segunda-feira, outubro 31, 2011

suas ligações no meio da noite só pra me dizer boa-noite

Sadness to the bones. Tristeza até os ossos. Pensei nesse título enquanto sofria de mais uma noite de insonia. Daria um belo nome pra uma música de blues, pensei. Mas eu não era músico, então desisti da ideia de criar um blues. Carla me liga no meio da madrugada. Ela normalmente faz isso. Carla vive em Curitiba, e não a vejo há alguns anos. Na primeira e única vez que nos vimos, quando nos conhecemos, nos atracamos em uma praça e acabamos conhecidos como os tarados da praça. Isso foi em Londrina, há um bom tempo. Nos reencontramos nesse mundo perverso e inútil que é a internet. Carla me liga para me falar sobre sua vida de adultérios e me prometer visitas que nunca se concretizam. Carla me conta sobre suas aventuras sexuais com vocalistas de bandas ruins e dá risada dos meus comentários mal-humorados e irônicos. Carla diz que eu sou sexy de uma maneira inusitada. Ela é uma das poucas pessoas que acha isso. Talvez, hoje em dia, seja a única. Carla é bonita, jovem e bem-sucedida. Mas sua mente inquieta e suas ideias estapafurdias sempre a deixam em situações difíceis. Então Carla me liga para contar as bobagens que fez. Carla diz qeu sou um bom garoto, que durmo e trabalho e estudo, e que fico sentimental quando bebo. Ela tem razão em tudo isso, mas não sei se sou mesmo um bom garoto. Algumas vezes liguei para Carla totalmente bêbado procurando alguma palavra de afeto. ela soube ser bacana e aguentar minhas lamúrias. Carla continua bundando e causando em Curitiba. Eu continuo vivendo e me lamuriando em São Paulo. Mas Carla bundeia e causa com outras pessoas, eu me lamento sozinho. Carla tem um namorado, oficialmente, como ela gosta de frisar. Ele se mandou pra França, pra curtir a vida com a grana do pai, um empresário bem-sucedido da capital do Paraná. Carla sente sua falta, mas não parece ligar de traí-lo com metade da cidade. Ás vezes ela se sente mal, e me liga para me contar. Carla diz que está esperando que ele volte da europa para resolver sua vida. Enquanto isso deve causar e bundar um pouco mais por Curitiba. Carla se acostumou a uma boa vida e à bohêmia. Carla não sabe o que é sofrer de verdade, e duvido que alguma vez tenha se emocionado com uma música country tristonha do velho Hank Williams. Mas Carla gosta de Tom Waits e tem um belo corpo. Isso já é bom demais, quase tão bom quanto ela ouvir os meus lamentos. Talvez ela também ache bom que eu ouça as histórias de seus desbundes e infidelidades libidinosas. Talvez ela apenas queira alguém para dar boa noite antes de pegar no sono depois de uma 'balada' regada a vinho ou champagne importado. Talvez ela só queira ser amada por alguém. Talvez todos nós queiramos isto também. Talvez todos nós acabemos no mesmo lugar.

2 comentários:

bruno bandido disse...

Porra, Daher, tenho um blues que diz "ela me ligou no meio da noite/ e me desejou uma noite ruim". Prefiro a tua garota. Like a rolling stone.

Gabriel disse...

Valeu Bandido. Aposto que teu blues é bem mais do caralho que esse textinho sem vergonha, mas valeu por prestigiar. Vou ver se consigo separar uma grana pra comprar uma edição da revista com o teu conto. Parece ser foda. Abração!