Costumava imaginar que tinha morrido. Relia tudo o que tinha escrito, e as palavras apareciam mais claras, mais belas e mais sinceras. Quando se morre, tudo se torna mais poético. Costumava achar que seria um grande poeta se morresse. Seria Arthur Rimbaud até seus 21 anos. Seria Jack Kerouac destilando prosas poéticas para os solitários. Seria um poeta apaixonado e honesto, mas, além de tudo isso, seria morto, inatingível. Pra que ser poeta ainda vivo? Pra que prestar contas aos outros? Pra que se explicar em entrevistas e matar seu próprio mito? Ah, passar bem, meu caro. Nada disso tinha muita raça. Nada disso tinha nenhuma graça. A verdade da literatura estava na paixão, na dor, na morte. A verdade da literatura estava enterrada e descansava em paz. Pra se fazer poesia não se pode estar vivo. Pelo menos não de espírito. Quando se poetiza, é porque algo ali já morreu. É porque é hora de enterrar os velhos fantasmas que insistem em nos assombrar. A grande magia estava no passado, no que foi vivido, sofrido, escrito e enterrado. O que acontece agora? Pouco me importa o que acontece agora! Bando de cretinos, empurrando suas angústias atuais e me empurrando suas preocupações pela goela! Eu não quero nada disso! Eu quero ver o canto dos calados, o choro dos falecidos, a desgraçada dos passados. Nada é mais bonito do que uma tristeza não resolvida. Nada é mais brilhante do que uma alma adormecida. É porque quando calam o corpo, a alma fica mais bonita.
Um viva a todos os poetas já mortos e enterrados. Que seus segredos permaneçam intactos. Que suas almas permaneçam abençoadas.
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