Acho que a pior das minhas características em relação a relacionamentos é que eu sou do tipo que só se apaixona quando é desprezado. É simples. A garota me da alguma bola, a gente saí algumas vezes e aí se ela não está mais afim é tiro-e-queda. Eu estou tremendamente apaixonado a partir desse momento. Posso não sentir muito apreço enquanto a coisa está rolando, e se acho que não deve rolar sou eu quem termino (apesar de isso já não acontecer há um bom tempo), mas quando é ela que enche a minha bunda com o sapatinho de cristal, pode ter certeza que eu vou rodar de carruagem por todas as ruas da cidade procurando a cinderela e pensando que eu sou o príncipe encantando até ela me mostrar que eu não passo mesmo é do bobo da corte. E se ela tem um outro alguém, aí a coisa piora. Não tanto pela outra pessoa, que geralmente não tem nada a ver com o meu problema, nem mesmo por ela, que resolveu ir pra outra e tem todo esse direito. O problema é comigo. Todos os sinais e alertas de rejeição e insegurança piscam e entram em curto, e eu tomo um porre daqueles enquanto escrevo bobagens e ouço um disco triste. Aí dependendo da situação, esse quadro pode se arrastar por muito tempo. E se eu fico bêbado e encontro a tal garota, pode ser via online, pessoalmente ou por telefone, aí sim começa o festival de auto-humilhação. Arrasto aos pés delas, e como um chiclete, quanto mais pisam mais eu grudo. Pobre diabo, patético homem, garoto desesperado. O pouco orgulho que me resta quase sempre me traí. Aí o mundo caí por terra e fica tudo girando, enquanto eu bebo goles de cerveja atrás de cerveja e alterno com doses de uísque com água e fumo maço atrás de maço tentando me dissolver em fumaça e ser jogado no primeiro cinzeiro sujo. É geralmente nessas horas que eu tenho uma grande idéia de escrever um grande livro sobre toda a minha saga ridícula e normal na vida de todos os milhões de habitantes da terra, mas que naquele momento na minha cabeça parece ser a história mais fantástica de todos os tempos. Fico ali, me sentindo um John Fante, arquitetando meus textinhos sofríveis e vexatórios, repletos de auto-humilhação e versos ruins de literatura barata e desprovida de talento, até a ficha cair de novo e mais um abismo se abrir no meu chão.
Depois, de alguma forma, que eu não sei como, as coisas se ajeitam. Continuam as crises patéticas de garoto egoísta e inutíl, alternadas com porres e conversas sobre futebol e música e filmes e bom humor disfarçando tudo, dando aquele sorriso amarelo e fazendo piadinhas infâmes sobre o céu e a terra e a própria desgraça, até alguma outra pobre infeliz ter o azar de cruzar o meu caminho e a insensatez de me dar alguma bola, e pronto, a coitada tá lascada por um bom tempo. E assim em diante, o garoto-lesma vai se arrastando aos pés das donzelas e despertando o nojo das mais diferentes espécies de fêmea. E aí o ciclo se repete, e quando elas vêem que conseguiram se livrar do carma que o chiclete-boy representa e que a vítima agora a outra, sorriem com certa alivío e pena da pobre coitada da vez, enquanto agradecem aos céus por estarem livres de tamanho infortúnio e torcem para que o pobre diabinho siga seu caminho em paz grudando de sapato em sapato até achar algum que o sirva e que o aguente, e que de preferência não atravesse muito o caminho delas, porque naquele chiclete elas não pisam mais e vão ficar de olho e atenção redobrada pra que o raio não caia duas vezes no mesmo lugar, porque a chance de ser eletrocutadas numa dessas é grande.
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