Acendo um cigarro e fico fumando na janela do meu apartamento na Avenida Paulista. Lá embaixo vejo os materiais da reforma da avenida e alguns carros passando. Um taxi, um carro, uma moto. Estou ouvindo The Who. É muito bom ver a Avenida Paulista na madrugada. É uma bela avenida. Não é tão movimentada numa madrugada de segunda-feira quanto num dia qualquer a tarde. É uma bela avenida. Começo a ouvir Stand By Me do John Lennon. Dois garis passam limpando a rua. O silêncio é tão grande que posso ouvir o esfregão de um e a lata de lixo de outro sendo arrastados. Eles passam com suas roupas laranjas e a cidade continua dormindo. A Avenida mais movimentada do país dorme em descanso ás três e pouco da manhã. Os dois garis trabalham, firmes e fortes. Alguns carros passam. Termino meu cigarro e olho para a rua. Os dois garis se foram. A rua está vazia. É um barato. Amanhã de manhã já vai estar cheia como nunca. Essa cidade é uma maravilha. Essa cidade é um horror. Antes dos garis irem embora eu penso no meu pai e que por ele estou aqui. Tenho aquela sensação de que os pais são as melhores coisas na vida de um cretino como eu. Mereciam um filho melhor, com certeza. Penso na vida de cada um deles e penso na minha. Uma grande diferença. Um grande desocupado. Gosto de São Paulo. Acho que preciso ajeitar minha vida. Acho que preciso poupar meus pais. Quem sabe logo não arranjo um emprego e pague meu próprio apartamento?
Era pra ter um final diferente, mas eu só me lembro de ter bebido mais uma cerveja e ter ido dormir. Fica assim então.
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