sábado, julho 31, 2010

Now I'm tired and gettin old
I ain't got much gold
Well maybe things ain't been all that I planned
But God above hear my plea when it's time to judge me
Take a look at these hard hard working hands

Johnny Cash

Acredite, baby

E garota, tu não vai acreditar quando eu te falar sobre todo o tempo que eu passei arquitetando planos imposíveis e inimagináveis, bebendo igual um condenado à cadeira elétrica e pensando nos meus ídolos como verdadeiros santos magníficos e fabulosos igual a James Dean dirigindo rápido seu Cadillac numa estrada californiana em 1952. Era só nesse tipo de coisa que eu pensava quando eu via que as coisas não estavam tomando um bom rumo, e elas não tavam tomando um bom rumo há muito tempo. Eu não sabia muito bem o porque. Eu nunca soube muito bem o porque de muitas coisas.

Mas baby, seria bom se tu acreditasse em mim quando eu digo que eu vi os maiores milagres acontecerem bem diante dos meus olhos em noites silenciosas e solitárias andando por ruas escuras com um cigarro entre os dedos e curtindo um disco do Simon & Garfunkel e pensando em garotas bonitas e garrafas e bebidas. E pensando em vezes que me joguei de carros em movimento e pulei sob orelhões de ruas escuras em madrugadas bêbadas simplesmente porque eu achei que aquilo ia ser bacana e porque alguma voz estúpida na minha cabeça me dizia pra ir em frente e fazer esse tipo de coisa. Mas eu não me importava muito, e afinal, porque deveria? Eu só tinha vinte anos e não tinha muito dinheiro e não tinha muitos planos e a gente sempre tinha algumas cervejas ou uma garrafa de uísque ou de qualqué coisa e o carro tocava o solo do Iggy Pop enquanto a gente só pensava nos nossos planos sonhadores que a gente ainda nem tinha direito. E era provável que nenhum deles viesse a se realizar. Mas que diabos. Não importava muito. Nunca importou. Nós eramos um bando de malucos correndo contra a correnteza. Eu era um maluco que acreditava em salvação pela poesia, mas eu nem sabia muito bem que diabos era a poesia. Eu sabia do que eu gostava. Eu sabia que queria ser como os Ramones, que queria escrever um livro tão bom quanto Pergunte Ao Pó e ter uma garota que me tirasse o folêgo e gostasse de mim e me ajudasse a não pensar mais em me jogar de janelas ou me enforcar com lençóis ou cordas velhas. Era nesse tipo de coisa que eu pensava quando andava por aí. Era nesse tipo de coisa que eu pensava quando me sentava em frente ao computador numa ressaca daquelas e ouvia dois blues do Buddy Guy enquanto destoava minhas bobagens solitárias & mal escritas de um jeito caótico e meio sem jeito, mas cê pode acreditar em mim quando eu digo que - É totalmente sincero.

E baby, eu só vou dizer mais uma vez, que é pra você e qualquer pessoa ter certeza. Eu não sou lá essas coisas, eu nunca fui lá essas coisas e eu provavelmente nunca vou ser lá grandes coisas, mas pro inferno com tudo isso! Eu gosto de falar sobre maluquices espirituais mesmo não acreditando em muitas coisas e nem tendo uma religião e nem sabendo rezar. E eu gosto de ouvir música, principalmente rock and roll, e acreditar que caras como Joe Strummer e Paulo Leminski estão lá em cima olhando por nós aqui embaixo. E a gente pode ser maluco pra caramba, mas a gente não é doido de desacreditar nesse tipo de coisa. A gente não é doido de abandonar tudo isso e entrar pra uma igreja ou parar num hospício ou num cemitério antes da gente completar trinta e dois anos. E acredite quando eu digo, baby, que às vezes só o que a gente tem que fazer é acreditar.

quarta-feira, julho 28, 2010

antes que fosse tarde demais pra nunca mais chorar

E eu chorei por não ser Jack Kerouac, por não ser John Fante, por não ser Lou Reed. Chorei por ser eu mesmo, por não ser ninguém importante, por não fazer nada importante, por não ser interessante. Eu chorei por todos os sofredores e todos os santos do mundo. Eu chorei por acreditar em verdades superiores e em espaços cósmicos. Chorei por baladas country e lamentos de blues. Chorei todas as vezes em que pensei nas garotas que não tive e nos porres que tomei. Chorei pensando no meu emprego de merda, em pegar o ônibus, em andar na rua. Chorei porque eu gostava de ser quem eu era e por as pessoas não gostarem assim também. Chorei por me importar com coisas estúpidas e por não me importar com várias outras. Chorei porque o mundo era cruel e nós todos eramos egoístas e cretinos o suficiente pra não ligar muito pra qualquer outra coisa que não fossemos nós mesmos. Chorei porque eu sabia que nada disso valia a pena. Porque eu sabia que o inferno não existia, e se o inferno não existia o céu também não existia, e nada fazia nenhum sentido. Chorei por nada fazer sentido, chorei por existir. Chorei porque eu simplesmente achei que fosse ser melhor assim. Porque eu era uma má pessoa e eu tinha sido uma má pessoa durante muito tempo. Chorei por não ter acreditado em muitas coisas. Chorei por meus livros, por meus discos, por meus filmes. Chorei por Arturo Bandini, por Sal Paradise, por Henry Chinaski e por mim mesmo. Chorei porque era a única coisa a se fazer. Chorei porque era a última coisa a se fazer. Chorei antes que fosse tarde demais pra nunca mais chorar.

Visões de Cody

Música, sax, saxes, luzes tremeluzentes, trompetes, vozes, luzes, chacoalhões; tudo está acontecendo; vozes, músicas, iik, girafas, zoológicos, circos, cães, estacionamentos, galreios, casinhas de brinquedo, jubileu, uma grande raposa vermelha, o nariz vermelho, o grande Jack Little, meninos e meninas, o Brooklyn Dodgers, alegria, verão, Nova York, casquinhas de sorvete, blues nos velhos saloons de Nova Orleans, curtos, no bar, King Cole, histórias do ringue; fumaça de charutos, capas de couro para os isqueiros, uma bolsa de golfe; poeirinhas, as bonequinhas e as poeiras no chão, tão tristes, (sarapintadas) minúsculas salpicadas, sobre os brinquedos no chão, os brinquedinhos das crianças sempre misterificam o lugar que ocupam, uma alma que respira desejou a eles uma identidade e os brinquedos portanto vivem. Escuta, eu queria ir para o céu, tem bem mais pessoas mortas do que vivas; será que olhos mortos vêem? Olhos mortos vêem.
E a chuva dorme.

Jack Kerouac

segunda-feira, julho 19, 2010

fragmentos de uma conversa alcolizada

A gente fica esperando que algo de bom aconteça de repente, seja na internet, numa cerveja no boteco mais sujo do mundo ou na fila do banco pra pagar uma conta atrasada. A gente só espera conhecer uma garota muito foda ou que algo dê muito certo, e a gente fica esperando essas bobagens o tempo todo. É tipo aquela bobageira de menininha esperando princípie encantando, mas a gente só espera uma boa garota, que tenha um corpo legal e seja bonita e curta umas coisas bacanas e divida umas bebidas e te dê uma razão pra acreditar em alguma coisa.
Mas se eu tiver nos olhos
Uma luz bonita
Fica comigo
E me faz feliz
É que eu tô sozinho
Há tanto tempo
Que eu me esqueci
O que é verdade
E o que é mentira em volta de mim

Barão Vermelho

sábado, julho 17, 2010

Um belo momento pra se suicidar

Era um belo momento pra se suicidar. O dia estava tranquilo, os carros passavam na rua e fazia frio. Mas era um frio aceitável e gostoso. Nada dessas coisas de bater o queixo. Eu gostava do frio. Eu gostava muito do frio. Era um dia muito agradável. Os carros passavam na rua e o sol batia manso na janela. Não me sentia triste, nem mesmo deprimido. Me sentia libertado. Tranquilo. A Day In The Life tocava no computador. Sempre pensei em morrer ao som dessa música. Seria sublime, ah, seria maravilhoso! Pensei em me jogar da janela, mas eu era muito medroso com altura. Não que eu gostasse disso. Eu não gostava de ter medo de muitas coisas, mas eu tinha. Na verdade eu era aterrorizado com várias coisas. Morrer e altura eram duas das mais significativas coisas, mas agora, eu tava numa boa. Era bonito. Soava bonito. Eu não comia nada há um bocado de horas, e tava numa ressaca tranquila. Era um dia tranquilo. A Day In The Life tocando no rádio e eu pensando em uma garota maravilhosa que me deu o fora num bar ontem. Eu sabia que eu era o tipo de pessoa a se manter longe de bares e baladas e shows e reuniões e vernisages e qualquer coisa desse tipo. Eu sempre soube que eu era o tipo de pessoa que tentou se manter fora de Hospitais, hospícios, igrejas e empresas. Eu sabia que as coisas iam acabar dando errado uma hora ou outra. E elas davam. E davam novamente. E eu continuava fazendo as mesmas bobagens. Indo em bares e levando foras de garotas. E continuando levando foras de garotas. Eu não desistiria tão fácil. Bons idiotas levam muito tempo pra aprender. Idiotas profissionais nunca aprendem. A garota cantava numa banda fantástica. Três garotas cantavam músicas da década de 30 e 40 acompanhadas por músicos de qualidade. Baixo acústico e saxofone. A garota tinha um topete incrível e era linda de morrer. Realmente de morrer. Dançava o groove da discotecagem que rolou depois do show de um jeito sensual e apaixonante. Diversos imbecis a cercavam como moscas de bar. Não me aproximei. Não ia ter jeito, eu não era bom nisso. Eu também não era bonito. Eu não estava bem vestido, e não era alguém importante. Eu não era nada importante. Não adiantava nem tentar. Voltei para a área de fumantes. Alguns cigarros seriam a dose certa pro esquecimento. Garotas vem e vão. Mais vão do que vem. Fumei um, dois ou três cigarros. Comprei mais duas cervejas. A noite parecia tranquila, mas eu não conseguia parar de pensar na tal garota. Um amigo apareceu com uma dose de uísque, era a salvação. Bebemos juntos. Mais algumas cervejas. Eu tinha que ir ver agora. Eu não podia deixar de ir vê-la. Eu morreria se vão a visse. Eu morreria se não estivesse com ela por mais alguns instantes. Eu morreria de qualquer forma, não importava a razão nem a maneira. Entrei no bar e a encontrei sentada na mesa. Sentei ao lado e puxei um assunto estúpido qualquer. Eu sempre conseguia falar coisas estúpidas. Eu sempre conseguia me mostrar um deplorável inseguro e babaca. Eu era um idiota profissional. Um soul tocava na discotecagem, a chamei pra dançar. Ela disse estar cansada. Pura balela. Pura balela. Eu era um idiota profissional, não podia deixar de ser. Falei no ouvido dela o que eu precisava falar antes que eu perdesse a coragem. Eu tava apaixonado por ela. Ela me disse pra não falar aquilo. Eu não deveria ter falado aquilo. Sabia que não deveria ter falado aquilo. Mas falei. E acho que falaria de novo. Bons idiotas demoram pra aprender. Idiotas profissionais nunca aprendem. Ela era linda, e não tava nem aí pra mim. Ela era linda e me dispensou de uma maneira incrível. Mas eu não me importava muito. Eu já era experiente nesse tipo de procedimento. Eu já tinha sido dispensado muitas vezes pra sacar o quanto a vida é dura. Eu já tinha encarado a rejeição de frente muitas vezes pra sacar que as coisas não são como você pensa que são quando ouve teus discos e escreve meia dúzia de palavras bonitas. Eu sacava que o inferno tava ali do lado e que a gente só tava se mantendo afastado o tempo que fosse possível. Eu sabia bem que a corretenza tava forte e os galhos que nós estavamos agarrados não iam durar muito tempo. O dia estava tranquilo lá fora, minha ressaca estava tranquila também. Ouvia John Lennon cantar Jealous Guy e pensava em quedas de janelas. Era uma grande idéia. Prédios eram uma grande idéia, mas quedas da janela eram uma coisa ainda mais fantástica. Eu precisava escapar daquilo tudo enquanto fosse tempo. Eu precisava guardar esse momento fantástico pelo tempo que fosse preciso. Eu podia ser um grande escritor, oh, Deus, eu podia ser grande! Eu podia ser grande em muitas coisas! Eu podia ter aquela garota. Eu podia ter aquela garota se ela me quisesse. Eu podia ter todas as garotas do mundo se elas me quisessem. Eu podia ter aquela garota e amar ela como se fosse a última coisa que eu fizesse na minha vida. Eu podia abandoná-la de manhã quando acordasse de ressaca. Mas eu não faria isso. Eu não era o tipo de cara que fazia isso. Eu era um idiota profissional. Eu provavelmente a acordaria aos beijos e traria café na cama, ou qualquer coisa estúpida do tipo. Eu sabia muito bem como ser estúpido. O dia estava um arraso lá fora. O frio estava tranquilo e os carros passavam devagar na rua. John Lennon cantava Jealous Guy e eu me sentia incrivelmente tranquilo. Era um belo momento para se suicidar.
E a gente só quis ser John Lennon ouvindo Mother e Jealous Guy e chorando quietos nossas tristezas, só querendo ser JOHN LENNON e mais ninguém. Só querendo salvar o mundo, só querendo salvar a nós mesmos de tudo isso. A gente só queria ser John Lennon quando o sol baixasse devagar e nós estívessemos sozinhos bebendo nossa garrafa de qualquer coisa e pensando em A Day In The Life com um sorriso no canto da boca. A gente só quis ser John Lennon todos os dias da nossa vida quando a gente pensava em amizades e garotas que nos desprezaram e a gente entendia que aquilo fazia parte do sofrimento, do aprendizado, de entender todas as coisas do mundo. A gente só quis ser John Lennon com nossos amigos Paul's e nossas mulheres Yoko's. A gente só quis ser John Lennon e escrever nossas poesias tranquilas e bonitas em papéis brancos e novos. A gente só quis ser John Lennon, e nada mais.

quinta-feira, julho 15, 2010

dessa vez quero que seja diferente

dessa vez quero que seja diferente
quero que as coisas aconteçam
que eu não perca meu apreço
que eu não seja um descrente.

dessa vez quero que seja diferente
quero encontrar os anjos pelas ruas
quero cantar minhas verdades nuas
conhecer os dissidentes

dessa vez quero que seja diferente.
quero não fazer nada o dia inteiro
contar histórias pro travesseiro
mostrar quem manda pra esse cara do espelho.

dessa vez quero que seja diferente
quero escrever do fundo da mente
me agarrar a tudo que é indecente
encarar a vida de frente.

dessa vez quero que seja diferente.

sábado, julho 10, 2010

ontem eu fui à uma festa
e tomei um porre de respeito
ah baby, eu não tenho jeito.

aprontei das piores burradas,
declamei poesias inventadas
enquanto todo mundo dançava
eu bebia e reclamava
perdendo o respeito
ah baby, eu não tenho jeito.

ameaçei me jogar da janela
me apoiei no parapeito
acabei no banheiro, abraçado à privada
ah baby, eu não tenho jeito.

Plastic Ono Band

um disco para quem entende a tristeza e toda a poesia que há no sofrimento.

quinta-feira, julho 08, 2010

preferências

você poderia
ter uma noite tranquila em casa
comendo pizza e vendo
um velho filme do Peckinpah.

você poderia
achar uma boa garota
e passar o resto dos teus dias
cozinhando pastas ao molho branco
e bebendo vinho de qualidade.

mas você saí
e bebe, e bebe
e fala as
maiores bobagens.
e bebe, e bebe
e apronta as
piores sacanagens.

ouve rock alto
dança em um ritmo desenfreado
de quem não sabe dançar.
dança, de um jeito atrapalhado
de quem já tá de cara e saco cheios
desse tipo de lugar.

você poderia
ter uma vida tranquila,
ter um jogo de talheres,
não ter contas pra pagar.

você poderia,
ter um grande negócio,
ter dinheiro no bolso,
não ter com o que se preocupar.

mas mesmo assim
você ainda prefere
sair, beber, dançar
um rock desenfreado
e deixar teu mísero salário
na conta do bar.

segunda-feira, julho 05, 2010

que deus tenha piedade
da nossa cara
metade.

domingo, julho 04, 2010

E as pessoas aí fora estão morrendo em todos os cantos do mundo, atropeladas por um carro ou tendo câncer ou se suicidando e me dói pra caralho pensar em como a grande maioria delas vai embora daqui sem ser ouvida por dez pobres segundos tão importantes pra dizer uma frase bonita ou uma consideração sobre tudo o que aconteceu. E seria tão belo se todos nós pudessemos dizer uma última frase, não é? Mas a gente não pode. E as pessoas vão embora, vão embora assim sem aviso prévio e seus filhos e amigos choram por elas, e o tempo passa e cura um pouco a dor e os filhos tem filhos e então os filhos também morrem e os netos choram e assim em diante, e eles ficam por um tempo em fotografias antigas e pensamentos e talvez alguém ainda lembre delas de vez em quando e fale algo do tipo "mas olha só, lembra o que o meu grande avô costumava dizer sobre isso e..." todas essas coisas. Mas no final, isso também vai passar, e aí, só quem vai ser lembrado são caras de grande magnitude como Hitchcock, Saroyan ou Mick Jagger. E as pessoas vão estar em seus paraísos eternos sabatinadas e iluminadas definitivamente porque tudo isso vai ter passado. Todo esse sofrimento, todas essas mentiras. No final não somos nada além de comida de verme. Não era isso que aquele personagem do Robin Willians falava em "A sociedade dos poetas mortos"? Talvez seja só isso. Talvez só os poetas mortos importem. As pessoas nunca se esquecerão de Shakespeare ou Lou Reed. Mas se esquecerão de mim, de você e de nossos país e avôs. E talvez ninguém nunca mais leia essas bobagens que a gente escreve ou ligue pras conversas que a gente teve ou pros bares que a gente bebeu. A gente vai ser esquecido junto com todo o resto, e logo mais vamos estar no paraíso como todos eles. E vamos estar felizes. Vamos estar muito felizes & iluminados. E nada mais vai nos fazer sofrer. E nada mais disso vai importar. E talvez é assim que as coisas vão acabar. Espero que sim.

Ás vezes algumas coisas valem a pena

Eu não gosto de sapatênis. Não acho que usaria um troço desses algum dia. Não é um sapato e também não é um tênis. E ainda por cima é feio. Não sei porque estou falando de sapatênis. Acho que vi um anúncio em alguma página da internet ou coisa do tipo. Sempre me pego pensando em coisas estúpidas desse tipo. Misturo reflexões toscas como essa com pensamentos sobre uma garota de jaqueta de couro qeu eu vi num bar há uns dois dias atrás. E ela era um arraso. Eu não fui falar com ela. É claro que eu não fui. Eu nunca vou falar com as garotas. Não tenho auto-confiança suficiente pra isso. Não tenho muitos atrativos, mas posso garantir que tenho grandes pensamentos. Ah sim! Eu os tenho! E como tenho. Me sinto um John Fante pelas ruas de Londrina. Me sinto um Ian Curtis na minha própria cidade cinza e sem graça. Aqui não é nenhuma Manchester e nenhuma europa, mas nós com certeza temos muitas preocupações e muito tédio e muita tristeza. Não ouse duvidar disso. Penso em uma frase que o Richey James, ex-guitarrista do Manic Street Preachers, disse uma vez: "Eu posso ser uma pessoa fraca, mas eu posso aguentar dor." Cara legal esse Richey James. Ele não era lá um grande guitarrista, mas era um grande letrista. Sofria a coisa de verdade. Escreveu "4 real" com uma navalha no braço depois que um jornalista da New Musical Express perguntou o quanto de verdade havia nas letras qeu ele escrevia. E é bem isso mesmo. A mais pura verdade. Só quem está no inferno sabe como o fogo arde no corpo. Que grande bobagem. Talvez tudo isso seja uma bobagem, mas é uma bobagem verdadeira. Richey James sumiu do mapa em 1995. Encontraram o carro dele perto de um desfiladeiro conhecido por ser um dos locais prediletos de suicídas britânicos. Talvez seja só isso. Talvez estejamos buscando a vida nos lugares errados. Tenho sofrido grandes decepções e alterado de humor constantemente. Não que me importe muito com isso. Sempre fui assim. Sempre fui um idiota profissional. Acreditei em amores à primeira vista e em declarações bêbadas. Que loucura isso tudo. Que loucura é a vida. Penso na garota de jaqueta de couro. Era morena e tinha um cabelo bonito. Era bonita, tinha estilo. Devia ser uma grande garota. Devia gostar dos Stones e talvez preferisse George Harrison ao Lennon. Ou talvez ela fosse uma fã do McCartney? Eu não sei. Acho que nunca vou saber. Mas vou continuar pensando. Talvez pense em outras coisas amanhã. Tudo isso ouvindo Brian Wilson. Gosto de músicas bonitas. Gosto de garotas bonitas também. Gostaria de gostar de mais coisas. Talvez beber um pouco menos. Talvez aprender a viver. Que coisa toda é essa? Nem mesmo escrever eu sei. Gosto de garotas bonitas. Gosto de escrever. Vou terminar de ver um filme e sair pra beber. Ás vezes os domingos não são tão ruins. Ás vezes algumas coisas valem a pena.