quarta-feira, agosto 17, 2011

Ela achava que eu era um tipo de Jack Kerouac. Ela achava que eu era doce, sonhador e escrevia bem, mas eu não era nada disso, e também não era um tipo de Jack Kerouac. Tambem não era um tipo de Bukowski, ou de John Fante, ou de Rubem Fonsenca, ou de qualquer outro escritor. Eu era um tipo de Rick Nicoletti, O tipo de Rick Nicoletti, e isso não era necessariamente algo bom.

Ela sabia que eu trabalha em uma revista cretina de música e tentava encaixar matérias sobre Elvis e Ryan Adams no meio de matérias sobre Lady Gaga e Blink 182. Ela também sabia que eu cortava o dedo abrindo garrafas de cerveja e enrolava papéis higiênicos enquanto o sangue escorria pelo chão e um disco de Dexter Gordon ecoava pela pequena kitnet vazia.

Ela sabia que eu sonhava com algo diferente, mas que também não sabia com o que eu sonhava. Ela sabia que Rick Nicoletti gostaria de fazer alguns filmes à la Jarmusch, umas músicas à la Van Morrison e uns poemas a là Rimbaud, mas ela também sabia que eu não ia conseguir fazer nada disso.

Ela sabia que eu era Rick Nicoletti, e isso era incrivelmente bom e terrívelmente ruim. Ela sabia que Rick Nicoletti gostaria de ficar trancado em casa sem falar sobre coisa algumaa. E ler livros antigos e beber cerveja. Ela sabia de tudo isso, e talvez este seja o grande motivo pelo qual ela se afastou. Eu não a culpo, eu nunca vou a culpar. Ela sabia de tudo isso, e mesmo assim, mesmo que por pouco tempo, ela ficou.

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