quarta-feira, junho 25, 2008
25 de Junho de 2008 - 02:17
Era uma madrugada como outra qualquer. Caminhões de lixo passavam lá embaixo e o barulho de vidro e motores e pneus ressoava pelas ruas. Eu estava em casa, como em quase todas as madrugadas. Tinha um resto de uma garrafa de vinho na geladeira. Já devia estar lá há uns dois meses. Eu andava meio enjoado de vinho desde que comprara aquela garrafa. Estive bebendo só cerveja e outras porcarias. Achei que era hora do vinho. Peguei a garrafa e fiquei deitado na cama lendo meu livro do Bukowski. Abri as janelas e acendi um cigarro. Fazia frio e eu estava ali deitado com meu resto de vinho, meu cigarro e meu livro do Bukowski. Pensei na merda da faculdade. Pensei em todos os chatos que eu tinha que ver todos os dias. Não eram tão chatos assim, mas depois de um tempo de convivência pareciam os maiores chatos da face da terra. Eu estava numa cidade que não conhecia ninguém e tinha que ver um monte de chatos todos os dias. Além de tudo eu ainda tinha que fazer um monte de trabalhos e provas de merda para a faculdade. Pelo menos eu não trabalhava. Isso era bom. Isso era ótimo. Eu gostava das minhas madrugadas solitárias, principalmente quando tinha alguma bebida. Um dos chatos da faculdade me disse que via sintomas de alcoolismo em mim. Disse que o alcoolismo não se caracterizava só pela quantidade de bebida e sim pelas circunstancias em que você bebia. Pra ele, beber com amigos não era sinal de alcoolismo, beber sozinho sim. Que chato mais insuportável. Tive vontade de passar o resto dos meus dias bebendo sozinho em meu quarto. Imaginei ser atropelado por alguém, ficar coxo e ganhar uma indenização, assim não precisaria sair da cama pra nada e teria dinheiro pra comprar bebida. Ia contratar alguém pra me trazer as garrafas e colocar um frigobar do lado da minha cama. Ai eu só precisaria abrir a porta e pegar as latas e garrafas. Era uma bela idéia. Uma ótima idéia. Senti vontade de comprar mais um vinho. O supermercado 24 horas ficava á duas quadras. Fazia frio lá fora. Eu tinha que acordar ás 9 da manhã pra fazer uma merda de trabalho da faculdade. Tinha preguiça. Desisti de ir ao supermercado. Fiquei sentado na cama olhando a janela e escutando o barulho dos carros passarem lá fora. O caminhão tinha ido embora. Quase nenhum carro passava essa hora. Porque as pessoas tinham que dormir e acordar em horários de merda? Desisti de pensar e fui dormir. Amanhã seria mais um dia como outro qualquer.
19 de Junho de 2008 – 11:34
Tinha acordado cedo naquele dia. Umas sete da manhã com uma ressaca leve. Tinha embalado numa bebedeira e papos de futebol com uns colegas da faculdade na noite anterior. Não me sentia tão mal, mas ressacas eram sempre ressacas. Me levantei e tomei alguns copos de água. Senti fome. Coloquei dois casacos por cima da camisa do pijama e calcei chinelos. Fazia bastante frio na rua. Parecia que ás 7 da manhã o frio era pior do que em qualquer outro horário. Nunca entendi muito sobre temperaturas e sobre acordar cedo.
Caminhei até a padaria que ficava bem perto de casa, na principal avenida de São Paulo. Pessoas tomavam seus cafés da manhã. Mulheres feias de cabelos esquisitos e roupas formais compravam pães de queijo, pães com salsichas e pães de todas as formas. Homens estranhos tomavam cafés ferventes e liam jornais gratuitos de baixa qualidade. Eu tinha uma nota de dois reais na mão e só queria comprar alguns pães francês. Comprei quatro e voltei pra casa. Comi dois pães e tomei dois copos de leite com chocolate. Quem não agüenta bebe leite. Voltei para o quarto e comecei a ler um livro do velho Buk. Li um montão de páginas numa sentada. Fui até a geladeira e peguei um gatorade. Continuei a ler o livro do Buk. Livro de contos. Belo livro. Parei de ler e fui ouvir o Abbey Road dos Beatles. Belo disco. Grilos cricavam lá fora a plena luz do dia. Senti fome, mas ainda eram onze e meia da manhã. Ninguém almoçava antes do meio dia. Era uma espécie de regra da sociedade. Decidi esperar para almoçar. Continuei ouvindo o Abbey Road. Belo disco.
Caminhei até a padaria que ficava bem perto de casa, na principal avenida de São Paulo. Pessoas tomavam seus cafés da manhã. Mulheres feias de cabelos esquisitos e roupas formais compravam pães de queijo, pães com salsichas e pães de todas as formas. Homens estranhos tomavam cafés ferventes e liam jornais gratuitos de baixa qualidade. Eu tinha uma nota de dois reais na mão e só queria comprar alguns pães francês. Comprei quatro e voltei pra casa. Comi dois pães e tomei dois copos de leite com chocolate. Quem não agüenta bebe leite. Voltei para o quarto e comecei a ler um livro do velho Buk. Li um montão de páginas numa sentada. Fui até a geladeira e peguei um gatorade. Continuei a ler o livro do Buk. Livro de contos. Belo livro. Parei de ler e fui ouvir o Abbey Road dos Beatles. Belo disco. Grilos cricavam lá fora a plena luz do dia. Senti fome, mas ainda eram onze e meia da manhã. Ninguém almoçava antes do meio dia. Era uma espécie de regra da sociedade. Decidi esperar para almoçar. Continuei ouvindo o Abbey Road. Belo disco.
Coluna manifesto
Como eu sou muito desocupado e gosto muito de escrever, resolvi que toda vez que me der vontade vou escrever a Coluna Manifesto. É uma idéia simples, toda vez que me der na telha vou defender ou criticar alguma coisa que me deixe muito satisfeito ou indignado. Não vou estipular prazos para isso. Pode ser que escreva uma a cada mês, uma a cada seis meses ou duas por semana. Isso vai depender da minha satisfação ou indignação com as coisas do meu dia-a-dia, e é claro, com a minha preguiça crônica.
18 de Junho de 2008 – 02:14
Eu não sei o que é pior nos dias de hoje. Se é ver toda essa juventude escutando e adorando porcarias do tipo Amy Winehouse e Pete Doherty, se é ver uma garota de 15 anos tocando umas músicas manjadas de folk (¿) fazer sucesso e virar trilha sonora de comercial sem nem ter gravado um disco (aliás, tendo gravado apenas quatro músicas) ou se é ver tudo isso junto com um monte de pseudo-intelectual adorando os 50 anos da bossa nova. Eu só me pergunto onde estão as pessoas que conhecem os Dead Boys que podem nos salvar desse mar de lixo ou imploro para que um milagre aconteça e o próprio Stiv Bators ressuscite para alimentar aqueles que, como eu, ainda acreditam no verdadeiro rock and roll rebelde e no punk rock em sua essência. Pior de tudo isso é saber que caras como Ryan Adams e Jesse Malin estão “logo ali” em Nova York, produzindo discos fantásticos a cada dois anos e quase ninguém da a mínima pra eles. Será que alguma dessas pessoas que freqüentam auditórios de programas da mtv já ouviram falar do disco “Young, Loud & Snotty”¿ Pra ser bem sincero, eu posso assumir aqui que uma parte de mim fica feliz que essas pérolas fiquem restritas a quem realmente merece ouvi-las, mas não posso negar que é terrivelmente depressivo ver os tipos citados acima explodindo em sucessos nas mtv’s e rolling stone’s da vida. Sei que cada um ouve o que quer e faz o que quer, mas já encheu minha paciência andar pelas ruas de São Paulo (e do Brasil) e me deparar com tipinhos de garotas branquelas tentando usar um cabelo estranho e achando que a Amy Winehouse inventou (ou pasmem, aperfeiçoou) alguma coisa que já vem de antes e que ela só fez o “favor” de estragar com seus chororôs chatérrimos e seu bla bla bla de marido preso e drogas. Eu costumo dizer que não gosto de perder tempo falando sobre coisas que não me agradam, e isso é realmente verdade. Prefiro desperdiçar meu tempo, minhas linhas e minha saliva falando das coisas que gosto, mas tem coisas que conseguem me tirar do sério. Os tempos atuais são uma delas. Como profetizou mestre Dylan – The times they are a-changin (they’re always are) e apesar de tudo isso pode ser bom em alguns casos, ótimo pra falar a verdade. Imagina só se nós estivéssemos estagnados na morbidez dos anos 80 e Robert Smith ainda desse as cartas por aí¿ (nada contra ele nem o Cure, que eu até simpatizo e curto alguma coisa). O que ninguém sabia era que o que estava pra vir ainda era muito pior. Um rapaz loiro balbuciando músicas depressivas e fazendo centenas de jovens usarem cabelos compridos e camisas de flanela xadrez. Isso era ruim, com certeza era. Posso até confessar minha gafe, de ter comprado o disco Nevermind aos 11 anos de idade, o que sendo sincero, não tem nada de mais, já que todo mundo comprou aquele disco naquela época, e apesar de hoje em dia eu perceber como aquilo me soa esquisito foi um baita disco pros anos 90. O pior de tudo era que ainda tinha coisa pior vindo. Foi nos anos 2000 que as coisas se escafederam de vez e tomaram o rumo do limbo mais próximo. Os Strokes surgiram com alguma esperança de que as coisas fossem melhorar, mas pura ilusão, depois do primeiro disco o grupo de moderninhos só encheu lingüiça e literalmente só fez merda. Mas como tudo pode piorar (sempre) eis que aparecem esses seres de franja na cara, berros e músicas melancólicas. Se isso já não fosse o bastante, eis que surgem outras aberrações como electro-punk (que merda seria isso, um moicano na tomada¿), a banalização do já ruim indie (insuportável, mas assumo simpatia com o Pavement) até chegar a essa mediocridade que nos encontramos agora. O pior de tudo isso (mais uma vez) é que essa lastimável onda atual não esta só na música e na TV. Como sempre, a música mexe com as revistas e é aí que a coisa se complica. Eu devo assumir que há muito não lia revistas de nenhuma espécie. Então me aventurei a ler as atuais revistas das bancas e pelo amor de Deus (ou quem estiver no lugar dele). As coisas estão cada vez piores. A Rolling Stone consegue ser uma porcaria jamais vista. Se uma capa com os membros do Nxzero pelados já é depressiva o suficiente, colocá-los como “a maior banda de rock popular brasileiro da atualidade” beira o ridículo. Isso sem contar na infinidade de merda dentro da revista. Não consegui saber se estava lendo a Capricho, Caras ou uma revista de “rock”. Salvo uma matéria com o velho Buk, importada de uma edição da revista americana de 76, que é realmente muito boa, a revista é bem fraquinha. Entre as outras revistas, quase a mesma coisa. Trip tem boas matérias, mas raramente consigo ver uma grande edição, daquelas que dá vontade de guardar na prateleira para sempre. Playboy idem, salvo o recheio e a parte mais importante (a das fotos, claro), as matérias estão cada vez mais fracas e sem graça. A revista Bravo! é interessante, em alguma medida. Confesso que nunca parei para lê-la com a devida atenção, mas o conteúdo por demais “cult” me deixa um pouco aturdido. Dessas revistas de entretenimento posso destacar que minha favorita, e pra ser bem sincero, a única revista atual que eu acho que preste para alguma coisa é a revista Piauí. A única coisa que me desagrada nela é sua estética reta e formal, com muitas letras pequenas e poucas imagens. Não que eu ache que encher a revista de futilidades vai melhorá-la, pelo contrário, mas apesar do conteúdo da Piauí ser realmente digno de palmas, não posso deixar de citar que sua estética e disposição reta e documental ás vezes me cansa. Como já disse, a enorme quantidade de boas matérias dentro dela compensa o “esforço”. Salvo algumas matérias relativas à política que não me agradam por pura opinião pessoal (nunca gostei muito de ler e falar sobre política, apesar de tentar, com algum afinco, me informar sobre as atualidades do assunto em pauta no momento) a revista é uma ótima para quem quer ler coisas interessantes e fora da banalização da atualidade.
É claro que o mundo ainda tem jeito. Ou pelo menos eu acredito. Ás vezes me sinto como o rei Midas ao contrário. Parece que tudo que eu encosto vira merda. Ou isso é só alguma nostalgia barata de tempos que não vivi. O que eu sei é que atualmente as coisas em geral não me agradam nem um pouco. Fico me perguntando aonde vamos parar daqui a algum tempo. É bem possível que inventem cada vez mais novas balbúrdias e banalidades para nos bombardear de inutilidades, mas também é possível que cada vez mais pessoas continuem escutando e lendo coisas boas, e que (Deus me ouça), mais pessoas com algum talento que não um rostinho fotogênico e uma atitude do tipo “olha como sou doidão” continuem empunhando suas guitarras, baixos e baterias e enfurnados em garagens e estúdios baratos nos salvem disso tudo.
Down in flames!
18 de Junho de 2008 – 02:14
Eu não sei o que é pior nos dias de hoje. Se é ver toda essa juventude escutando e adorando porcarias do tipo Amy Winehouse e Pete Doherty, se é ver uma garota de 15 anos tocando umas músicas manjadas de folk (¿) fazer sucesso e virar trilha sonora de comercial sem nem ter gravado um disco (aliás, tendo gravado apenas quatro músicas) ou se é ver tudo isso junto com um monte de pseudo-intelectual adorando os 50 anos da bossa nova. Eu só me pergunto onde estão as pessoas que conhecem os Dead Boys que podem nos salvar desse mar de lixo ou imploro para que um milagre aconteça e o próprio Stiv Bators ressuscite para alimentar aqueles que, como eu, ainda acreditam no verdadeiro rock and roll rebelde e no punk rock em sua essência. Pior de tudo isso é saber que caras como Ryan Adams e Jesse Malin estão “logo ali” em Nova York, produzindo discos fantásticos a cada dois anos e quase ninguém da a mínima pra eles. Será que alguma dessas pessoas que freqüentam auditórios de programas da mtv já ouviram falar do disco “Young, Loud & Snotty”¿ Pra ser bem sincero, eu posso assumir aqui que uma parte de mim fica feliz que essas pérolas fiquem restritas a quem realmente merece ouvi-las, mas não posso negar que é terrivelmente depressivo ver os tipos citados acima explodindo em sucessos nas mtv’s e rolling stone’s da vida. Sei que cada um ouve o que quer e faz o que quer, mas já encheu minha paciência andar pelas ruas de São Paulo (e do Brasil) e me deparar com tipinhos de garotas branquelas tentando usar um cabelo estranho e achando que a Amy Winehouse inventou (ou pasmem, aperfeiçoou) alguma coisa que já vem de antes e que ela só fez o “favor” de estragar com seus chororôs chatérrimos e seu bla bla bla de marido preso e drogas. Eu costumo dizer que não gosto de perder tempo falando sobre coisas que não me agradam, e isso é realmente verdade. Prefiro desperdiçar meu tempo, minhas linhas e minha saliva falando das coisas que gosto, mas tem coisas que conseguem me tirar do sério. Os tempos atuais são uma delas. Como profetizou mestre Dylan – The times they are a-changin (they’re always are) e apesar de tudo isso pode ser bom em alguns casos, ótimo pra falar a verdade. Imagina só se nós estivéssemos estagnados na morbidez dos anos 80 e Robert Smith ainda desse as cartas por aí¿ (nada contra ele nem o Cure, que eu até simpatizo e curto alguma coisa). O que ninguém sabia era que o que estava pra vir ainda era muito pior. Um rapaz loiro balbuciando músicas depressivas e fazendo centenas de jovens usarem cabelos compridos e camisas de flanela xadrez. Isso era ruim, com certeza era. Posso até confessar minha gafe, de ter comprado o disco Nevermind aos 11 anos de idade, o que sendo sincero, não tem nada de mais, já que todo mundo comprou aquele disco naquela época, e apesar de hoje em dia eu perceber como aquilo me soa esquisito foi um baita disco pros anos 90. O pior de tudo era que ainda tinha coisa pior vindo. Foi nos anos 2000 que as coisas se escafederam de vez e tomaram o rumo do limbo mais próximo. Os Strokes surgiram com alguma esperança de que as coisas fossem melhorar, mas pura ilusão, depois do primeiro disco o grupo de moderninhos só encheu lingüiça e literalmente só fez merda. Mas como tudo pode piorar (sempre) eis que aparecem esses seres de franja na cara, berros e músicas melancólicas. Se isso já não fosse o bastante, eis que surgem outras aberrações como electro-punk (que merda seria isso, um moicano na tomada¿), a banalização do já ruim indie (insuportável, mas assumo simpatia com o Pavement) até chegar a essa mediocridade que nos encontramos agora. O pior de tudo isso (mais uma vez) é que essa lastimável onda atual não esta só na música e na TV. Como sempre, a música mexe com as revistas e é aí que a coisa se complica. Eu devo assumir que há muito não lia revistas de nenhuma espécie. Então me aventurei a ler as atuais revistas das bancas e pelo amor de Deus (ou quem estiver no lugar dele). As coisas estão cada vez piores. A Rolling Stone consegue ser uma porcaria jamais vista. Se uma capa com os membros do Nxzero pelados já é depressiva o suficiente, colocá-los como “a maior banda de rock popular brasileiro da atualidade” beira o ridículo. Isso sem contar na infinidade de merda dentro da revista. Não consegui saber se estava lendo a Capricho, Caras ou uma revista de “rock”. Salvo uma matéria com o velho Buk, importada de uma edição da revista americana de 76, que é realmente muito boa, a revista é bem fraquinha. Entre as outras revistas, quase a mesma coisa. Trip tem boas matérias, mas raramente consigo ver uma grande edição, daquelas que dá vontade de guardar na prateleira para sempre. Playboy idem, salvo o recheio e a parte mais importante (a das fotos, claro), as matérias estão cada vez mais fracas e sem graça. A revista Bravo! é interessante, em alguma medida. Confesso que nunca parei para lê-la com a devida atenção, mas o conteúdo por demais “cult” me deixa um pouco aturdido. Dessas revistas de entretenimento posso destacar que minha favorita, e pra ser bem sincero, a única revista atual que eu acho que preste para alguma coisa é a revista Piauí. A única coisa que me desagrada nela é sua estética reta e formal, com muitas letras pequenas e poucas imagens. Não que eu ache que encher a revista de futilidades vai melhorá-la, pelo contrário, mas apesar do conteúdo da Piauí ser realmente digno de palmas, não posso deixar de citar que sua estética e disposição reta e documental ás vezes me cansa. Como já disse, a enorme quantidade de boas matérias dentro dela compensa o “esforço”. Salvo algumas matérias relativas à política que não me agradam por pura opinião pessoal (nunca gostei muito de ler e falar sobre política, apesar de tentar, com algum afinco, me informar sobre as atualidades do assunto em pauta no momento) a revista é uma ótima para quem quer ler coisas interessantes e fora da banalização da atualidade.
É claro que o mundo ainda tem jeito. Ou pelo menos eu acredito. Ás vezes me sinto como o rei Midas ao contrário. Parece que tudo que eu encosto vira merda. Ou isso é só alguma nostalgia barata de tempos que não vivi. O que eu sei é que atualmente as coisas em geral não me agradam nem um pouco. Fico me perguntando aonde vamos parar daqui a algum tempo. É bem possível que inventem cada vez mais novas balbúrdias e banalidades para nos bombardear de inutilidades, mas também é possível que cada vez mais pessoas continuem escutando e lendo coisas boas, e que (Deus me ouça), mais pessoas com algum talento que não um rostinho fotogênico e uma atitude do tipo “olha como sou doidão” continuem empunhando suas guitarras, baixos e baterias e enfurnados em garagens e estúdios baratos nos salvem disso tudo.
Down in flames!
sábado, junho 14, 2008
hai kais - ou coisa que o valha
Tenho dedicado a maior parte do meu tempo de escrita fazendo hai-kais inocentes. Não sigo a ordem métrica de 5,7 e 5 sílabas, tampouco falo muito sobre as estações. É algo mais no estilo Paulo Leminski, guardadas as devidas proporções de qualidade. Não sei nem se tenho o direito de chamá-los de hai-kai. Simplesmente escrevi pequenos versos que têm em média três linhas. Devem ter outro nome que eu não sei qual é. Mas por enquanto é isso.
cerveja e cigarros
pela noite adentro
tosses e pigarros
----
músicas country
no inverno
calmo e terno
----
a minha decadência
e o seu apogeu
a sua claridade
o meu breu
----
a dor é assim
parece que não tem fim
mas quando passa
não parece tão ruim
----
falsos moralistas
que se fodam
os intimistas
----
filmes na televisão
deitado na cama
cigarro na mão
----
é um mistério
sou jovem mas
me sinto velho
----
cerveja na mesa
cadeira no chão
levito no ar
----
um ponto de interrogação
é o que eu sou
uma questão em vão
----
A noite
deitado em minha cama
pensando na morte
a vida me chama
----
fim da linha
a estrada acabou
e tudo recomeça
----
eu não dou a mínima
pro começo
nem pro fim
eu não dou a mínima
pra você
nem pra mim
----
e o fim
é assim
um estopim
cerveja e cigarros
pela noite adentro
tosses e pigarros
----
músicas country
no inverno
calmo e terno
----
a minha decadência
e o seu apogeu
a sua claridade
o meu breu
----
a dor é assim
parece que não tem fim
mas quando passa
não parece tão ruim
----
falsos moralistas
que se fodam
os intimistas
----
filmes na televisão
deitado na cama
cigarro na mão
----
é um mistério
sou jovem mas
me sinto velho
----
cerveja na mesa
cadeira no chão
levito no ar
----
um ponto de interrogação
é o que eu sou
uma questão em vão
----
A noite
deitado em minha cama
pensando na morte
a vida me chama
----
fim da linha
a estrada acabou
e tudo recomeça
----
eu não dou a mínima
pro começo
nem pro fim
eu não dou a mínima
pra você
nem pra mim
----
e o fim
é assim
um estopim
quarta-feira, junho 11, 2008
Infelicidade múltipla dos orgãos
Fiquei sentado no balcão do bar enquanto entornava meu copo de cerveja em alguns goles rápidos. Um senhor do meu lado puxou conversa. Não tava a fim de papo. Dispensei a conversa com educação e voltei a beber olhando para o nada. De repente tive alucinações. O bar de azulejos brancos e sujos me lembrava um desses hospitais ou postos de saúde públicos. Os garçons do balcão com seus jalecos brancos eram idênticos aos enfermeiros e médicos. Olhei ao redor. Todos os presentes pareciam estar doentes. O velho do meu lado sofria de solidão. Devia ser viúvo e os filhos deviam estar ocupados demais pra ficar com ele, por isso passava o tempo no bar tomando sua cerveja e puxando papo com quem estivesse do seu lado. Mais atrás um cara tomava uma dose de vodka ou algo do tipo sozinho numa mesa. Esse sofria de pé na bunda com certeza. O olhar desolado não escondia, e as roupas relativamente boas também não. Geralmente quando levam um pé na bunda esses tipos de caras entram no primeiro bar mais vagabundo que acharem e ficam lá se lamentando e bebendo sozinhos. Dois caras conversavam e bebiam cerveja em outra das mesas. Esses sofriam de desemprego ou preguiça, com certeza. Todos examinados e sendo tratados, só faltava eu. Me perguntei qual seria minha doença. Não demorou muito e cheguei à conclusão. – Infelicidade múltipla dos órgãos. Me perguntei que bobagem era essa e comecei a tentar entender como esse vírus maligno tinha se apossado de mim. Era a simples infelicidade em grande escala, repassada pra todas as partes do meu corpo. A infelicidade em seu estado bruto, correndo por minhas veias e chegando até meus órgãos. O sangue carregava infelicidade e o coração bombeava infelicidade. O círculo vicioso biológico continuava e o único antídoto era o álcool. Pensei em todas as decepções da minha vida e em todas as infelicidades que eu havia adquirido. Descobri que pra cada uma delas uma dose de infelicidade era produzida pelo meu corpo e expelida na corrente sanguínea. Em alguns casos a situação é reversível. Bastam alguns porres ou uma garota que tudo fica resolvido. No meu caso isso já não era mais possível. A doença se alastrara e atingira todos os meus órgãos. A infelicidade múltipla dos órgãos me consumia dia após dia e exigia enormes quantidades de bebida para acalmar seus efeitos colaterais. Chamei o enfermeiro e pedi mais uma injeção. Vi ele trazendo a seringa e esguichando pro alto. Estiquei o braço e me preparei para a picada. Ele serviu meu copo com a cerveja. Tomei um gole e ouvi ele me dizer um amigável – "Saúde!". Era tudo o que eu precisava.
Os perigosos bem vestidos
As pessoas que andam por aí, vestidas em seus casacos esquisitos, falando sobre a vida dos outros como se soubessem mais das coisas. Tomam cafés fervendo de tão quentes e comem em bons restaurantes. Se acham os maiores experts sobre todo e qualquer assunto e estão sempre dispostos a dar um pitaco na sua vida com aquela voz de arrogância e superioridade como se soubessem mais de você do que você mesmo. E tome cuidado. Esses pragmáticos estão por todas as partes. São aqueles que te olham de cima a baixo com olhar de reprovação pelas ruas. Aqueles que te olham feio quando você se senta do lado deles no metrô ou no ônibus. Aqueles que te lançam olhares de reprovação e desprezo quando trombam com você na parte de bebidas do supermercado e aqueles que acham que vão morrer por sua culpa quando você fuma perto deles. Esses sistemáticos estão em todas as cidades e em todos os lugares. Você não tem como fugir deles. Quando você menos esperar eles estarão lá com seus relógios de pulso e sapatos engraxados, te olhando de cima pra baixo e reprovando toda e qualquer coisa que você faça ou diga. Eles também pensam que são os donos da rua. Andam pelas calçadas a passos largos e se você passa próximo deles acham que você tem algum tipo de doença contagiosa e desviam o caminho ou atravessam a rua. Tem cabelos bem aparados e penteados e roupas bonitas. A vestimenta formal e os ditos bons modos escondem a arrogância e preconceito por trás deles. Usam a religião, a política e outras desculpas para nos infernizar. Que alguém nos salve dessas pessoas, antes que elas acabem conosco.
terça-feira, junho 03, 2008
Acendo um cigarro e fico fumando na janela do meu apartamento na Avenida Paulista. Lá embaixo vejo os materiais da reforma da avenida e alguns carros passando. Um taxi, um carro, uma moto. Estou ouvindo The Who. É muito bom ver a Avenida Paulista na madrugada. É uma bela avenida. Não é tão movimentada numa madrugada de segunda-feira quanto num dia qualquer a tarde. É uma bela avenida. Começo a ouvir Stand By Me do John Lennon. Dois garis passam limpando a rua. O silêncio é tão grande que posso ouvir o esfregão de um e a lata de lixo de outro sendo arrastados. Eles passam com suas roupas laranjas e a cidade continua dormindo. A Avenida mais movimentada do país dorme em descanso ás três e pouco da manhã. Os dois garis trabalham, firmes e fortes. Alguns carros passam. Termino meu cigarro e olho para a rua. Os dois garis se foram. A rua está vazia. É um barato. Amanhã de manhã já vai estar cheia como nunca. Essa cidade é uma maravilha. Essa cidade é um horror. Antes dos garis irem embora eu penso no meu pai e que por ele estou aqui. Tenho aquela sensação de que os pais são as melhores coisas na vida de um cretino como eu. Mereciam um filho melhor, com certeza. Penso na vida de cada um deles e penso na minha. Uma grande diferença. Um grande desocupado. Gosto de São Paulo. Acho que preciso ajeitar minha vida. Acho que preciso poupar meus pais. Quem sabe logo não arranjo um emprego e pague meu próprio apartamento?
Era pra ter um final diferente, mas eu só me lembro de ter bebido mais uma cerveja e ter ido dormir. Fica assim então.
Era pra ter um final diferente, mas eu só me lembro de ter bebido mais uma cerveja e ter ido dormir. Fica assim então.
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