03/11/91 – 00:48
Dia frouxo. Entrei na piscina de hidromassagem como um boa-vida. O sol estava brilhando e a água borbulhava e fazia redemoinhos, quente. Relaxei. Por que não? Dê um tempo. Tente se sentir melhor. O mundo inteiro é um saco de merda se rasgando. Não posso salvá-lo. Mas recebi muitas caras de pessoas que disseram que meus livros salvaram suas vidas. Mas não escrevi pra isso, escrevi para salvar a minha própria vida. Sempre estive por fora, nunca me adaptei. Descobri isso nos pátios das escolas. E outra coisa que aprendi foi que eu aprendia muito devagar. Os outros caras sabiam tudo; eu não sabia merda nenhuma. Tudo estava imerso numa luz branca e estonteante. Eu era um idiota. No entanto, mesmo quando eu era um idiota, sabia que não era um idiota completo. Eu tinha algum cantinho de mim que estava protegendo, havia alguma coisa lá. Não importa. Aqui estava eu na piscina e minha vida estava terminando. Não me importava, já tinha visto o circo. Ainda assim, sempre haverá mais coisas para escrever até que me atirem na escuridão ou seja o que for. Isto é que é legal sobre a palavra, permanece indo em frente, buscando coisas, formando frases, se divertindo. Eu estava cheio de palavras e elas ainda saíam em boa forma. Eu tinha sorte. Na piscina. Garganta ruim, dor de cabeça, eu tinha sorte. Velho escritor na piscina, meditando. Legal, legal. Mas o inferno está sempre lá, esperando para se abrir.
Meu gato amarelo veio e me olhou na água. Olhamos um para o outro. Sabíamos tudo e nada. Daí, foi embora.
Charles Bukowski; O Capitão saiu para o almoço e os marinheiros tomaram conta do navio.
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