quarta-feira, junho 25, 2008

Coluna manifesto

Como eu sou muito desocupado e gosto muito de escrever, resolvi que toda vez que me der vontade vou escrever a Coluna Manifesto. É uma idéia simples, toda vez que me der na telha vou defender ou criticar alguma coisa que me deixe muito satisfeito ou indignado. Não vou estipular prazos para isso. Pode ser que escreva uma a cada mês, uma a cada seis meses ou duas por semana. Isso vai depender da minha satisfação ou indignação com as coisas do meu dia-a-dia, e é claro, com a minha preguiça crônica.


18 de Junho de 2008 – 02:14

Eu não sei o que é pior nos dias de hoje. Se é ver toda essa juventude escutando e adorando porcarias do tipo Amy Winehouse e Pete Doherty, se é ver uma garota de 15 anos tocando umas músicas manjadas de folk (¿) fazer sucesso e virar trilha sonora de comercial sem nem ter gravado um disco (aliás, tendo gravado apenas quatro músicas) ou se é ver tudo isso junto com um monte de pseudo-intelectual adorando os 50 anos da bossa nova. Eu só me pergunto onde estão as pessoas que conhecem os Dead Boys que podem nos salvar desse mar de lixo ou imploro para que um milagre aconteça e o próprio Stiv Bators ressuscite para alimentar aqueles que, como eu, ainda acreditam no verdadeiro rock and roll rebelde e no punk rock em sua essência. Pior de tudo isso é saber que caras como Ryan Adams e Jesse Malin estão “logo ali” em Nova York, produzindo discos fantásticos a cada dois anos e quase ninguém da a mínima pra eles. Será que alguma dessas pessoas que freqüentam auditórios de programas da mtv já ouviram falar do disco “Young, Loud & Snotty”¿ Pra ser bem sincero, eu posso assumir aqui que uma parte de mim fica feliz que essas pérolas fiquem restritas a quem realmente merece ouvi-las, mas não posso negar que é terrivelmente depressivo ver os tipos citados acima explodindo em sucessos nas mtv’s e rolling stone’s da vida. Sei que cada um ouve o que quer e faz o que quer, mas já encheu minha paciência andar pelas ruas de São Paulo (e do Brasil) e me deparar com tipinhos de garotas branquelas tentando usar um cabelo estranho e achando que a Amy Winehouse inventou (ou pasmem, aperfeiçoou) alguma coisa que já vem de antes e que ela só fez o “favor” de estragar com seus chororôs chatérrimos e seu bla bla bla de marido preso e drogas. Eu costumo dizer que não gosto de perder tempo falando sobre coisas que não me agradam, e isso é realmente verdade. Prefiro desperdiçar meu tempo, minhas linhas e minha saliva falando das coisas que gosto, mas tem coisas que conseguem me tirar do sério. Os tempos atuais são uma delas. Como profetizou mestre Dylan – The times they are a-changin (they’re always are) e apesar de tudo isso pode ser bom em alguns casos, ótimo pra falar a verdade. Imagina só se nós estivéssemos estagnados na morbidez dos anos 80 e Robert Smith ainda desse as cartas por aí¿ (nada contra ele nem o Cure, que eu até simpatizo e curto alguma coisa). O que ninguém sabia era que o que estava pra vir ainda era muito pior. Um rapaz loiro balbuciando músicas depressivas e fazendo centenas de jovens usarem cabelos compridos e camisas de flanela xadrez. Isso era ruim, com certeza era. Posso até confessar minha gafe, de ter comprado o disco Nevermind aos 11 anos de idade, o que sendo sincero, não tem nada de mais, já que todo mundo comprou aquele disco naquela época, e apesar de hoje em dia eu perceber como aquilo me soa esquisito foi um baita disco pros anos 90. O pior de tudo era que ainda tinha coisa pior vindo. Foi nos anos 2000 que as coisas se escafederam de vez e tomaram o rumo do limbo mais próximo. Os Strokes surgiram com alguma esperança de que as coisas fossem melhorar, mas pura ilusão, depois do primeiro disco o grupo de moderninhos só encheu lingüiça e literalmente só fez merda. Mas como tudo pode piorar (sempre) eis que aparecem esses seres de franja na cara, berros e músicas melancólicas. Se isso já não fosse o bastante, eis que surgem outras aberrações como electro-punk (que merda seria isso, um moicano na tomada¿), a banalização do já ruim indie (insuportável, mas assumo simpatia com o Pavement) até chegar a essa mediocridade que nos encontramos agora. O pior de tudo isso (mais uma vez) é que essa lastimável onda atual não esta só na música e na TV. Como sempre, a música mexe com as revistas e é aí que a coisa se complica. Eu devo assumir que há muito não lia revistas de nenhuma espécie. Então me aventurei a ler as atuais revistas das bancas e pelo amor de Deus (ou quem estiver no lugar dele). As coisas estão cada vez piores. A Rolling Stone consegue ser uma porcaria jamais vista. Se uma capa com os membros do Nxzero pelados já é depressiva o suficiente, colocá-los como “a maior banda de rock popular brasileiro da atualidade” beira o ridículo. Isso sem contar na infinidade de merda dentro da revista. Não consegui saber se estava lendo a Capricho, Caras ou uma revista de “rock”. Salvo uma matéria com o velho Buk, importada de uma edição da revista americana de 76, que é realmente muito boa, a revista é bem fraquinha. Entre as outras revistas, quase a mesma coisa. Trip tem boas matérias, mas raramente consigo ver uma grande edição, daquelas que dá vontade de guardar na prateleira para sempre. Playboy idem, salvo o recheio e a parte mais importante (a das fotos, claro), as matérias estão cada vez mais fracas e sem graça. A revista Bravo! é interessante, em alguma medida. Confesso que nunca parei para lê-la com a devida atenção, mas o conteúdo por demais “cult” me deixa um pouco aturdido. Dessas revistas de entretenimento posso destacar que minha favorita, e pra ser bem sincero, a única revista atual que eu acho que preste para alguma coisa é a revista Piauí. A única coisa que me desagrada nela é sua estética reta e formal, com muitas letras pequenas e poucas imagens. Não que eu ache que encher a revista de futilidades vai melhorá-la, pelo contrário, mas apesar do conteúdo da Piauí ser realmente digno de palmas, não posso deixar de citar que sua estética e disposição reta e documental ás vezes me cansa. Como já disse, a enorme quantidade de boas matérias dentro dela compensa o “esforço”. Salvo algumas matérias relativas à política que não me agradam por pura opinião pessoal (nunca gostei muito de ler e falar sobre política, apesar de tentar, com algum afinco, me informar sobre as atualidades do assunto em pauta no momento) a revista é uma ótima para quem quer ler coisas interessantes e fora da banalização da atualidade.
É claro que o mundo ainda tem jeito. Ou pelo menos eu acredito. Ás vezes me sinto como o rei Midas ao contrário. Parece que tudo que eu encosto vira merda. Ou isso é só alguma nostalgia barata de tempos que não vivi. O que eu sei é que atualmente as coisas em geral não me agradam nem um pouco. Fico me perguntando aonde vamos parar daqui a algum tempo. É bem possível que inventem cada vez mais novas balbúrdias e banalidades para nos bombardear de inutilidades, mas também é possível que cada vez mais pessoas continuem escutando e lendo coisas boas, e que (Deus me ouça), mais pessoas com algum talento que não um rostinho fotogênico e uma atitude do tipo “olha como sou doidão” continuem empunhando suas guitarras, baixos e baterias e enfurnados em garagens e estúdios baratos nos salvem disso tudo.

Down in flames!

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