Oh, puta que o pariu. Quase dois maços por dia. Aonde é que eu vou parar? Continuo acendendo esses malditos matadores de solidão. É simples, eu nunca tenho nada pra fazer. Quer dizer, tenho uma porrada de coisas pra fazer, mas nada que valha a pena. Então acendo cada uma dessas porcarias só pra matar o tempo enquanto assisto um episódio de um seriado ou ouço um bom disco de rock and roll. Oh, puta que pariu. Nenhuma garota há muitos dias. Aonde é que vou parar?
Conheci um cara por acaso numa dessas bebedeiras inconsequentes e estúpidas de uma madrugada de um desses tediosos meios de semana. Beirava os quarenta anos, com uma namorada loira da mesma idade, e aparentemente bacana. Mas todo mundo que é aparentemente bacana acaba sendo um puta chato. Não foi diferente. Encontrei o casal novamente por acaso noutra bebedeira. Eu tinha apitado um beck du bão com uns amigos. Não sou de fumar esse troço, mas naquele dia mais uma das minhas estúpidas ideias tinha me vindo a mente. Então, tô lá, doido igual hippie, quando encontro esse casal. eles se ofereceram a pagar a cerveja. Mais um erro cometido por mim. Se alguém se oferecesse pra pagar cerveja assim sem te conhecer direito é porque definitivamente vai te causar problemas. Mas é claro que, com minha boa e velha estupidez, eu não consegui nem pensar nisso naquela hora. Sentei e entornei latinhas de brahma com o casal. por acaso, descobri que o cara morava no meu prédio. e pra piorar, no meu andar. é claro que ele passou a bater na porta de casa com certa frequencia. tudo o que tinha a fazer era dispensá-lo com alguma desculpa. não mencionei que também fiz a cagada de dar meu telefone. agora ele também me ligava me chamando pra beber todos os dias. numa dessas intromissãos ao meu apartamento, chegou com umas latinhas e em quinze minutos de papo contou que tinha dois filhos e que tinha conhecido a mina pela internet. meu deus, como essas pessoas podiam viver. como qualquer pessoa podia viver? bom, ele se despencou de uma cidade qualquer do rio de janeiro pra morar com a mina. moraram dois anos, até descobrir que ela tinha suas loucuras e que era viciada em bingo. uma baita duma história maluca. sacou o celular e mostrou na câmera uma foto da mulher ao lado de uma máquina de bingo que contabilizava quarenta e cinco mil reais. "perdeu tudo em uma semana, Gabriel", me confidenciou. "já tentei ligar pra polícia pra fechar o bingo ilegal, e sabe o que o policial me falou?". Não sabia. "me disse pra levar ela pra uma igreja, você acredita em algo assim?". oh, puta que pariu, era uma das histórias mais absurdas e idiotas que eu já tinha ouvido. Carlos, o vizinho ainda não batizado nessa história, terminou de me contar suas incursões pela vida e insistiu para que eu saísse. "eu pago a conta", era seu argumento. não podia negar que era um bom argumento, mas consegui resistir e neguei sua proposta.
nos dias que se seguiram, Carlos, carinhosamente apelido de 'O Chato', em mais uma de minhas demonstrações de falta de criatividade, me ligou insistentemente. consegui desvincilhar dia após dia. finalmente, depois de uma semana, desistiu de ligar pelo primeiro dia. celebrei comprando algumas latas de cerveja e assistindo breaking bad no apartamento. depois, fui a casa de uma amiga. ela estava lá, com outra amiga dela qeu eu já conhecia de uma ou outra vez em um ou outro boteco. minha amiga foi dormir, então tentei algo com a amiga dela. não deu em nada, desisti e voltei pra casa.
a madrugada de um domingo é provavelmente a pior de toda a semana. bem, o final de semana foi mesmo uma merda, mas saber que a semana vai efetivamente começar é sempre desanimador. não havia muito mais o qeu ser feito. eu não me dava bem com uma garota há bastante tempo. não ficava realmente bêbado, efetivamente descontrolado, há um longo tempo também. não fazia nada de que me orgulhasse muito há esse mesmo considerável e relativamente longo tempo. não comprava um novo disco ou lia um bom livro também. a faculdade e o trabalho consumiam boa parte do meu tempo. de certa forma, eu era um sortudo por gostar do meu trabalho. com exceção do salário praticamente inexistente que ganhava, era algo que eu era bom fazendo. ou pelo menos tentava ser. ou pelo menos engava as pessoas, e meu chefe, de que era. de qualquer forma, a faculdade me consumia um bom tempo. sentava lá e ouvia os professores falarem sobre toda e qualquer bobagem. no final de cada bimestre, respondia algumas questões decoradas em uma folha, umas chamadas nos finais das entediantes aulas e voy-lá, era isso mesmo. um grande e monumental pé no saco. o ano se arrastava devagar e eu me imaginava quando é que ia voltar a sentir algo diferente. não me referia a garotas ou bebedeiras, apesar disso ser muito importante e fazer parte do pacote. me referia àquele sentimento que tinha quando mais novo, quando tudo parecia meio encantador e esperançoso. talvez ele tivesse ido embora, mas, diferente de Carlos, 'O Chato', ele não ia insistir para voltar. Resolvi que era melhor desistir de pensar. Apaguei as luzes e dormi. Seria mais uma longa semana e mais alguns longos dias de trabalho e auto-questionamentos idiotas. Era melhor estar preparado.
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