domingo, dezembro 23, 2012
sexta-feira, dezembro 21, 2012
quarta-feira, dezembro 19, 2012
Mas pai do céu, poucas coisas são tão bonitas quanto
suplicas, quanto estar deitado sozinho em seu quarto sonhando com dias
melhores, com garotas perfeitas, com dias bonitos e sonhos palpáveis. Eu cometi
muitos erros, mas há algo que continua pulsando, pulsando, pulsando e querendo
sair daqui. Eu entendo que cometi muitos erros, mas sou jovem e apaixonado, e
tudo o que eu sonho é em viver a VIDA em seu pleno e completo prazer. As
pessoas de hoje não se importam mais com isso, não amam mais os outros, não se
apaixonam como se o mundo fosse acabar amanhã. As pessoas são tristes e
desiludidas, e eu estou aqui, bem no meio delas, partilhando de todas essas
crenças horríveis. Olha só, eu realmente só queria ser como fui nos meus 15 anos
de idade. Eu amo a esperança, não conseguiria viver sem ela, acredito que há
algo lá no céu pra todos nós, e almejo de verdade encontrar isso. Quero as
lágrimas de volta, e quero lutar com minhas mãos machucadas, mas quero lutar
até que elas parem de funcionar. Eu amei muito, e quero amar muito mais. Eu
quero apenas que a gente consiga alcançar a paz, esteja ela aonde estiver.
Minha missão como jornalista ou como qualquer porra que eu for fazer é simplesmente reavivar a memória dos caras que salvaram a minha vida. Eventualmente ouço e leio alguma coisa nova, e com sorte uma ou outra banda ou escritor me encantam de verdade, mas não, eu não tenho o mínimo interesse em estar "antenado" no que está acontecendo ou em saber quais são os artistas "legais do momento". Eu só quero encontrar as pessoas que "queimam, queimam, queimam como fabulosos fogos de artifício explodindo como constelações em cujo centro fervilhante - pop! - pode-se ver um brilho azul e intenso", independente da época e da situação em que elas estejam, e acho que isso é só o que importa pra mim.
terça-feira, dezembro 18, 2012
E andei por vales sombrios
sozinho
sem ninguém para segurar
minha mão.
E tive pesadelos horríveis
intermináveissem ninguém para me dizer
que ia ficar tudo bem.
E vivi mentiras
dolorosas
sem ninguém para me mostrar
a verdade.
E vi o tempo passar
cruel
sem ninguém para me levar
para o céu.
E resisti bravamente
com sorte
sem ninguém para espantar
a morte.
E senti a chuva
cair
sem ninguém para
me acudir.
E cheguei
até aqui
sem ninguém para
me dizer aonde ir.
E hoje resisto
com meu pesar
sem ninguém
para me amar.
segunda-feira, dezembro 17, 2012
Dias ruins
para dores sem fins
Me fazem
pensar em estrelas cadentes
E bobagens
desse tipo
Veja bem,
romantizei demais
Me apaixonei
muito também
Foi tudo um
erro, nós sabemos
Pros diabos!
Agora é passado
Caminho sem
tranquilidade
Estou muito
perturbado
Vejo as
pessoas nas ruas
E as músicas
de Natal
Me deixam
muito deprimido.
Frank
Sinatra canta Jingle Bells
Enquanto
procuro meu caminho para o céu
Não há mais
tempo para frequentar bares
Não há mais
tempo para sonhar com pares
É só a dor,
querida
É só a dor,
essa maldita.
Meu coração
virou pedra
E não sou
nem mesmo alguém respeitável
Tenho agora
já quase 23 anos
E carrego
muitas histórias
Tão tristes
quanto contos infantis.
Agora, meu
coração virou pedra
Em algum
momento do caminho
Cometi um
grande erro.
Até hoje não
sei bem
Qual foi.
Meu coração
virou pedra
E já não me
importo com respeito
Frank
Sinatra ressoa nas ruas
Enquanto o
Natal se aproxima
Me sinto
muito triste
E solitário.
Meu coração
virou pedra
E me lembro
daquele garoto sonhador
Que
acreditava num futuro melhor
Meu deus,
pra onde é que ele foi?
Eu já não
sei mais
E já não me
importo
Também.
Meu coração
virou pedra
E agora
estou sozinho
Acredito que
mereci tudo isso
Acredito que
cumpri meu destino.
sexta-feira, dezembro 14, 2012
segunda-feira, dezembro 10, 2012
Você leva um baque forte
E precisa se levantar
E continuar tudo de novo.
Você leva um baque forte
Mas não pode desistir
Não pode se abaixar
você precisa continuar
seguindo em frente
enquanto for possível.
Você se deprime
e pensa em ir embora
de uma vez
por todas.
Mas você ainda
não pode
fazer isso.
A poesia não é um dom
ela é apenas a reflexão
de tristezas inacabadas.
Um dia elas se acabam
mas a poesia
não.
Você leva um baque forte
mas você continua
seguindo em frente
e sentindo tudo
de novo.
Você leva um baque forte
E sabe que levará outros tantos
mais.
Você leva um baque forte
E acredita
que não será capaz.
Você leva um baque forte
Mas você
não cai.
Ao menos não agora
não ainda
não por fim.
domingo, novembro 25, 2012
que deus nos proteja
dessa falta de cerveja
desses bares que fecham cedo
desses nossos velhos medos.
que deus nos ajude
a suportar as velhas crises
a não pular de marquises
a suportar a solidão.
que deus nos guie
pelas vielas escuras
pelas tristezas das ruas
pelos labirintos de nosso coração.
que deus nos leve
pra longe daqui
que ele nos ajude
na hora de partir.
terça-feira, novembro 13, 2012
sexta-feira, novembro 09, 2012
somos os caras
somos os caras
mais corajosos do mundo
quando assumimos nossas
fraquezas mais ridículas
quando nos expomos aos
olhares julgadores dos outros
e quando caminhamos sozinhos
pensando em outra vida
que ainda há de chegar.
somos os caras
mais guerreiros do mundo
quando aguentamos
tapas e mais tapas da vida
estalando em nossas faces,
ruborizando
nossas almas.
somos caras de aço
com corações de gelo
que derretem devagar
derramando as gotas
uma a uma
em nossos sapatos
velhos.
e somos os caras
mais belos do mundo
quando encaramos
nossa feiura no espelho
e enxergamos que a falta de beleza
não é nada além de um artificio
pra disfarçar nossa tristeza.
somos os caras
mais durões do mundo
quando bebemos uísque sem gelo
falando sobre
as mulheres que tivemos
e sobre todas as outras
que nunca vamos ter.
e somos os caras
mais poéticos do mundo
e mesmo que
isso soe patético
não nos importamos mais
em esconder.
Nine out of ten
1
Nove
entre dez estrelas de cinema me fazem chorar. Rick não descia a Portobello
Road, mas sim a Avenida Paulista, enquanto os fones reverberavam o reggae
melancólico de Caetano. Rick estava solitário e confuso. Isso era comum em sua
vida, mas agora ele realmente não sabia mais o que poderia fazer. Há seis anos
ou mais Rick sentia vontade de morrer. Não que ele fosse se jogar na frente de
um carro ou dar um tiro na própria cabeça, mas ele sabia que sentia, e também
sabia que aquele sentimento era real. Bebendo com uma amiga, Rick ouvira dizer
que era “visceral” e que não devia se achar assim tão poético. Rick sabia que
não era mesmo muito poético. Na verdade ele só se achava um grande bosta
solitário e confuso, e talvez esse fosse o grande problema. “Nem todo mundo
precisa viver com sexo, drogas e rock’n’roll pra ser feliz, Rick”, foi o que a
amiga disse. Rick balançou a cabeça concordando enquanto sorvia mais um gole de
cerveja.
Não
estava muito gelada e não era de uma boa marca. Rick era apenas um estagiário
de jornalismo sem muito interesse para a profissão. Era natural que tivesse
pouco dinheiro e consequentemente poucas chances de beber boas bebidas. Mesmo
com a ajuda financeira provida por seu pai, que ficara em sua cidade natal, no
norte do Paraná, Rick vivia duro. Não que ele se importasse tanto. Dinheiro
nunca fora sua principal preocupação, mas ele não tinha dúvidas de que um pouco
mais não lhe faria mal algum. Talvez comprar umas roupas melhores, uma
bicicleta para perder uns quilos, boas bebidas, discos de vinil e livros de
poesia. Era basicamente isso. Mas na verdade Rick sabia que só precisava de um
pouco de companhia, e tudo isso não era nada além de tentar consegui-la, fosse
real ou fictícia, como nos livros policiais que costumava ler até duas ou três
da madrugada.
Rick
era um daqueles insones que acordavam com os olhos inchados e olheiras sobressalientes.
Ao se olhar no espelho, logo pela manhã, sabia que estava lascado. “Mais um dia
de merda vem aí”, era o que pensava enquanto escovava os dentes. Saia de casa
com os fones nos ouvidos e um ray ban falsificado no rosto. Aguentar o sol e o
barulho da caótica São Paulo logo cedo era uma missão quase apocalíptica. Mas
ele tinha que suportá-la todos os dias. Atravessava a rua até o ponto de
ônibus, subia no veículo barulhento, tirava os fones e abria o livro que
estivesse lendo. Alguns minutos depois – dependendo do trânsito, é claro –
descia no ponto e encarava cinco ou seis quadras de uma chata subida. Chegava
no trabalho, cumprimentava os colegas com um seco “bom dia”, se servia de uma
grande caneca de café (cheia até a metade, com três colheres pequenas de açúcar)
e bebia comendo quatro ou cinco bolachas água-e-sal. Podia ser pior, era o que
ele pensava. Se lembrou dos tempos de telemarketing. Aquilo sim era o inferno.
Na
época, Rick não estava estudando e não tinha dinheiro pra coisa alguma.
Resolveu tentar o primeiro emprego que conseguisse, e deu logo um grande azar.
Lá, se apaixonou por uma ruiva, que o largou pouco tempo depois. O romance foi
rápido, nem aos finalmentes eles chegaram, mas Rick se considerava “poético” e “apaixonado”,
e a paixão lhe fez escrever algumas dúzias de poemas pouco inspirados para a
bela garota. Agora aquilo tudo era passado. Rick não tinha garota ruiva, poemas
ou emprego na merda de telemarketing. Sua tarefa era escrever pequenas matérias
sobre qualquer bosta que estivesse acontecendo no mundo. Parecia que as coisas
estavam melhorando.
2
Acordou
com náuseas naquele dia. Na noite anterior, pedira comida delivery e passara
boa parte da madrugada bebendo coca-cola e fumando cigarros. Sabia que
coca-cola era horrível para sua insônia, mas era um dos vícios que gostava de
manter – assim como os cigarros. Baqueado por uma gripe ainda não totalmente
curada, Rick se sentou à frente do computador e digitou dois contos, ambos
considerados muito ruins pelo próprio autor. Desistiu daquela bobagem e
resolveu ler. Era o livro escrito por uma amiga, mais jovem, talentosa e
perseverante do que ele. Sorriu ao ler a dedicatória na primeira página. “Não
sou boa com dedicatórias, então só vou te mandar um beijo e essas merdas”.
Devorou boa parte do livro antes de tentar cair no sono. Novamente não
funcionou. Voltou pra frente do computador, olhou para o teclado e decidiu que
precisava fazer algo. Começou a digitar furiosamente. As palavras foram saindo.
Não eram boas, mas fluíam com naturalidade. Rick se lembrou de seus dezesseis
anos, de quando escrevia com paixão e acreditava em algo maior. Depois se
lembrou de seus dezessete, dezoito, dezenove e vinte. Se perguntou em como as
coisas podiam ter piorado tanto em tão pouco tempo. Sua juventude – outrora bela
e esperançosa – havia se transformado num suceder de dias monótonos e
solitários. Há tempos Rick não sabia o que era uma garota, e há tempos não
tinha coragem de se aproximar de uma.
“Você
é um cagão, Rick Nicoletti!”, gritou em frente ao espelho. Detestava seu
reflexo. Se achava feio e injustiçado pelo mundo. Pros diabos, bem sabia que o
mundo era injusto com todo mundo. Esfregou os olhos e voltou a escrever.
Agarrou um livro de Dostoiévski na estante ao seu lado, abriu uma página
aleatória e leu as palavras do velho e sábio russo. As aventuras e as
dificuldades do jovem Raskólhnikov lhe inspiraram. Não havia terminado de ler
Crime & Castigo. As demandas de livros da faculdade e o estágio como
jornalista lhe tomavam boa parte de seu tempo livre. Além disso, precisava
cuidar da quitinete que ocupava sozinho no centro da cidade e beber com os
poucos amigos que lhe restavam. Riu de sua própria desgraça e voltou a
escrever. Agora as palavras deslizavam na tela. O que antes piscava em branco,
aterrizando-o e relembrando-o de como era inútil e pouco criativo, agora se
enchia com letras bonitas e encaixadas. Ele esperava que aquela história
valesse a pena. Quem sabe enviá-la para uma revista de literatura?, sonhou
Rick. Se havia algo que ele sabia fazer, esse algo era sonhar.
Durante toda a sua vida,
tudo o que Rick fizera fora esperar por seu momento sublime, sua glória nunca
alcançada. Quando criança, imaginara-se jogador de futebol, estufando as redes
do gol adversário e inflamando a torcida no abarrotado estádio. Já adolescente,
delirou sobre a vida de um rock star, encantando multidões e vivendo de forma
inconsequente e fabulosa. Na juventude, acreditou que seria um escritor.
Imaginou uma bela vida de percalços e tristezas, mas nenhum deles em vão, pois
o fantástico Rick Nicoletti haveria de escrever cada um de seus devaneios no
papel, transformando aspectos comuns e situações mundanas em obras de arte
históricas e inesquecíveis. Mas no final, Rick sabia que um sonho era só um
sonho. E a verdade é que ele odiava ter que acordar depois de um deles.
3
Acordar
era sempre ruim. Pouco importava se tivesse tido um belo sonho ou um pesadelo,
se tivesse dormido muito bem ou muito mal, Rick detestava acordar. A mesma
dificuldade que tinha para dormir se revelara no amanhecer. Por dormir tarde,
despertava tarde, e quando acordado cedo pelos compromissos rotineiros, estava
de mau-humor e pouco propenso a acreditar na vida. Talvez essa fosse a grande
questão. Talvez seus dias fossem tão ruins por isso. Olhando para a cama - uma
dessas bicamas de solteiro pouco confortáveis, muito comuns nos anos 90 - percebeu que o móvel ficava unido rente à
parede direita da quitinete. Com sua cabeceira voltada para a porta do pequeno
imóvel, Rick acordava todos os dias literalmente com o pé esquerdo. Calculou
formas de mudar a cama de lugar. Talvez aquilo acabasse com a má sorte.
Resolveu fumar um cigarro para pensar. Acabou esquecendo da troca. Na verdade
ele nunca fora muito supersticioso, e não achava que aquilo faria grande
diferença em sua vida. Rick só tinha uma convicção: acreditar que, independente
de crenças, ritos ou simpastias, sua vida continuaria sendo uma merda. Ele era
um pessimista nato e não se orgulhava muito disso. Na verdade, ele não se
orgulhava de praticamente nada do que fizera até então. Com sorte, aquilo estava prestes a mudar. Mas Rick nunca fora um cara de grande sorte.
segunda-feira, novembro 05, 2012
sexta-feira, outubro 26, 2012
quinta-feira, outubro 25, 2012
Janie and I used to walk on the park
We used to talk about the dark
About the pleasures and pains of life
We used to laugh about the sky
We used to dream with something up high
Now Janie is gone, and I'm still here
Now Janie is gone, and I have fear
Janie and I used used to sit on the bench
We used to talk about the nonsense
Janie was wearing her beautiful sweater
I wore my old ramones shirt
Janie used to cry about her lovers
I used to cry over her shoulders
Now Janie is gone, and I'm still here
Now janie is gone, and I'm all alone
I hope Janie found
what she was looking for
I hope Janie don't
feel the pain no more.
I hope Janie
return some day
I hope Janie
come back to stay.
Não há mais volta
É preciso encarar
a realidade da solidão
e da tristeza
que nunca deixou de me acompanhar.
Veja bem, meu bem
sei bem que não sou
nenhum Fernando Pessoa
E entre as pessoas
sou apenas uma das ruins
Aguento o sofrimento
Quase calado
exceto por esses poemas
meu pranto tem sido abafado
É errado ainda ter esperança
mas quem disse que eu faço algo certo?
Eu continuo tentando
por mais que seja incerto.
I'm not the chosen one
Of anyone in everyone
I'm not the special one
Of anyone in this whole world
I'm just a lonesome guy
And I've been lonesome for so many time
Now I just don't give a damn
Now I just don't suffer anymore
I feel better this way
Without hopes, without dreams
I feel better without
Anyone that can be seen
I'm like a ghost
But there's nothing to haunt
I'm like a prisioner
Standing up front
The death wall.
segunda-feira, outubro 15, 2012
Seria bem mais interessante se eu soubesse escrever de
verdade. Sentar, criar uma história, desenvolver os personagens e admirar a
obra completa. Mas não é assim que funciona. Nem todo mundo pode ser
Dostoiévski, e essas são coisas que nós temos que aceitar. Além de tudo, não há
nada de mal em ficar por aqui. A esperança continua intacta, os sonhos também.
A parte boa de não alcançar o que você deseja
é que você nunca vai se decepcionar. Não há decepção na solidão. A
solidão é cruel mas também é muito honesta. A solidão vai acabar com a tua
vida, vai te deixar em desespero e vai fazer você se sentir horrível, mas ela
sempre vai ser honesta. E tua esperança vai continuar ali, intacta. Não importe
o que aconteça, quanto tempo passe ou o quantas pessoas você conheça, a tua esperança
não vai te abandonar. Esqueça tudo isso, garoto. É a mais pura e simples
mentira. Você acha que eles estão felizes? Oh, Deus, olha só pra cara desses
idiotas. Eles se agarram aos seus amantes e aos seus santos como se eles
realmente valessem alguma coisa. Eles acreditam em palavras furadas, em
promessas não cumpridas e acham que no fundo do horizonte há algo reservado
para eles. E eles realmente acham que estão no caminho certo e que estão
fazendo a coisa certa. Eles nem imaginam o que é atingir a verdadeira
consciência. Eles não sabem de coisa alguma, tampouco você, mas ao menos você é
honesto, garoto. Sua esperança não te abandonou nem te trocou por um sermão de
igreja ou por uma declaração de amor. Sua esperança é real e cruel, assim como
sua solidão. É só assim que você vai chegar lá, é só assim que você continua a
caminhar. Pro inferno com eles, você nunca precisou e nunca irá precisar desses
cretinos. Um dia eles vão perceber todos os erros que cometeram, e aí já vai
ser tarde demais. Você cometeu belos e
colossais erros, mas eles ainda assim foram parte importante da sua
vida. Você soube admirar seus erros e aprender com cada um deles. Mesmo
naqueles que você insistiu, você soube aprender. Não é fácil apanhar tanto e
continuar de pé. É preciso ser forte e ter esperança. Eles não tem esperança,
mas você ainda tem. Não deixe ela ir embora, e não deixe eles te dizerem o que
fazer. Um dia tudo estará bem, e não haverá mais desespero. Eles continuarão
vivendo suas vidas de mentira, sem solidão, sem esperança. Você continuará com
elas, entenderá seu valor e saberá apreciar seus próprios feitos. Siga em
frente, não desista. O sol sempre brilha pra quem vive nas trevas, e Deus sabe
que você passou muito tempo vagando por elas.
Um dia você desiste. É mais fácil do que parece, mas você
desiste. É uma bobagem falar em desistir antes dos 30 anos, eu sei disso, eu
sempre soube disso, mas eu falava em desistir antes mesmo dos 20. Aí um dia eu
desisti de verdade. Eu achei que esse dia nunca ia chegar. Eu me sentava em
frente ao computador e teclava furiosamente. Eu tentava tirar alguma vida
daquilo ali, mas a vida nunca vinha. Depois eu tentei tirar a morte, chamar a
morte, amar a morte. Mas a morte também não veio. A gente é tão tolo que acha
que pode controlar quando a morte vai vir. Mas não, a gente não pode não. É o
seguinte, meu caro: a gente tá lascado, e temos que seguir em frente. É assim
que funciona, não é mesmo? Veja só todos eles lá fora. Eles continuam seguindo
em frente. Se começa a chover, eles sacam o guarda-chuva ou correm até uma
marquise e ficam por ali, admirando a vida e esperando a água parar de cair. Eu
costumava ser como um deles, talvez até melhor. Ou pior, eu acho que nunca vou
saber. Eu só sei que eu corria até uma marquise e ficava cantarolando uma
música do The Who e vendo todo mundo passar na minha frente. Mas eu cansei de
ficar olhando pros outros na marquise, e vi todo mundo passar e ir embora. Eu
continuei por ali, continuei cantando The Who, mas hoje, quando chove, eu só
continuo andando. Acho que é o que eles chamam de crescer. Agora eu sinto os
pingos caindo na minha cabeça, e eu já não me importo mais. Eu devia me
importar, mas eu não me importo. Talvez eu nunca tenha me importado. Esse foi
meu grande erro. Mas que diabos, não é mesmo? Eu cometi um milhão deles, e com
certeza vou cometer outros milhões. É assim que é, e não adianta reclamar. As
pessoas se arranjam. Elas arranjam namorados, casam, tem filhos, conseguem
novos empregos. Nada disso devia importar muito, como não importa. Posso me
contentar em descolar uma garrafa de vinho e ouvir um disco do Lovin’ Spoonful
ou de qualquer outra banda. Na verdade, posso pensar em poucas coisas tão boas como
essa. O vento fica soprando, como sempre soprou, e a minha janela já não parece
tão desoladora. Agora a visão já me é familiar, e eu não estou mais assustado.
Eu estou preparado pro que der e vier. Ainda não é hora de me mandar, ainda não
é hora de desistir. Eu posso até ter desistido, mas eu tenho certeza que alguma
coisa lá fora não desistiu de mim. E eu vou continuar esperando até ela vir. Eu
realmente não me importo o quanto demore, contanto que eu possa ficar aqui
dentro com minha garrafa de vinho. Espero que os pingos de chuva continuem
caindo nos meus ombros e que as pessoas continuem embaixo das marquises. De
alguma forma, isso me traz uma espécie de conforto, e isso é quase tudo o que
eu sempre desejei.
quinta-feira, outubro 04, 2012
terça-feira, outubro 02, 2012
sexta-feira, setembro 28, 2012
Meia dúzia de sambas na orla carioca
Meus problemas eram existenciais. Isso mesmo, existenciais. Eu
tinha tentado evitar ser um desses patetas que ficam pensando sobre a própria vida
durante muito tempo, mas tinha sido em vão. Agora eu era um pateta, e um pateta
tarimbado. Eu pensava que eu podia ter dado certo em alguma. “Oh, Deus, eu
deveria ter sido um advogado”, falava pra mim mesmo. É óbvio que era pura
bobagem. Eu detestava advogados e toda e qualquer burocracia. Eu só não queria
ter me metido nesse erro crasso de ter virado jornalista e de ter sonhado em
ser escritor um dia. “Seria bem melhor se eu tivesse sido um escritor, mesmo um
de merda”, era o que eu pensava. Mas talvez não tivesse sido melhor coisíssima nenhuma.
Afinal de contas, eu ainda era um escritor. Eu escrevia matérias, entrevistava
pessoas e aguentava todo o tipo de chateação naquela redação. A revisora, uma
mulher na meia idade amargurada com a vida, sentava atrás de mim e passava o
tempo todo reclamando. “Vocês estão falando muito alto, silêncio que eu quero
trabalhar!”, era o que a velha berrava. Sua voz, típica de mulheres de meia
idade que passaram trinta anos de sua vida fumando, era tão irritante quanto
seus trejeitos. E eu ficava ali, tentando fazer algumas piadas e fazer qualquer
tipo de bobagem. Colocava meus fones de ouvido e selecionava um disco qualquer.
Aí me ligava na música e ficava pensando aonde diabos eu tinha me metido. Mas
eu sabia aonde eu tinha me metido, eu sabia muito bem aonde eu tinha me metido.
Eu tinha seguido a cartilha, andando na linha, aceitado as “oportunidades”
(Deus, como eu odeio essa palavra), e tinha acabado ali. De nada adiantou ter
sido um adolescente idiota, fã de livros do Jack Kerouac e discos dos Stones.
De nada adiantou ter passado tanto tempo bebendo, tanto tempo me apaixonando e
levando fora de garotas na esperança de que aquilo me renderia um belíssimo e
original poema, de nada adiantou ter fugido da escola, ter arrumado brigas, ter
usado drogas. Eu tinha tentado subverter o sistema, mas ali estava eu, fodido
pelo sistema. Eu estava sendo fodido pelo sistema e não dava nenhum sinal de reação. A velha continuava a reclamar
atrás de mim. Seus gritos em tom lamentoso e chateador se misturavam aos gritos
do Tim Maia nos meus fones de ouvido. Pai do céu, o que eu fiz pra merecer
isso? Eu andava pensando em ir pro Rio de Janeiro. Por que diabos eu iria pro
Rio de Janeiro? Eu não sei mesmo. Só pensei que seria divertido ficar por lá,
andando pela orla e vendo todos aqueles turistas e banhistas bobos, molhando o
pé na água do mar e bebendo nos bares. Quem sabe eu não compunha uma meia dúzia
de sambas de dor-de-cotovelo e dava pra algum músico mais talentoso ganhar? Isso
poderia ser legal, pensei, é, poderia ser muito legal. Mas não era. Não ali, na
frente daquele computador antiquado, digitando meia dúzia de matérias sobre
qualquer bobagem que estivesse acontecendo no mundo. Eu não dava a mínima pro
que tava acontecendo no mundo, eu só queria andar por umas ruas desconhecidas,
ver umas garotas de biquíni e beber umas cervejas. Era exatamente isso que eu
queria. Mas eu estava muito longe, eu estava absurdamente longe de qualquer
coisa que eu tinha desejado. Eu andava xavecando uma garota pra ir ao cinema
comigo. Ela desmarcou três vezes consecutivas. Desisti e fui sozinho. “O filme
é mó bom, ainda bem que ela não veio”, fiquei pensando comigo mesmo. Mas eu
sabia que aquilo não era verdade. Eu sabia que nada daquilo era verdade.
“You can't go back home to your family, back home to your childhood, back home to romantic love, back home to a young man's dreams of glory and of fame, back home to exile, to escape to Europe and some foreign land, back home to lyricism, to singing just for singing's sake, back home to aestheticism, to one's youthful idea of 'the artist' and the all-sufficiency of 'art' and 'beauty' and 'love,' back home to the ivory tower, back home to places in the country, to the cottage in Bermude, away from all the strife and conflict of the world, back home to the father you have lost and have been looking for, back home to someone who can help you, save you, ease the burden for you, back home to the old forms and systems of things which once seemed everlasting but which are changing all the time--back home to the escapes of Time and Memory.”
Thomas Wolfe
segunda-feira, setembro 24, 2012
Talvez
Talvez seja
porque eu passei muito tempo em bares
Acertando
todos os erros possíveis.
Talvez seja
porque meu único sucesso
Foi ser um
fracasso.
Talvez seja
porque eu tentei cria meu personagem
E me perdi
em minha própria história de horror.
Talvez seja
porque eu nunca me importei muito
Ou porque eu
me importei demais.
Talvez seja
porque você foi embora
Ou porque eu
nunca te conheci.
Talvez seja
porque eu compro esses discos
Com essas músicas
tristes
Que eu escuto
sem parar.
Talvez seja
porque eu ainda sou novo
Ou porque pareça
tão velho.
Talvez seja
porque eu ainda te ame
Mesmo nem
sabendo quem você é.
Talvez seja
porque eu fugi da Igreja
Quando eu
era só um garoto.
Talvez seja
um castigo dos céus
Ou meu
próprio desejo.
Talvez seja
porque eu escolhi
Ou porque eu
fiz o que não devia.
Talvez seja
porque eu ainda te ame
Mesmo não
sabendo quem você é.
Talvez seja
minha honestidade
Ou minha
falta de caráter.
Talvez seja
as bobagens que faço bêbado
Ou os poemas
que escrevo.
Talvez seja
porque os anos passem
E eu
continue o mesmo.
Talvez seja
porque os anos passem
E eu
continue com medo.
Talvez seja
porque eu ainda te amo
Mesmo não
sabendo quem você é.
Talvez seja
porque eu ainda me amo
Mesmo não
sabendo quem eu sou.
Ou talvez
não.
Talvez eu
não saiba explicar
Talvez eu
não saiba chorar
Não saiba
sentir
Não saiba
amar.
Talvez eu
seja o culpado
Talvez eu
esteja condenado
Talvez minha
vida esteja acabando
Talvez eu esteja
me matando.
Talvez eu
pule da ponte
Talvez eu
saia de viagem
Talvez eu
compre uma passagem
E vá direto
pra Bogotá.
Talvez eu vá
para o céu
Talvez eu vá
para o inferno
Talvez deus
eu sobreviva
Talvez eu me
vá.
Talvez você
volte
Talvez eu me
solte
Das garras
que insistem
Em me
acorrentar.
Talvez
porque eu ainda te ame
Mesmo sem
saber
Quem você é.
domingo, setembro 23, 2012
Olha só, eu vou me exilar. Eu vou daqui pra outro lugar.
Pessoas como eu só funcionam quando estão sofrendo. Eu deixei a minha cidade no
Paraná pra vir pra São Paulo, e agora eu quero deixar São Paulo pra ir lá pra
fora. Não é nada pessoal contra o Brasil, pelo contrário, eu adoro esse País. A
questão é que eu preciso me sentir isolado pra conseguir viver. Eu não fui
feito pra ver as coisas darem certo, você entende? Eu aceito a solidão e todos
os problemas que ela traz com ela. Eu vejo isso quase como uma benção. Mas eu
também vejo como uma maldição. Eu continuo sendo essa pessoa medrosa. Acho que
vai ser assim pra sempre. Meu Deus, que alguém me ajude, porque tem sido cada
vez mais difícil. Vocês nem imaginam o quanto.
domingo, setembro 09, 2012
Um poema para Oscar Wilde
Querido
Oscar Wilde,
Apesar dos maus presságios
Agonizando
sozinho em seu leito de morte
Desprezado,
abandonado e esquecido
Por
seus pobres e tolos contemporâneos
Que não
souberam admirar seu talento
Que não
souberam preservar sua vida
Que não
souberam compreender sua alma.
Querido
Oscar Wilde
Agora,
também estou sozinho
E também
agonizo
Enquanto
vejo minha vida
Se deteriorar
a cada dia.
Pudera
eu ter também contraído meningite
E deixar
esse mundo ruim
Assim
como você fez.
Querido
Oscar Wilde,
Eu
venho sofrendo muito
E enfrentado
muitos questionamentos
E me
sinto triste, insuportavelmente triste
Buscando
conforto em suas palavras
Que me
acolhem com gentileza
Que aliviam
minha tristeza.
Querido
Oscar Wilde
Não
sou um bom homem,
Não lido
bem com as palavras
E nem
tenho um grande amor.
Estou
completamente abandonado,
Completamente
sozinho,
E totalmente
perdido.
Não sei
para onde ir,
Ou o
que fazer
Ou quem
chamar
Ou como
me salvar.
Entendo
que o sofrimento
É um
momento muito longo
Mas gostaria
que você me dissesse
Se ele
tem um fim.
Certa
vez você disse
Que a
morte do coração
É a
mais horrível que existe.
É
uma pena, meu amado Oscar Wilde
Acredito
que este fato
Me torna
um eterno condenado.
Apesar dos maus presságios
E dos
tempos horríveis que vivo
Ainda
não desisti.
Por mais
inacreditável que pareça
Luto
pela vida como um leão.
E com
seus livros, busco algo
Que me
force a prosseguir.
Se
você estivesse aqui hoje
Diria
que sim, tenho conseguido.
E se
você estiver aqui amanhã
Espero
dizer-lhe que sim
Eu venci.
Querido
Oscar Wilde
Torça
Por
mim.
"É
preciso que eu diga a mim mesmo que fui o único responsável pela minha ruína e
que ninguém, seja ele grande ou pequeno, pode ser arruinado exceto pelas próprias
mãos. Estou pronto a afirmá-lo. Tento fazê-lo, embora eles possam não
concordar comigo neste momento. Esta impiedosa acusação eu a faço sem piedade
contra mim mesmo. Terrível foi sem dúvida o que o mundo fez comigo, mais
terrível ainda foi o que eu fiz contra mim mesmo."
Oscar Wilde
sábado, setembro 01, 2012
sexta-feira, agosto 24, 2012
Capítulo 2
Eu costumava guardar cartelas de um remédio psiquiátrico escondidas
na gaveta. Eu sabia que aquilo era uma grande bobagem e que eu era muito
medroso pra tentar me matar, mas a coisa ficava ali por questão de segurança.
Esses remédios tinham sido receitados por um psiquiatra com quem me consultei
uma vez. A família havia me obrigado a visitar uma psicóloga, o que se tornou
uma das experiências mais chatas que eu já vivi. Eu ficava lá olhando para o
rosto dela e para o relógio que ficava em cima de uma mesa de canto. Ela ficava
lá, tentando arrancar coisas de mim e me fazer acreditar que a vida era bela. A
vida não era bela, e ela também sabia disso. Talvez se eu ganhasse a mesma boa
quantia que ela a cada consulta eu também poderia começar a acreditar que a
vida é bela, mas este não era o caso. Mas, voltando ao que importa, eu mantinha
as cartelas com os comprimidos por pura questão de segurança. A coisa era tão
absurda que eu conseguia pensar em usá-las de manhã, e de tarde acreditar que a
vida era ótima, pra de noite voltar a acreditar que era algo horrível. De certa
forma, pode-se dizer que a preocupação da família em me mandar a um psicólogo era
justificada. Eu era o que podia se chamar de um “louco em potencial”, ou
qualquer termo psiquiátrico equivalente a isso. Se ainda vivêssemos na idade
média, eu provavelmente teria sido queimado em uma fogueira. Não que eu fosse
virar um seria killer ou fazer alguma idiotice dessas. Eu realmente não me
importava com os outros, o que era um problema ainda maior. Eu cheguei a pensar
que essa situação ia mudar quando conheci Daisy, que era uma garota adorável,
mas Daisy também era uma incrível puta que quebrou meu coração, e eu a odeio
por isso. Quando olho para a caixa de remédios, é nela que eu penso. Não só
nela, é claro. Eu penso nela e em todas as outras garotas que acabaram comigo,
e também penso nas milhares de outras que nem me deram a chance de quebrar meu
coração. E isso dói pra burro. Mas talvez seja só algo idiota da minha parte. Como
eu disse, eu sou um louco em potencial, e esse tipo de coisa não se explica com
facilidade.
Olha só, quando eu era criança eu queria ser astronauta.
Você vê cabimento em algo assim? É claro que não. Eu também quis ser dentista e
rock star, e é claro que eu não fui nada disso. Eu acabei virando um jornalista
meia-boca, que cobre qualquer evento chato por um prato de comida de buffet ou
uns canapés e cerveja. Você realmente acha que esse tipo de coisa vai me dar um
futuro? Eu podia ficar chateando as pessoas com esse tipo de questionamento,
mas eu nunca quis isso. Normalmente, eu vou pra um bar, bebo uma ou duas
cervejas, peço uma dose de gin tônica (geralmente feita com o gin mais
vagabundo), desço mais duas cervejas e fico por ali, lendo um livro de poesias que
eu peguei em algum sebo ou ouvindo algum disco antigo no mp3. É que eu
realmente não importo, e não se importar é a forma mais cretina de existir. Ás
vezes, encontro alguns amigos ou um casal de conhecidos. “Olha o Rick
Nicoletti, que filho da puta. Esse cara com certeza tem uns problemas na
cabeça. Sabia que ele nunca namorou? Que garota suportaria um doente assim?”, é
o que eu imagino que eles falam assim que se afastam da mesa. Mas é claro que eu
estou errado. Eles não tão estúpidos como eu ao ponto de se importar se eu sou
mesmo um idiota. Aí eles pedem um prato, normalmente massa e vinho, e ficam lá
discutindo sobre a novela, sobre o que fizeram em seus trabalhos, sobre a
maravilhosa viagem para Miami ou qualquer outro lugar idiota assim, e, por mais
contraditório que pareça, eu realmente acredito que eles são muito mais felizes
assim. Eu fico lá, remoendo os pensamentos, aí volto pra casa e coloco um disco
de rock ou jazz na vitrola e fico vendo a bolacha girar a 33 rotações por
minuto enquanto meu estômago embrulha. Aí eu sento na cama e fico encarando as
pessoas, repletas de quadros de bandas de rock, filmes B e escritores de
baixa moral. Aí eu penso: “o que esses
filhos da puta estariam fazendo no meu lugar?”, e imagino que eles estariam
fazendo coisa muito melhor, e é por isso que eu tenho fotos deles nas paredes.
Imagina se alguém um dia ia colocar uma foto minha na parede do próprio quarto
ou da própria casa? Que baita bobagem. “Quem é esse narigudo aqui?”,
perguntaria um amiguinho. “Ah, é um escritor maravilhoso que fala sobre as
maravilhas de ser um pseudo suicida, mas que é um cagão pra realizar tal ato”.
Patético, pra dizer o mínimo. “E ele morreu do que, este fabuloso escritor
suicida?”, questionaria o garotinho. E o meu jovem fã, coitado, responderia já
com a voz embasbaca e morrendo de vergonha de ter metido esse pôster besta na
parede: “Ah, ele teve um ataque cardíaco”, ou alguma outra morte comum desse
jeito. "Não foi casado, não teve filhos e morreu de velhice na mesma kitnet que
morou durante a maior parte da sua vida". Ah, que merda, hein?
Capítulo 1
Eu costumava ter disposição pra escrever. Olha só, eu tinha
dezoito anos de idade e tinha acabado de chegar em uma cidade gigantesca.
Aquilo tudo era novo pra mim, e eu ficava meio assustado e encantando, chutando
tampinhas na rua feito um personagem do João Antônio e andando pelas ruas como
o bom e velho Arturo Bandini, acreditando que atrás desses muros cinzas e dessa
cidade cheia de gente havia algo guardado pra mim, algo em que eu podia
acreditar. Infelizmente eu estava errado. Ainda não sou velho, mas sinto que
uma parte dessa esperança já foi embora. Era uma sensação totalmente diferente.
Eu olhava para o espelho, encarava aquele rosto jovem e acreditava que podia
ser um escritor. Eu sentava em frente ao notebook e digitava com fervor,
escrevia textos gigantes, recheados de uma poesia boba e pouco inspirada,
acreditando que eu estava fazendo algo verdadeiro, que aquilo ia me levar a
algum lugar. Depois, eu relia tudo e pensava em como era horrível. Mas parte de
mim acreditava nesse tipo de coisa. Pode até parecer bobagem, mas, olha só, eu
só tinha dezoito anos de idade. Você não pensa direito com essa idade. Teoricamente,
você já é um adulto, mas na verdade você só quer focar suas esperanças. Esse é
o lado triste de envelhecer. Aos poucos, suas opções vão se restringindo a
apenas quatro ou cinco. E depois, a duas ou três. Até que enfim chegam a uma
única opção. Se você fez a escolha errada em algum momento, você se lascou. Não
vai mais adiantar rezar, e seus pais não vão estar aqui pra te ajudar. Vai ser
sorte se você tiver uns amigos. Mas acredito que é melhor não pensar nisso.
O
pessoal frequentemente me aponta como um pessimista, e não posso dizer que eles estão errados. Ultimamente,
entrei numas de acreditar que eu era uma espécie de fantasma. Do tipo que
existe, mas só alguns conseguem enxergar. E quem vê normalmente se assusta.
Muito fantasioso? É, acredito que sim. Ainda lembro das professoras do primário
dizendo que eu era criativo até demais. Eu inventava personagens, países,
histórias e situações inimagináveis. Acredito que toda criança faz isso, mas no
meu caso isso acabou se tornando um problema. De certa forma, acho que nunca
consegui encarar o mundo da maneira correta – se é que ela existe, é claro. O
que eu quero dizer é que eu nunca consegui me adaptar a este tipo de coisa.
Costumava achar que se tivesse nascido em outra época, as coisas teriam sido
melhores, mas hoje em dia até mesmo essa utopia foi por água abaixo. Quer
dizer, é claro que eu ia querer viver em outra época, ouvir boa música e ver as
garotas usando aqueles vestidos e penteados lindos, e sem toda essa chateação
de proibir isso ou aquilo outro, mas no fundo eu sei que não seria tão
diferente assim. Eu ia continuar me olhando no espelho e perguntando onde está
aquela esperança que eu tinha aos dezoito anos de idade. “Você é um merda, Rick
Nicoletti”, dizem as vozes pra mim. Peraí, eu não quis dizer “as vozes” como
nesse papo de filme de terror ou de maluco atirador de cinema, é só mesmo uma
expressão. Eu nunca ouvi vozes, mas se algum dia eu ouvir eu tenho quase
certeza que elas vão me mandar parar de choramingar e criar alguma vergonha na
cara. “Desiste desse sonho besta, seu bostinha”,
é o que eu acho que eu ia ter que ouvir. Então é melhor ficar assim, não é?
Olha só, se tu chegou até aqui e aguento esse tipo de chorumela, é porque em
algum ponto você concordou comigo, e se você concordou comigo é porque a coisa
tá preta pro seu lado também. O quão lascado a gente tá? Ah, eu não sei mesmo.
Mas eu nem quero mais viver essa vidinha chata de ir pro trabalho, pra
faculdade, pra casa, pro bar, e daí pra casa de novo, mas é exatamente o que eu
acabo fazendo durante todo o ano. Acho que não há muita opção. Será que se eu
meter uma mochila nas costas e sair por aí eu sobrevivo? Eu cresci em
apartamentos, e o máximo de contato com a natureza que eu tive foi um
acampamento meia boca com uma galera que eu conhecia, ao qual eu só fui porque
estava muito apaixonado por uma menina, que por sua vez me deu um belo pé na
bunda, o que me deixou deprimido, o que por sua vez me fez me trancar no
apartamento e beber mais, o que por sua vez também me fez escrever mais, o que
eu também achei uma grande bobagem de baixa qualidade literária. Agora entende
o que eu quero dizer? Espero que sim, porque eu mesmo não entendo, e na verdade
eu acho que nunca vou entender.
quarta-feira, agosto 08, 2012
terça-feira, agosto 07, 2012
Basta!
vamos dizer que uma hora eu simplesmente desisti
veja bem, não havia mais motivos.
pra que despejar tanta bobagem no papel?
pra que gastar os miolos com versos tão inúteis,
tão mesquinhos, tão fúteis?
oras, muitos outros haviam feito isso de forma muito melhor.
quanta petulância! crer que esses pequenos acontecimentos
tão pouco graciosos e tão desprovidos de paixão
rendessem um romance? um poema azarão.
por favor, basta! Outros mereciam mais.
Então, toquei a vida. E ela foi dura.
Foi cruel e foi muito má.
Paciência - pensei ali.
Tudo isso há de passar.
Não vá se meter com as letras, garoto.
Não vá se meter a escrever.
Suas palavras são tão pouco jeitosas
tão pouco proveitosas
tão pouco honestas
mas muito abundantes
muito desnecessárias
muito exaltadas!
Oh - por Deus!
Se Arthur Rimbaud me ensinou algo
foi a não me meter com tais bobagens.
Mas eu, teimoso, teimei novamente
e persisti no erro
crasso, que me acabou custando
muitas coisas melhores.
Veja bem, minha querida
As coisas que eles escrevem nos livros
não funcionam tão bem na vida.
As palavras dos poemas
tão bonitas e dispostas em belos esquemas
não honram com minhas próprias
e pobres comiserações.
Não há de que se preocupar
Outros melhores vieram
outros melhores virão
A mim basta
de escrever essas palavras
tão mesquinhas, tão fúteis
mas tão cheias
de paixão.
domingo, julho 22, 2012
"Acho que nos demos conta, como qualquer outro bando de jovens teria percebido também, que o blues não se aprende num monastério. É preciso entrar na vida e ficar de coração partido e depois voltar, para então poder cantar o blues. De preferência, várias vezes. Naquele tempo, estávamos nos dedicando num nível puramente musical, esquecendo que aqueles caras estavam cantando a respeito de coisas que tinham acontecido. Primeiro, você tem de viver a coisa, se arrebentar. Depois, você dá a volta por cima e canta essa história."
Keith Richards
Keith Richards
domingo, junho 24, 2012
domingo, maio 27, 2012
aos poucos
me tornei um desses idiotas
que vivem vidas miseráveis
que acordam, e se banham
e trabalham
e choram a noite
quando estão sozinhos.
aos poucos
me tornei odiável
só mais um cara solitário
perdido entre tanta gente
ruim.
aos poucos
desperdicei minhas oportunidades
e sonhei com a morte
que ainda há de chegar.
sexta-feira, maio 25, 2012
O Maior Intérprete do Mundo ou Como Louis Armstrong Salvou Minha Vida
Louis Armstrong é único. Li dia desses que sua imortal versão
de “What A Wonderful World” está entre as dez músicas mais tocadas em um famoso
crematório da cidade de São Paulo. Só isso já mostraria como Louis Armstrong é
importante nesta e na outra vida. Seu sorriso brilhante, seus ternos alinhados,
seu fabuloso trompetista, e, é claro, sua voz grave, suave, reconfortante e
apaixonante. Me perdoem pela repetição de adjetivos comuns, mas, ainda assim,
nenhum deles faz jus ao sentimento causado por uma audição de Louis Armstrong.
Quando ele sorri, todos nós sorrimos também. Não há como
não se sentir tocado por aquele sorriso cativante, aberto e receptivo emanado
do rosto de Louis Armstrong. Não há como não se apaixonar por sua marcante e
histórica introdução de “What A Wonderful World” (de novo ela), na fantástica versão
de 1970, facilmente encontrada na internet.
Louis Armstrong foi um poeta da música. O título,
frequentemente associado a grandes letristas, tais como Lennon, Dylan e Morrissey, pode ser aplicado a Armstrong no sentido
puramente musical. Poucos sintetizaram a emoção em ondas sonoras como Louis. O
momento que antecede a letra, o calor de sua voz emanando dos alto-falantes, e
o calmo e aconchegante final da canção traduz felicidade em música.
Ouvir Louis Armstrong é como ouvir Deus. Não sou
religioso, e nem sigo uma doutrina específica, mas, no íntimo de meu ser pouco
erudito e muito tocado, imagino que se as santidades falassem elas soariam
como Louis Armstrong. Não que Luis fosse um Deus. Ele era um humano, como eu e
como você, e é exatamente aí que está toda a magia.
Louis não tinha pressa. Louis não precisava se preocupar
com as contas do mês ou com qual sabor de pizza pediria na próxima vez. Ele
poderia (e devia) até se preocupar com isso, mas não quando cantava.
Definitivamente não. Louis era único em sua magnitude. Louis evocava as notas
com a calma de um beato que se prepara para a comunhão. Não sei se Louis era
católico, evangélico ou pagão. Não sei se teve amores, filhos ou se preferia
lasanha a spaghetti. Sei que ele podia cantar como poucos cantaram, e sei que ele
foi absoluto em sua vocação.
Louis – se me permite chama-lo de forma tão carinhosa e
íntima – seria um homem comum. Talvez até menos comum, considerando os tristes
e nada saudosos tempos de uma América racista e segregada. Mas Louis tinha o “feeling”.
Louis podia cantar como se o mundo estivesse prestes a acabar e ele não ligasse
nem um pouco para isso. Quando penso em Louis, imagino um sujeito tranquilo e
sábio, uma espécie de avô carinhoso que joga xadrez e ouve o noticiário no
rádio. Um cidadão de bem, que anda tranquilo na calçada, com seu paletó e seu
chapéu enfiado na cabeça, assobiando um jazz com a calma que só os grandes
homens têm.
Louis não precisaria ser um músico para ser um grande
homem. A áurea transmitida por ele já seria mais do que suficiente para cumprir
esta função.
Posso estar sendo muito intuitivo e sonhador ao proferir tais
afirmações (e provavelmente o seja), mas em relação a Louis, tenho uma certeza
quase absoluta de que estou no caminho certo. Quando Louis canta,eu, minha mãe,
minha avó e os defuntos do crematório da Vila Alpina sorriem com ele. Quando
Louis canta, até cachorros vira-lata uivam com mais prazer para a lua. Não um
uivo faminto e solitário, mas um uivo consolador e beatificado. Louis tem um
lugar reservado no céu, e acredito que ele tenha levado um pouco de cada um de
nós para lá. É onde estamos quando ouvimos suas belas músicas. E é onde
estaremos quando a última nota de “What A Wonderful World” soar.
terça-feira, maio 15, 2012
quinta-feira, maio 03, 2012
me encontrei sozinho
braços dados com a loucura
amando a solidão
tratado como um rei
pelo descaso
sonhando com objetivos
nunca antes alcançados
mas sabia que era em vão
sabia que aquilo não me levaria
a nenhum lugar.
oh, porra
por que sou obrigado
a constantemente lutar?
se o que me restou
foram esses velhos punhos
estou em sérios apuros.
pode acreditar.
eu e minhas rimas vagabundas
ainda tentamos
não acabar.
eu e minhas rimas vagabundas
ainda sonhamos
com um bom lugar.
onde eu não seja
impelido a escrever
este tipo de coisa.
onde eu não seja
impelido a viver
desta forma
tão tola.
braços dados com a loucura
amando a solidão
tratado como um rei
pelo descaso
sonhando com objetivos
nunca antes alcançados
mas sabia que era em vão
sabia que aquilo não me levaria
a nenhum lugar.
oh, porra
por que sou obrigado
a constantemente lutar?
se o que me restou
foram esses velhos punhos
estou em sérios apuros.
pode acreditar.
eu e minhas rimas vagabundas
ainda tentamos
não acabar.
eu e minhas rimas vagabundas
ainda sonhamos
com um bom lugar.
onde eu não seja
impelido a escrever
este tipo de coisa.
onde eu não seja
impelido a viver
desta forma
tão tola.
oh lord
i remember the times
i pledged myself
to pray for salvation
pray for destiny
pray for love
and none of this
every work out
none of this
ever went
really well
so lord
don't make me
face all those people
again.
the problem
is that
they're untrue
with them
and even more
with myself
and, my lord
they enjoy
to be this way
but i never enjoyed
in any
way.
i remember the times
i pledged myself
to pray for salvation
pray for destiny
pray for love
and none of this
every work out
none of this
ever went
really well
so lord
don't make me
face all those people
again.
the problem
is that
they're untrue
with them
and even more
with myself
and, my lord
they enjoy
to be this way
but i never enjoyed
in any
way.
sozinho
às duas e vinte
da madrugada
não há mais nada
para nos salvar
dos inevitáveis
e aterrorizantes
pensamentos
que surgem
como fantasmas
que nos alcançam
como cobras
e nos enrolam
e nos detonam
e acabam com
qualquer resto
de esperança
que ainda insista
em manter-se
acesa, quando
todas as luzes
da cidade
já estão,
apagadas.
domingo, abril 29, 2012
chorei quando os anjos me avisaram
que não havia uma saída mais fácil
que não havia esperança nas ruas.
chorei quando me deparei
com as últimas gotas da garrafa
quando me vi sozinho
contando piadas
que não faziam ninguém rir.
percebi a inexatidão do mundo
quando as sombras me perseguiram
e os fantasmas me amedrontaram.
percebi que estava sozinho
e que assim ficaria.
que eu estava sozinho
até o fim dos meus dias.
o diabo riu de mim
e disse que procurei tudo aquilo
disse que eu devia me matar
que encontraria a rendição.
o diabo, salafrário
falou isso
com exatidão.
percebi que eu estava perdido
que a chuva não acabaria
que felicidade
eu nunca encontraria.
percebi que estava destinado
a cometer pequenas rimas
a perder meu coração
para boas meninas.
o diabo riu novamente
e me disse pra desistir.
mal sabia ele,
que eu nunca tinha
jogado.
mal sabia ele,
que esse fracasso
já estava anunciado.
que não havia uma saída mais fácil
que não havia esperança nas ruas.
chorei quando me deparei
com as últimas gotas da garrafa
quando me vi sozinho
contando piadas
que não faziam ninguém rir.
percebi a inexatidão do mundo
quando as sombras me perseguiram
e os fantasmas me amedrontaram.
percebi que estava sozinho
e que assim ficaria.
que eu estava sozinho
até o fim dos meus dias.
o diabo riu de mim
e disse que procurei tudo aquilo
disse que eu devia me matar
que encontraria a rendição.
o diabo, salafrário
falou isso
com exatidão.
percebi que eu estava perdido
que a chuva não acabaria
que felicidade
eu nunca encontraria.
percebi que estava destinado
a cometer pequenas rimas
a perder meu coração
para boas meninas.
o diabo riu novamente
e me disse pra desistir.
mal sabia ele,
que eu nunca tinha
jogado.
mal sabia ele,
que esse fracasso
já estava anunciado.
lembro da garota que costumava
me visitar com cervejas
e ouvir meu disco
e ler meus poemas
e escutar meus problemas.
lembro da garota
que acreditava em mim
que dizia que eu seria
grande, um dia.
lembro dela, com tristeza
com saudade e
com paixão.
não fomos feitos
um para o outro
não ficaremos
juntos jamais
mas, meu deus
que falta
ela me faz.
lembro da garota
que salvou minha vida.
pena que minha falta
não seja tão sentida.
lembro do garoto
que costumava escrever
e beber cerveja
clamando por paixão.
lembro desse garoto
crescido e triste
clamando por perdão.
talvez tudo tenha acabado
já há muito tempo.
esse garoto, nunca foi um bom rapaz.
sorte nossa, que hoje em dia
ele já descansa
em paz.
me visitar com cervejas
e ouvir meu disco
e ler meus poemas
e escutar meus problemas.
lembro da garota
que acreditava em mim
que dizia que eu seria
grande, um dia.
lembro dela, com tristeza
com saudade e
com paixão.
não fomos feitos
um para o outro
não ficaremos
juntos jamais
mas, meu deus
que falta
ela me faz.
lembro da garota
que salvou minha vida.
pena que minha falta
não seja tão sentida.
lembro do garoto
que costumava escrever
e beber cerveja
clamando por paixão.
lembro desse garoto
crescido e triste
clamando por perdão.
talvez tudo tenha acabado
já há muito tempo.
esse garoto, nunca foi um bom rapaz.
sorte nossa, que hoje em dia
ele já descansa
em paz.
o que você
espera que eu diga?
cheguei ao limite
e não posso mais correr.
perder suas esperanças
aos 22 anos de idade
nunca é um bom negócio.
hoje, sou sozinho
como fui na maior parte
da minha vida.
e ouço george harrison
e fumo cigarros
e sonho com um futuro melhor.
mas já não acredito muito mais
nisso tudo.
talvez eu devesse
achar a saída.
o problema é que a procuro
desde que eu tinha
16 anos.
e quer saber?
acho mesmo
que ela não existe.
se você encontrá-la,
por favor, não hesite.
me mostre logo
pois preciso
dar um jeito
nisso tudo.
e preciso
ir embora
desse mundo.
quinta-feira, abril 19, 2012
foram anos de angústia
anos de solidão
anos escrevendo para mim mesmo
anos respondendo a mim mesmo.
foram anos em que me sentei a beira da janela
e contemplei de forma idiota os carros
e ouvi louis armstrong e howlin wolf
pensando que tudo ficaria melhor
se tivesse uma voz daquelas.
foram anos de pouco dinheiro
de muitas preocupações
anos de questionamentos
de medo, de desespero.
foram anos rezando,
sonhando, com algo melhor
foram mais alguns anos
até descobrir que este algo
não mais viria.
e mais alguns para
me adaptar a minha nova
vida.
foram anos que passaram devagar
mas também passaram tão rápido.
foram anos que ainda estão passando
anos em que continuo sofrendo
anos em que continuo sonhando.
anos sem saber escrever
anos sem saber o que fazer
anos sem acreditar
anos sem sonhar.
foram anos em que pedi
que algo me tirasse daqui.
anos que passei sozinho
contando detalhes das paredes
da velha kitnet.
foram anos esperando
você chegar.
e você ainda não veio.
creio que agora já posso
parar de contar os anos
e contar só os meses
pro triste fim
dos meus poucos longos anos.
quarta-feira, abril 18, 2012
sinto saudades de suas pernas brancas
contrastando com meu lençol azul
e de te olhar bebendo cerveja
enquanto o disco dos Ramones toca na vitrola
e você bebe cerveja e fuma
sonhando com os dias melhores
que você já alcançou.
sinto falta de você
dizendo como sou mal-humorado
e de como prejudico a mim mesmo
sendo alguém tão infeliz.
infelizmente, baby
esta não foi minha primeira opção.
aceitei as coisas como elas vieram
e meu tempo de lutar
bem, já passou.
sinto falta de falar contigo
sobre filmes antigos
e de te mostrar meus discos
e emprestar meus livros.
sinto falta de torcer pela chegada
do final de semana
e de te ouvir reclamar
sobre minhas imprestáveis ressacas.
sinto falta de ter uma chance
uma única chance
de sair daqui.
sinto falta de não ser
esse velho idiota
mas eu sabia
e você também
que eu estava destinado
a esse futuro solitário.
não é minha culpa, baby.
veja bem, eu tive poucas opções
e mesmo assim escolhi
as alternativas erradas.
já é muito tarde
e sei disso,
tão bem quanto você.
já é muito tarde,
e a única verdade
é que provavelmente
a gente nunca mais volte
a se ver.
então seja feliz,
pelo amor de deus.
nessa história toda errada
um de nós tinha que vencer.
honestamente,
sempre achei que esse alguém
seria você.
contrastando com meu lençol azul
e de te olhar bebendo cerveja
enquanto o disco dos Ramones toca na vitrola
e você bebe cerveja e fuma
sonhando com os dias melhores
que você já alcançou.
sinto falta de você
dizendo como sou mal-humorado
e de como prejudico a mim mesmo
sendo alguém tão infeliz.
infelizmente, baby
esta não foi minha primeira opção.
aceitei as coisas como elas vieram
e meu tempo de lutar
bem, já passou.
sinto falta de falar contigo
sobre filmes antigos
e de te mostrar meus discos
e emprestar meus livros.
sinto falta de torcer pela chegada
do final de semana
e de te ouvir reclamar
sobre minhas imprestáveis ressacas.
sinto falta de ter uma chance
uma única chance
de sair daqui.
sinto falta de não ser
esse velho idiota
mas eu sabia
e você também
que eu estava destinado
a esse futuro solitário.
não é minha culpa, baby.
veja bem, eu tive poucas opções
e mesmo assim escolhi
as alternativas erradas.
já é muito tarde
e sei disso,
tão bem quanto você.
já é muito tarde,
e a única verdade
é que provavelmente
a gente nunca mais volte
a se ver.
então seja feliz,
pelo amor de deus.
nessa história toda errada
um de nós tinha que vencer.
honestamente,
sempre achei que esse alguém
seria você.
terça-feira, abril 17, 2012
Só mais um punhado de vômito literário
Mastigo cigarros chupando drops de menta da garoto enquanto tenta me lembrar porque parei de escrever. Por que parei de escrever? Me pergunto de um jeito idiota – o jeito comum que adquiri para a minha vida insossa e pouco emocionante.
Foi a vida insossa e pouco emocionante? Pros diabos, nunca saberei, e passo a detestar essas auto-perguntas idiotas, do jeito comum que adquiri pra minha vida insossa e pouco emocionante. Aí coloco um disco do Badfinger pra tocar e fico tentando lembrar dos caminhos que a vida me levou, e aonde algo deu errado. Quer dizer, algo tinha dado errado desde o ínicio, esse não é o ponto, o ponto é aonde eu tentei fazer com que esse algo parasse de dar errado.
Era bem melhor quando algo dava errado e eu abria uma página do Word e começava a despejar bobagens, normalmente entornando umas cervejinhas ou um vinho desses de cinco reais, sem me preocupar com trabalho ou com o que eu ia fazer no dia seguinte. Eu sabia que tudo tava perdido quando comecei a pensar no que eu ia fazer no dia seguinte. Eu só encostava a cabeça no travesseiro e ficava sonhando acordado com bobagens inalcançáveis, mas porra, eram bobagens muito boas pra ser verdade. Até que um dia, “a primavera me trouxe o riso horrível do idiota”, parafraseando o bom e velho Rimbaud, e percebi que eu estava perdendo tudo. Quer dizer, eu não estava perdendo nada, mas esse nada era do caralho. Esse nada me fazia esvaziar garrafas e acreditar em alguma bobagem, mesmo sabendo que ela era inalcançável. Esse nada me ajudava a colocar uns discos dos Stones na vitrola e pensar nos erros e acertos, quando eu bem sabia que a maior parte eram só erros.
E pra falar a verdade, eu gostava muito disso. Eu não queria acertar. Havia poesia no erro, havia charme no fundo do poço. Era escuro, frio e solitário, mas era melhor do que aqui em cima. Eu não sabia disso. Eu nunca soube disso. Na verdade, eu nunca soube de porra nenhuma. E eu lá podia imaginar que subir e encarar a vida ia ser uma merda ainda maior? Mas o que diabos eu podia fazer? Eu acabei de prometer que não ia mais me fazer auto-perguntas, e nem isso eu consegui cumprir. É esse o tipo de coisa que faz falta pra um tolo como eu. Correr atrás de ideias estúpidas, como encontrar a salvação em um boteco fodido, igual aquele da Brigadeiro Luís Antônio, que vende cerveja por quatro contos e pinga por um real e cinquenta centavos – setenta nos bons tempos, e três a cerveja.
Mas os tempos passaram, e não voltam mais. Essa porra de tempo tá passando o tempo todo, quando ouço o tic toc do ponteiro do relógio, ou, o que é ainda pior, quando ele é digital e não faz barulho nenhum, como se dissesse: “te cuida, moleque, teu tempo tá passando em silencia, e você tá aí, contemplando idiotices e vivendo essa vidinha babaca”. E puta que pariu, como ele tem razão. Taí algo que eu nunca tive, e que provavelmente nunca vou ter.
Eu nunca consegui ser um porra louca. Eu sempre soube que não tinha o cacife necessário. Apesar dos pesares e das dificuldades, consegui me transformar em um belíssimo escroto. Tenho meia dúzia de convicções bobas, não acredito em muitas coisas e gasto a maior parte do meu tempo sozinho. Será que era isso que eu estava procurando? Ah não, malditas auto-perguntas, não quero ser torturado novamente por esses questionamentos sem sentido.
E eu nem mesmo sei o que fazer agora que vejo tudo calmo e quieto, e ruim e desconexo. Fico olhando pra essas pilhas de discos e livros tentando descobrir o que vai me salvar hoje. Aí escolho um disco, coloco pra tocar, abro um livro e fico folheando pra relembrar qualquer passagem besta que saque o meu momento idiota e pouco inspirado. Normalmente funciona, mas ultimamente eu nem tenho tido mais vontade de fazer isso. Virei uma espécie de vegetal estúpido, sentado aqui, olhando pra essa merda de tela de computador e deixando os dedos digitarem qualquer merda, que ninguém nunca vai ler, aliás.
Eu nunca mesmo quis que as pessoas lessem essas coisas. Acho que ninguém merece ser tão torturado com algo tão pouco inspirado, tão sem sentido e tão pobre de espírito. Aí me lembro do erro que foi ter subido do fundo do poço, e acho que talvez meu espírito maltrapilho e sonhador (desse tipo sonhador ingênuo, que acredita em bandas de rock e poeminhas sobre lesmas que se afogam em copos de cerveja), tenha ficado lá embaixo, no escuro, quieto e esquecido, morto e enterrado. E o pior de tudo isso é que eu acho que ele está melhor por lá. Enquanto isso, eu continuo por aqui. Até quando, eu nunca sei.
Foi a vida insossa e pouco emocionante? Pros diabos, nunca saberei, e passo a detestar essas auto-perguntas idiotas, do jeito comum que adquiri pra minha vida insossa e pouco emocionante. Aí coloco um disco do Badfinger pra tocar e fico tentando lembrar dos caminhos que a vida me levou, e aonde algo deu errado. Quer dizer, algo tinha dado errado desde o ínicio, esse não é o ponto, o ponto é aonde eu tentei fazer com que esse algo parasse de dar errado.
Era bem melhor quando algo dava errado e eu abria uma página do Word e começava a despejar bobagens, normalmente entornando umas cervejinhas ou um vinho desses de cinco reais, sem me preocupar com trabalho ou com o que eu ia fazer no dia seguinte. Eu sabia que tudo tava perdido quando comecei a pensar no que eu ia fazer no dia seguinte. Eu só encostava a cabeça no travesseiro e ficava sonhando acordado com bobagens inalcançáveis, mas porra, eram bobagens muito boas pra ser verdade. Até que um dia, “a primavera me trouxe o riso horrível do idiota”, parafraseando o bom e velho Rimbaud, e percebi que eu estava perdendo tudo. Quer dizer, eu não estava perdendo nada, mas esse nada era do caralho. Esse nada me fazia esvaziar garrafas e acreditar em alguma bobagem, mesmo sabendo que ela era inalcançável. Esse nada me ajudava a colocar uns discos dos Stones na vitrola e pensar nos erros e acertos, quando eu bem sabia que a maior parte eram só erros.
E pra falar a verdade, eu gostava muito disso. Eu não queria acertar. Havia poesia no erro, havia charme no fundo do poço. Era escuro, frio e solitário, mas era melhor do que aqui em cima. Eu não sabia disso. Eu nunca soube disso. Na verdade, eu nunca soube de porra nenhuma. E eu lá podia imaginar que subir e encarar a vida ia ser uma merda ainda maior? Mas o que diabos eu podia fazer? Eu acabei de prometer que não ia mais me fazer auto-perguntas, e nem isso eu consegui cumprir. É esse o tipo de coisa que faz falta pra um tolo como eu. Correr atrás de ideias estúpidas, como encontrar a salvação em um boteco fodido, igual aquele da Brigadeiro Luís Antônio, que vende cerveja por quatro contos e pinga por um real e cinquenta centavos – setenta nos bons tempos, e três a cerveja.
Mas os tempos passaram, e não voltam mais. Essa porra de tempo tá passando o tempo todo, quando ouço o tic toc do ponteiro do relógio, ou, o que é ainda pior, quando ele é digital e não faz barulho nenhum, como se dissesse: “te cuida, moleque, teu tempo tá passando em silencia, e você tá aí, contemplando idiotices e vivendo essa vidinha babaca”. E puta que pariu, como ele tem razão. Taí algo que eu nunca tive, e que provavelmente nunca vou ter.
Eu nunca consegui ser um porra louca. Eu sempre soube que não tinha o cacife necessário. Apesar dos pesares e das dificuldades, consegui me transformar em um belíssimo escroto. Tenho meia dúzia de convicções bobas, não acredito em muitas coisas e gasto a maior parte do meu tempo sozinho. Será que era isso que eu estava procurando? Ah não, malditas auto-perguntas, não quero ser torturado novamente por esses questionamentos sem sentido.
E eu nem mesmo sei o que fazer agora que vejo tudo calmo e quieto, e ruim e desconexo. Fico olhando pra essas pilhas de discos e livros tentando descobrir o que vai me salvar hoje. Aí escolho um disco, coloco pra tocar, abro um livro e fico folheando pra relembrar qualquer passagem besta que saque o meu momento idiota e pouco inspirado. Normalmente funciona, mas ultimamente eu nem tenho tido mais vontade de fazer isso. Virei uma espécie de vegetal estúpido, sentado aqui, olhando pra essa merda de tela de computador e deixando os dedos digitarem qualquer merda, que ninguém nunca vai ler, aliás.
Eu nunca mesmo quis que as pessoas lessem essas coisas. Acho que ninguém merece ser tão torturado com algo tão pouco inspirado, tão sem sentido e tão pobre de espírito. Aí me lembro do erro que foi ter subido do fundo do poço, e acho que talvez meu espírito maltrapilho e sonhador (desse tipo sonhador ingênuo, que acredita em bandas de rock e poeminhas sobre lesmas que se afogam em copos de cerveja), tenha ficado lá embaixo, no escuro, quieto e esquecido, morto e enterrado. E o pior de tudo isso é que eu acho que ele está melhor por lá. Enquanto isso, eu continuo por aqui. Até quando, eu nunca sei.
segunda-feira, abril 02, 2012
quarta-feira, março 28, 2012
sábado, março 24, 2012
quarta-feira, março 21, 2012
Costumava imaginar que tinha morrido. Relia tudo o que tinha escrito, e as palavras apareciam mais claras, mais belas e mais sinceras. Quando se morre, tudo se torna mais poético. Costumava achar que seria um grande poeta se morresse. Seria Arthur Rimbaud até seus 21 anos. Seria Jack Kerouac destilando prosas poéticas para os solitários. Seria um poeta apaixonado e honesto, mas, além de tudo isso, seria morto, inatingível. Pra que ser poeta ainda vivo? Pra que prestar contas aos outros? Pra que se explicar em entrevistas e matar seu próprio mito? Ah, passar bem, meu caro. Nada disso tinha muita raça. Nada disso tinha nenhuma graça. A verdade da literatura estava na paixão, na dor, na morte. A verdade da literatura estava enterrada e descansava em paz. Pra se fazer poesia não se pode estar vivo. Pelo menos não de espírito. Quando se poetiza, é porque algo ali já morreu. É porque é hora de enterrar os velhos fantasmas que insistem em nos assombrar. A grande magia estava no passado, no que foi vivido, sofrido, escrito e enterrado. O que acontece agora? Pouco me importa o que acontece agora! Bando de cretinos, empurrando suas angústias atuais e me empurrando suas preocupações pela goela! Eu não quero nada disso! Eu quero ver o canto dos calados, o choro dos falecidos, a desgraçada dos passados. Nada é mais bonito do que uma tristeza não resolvida. Nada é mais brilhante do que uma alma adormecida. É porque quando calam o corpo, a alma fica mais bonita.
Um viva a todos os poetas já mortos e enterrados. Que seus segredos permaneçam intactos. Que suas almas permaneçam abençoadas.
Um viva a todos os poetas já mortos e enterrados. Que seus segredos permaneçam intactos. Que suas almas permaneçam abençoadas.
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