quinta-feira, maio 28, 2009

O inferno era logo ali e nós estavamos a um passo do bar mais próximo

Eu nunca precisei trabalhar. Não que eu me orgulhe disso, pelo contrário, mas também não posso dizer que me sinto culpado. Sou um grande ocioso, e por diversas vezes tive idéias brilhantes e planos mirabolantes para negócios e empreendimentos que nunca deram certo. Nunca consegui levar nada adiante, desde pequeno. Aula de taekwondo, aula de futebol, aula de natação, aula de violão, aula de gaita, aula de baixo, escrever um livro, montar uma revista, gravar um curta e centenas de outros planos frustrados. Nada disso deu certo, e a grande maioria pela mais pura falta de empenho. Algumas pessoas sempre me dizem que, só tenho dezenove anos e que algo vai acontecer, mais cedo ou mais tarde. Acho que é verdade, e tento não me preocupar. É claro que ás vezes me preocupo, todos nos preocupamos, uns mais, outros menos e assim por diante. De qualquer maneira eu sempre tinha alguns livros em mãos, alguns filmes, alguns discos e toda essa bobagem que eu já estou cansado de escrever sobre. Mas esses eram meus grandes passa-tempos e fontes de cultura, imaginação ou qualquer bobagem que me fizesse seguir em frente. Podia não haver muito dinheiro (apesar de nunca faltar), podia não haver nenhuma garota e ninguém por perto, mas ali estava algo que me salvava.

Era complicado quando realizava que as coisas não seriam como planejei. Sempre fui um sonhador solitário. Cansei de escrever essa bobagem toda. Não há mais raiva, não há mais amor, não há mais nada que valha a pena. Não sou um fodido, não sou um dos grandes, não sou merda nenhuma. Sou um cidadão da classe média, não sou bonito, não sou feio, não sou inteligente, não sou burro, não sou esperto, não sou ingênuo, não sou experiente, não sou inexperiente, não sou chato, não sou legal, não sou absolutamente bosta nenhuma e essa MERDA toda está me dando no saco cada vez mais. Essa merda toda de abrir a página e escrever e escrever e escrever e perceber que eu não passo de um eterno dejá-vu repetitivo e sem graça, e que todos ao meu redor estão fazendo algo e vencendo e perdendo e quebrando as suas caras e VIVENDO enquanto eu estou aqui sonhando e dormindo e acordando e preocupado com porra nenhuma.

Vou correr para a primeira porta que estiver aberta, porque eu sou muito preguiçoso para tentar achar alguma outra, e aí vou me enfiar embaixo das cobertas e colocar o travesseiro na cabeça e dizer - DEUS DEUS DEUS EU NÃO SOU NINGUÉM EU NÃO SOU UM DIABO EU NÃO SOU UM ANJO, EU NÃO SOU NADA NEM NINGUÉM - e aí ninguém vai ouvir nem vir me acolher nem vir me xingar, nem me bater nem acariar nem porra alguma e eu vou olhar para a garrafa de uísque meio cheia meio vazia e vou dizer - você! você! você! é a culpada de tudo isso - e de alguma maneira ela vai se estilhaçar no chão e me cortar os pés e os pulsos e todo o resto e vou sangrar até morrer (mas eu não vou morrer) e vou dramatizar como sempre faço, enquanto cuspo sangue no chão e pinto casinhas e pessoas com sorrisos no rosto com meu próprio sangue nas paredes e o despertador vai tocar e eu vou acordar e tudo não vai ter passado de um sonho ruim, mas então eu vou ter outro dia e outra noite pela frente e tudo vai recomeçar e eu vou perceber que não é um sonho ruim, é a vida que é assim mesmo e Deus está em tudo, inclusive em mim mesmo, e eu faço parte de um universo cósmico e visceral interligado por diversas linhas de raciocínio e sentimento e as dicas e as provas estão espalhadas por toda a parte esperando para serem descobertas por nós, e aqueles que a acharem terão o elíxir da serenidade eterna e da paz de espírito AMÉM.

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