terça-feira, abril 17, 2012

Só mais um punhado de vômito literário

Mastigo cigarros chupando drops de menta da garoto enquanto tenta me lembrar porque parei de escrever. Por que parei de escrever? Me pergunto de um jeito idiota – o jeito comum que adquiri para a minha vida insossa e pouco emocionante.

Foi a vida insossa e pouco emocionante? Pros diabos, nunca saberei, e passo a detestar essas auto-perguntas idiotas, do jeito comum que adquiri pra minha vida insossa e pouco emocionante. Aí coloco um disco do Badfinger pra tocar e fico tentando lembrar dos caminhos que a vida me levou, e aonde algo deu errado. Quer dizer, algo tinha dado errado desde o ínicio, esse não é o ponto, o ponto é aonde eu tentei fazer com que esse algo parasse de dar errado.

Era bem melhor quando algo dava errado e eu abria uma página do Word e começava a despejar bobagens, normalmente entornando umas cervejinhas ou um vinho desses de cinco reais, sem me preocupar com trabalho ou com o que eu ia fazer no dia seguinte. Eu sabia que tudo tava perdido quando comecei a pensar no que eu ia fazer no dia seguinte. Eu só encostava a cabeça no travesseiro e ficava sonhando acordado com bobagens inalcançáveis, mas porra, eram bobagens muito boas pra ser verdade. Até que um dia, “a primavera me trouxe o riso horrível do idiota”, parafraseando o bom e velho Rimbaud, e percebi que eu estava perdendo tudo. Quer dizer, eu não estava perdendo nada, mas esse nada era do caralho. Esse nada me fazia esvaziar garrafas e acreditar em alguma bobagem, mesmo sabendo que ela era inalcançável. Esse nada me ajudava a colocar uns discos dos Stones na vitrola e pensar nos erros e acertos, quando eu bem sabia que a maior parte eram só erros.

E pra falar a verdade, eu gostava muito disso. Eu não queria acertar. Havia poesia no erro, havia charme no fundo do poço. Era escuro, frio e solitário, mas era melhor do que aqui em cima. Eu não sabia disso. Eu nunca soube disso. Na verdade, eu nunca soube de porra nenhuma. E eu lá podia imaginar que subir e encarar a vida ia ser uma merda ainda maior? Mas o que diabos eu podia fazer? Eu acabei de prometer que não ia mais me fazer auto-perguntas, e nem isso eu consegui cumprir. É esse o tipo de coisa que faz falta pra um tolo como eu. Correr atrás de ideias estúpidas, como encontrar a salvação em um boteco fodido, igual aquele da Brigadeiro Luís Antônio, que vende cerveja por quatro contos e pinga por um real e cinquenta centavos – setenta nos bons tempos, e três a cerveja.

Mas os tempos passaram, e não voltam mais. Essa porra de tempo tá passando o tempo todo, quando ouço o tic toc do ponteiro do relógio, ou, o que é ainda pior, quando ele é digital e não faz barulho nenhum, como se dissesse: “te cuida, moleque, teu tempo tá passando em silencia, e você tá aí, contemplando idiotices e vivendo essa vidinha babaca”. E puta que pariu, como ele tem razão. Taí algo que eu nunca tive, e que provavelmente nunca vou ter.

Eu nunca consegui ser um porra louca. Eu sempre soube que não tinha o cacife necessário. Apesar dos pesares e das dificuldades, consegui me transformar em um belíssimo escroto. Tenho meia dúzia de convicções bobas, não acredito em muitas coisas e gasto a maior parte do meu tempo sozinho. Será que era isso que eu estava procurando? Ah não, malditas auto-perguntas, não quero ser torturado novamente por esses questionamentos sem sentido.

E eu nem mesmo sei o que fazer agora que vejo tudo calmo e quieto, e ruim e desconexo. Fico olhando pra essas pilhas de discos e livros tentando descobrir o que vai me salvar hoje. Aí escolho um disco, coloco pra tocar, abro um livro e fico folheando pra relembrar qualquer passagem besta que saque o meu momento idiota e pouco inspirado. Normalmente funciona, mas ultimamente eu nem tenho tido mais vontade de fazer isso. Virei uma espécie de vegetal estúpido, sentado aqui, olhando pra essa merda de tela de computador e deixando os dedos digitarem qualquer merda, que ninguém nunca vai ler, aliás.

Eu nunca mesmo quis que as pessoas lessem essas coisas. Acho que ninguém merece ser tão torturado com algo tão pouco inspirado, tão sem sentido e tão pobre de espírito. Aí me lembro do erro que foi ter subido do fundo do poço, e acho que talvez meu espírito maltrapilho e sonhador (desse tipo sonhador ingênuo, que acredita em bandas de rock e poeminhas sobre lesmas que se afogam em copos de cerveja), tenha ficado lá embaixo, no escuro, quieto e esquecido, morto e enterrado. E o pior de tudo isso é que eu acho que ele está melhor por lá. Enquanto isso, eu continuo por aqui. Até quando, eu nunca sei.

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