terça-feira, agosto 30, 2011

Eu finalmente cheguei lá. Finalmente encontrei um emprego que gosto, em um horário flexível. Finalmente posso me sentar em meu próprio apartamento e ouvir discos contemplando a solidão. Finalmente posso assistir filmes no cinema sem pensar mais em coisa alguma. Mas, se eu finalmente cheguei lá, porque ainda não consigo sentir isso?

Na verdade, tudo continua a mesma coisa. Posso mudar para uma mansão, arranjar o melhor emprego do mundo e ter todo o tempo livre para ir ao cinema, o problema é que essa cabeça em cima dos meus ombros vai continuar sendo a mesma. E tudo o que está dentro dela continuará aqui. Sei que não posso fugir disso, é a única certeza que tenho, depois da indissolúvel certeza absoluta que todos nós temos. Talvez eu esteja esperando apenas pelo final. Talvez eu sempre tenha esperado pelo final e todo o resto tenha sido apenas uma contemplação inútil e sonhadora sobre planos não concretizados.

Dia desses, no ônibus, me peguei pensando no que aconteceria se ele de repente virasse. Tentei acreditar que perderia algo, mas não consegui. Tive certeza de que não perderia nada, então comecei a pensar que talvez eu esteja apenas seguindo meu caminho. Não consigo mais sentir as coisas como outrora. Agora, talvez, seja apenas uma longa estrada para a perdição. Quando um homem perde o medo de perder, está tudo perdido. E eu perdi o medo de perder. E também perdi o medo de descobrir o que há depois. Depois, depois... é só o que vier. E o que vier não poderá mais voltar. Quando isso acontecer, é o fim, simples assim. Outras pessoas morarão neste apartamento, e pegarão o mesmo ônibus, e preencherão minha vaga no emprego e verão outras sessões de cinema que eu não vou mais poder ver. E com o tempo, tudo continuará exatamente igual. O vento soprará pela janela do apartamento, e o novo morador talvez a feche e talvez não repare na bela árvore que eu costumo reparar. A árvore talvez também não esteja mais ali depois de um tempo. E talvez nem mesmo o apartamento. Uma multi-nacional pode demolí-lo e construir um shopping center no lugar. Não me importará mais. Não sei se algum dia já importou. Outros discos tocarão em outros lugares, e um punhado de canções tristes darão algum sentido temporário a outras existências estúpidas. E quando isso acontecer, bem, eu não estarei mais aqui para saber o que acontece. Espero descobrir algo até lá. Se houver algo a ser descoberto. Creio que sim. Espero que sim.

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