segunda-feira, julho 18, 2011

Recuperando minha criança interior

Em Julho de 2010 eu havia sido abandonado por mais uma garota e estava emocionalmente em frangalhos. Eu recém havia me demitido de meu cretiníssimo emprego numa empresa de call center líder de reclamações, então passava o dia todo trancado em casa, assistindo filmes antigos, ouvindo discos e colecionando moedas para conseguir comprar cigarros. Com sorte também descolava um jeito de beber, e era basicamente o que mais fazia naquela época. Comecei a ver uma terapeuta. Ela me disse para ler alguns textos e refletir sobre minha vida. Me passou um texto que dizia que deviamos recuperar nossa "criança interior". Achei aquilo uma grande bobagem. De certa forma, eu nunca havia mesmo deixado de ser uma criança, logo, não precisava recuperar minha "criança interior" ou qualquer outra coisa desse tipo. Precisava era recuperar minha auto estima e conseguir algum dinheiro.

A terapeuta me mandou ver um psiquiatra. Disse que eu tinha síndrome maníaco-depressiva. Fui até o tal psiquiatra. Ele conversou comigo durante cinco minutos e receitou um medicamente, com ordens expressas de que eu não deveria beber. "Isso não vai ser possível, doutor", foi o que respondi. Ele disse que eu deveria evitar beber em excesso enquanto estava sob medicamento. É óbvio que descumpri suas recomendações.

A terapeuta continuava me dizendo bobagens. Dizia que eu deveria encontrar a alegria nas pequenas coisas da vida. Para ela, eu era ácido, irônico e mal-humorado, e não posso dizer que ela estava errada. Não sei se foi o medicamento que fez algum tipo de efeito, mas com o tempo passei a me sentir melhor. Parei de frequentar a terapeuta. Mudei de cidade, arranjei um novo trabalho e nunca mais vi a garota que havia me abandonado. Na última vez que ouvi falar dela, estava namorando e feliz. Me senti bem por aquilo. Eu ainda bebia e ouvia das raras garotas com quem saia de que eu agia como uma criança, e que deveria parar de beber e amadurecer. Mais uma garota me largou, mas agora eu já não me importava muito. Comprei algumas garrafas de uísque e passei alguns dias jogando video-game e lendo gibis. Percebi que a terapeuta estava certa. Recuperar minha criança interior era mesmo algo importante.

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