em Londrina há uns bons anos atrás, e que já em São Paulo o tinha reencontrado alguns anos depois também. E aí ele me disse que tava por ali, morando casado com uma namorada, e me contou suas histórias malucas e exageradas, com algumas lorotas cirurgicamente adicionadas e algumas elevações de qualidades claramente falsas, mas o lance era fingir que você tava acreditando, porque o cara era realmente bacana e se empolgava falando daquilo tudo. Elétrico, selvagem, o Joe era um cara realmente legal. Se agitava e me falava sobre as maluquices que tinha feito, como quando um dia cansado com os cíumes excessivos de sua mulher e após chegar completamente bêbado em casa, raspou todos os pelos do corpo pra tentar parar de atrair olhares nos bares e consequentemente evitar brigas com sua amada, que o bancava em seu apartamento e trabalhava enquanto ele tava por ali, vadiando comigo enquanto falavamos sobre livros de Reinaldo Moraes e John Fante. E aí ele me dizia, que sua tática de raspar não tinha funcionado muito bem, porque ainda assim algumas garotas olhavam pra ele nos bares, e eu concordava e balançava a cabeça e ria, e sacava o exagero, mas gostava daquilo tudo, porque o cara realmente sabia contar boas histórias. E aí ele sacou o celular, e mostrou uma foto de quando estava todo raspado, e aquilo era realmente feio. Sem os óculos era possível ver que as suas sombrancelhas ainda estavam ralas e visivelmente estranhas, e aí subindo a Augusta ele levantou a camisa e mostrou o peito e barriga com pelos recém-crescidos, tudo muito engraçado e estranho, e eu ria e concordava, e falamos sobre as mais diversas maluquices enquanto subíamos em direção ao bar mais próximo. E a próxima hora e meia seguiu toda essa toada, e aí eu tive que subir e encontrar outro amigo e continuar a bebendo, e pensei que, oras, pros diabos, não era de todo mal estar ali. Talvez não era de nada mal. Eu tava subindo a Augusta, passando por todo o tipo de gente estranha que lá em Londrina ia chamar atenção e causar no mínimo uns olhares tortos, muitos olhares tortos, mas aqui não tinha nada disso. Um mendigo usando um vestido, uma mulher gorda usando roupas com pompons, blusa curta e botas altas como as dos caras do Kiss, e mais um monte de gente diferente. E eu fiquei lembrando que lá em Londrina, a ex-capital do café, a cidade provinciana que se vangloria de ser a terceira maior da região sul, naquela cidade de quinhentos mil habitantes e só umas dezenas de almas pensantes eu também era um cara estranho, de calças jeans justas, camisetas dos Ramones, cabelo comprido, bebendo em botecos sujos com outros caras também muito estranhos, ouvindo discos que eles provavelmente achariam ser o som de uma abdução ou o fim da boa era da juventude, lendo livros que eles provavelmente considerariam depravados e vendo filmes dos quais eles se levantariam e sairiam da sala de cinema antes da primeira meia-hora, se esses filmes já tivessem sido exibidos na cidade algum dia. Que coisa era aquela. Talvez eu estivesse em casa. Sem rumo, sem casa, mas com alguma grana, alguns amigos, acho que ainda tinha um jeito de dar um jeito na vida. Tudo o que eu tinha que fazer era continuar com o copo cheio e a cabeça no lugar. E de preferência o resto do corpo também. Minha missão estava só começando.