domingo, janeiro 30, 2011

Ask the dust

You got a bottle from your purse and we drank it up; first your turn, then mine. When the bottle was empty I went down to the drugstore and bought another, a big bottle. All night we wept and we drank, and drunk I could say the things bubbling in my heart, all those swell words, all the clever similes, because you were crying for the other guy and you didn't hear a word I said, but I heard them myself, and Arturo Bandini was pretty good that night, because he was talking to his true love, and it wasn't you, and it wasn't Vera Rivken either, it was just his true love. But I said some swell things that night, Camilla. Kneelling beside you on the bed. I held your hand and I said, "Ah Camilla, you lost girl! Open your long fingers and give me back my soul! Kiss me with your mouth because I hunger for the bread of a Mexican hill. Breathe the fragrance of lost cities into fevered nostrils, and let me die here, my hand upon the soft contour of your throat, so like the whiteness of some half-forgotten southern shore. Take the longing in these restless eyes and feed it to lonely swallows cruising an Autumn cornfield, because I love you Camilla, and your name is sacred like that of some brave princess who died with a smile for a love that was never returned."

John Fante

terça-feira, janeiro 25, 2011

Atmosphere

People like you find it easy,
Naked to see,
Walking on air.
Hunting by the rivers,
Through the streets,
Every corner abandoned too soon,
Set down with due care.
Don't walk away in silence,
Don't walk away.

Joy Division

segunda-feira, janeiro 24, 2011

First Fig

My candle burns at both ends;
It will not last the night;
But ah, my foes, and oh, my friends—
It gives a lovely light!

Edna St. Vincent Millay

sexta-feira, janeiro 21, 2011

esperando você chegar

Coloquei as flores nos vasos
e varri o chão da sala
esperando você me visitar.
Comprei comida para a geladeira
e uma garrafa de um bom vinho.
e queijo, e frios, e taças de cristal
barato, mas não por isso, menos bonitas
e fiz tudo isso, esperando você chegar
esperando você vir me visitar.
mas você nunca veio
na realidade, isso já era de se esperar.
neste meio tempo, você esteve em outras camas
e conheceu outras casas
e talvez todas elas também tivessem
garrafas de vinho, queijo, e vasos de flores esperando
por você.
e talvez elas tivessem algo encantador em seus lençóis
e algo apaixonante em suas camas
as quais você se deitou
nas quais você se entregou
nas quais você amou
sordida e apaixonadamente.
eu também arrumei a cama
com lençois velhos, mas limpos
e o quarto estava ornado
de objetos baratos, mas nem por isso era
desorganizado.
estava tudo em ordem
estava tudo bem
mas você nunca chegou
você nunca me visitou
e infelizmente, isso já era
de se esperar.
é curioso perceber
que agora, muito tempo
desde que você se foi
muito tempo desde que você não veio
eu ainda continuo ajeitando as coisas
eu ainda continuo organizando tudo
esperando por você.
é patético, é lamentável
colocar as flores nos vasos da sala
e arrumar os lençois cuidadosamente
quando eu sei que você
não virá.
já comi todo o queijo
e bebi a garrafa de vinho, em sua homenagem
no fundo eu sabia que não passava de uma bobagem
se você não veio, eu não devia esperar
mas eu arrumava todas as coisas
esperando você chegar.
eu arrumava todas as suas coisas
esperando você vir me visitar.
você nunca veio, e se há algo certo
é o terrível fato de que você
nunca virá.

quarta-feira, janeiro 19, 2011

Por que aconteceu de me sentir livre

Todos conspiram para me fazer feliz
tentei usar seus argumentos
mas havia tão poucas opiniões
e eu precisava de várias
Desitir daquela garota adorável
não era minha ideia
mas ela adormeceu na cama de alguém
Agora mais do que nunca
eu quero ter inimigos
Você que faz sucesso
nesse mundo fácil do amor atual
me vigie
pois desenvolvi uma virgindade horrível
e todos que tiverem dado mais que um beijo
ao me encontrar
irão perecer na vergonha
com verrugas e pêlos nas mãos
O Tempo foi nosso padrinho e morreu
em meio a equívocos e iluninações
Moisés está de vigília
Davi em sua casa de sangue
Camus ao lado do motorista
Meus novos mandamentos encorajam
não o satori mas a perfeição
finalmente finalmente
Judeus que forem
longe demais no Sabbath
serão apedrejados
Católicos que blasfemem
recebam eletricidade
em seus genitais
Budistas que adquiram propriedades
sejam cortados ao meio
Maus Protestantes
possuem governos
para torná-los infelizes
Ah o universo retorna à sua ordem
Os novos arranha-céus de Montreal
ameaçam as áreas de estacionamento
como se fossem os vencedores de um concurso de limpeza
uma comitiva de janelas acesas aqui e ali
como uma faixa de Primeiro Lugar
por extraordinário asseio
Uma garota que eu conheço
adormece em uma cama
e de todas as coisas adoráveis
que eu possa dizer eu digo isso
eu vejo seu corpo confuso
com as marcas de lábios
de todos os beijos de todos os homens
que ela conheceu
como um piano de cabaré
com marcas de anos de copos de coquetel
e enquanto ela avança tilintando
em sua peculiar dança pervertida
eu caminho
pela chuva clara de novembro
punindo-a com minha felicidade

Leonard Cohen

terça-feira, janeiro 18, 2011

throwing my belly down
to the dirty streets of
the dirty town.

Isabella Moriarty

i carry your heart with me

i carry your heart with me(i carry it in
my heart)i am never without it(anywhere
i go you go,my dear; and whatever is done
by only me is your doing,my darling)
i fear
no fate(for you are my fate,my sweet)i want
no world(for beautiful you are my world,my true)
and it's you are whatever a moon has always meant
and whatever a sun will always sing is you

here is the deepest secret nobody knows
(here is the root of the root and the bud of the bud
and the sky of the sky of a tree called life;which grows
higher than the soul can hope or mind can hide)
and this is the wonder that's keeping the stars apart

i carry your heart(i carry it in my heart)

e.e. cummings

Invictus

Do fundo desta noite que persiste
A me envolver em breu - eterno e espesso,
A qualquer deus - se algum acaso existe,
Por mi’alma insubjugável agradeço.

Nas garras do destino e seus estragos,
Sob os golpes que o acaso atira e acerta,
Nunca me lamentei - e ainda trago
Minha cabeça - embora em sangue - ereta.

Além deste oceano de lamúria,
Somente o Horror das trevas se divisa;
Porém o tempo, a consumir-se em fúria,
Não me amedronta, nem me martiriza.

Por ser estreita a senda - eu não declino,
Nem por pesada a mão que o mundo espalma;
Eu sou dono e senhor de meu destino;
Eu sou o comandante de minha alma.

William E Henley
(tradução por André C S Masini)

sábado, janeiro 15, 2011

duas horas de sono

duas horas de sono
um filme do coppola
dois litros de coca-cola
a chuva lá fora
eu aqui dentro
lendo john fante
bebendo vinho
tentando não pensar
em coisas pequenas
lendo dostoiévski
escrevendo poemas.
duas horas de sono
um copo de cerveja
comida na mesa
eu sozinho
pensando em ir embora
em jogar tudo fora
em me mandar
no próximo ônibus
pra qualquer lugar.
duas horas de sono
e eu decido o que fazer.
duas horas de sono
pra você aparecer.
pode ser
na minha porta
pode ser
no meu sonho.
duas horas de sono
e nada vai
me aborrecer.
‎Literatura, a possibilidade de mentir por escrito.

Reinaldo Moraes

olho do tigre

- Garotas gostam de músicos, não de escritores. Por que você não aprende a tocar alguma coisa?
- Eu já tentei, e não funcionou muito bem.
- O que você tentou?
- Quase tudo o que é possível.
- Tipo...?
- Violão, guitarra, baixo, gaita, vocal.
- Você ainda tem bateria.
- Nem arrisco perder o mínimo de dignidade que ainda me resta.
- Mas garotos com guitarra vão continuar fazendo mais sucesso que garotos chorosos com máquinas de escrever. Ou melhor, computadores.
- Eu concordo.
- Então porque você não faz algo pra mudar?
- Porque eu não sei fazer algo pra mudar.
- Forma uma banda, eu sei lá.
- Todas as bandas que eu queria formar já foram inventadas.
- Sempre há algo a se inventar.
- Há sim, mas não vai ser tão bom quanto os Beatles nem tão incendiário quanto os Ramones.
- Se todo mundo pensasse como você, não iam mais existir bandas depois dessas.
- Ou iam existir milhares de outras que também são ótimas. E foi exatamente o que aconteceu.
- Você se acha mesmo um grande crítico musical né?
- Não gosto da palavra "crítico".
- Mas é isso que você é.
- Não vejo dessa forma.
- Você fala mal de praticamente tudo e tece comentários irônicos e ácidos acerca de qualquer coisa que o desagrade, o que é basicamente, tudo.
- Eu sou sincero.
- Você é babaca.
- E isso também.
- O que você vai fazer agora?
- Vou continuar a fazer o que estou fazendo.
- O quê?
- Nada.
- Você tem que fazer algo da sua vida. Se mexer, escrever, sair daí e arrumar um emprego. Fazer a barba, parar de beber, eu sei lá.
- Eu gosto de não fazer nada.
- Você já imaginou que um dia pode ficar sem grana, sem ter o que comer, ou, no seu caso e o que é pior, sem beber?
- Não.
- Mas isso pode acontecer.
- Tudo bem.
- "TUDO BEM?" É assim que você reage quando eu tento te conscientizar de que as coisas não serão fáceis no resto da sua vida?
- Hmm, é, acho que sim.
- Você é realmente um babaca.
- Sem objeções.
- Quem dera eu fosse despreocupada como você...
- Mas eu não sou despreocupado.
- Não? Não liga pra pagar as contas, não saí desse pijama do super-homem há pelo menos três dias, não toma banho há uns dois, fede a cerveja e cigarro e provavelmente passou as últimas nove horas vendo filmes do... que merda é essa? Rocky Balboa?
- Isso mesmo.
- Você realmente perdeu seu tempo vendo os filmes do Rocky Balboa?
- Isso aí.
- Quando eu te conheci você costumava assistir aos filmes do Fellini, do Godard. Que diabos aconteceu?
- Eu ainda gosto deles. E também gosto do Rocky.
- Você vai me dizer que Pierrot Le Fou ou Amarcord são do mesmo nível de Rocky?
- Qual deles?
- Eu não sei, inferno! Qualquer um deles!
- Do 2, sim.
- MEU DEUS DO CÉU. Vou ter que ir embora daqui. Não consigo mais suportar tanta bobagem.
- Eu não disse nenhuma bobagem.
- Disse sim. Diversas delas.
- Bem, você perguntou.
- É, tem razão. Melhor eu ir embora.
- Tudo certo. Me faz um favor?
- Se não for comprar bebida, faço.
- Traz uma coca-cola e uns pães com mortadela quando voltar.
- Mas eu acho que só vou voltar amanhã, se voltar.
- Não faz mal.
- Não vai comer nada nesse tempo?
- Eu me viro.
- Se vira com o quê? A única coisa que tem nessa geladeira é um macarrão de no mínimo cinco dias atrás.
- Tá na mesa.
- Ah, eu não acredito! Vou sair pra comprar a droga dos pães.
- Aproveita e traz um maço de cigarros também.
- PUTA QUE PARIU!
Passos rápidos, porta batendo. Silêncio. Barulho da TV. Música tema de Rocky. Ronco.

quinta-feira, janeiro 13, 2011

Weird lover Wilde

A qual de nós não sucedeu despertar de madrugada, ou depois de uma dessas noites sem sono que nos fazem quase desejar a morte, ou de uma noite de horror e de delírios monstruosos em que nos deslizam pelos esconsos do cérebro espectros mais terríveis do que a própria realidade, animados dessa vitalidade que se esconde nas coisas grotescas e emprestar à arte gótica a sua vida imperecível, pois essa arte é, por assim dizer, a arte peculiar dos espíritos perturbados pela doença da imaginação? Dedos pálidos vão lentamento deslizando entre as cortinas farfalhantes. Formas mudas, sombrias e fantásticas, esgueiram-se e encolhem-se nos cantos escuros da peça. Fora, é o burburinho da passarada na folhagem, ou o rumor dos passos dos que vão para o trabalho, ou os suspiros e o soluçar do vento que vem dos montes e ronda a casa silenciosa, como se temesse despertar os que dormem e devesse ao mesmo tempo arrancar o sono da sua gruta purpúrea. Desvenecem-se um após outro os véus de gaze da penumbra. Voltam gradualmente a forma e a cor às coisas e vemos a aurora devolver ao mundo o aspectro habitual. Os espelhos baços recobram sua vida imitadora. Os castiçais apagados estão onde os deixamos e, além deles, está o livro quase intacto que principiamos a ler, ou a flor montada em arame que usamos no baile, ou a carta que não nos animamos a ler ou que relemos demais. Nada mudou aparentemente. Emerge da sombra irreal da noite a vida real como a conhecemos, que retomamos do ponto onde a interrompemos. Domina-nos então a sensação penosa da necessidade e constância da energia, no mesmo giro monótono de hábitos estereotipados. Ou é um desejo desesperado de abrir um dia os olhos para um mundo renovado durante a noite para nosso júbilo, um mundo de novas formas e cores, diferente, ou com outros segredos, um mundo em que o passado ocupasse pouco ou nenhum lugar, ou pelo menos sobrevivesse isento de deveres ou de saudades, já que a recordação da própria alegria tem as suas tristezas, e a lembrança do prazer pode eivar-se de dor.

Oscar Wilde - O Retrato De Dorian Gray

quarta-feira, janeiro 12, 2011

cachorro-quente duplo

Caminho com passos firmes e rápidos e as mãos espremidas no bolso do casaco girando devagar o isqueiro. Vou ouvindo um disco das Supremes no mp3 e pensando em bandas da Motown e em música negra dos anos 60. Eu devia ter sido um garoto negro nos anos 60, com muito ritmo e uma puta voz pra ter uma banda tipo os Temptations ou os Four Tops, mas ao invés disso eu sou um garoto pobretão andando por uma rua escura e fria em 2011 e contando moedas pra comer um hot dog na barraca de higiene duvidosa na esquina da Avenida Maringá com a Rua Ibiporã, na cidade de Londrina, interior do Paraná. Uma cidade de quinhentos mil habitantes com umas poucas dúzias de pessoas que se encontram em todos os lugares. A maior parte deles deve estar dormindo agora, mas eu estou aqui, firme e forte em direção ao meu cachorro quente, ouvindo um Rhytmin & Blues pelos fones de ouvido e pensando em ideias mirabolantes para roteiros de curtas magníficos que seriam premiados em qualquer festival de seriedade no Brasil. Mas não consigo lembrar de festivais de seriedade e nem acho que o curta merecesse ser premiado se existisse um. A história poderia ser bem simples. Um cara tá andando na rua depois de levar um pé na bunda da garota que ele é apaixonado. As boas histórias sempre tem que começar com caras apaixonados levando um pé na bunda. E ele tá ali, meio triste, meio quieto, meio sonhador andando pela rua sozinho. E ele entra num bar com um aspecto meio sujo e bebe duas cervejas e uma dose de uísque nacional, e sua pouca grana vai embora nessa brincadeira. Então ele saí andando de novo pelas ruas, em plena madrugada, e vai contando as moedinhas pra comprar um cachorro-quente, mais ou menos como eu tô fazendo agora. E aí surge um vira-lata do lado dele. No começo ele pensa em afastar o bicho, por reação natural talvez, mas percebe alguma coisa nos olhos do cachorro que faz ele nutrir algum tipo de simpatia pelo animal. Nessa hora, a câmera tem que focar nos olhos do cachorro, e depois afastar de novo. E aí os dois vão andando, lado a lado, o cara cantarolando uma música triste de amor e o cachorro só andando quieto abanando o rabo vez ou outra, feliz por achar um comum. E a cÂmera filmea os dois andando de costas, num lance bem bonito e clichê, que já deve ter sido usado em uma porrada de filmes sobre animais, de Lessie até K9, um policial bom pra cachorro. E aí eles chegam na barraquinha de cachorro quente, e o cara percebe que faltam alguns centavos pra pedir um, mas joga uma conversa em cima do velho com cara de cansado que mexe na chapa com a espátula e ele aceita fazer um desconto. Aí o cara come o cachorro quente e divide uns pedaços com o cachorro de verdade, e decide que já era hora do companheiro ter um nome. Então ele pensa na coisa mais óbvia, que é o primeiro nome que vier na sua cabeça, e por alguma razão maluca ele lembra de Season Of The Witch do Donovan, e o cachorro vira o Donovan, o cantor de folk inglês. E o rapaz e Donovam terminam o lanche, e voltam a andar pelas ruas. E o rapaz vai seguindo pra direção da sua casa, mas na metade do caminho Donovan para, abana o rabo, olha bem para o rosto do rapaz como quem disesse "valeu por essa, companheiro, mas eu tenho que me mandar. Cê sabe como é, a patroa e os filhotes estão em casa", ou algo como "valeu por essa, parceiro, mas agora eu preciso descolar outro rango, e foi um prazer vagabundear por aí contigo, ou 'flanar', como os estudantes devem dizer por aí né? De qualquer forma, valeu", e essa era provavelmente a resposta certa sobre o que Donovan queria dizer. E aí Donovan muda o seu rumo, e continua andando devagar e abanando o rabo devagar mais uma vez ou outra, e o cara já não pensa mais na garota, não pensa mais em nada, só espera que Donovan tenha sorte e imagina que ruas estranhas ele vai percorrer ainda hoje enquanto ele sobe na cama e fica meio triste rabiscando poemas num caderno velho e relendo páginas de um livro do Dashiell Hammett.
Que bobagem, aquele roteiro. Continuei caminhando pensando em como não tinha pé nem cabeça nem começo nem meio nem fim, e parei na barraca de cachorro quente, mas na vida real era uma senhora com cara de cansada que trabalhava ali na chapa, e não um senhor, e no caso eu também tinha o dinheiro certo pra pedir o lanche, e conferindo os preços percebi até mesmo que podia ser um cachorro quente duplo, com uma salsicha extra. E que diabos poderia acontecer com o rapaz e com Donovan? Eu já não fazia a mínima idéia. Acendi o cigarro e continuei pensando. A ideia surgiu de repente. Donovan segue seu caminho, e se depara com uma rua escura. Donovan continua caminhando, e vê se aproximar um carro com os faróis acesos, andando devagar. O carro diminuí a velocidade e para ao lado de Donovan. O cachorro sente um frio na espinha e tenta acelerar seu trote quadrípede, mas o homem do carro é mais rápido e agarra Donovan e o prende, e o coloca no compartimento traseiro do carro, e só assim é possível ver que é a carrocinha. E Donovan, coitado, desesperado, pensando que seus dias de vadio andarilho iluminado estão simplesmente acabados agora. Vai ser levado pra um lugar horrível, e como está muito velho pra ser adotado, vai acabar passando o resto da vida numa cela escura e fria. E algumas quadras dali, o cara que foi abandonado pela garota está chegando perto do seu apartamento, quando vê um carro passando em alta velocidade. O carro perde o controle e bate num poste. O rapaz corre até o carro e vê o motorista desacordado. Da parte de trás, ouve latidos. O rapaz tira a chave da ignição e abre a parte traseira. Lá, vê alguns cachorros presos em pequenas celas, entre eles, Donovan. O rapaz abre a cela e deixa Donovan e os outros cachorros saírem. Corre até um orelhão e chama a ambulância para o motorista. Donovan abana o rabo mais vezes e anda em círculos, em uma espécie de agradecimento, e depois corre noite adentro. A ambulância chega, e leva o motorista desacordado. Aparentemente ele está bem. O rapaz sobe em seu apartamento, abre uma lata de cerveja e rabisca palavras em seu caderno. O telefone toca, é a garota dizendo que se arrepende e quer o rapaz de volta. Ele recusa e volta a escrever. O curta acaba com alguma música dos Stones de trilha sonora.
Terminei o sanduíche, paguei e saí andando. Aquilo era um tanto quanto estúpido, mas até que de certo modo não parecia uma má ideia. Andei de volta ao meu apartamento. Passei por um vira-lata dormindo em uma esquina escura. Talvez ele fosse como Donovan. Parei por alguns instante, e fiz barulhos e sinais com as mãos. Ele me olhou desconfiado, virou a cabeça e voltou a dormir. Ele não era Donovan. Coloquei as mãos de volta aos bolsos e continuei andando. Era uma noite fria e o cachorro quente duplo tinha caído muito bem.
O único encanto do passado é ser o passado.

Oscar Wilde - O Retrato de Dorian Gray

terça-feira, janeiro 11, 2011

Nos nossos dias, a maioria dos homens morre de uma espécie de senso comum rasteiro; e descobre, quando já é demasiado tarde, que as únicas coisas de que nunca nos arrependemos são as nossas tolices.

Oscar Wilde - O Retrato De Dorian Gray
Atrás de toda coisa bela, há sempre um quê de trágico.

Oscar Wilde - O Retrato de Dorian Gray
Em toda superioridade física ou intelectual, há uma fatalidade, a fatalidade que parece seguir, através da história, os passos incertos dos reis. É preferível não sermos diferentes do nosso próximo. O feio, o tolo têm neste mundo a melhor sorte. Se não chegam a provar o gosto da vitória, pelo menos lhes é poupado o ressaibo das derrotas. Vivem como nós todos deveríamos viver: sossegados, indiferentes, sem preoucupações. Não causam a desgraça alheia nem são desgraçados por alheias mãos... A sua posição social e a sua riqueza, Harry, a minha inteligência, seja qual for, a minha arte, valha o que valer, a bela aparência de Dorian Gray... são dons dos deuses, pelos quais teremos os três de sofrer, sofrer horrivelmente.

Oscar Wilde - O Retrato de Dorian Gray

sexta-feira, janeiro 07, 2011

Realmente um cara estranho

- Por que você não tem um gato ou um cachorro pra te fazer companhia? É tudo tão estranho por aqui. Você tem essa porrada de discos e livros velhos, a maioria cobertos de pó, e pelo jeito você não recebe uma visita há bastante tempo. Talvez um animal te fizesse bem.
- Obrigado, mas estou bem assim. Gosto dos livros, dos discos e até do pó.
- Você não gosta de animais?
- Pelo contrário. Eu gosto muito deles, e é exatamente por isso que não os mantenho por aqui.
- Você é um cara estranho.
Ela andou até a escrivaninha e colocou as mãos em cadernos de anotações.
- Não acho que você deveria mexer nisso. - Falei calmamente.
- Por quê? Há algo aqui que você não gostaria que fosse lido?
- Não. Há algo aí que você não irá gostar de ler.
- Você é um cara realmente estranho.
- Você não é a primeira a me dizer isso.
- Aposto que foi uma dessas garotas que te deixou e que você escreve sobre que também te falou isso, não estou certa?
- Você faz muitas perguntas, e eu não sou bom em respondê-las.
- Você já foi jornalista e já fez entrevistas, então você sabe porque as perguntas tem de ser feitas.
- Eu nunca disse que gostava de fazer isso, e nem que sabia a razão de fazê-lo.
- Mas você as fazia.
- Mas nunca esperava uma resposta.
- Eu também não espero. Elas estão estampadas no seu rosto, nas suas palavras e por esse apartamento também.
Me ajeitei na cadeira e servi um gole de cerveja. Acendi um cigarro com a mão e dei duas baforadas bem devagar.
- Não há respostas suficientes. - Falei.
- Você não faz perguntas suficientes. - Ela respondeu.
- E pretendo continuar assim. - Completei.
- Você realmente deveria ter um animal por aqui. Talvez vocês se entendessem.
- Talvez não.
Terminei a cerveja e fui até a cozinha buscar outra. Parei em frente à vitrola e troquei o disco. Let It Bleed dos Stones por Rubber Soul dos Beatles. Aquela era uma noite estranha, e acho que ela estava certa. Eu realmente era um cara estranho.

quinta-feira, janeiro 06, 2011

Verso que te quero prosa.

terça-feira, janeiro 04, 2011

God
forgive my mistakes
I was just a boy
trying to be saved
from my own sins.
God,
forgive myself
i never wanted to be
nothing else.
I know I was foolish
I know I did it bad
I know i'm wrong
I know I'm mad
but god, listen now
I'm not an atheist
I'm not religious neither
I'm just a boy, trying to stay alive.
I'm just a boy, trying to have some pride.
Oh, God, believe me.
I'm not one of these lunatics
I don't make prejudgments about anyone else
but myself.
and I know I did some terrible stuff
I know I hurt some people
but i'm truly regretful
oh lord, i'm truly sad about it.
I know I lost my stance
but I'm just asking to have
one second chance.

segunda-feira, janeiro 03, 2011

É que baby, ás vezes as coisas tristes são as mais bonitas.