O potiguá antigo era um bar do caralho. O boteco da Rua João Pessoa já era o terceiro endereço endereço deles e eu nunca tinha ido lá antes. Acho que eu tinha uns 14 anos quando cheguei lá a primeira vez. Antes eu tinha um certo medo porque achava que os punks iam ser maus com todos desconhecidos que entrassem no bar. Mas lá fui eu com um amigo um dia. Era uma espécie de sala de uma só peça com o balcão do lado direito e um espaço meio apertado pro pessoal transitar. No fundo tinha uma mesa de pebolim e outra de bilhar bastante velhas as duas e um banheiro pequeno e sujo pra caralho, digno de um bar de roqueiros.
Depois eu voltei lá pra ver alguns shows. Sempre rolavam as bandas lá no fundo, eles arrastavam as mesas de bilhar e pebolim pro canto e as bandas tocavam lá na grande maioria das vezes no chão, frente a frente com a platéia que era formada por um monte de roqueiros de todas as espécies e que os fãs de determinadas bandas ficavam lá pogando na frente dos caras e o resto do povo do bar se apertava atrás. Detalhe que se você quisesse ir ao banheiro durante o show você tinha que atravessar a banda para chegar até lá, mas claro que as únicas pessoas que faziam isso eram as meninas porque os caras mijavam na rua e nas portas dos outros estabelecimentos comerciais que ficavam ali do lado, o que também foi um dos motivos posteriores para a mudança do bar.
Lembro que em um desses shows eu cheguei lá e tinha uma banda de três caras tocando. Eu já tinha meus 15 anos e já pendia meu gosto para as bandas punks dos anos 70 e não tirava uma camiseta que um amigo tinha comprado no brechó e me dado de presente porque ela dava coceira nele e a camiseta era toda vermelha com os escritos "Aplaud the 70's" atrás e um desenho de duas mãos batendo palmas. Eu cheguei lá com minha camiseta e minha calça jeans apertada e rasgada no joelho e fiquei vendo a tal banda. O guitarrista usava uns óculos de grau quadrados e legais e o baixista tava lá vestido no visual dos Ramones. Eles estavam tocando um monte de músicas legais de gente como Richard Hell, MC5, Velvet underground, Television, Ramones e outras coisas. Eu cheguei lá e fiquei curtindo em frente ao show e gritando - "Toca Iggy Pop" a cada intervalo de música. Gritei tanto que uma hora o guitarrista dos óculos quadrados se irritou comigo e me deu um esporro. Disse que o baixista não sabia tocar nenhuma do Iggy e deu um fim aos meus pedidos. Eu fiquei quieto e continuei lá em frente ao show. O guitarrista conversou um pouco com os outros caras e eles começaram a tocar outra música. Era No Fun.
Um tempo depois descobri que o guitarrista tinha uma banda chamada Cherry Bomb. Fui em alguns shows e era uma banda legal, mas eu não costumava sair muito e via poucos shows das bandas de Londrina, a maioria que acontecia pela parte da tarde.
Toda semana eu chegava na Garageland e ficava lá olhando os discos, as camisetas e conversando com o Cibié, o dono da loja. Um dia vendo os discos eu vi um em que a capa que eram uns caras de cabelos longos e jaquetas de couros parecidos com os Ramones. Era uma foto preta e branca tirada num show e a foto tinha os caras de instrumentos na mão. O nome da banda era The Real Kids. Eu fiquei curiosissimo pra conhecer a banda. Todos os dias que ia lá na garageland dava mais uma olhada no tal disco. Um dia eu consegui baixar um disco da banda pela internet e achei sensacional. Voltei lá e decidi levar o disco. Eu andava meio sem grana e ofereci uma troca por mais outros dois discos que eu tinha e não ouvia e o Cibié aceitou porque o disco dos Real Kids tava lá encostado fazia um tempão. Era uma colêtanea de apresentações ao vivo em vários lugares e em umas rádios. Na troca ficou decidido que eu tinha que voltar mais uma grana baixa pro Cibié, então pedi pra ele deixar separado que eu voltava com o dinheiro pra pegar outra hora. Cheguei lá num outro dia e quem tava no balcão era o cara dos óculos quadrados. Há essa altura eu já sabia que ele era conhecido como Cheiroso e que já era antigo na cena da cidade. Falei pra ele que tinha ido pegar o disco e ele puxou assunto comigo sobre a banda. Foi uma conversa meio breve, mas comecei a achar o cara gente boa.
Uns dias depois fui com um amigo num churrasco em que eu não conhecia quase ninguém e o cara tava lá. Ele chegou em mim e falou algo do tipo - "Eai meu, cê é fã do Real Kids". A gente ficou conversando sobre uns lances e tudo. Depois disso toda vez que eu encontrava o cara no bar Potiguá ou na Garageland trocava umas idéias com ele. O Cherry Bomb acabou e ele montou Os Substitutes com os mesmos caras. Nessa época eu já tinha meus 16 anos e ia em praticamente todos os shows. Vez ou outra eles tocavam ainda umas músicas do Cherry Bomb e uns covers do Jam. Depois a banda acabou e o Rodrigo (ou Cheroso) foi pra Londres tentar a sorte. Uns tempos depois e o Potiguá mudou de lugar, pro centro da cidade. No começo o pessoal fazia uma força pra ir lá e curtir, mas não era a mesma coisa. Agora o Potiguá é um bar grande e escuro cheio de mesas de sinuca e não podia ter mais shows por causa dos moradores vizinhos. Não demorou muito e todo mundo abandonou o bar, que continua lá mas que é praticamente a última opção do pessoal.
Há mais ou menos um mês atrás o Droogies organizou um show em um boteco e o Teixeira me convidou pra ir. Saí do cursinho e encontrei o Renato. Chegamos no tal bar e eu já tinha passado lá na frente algumas vezes. O bar era pequeno e parecia muito com o Potiguá antigo. As diferenças eram de que o balcão ficava do lado direito e o espaço restante em que o pessoal transitava e fica em pé pra assistir o show é mais apertado ainda. O bar fica na Duque de Caxias e é uma rua longa movimentada pra caralho, bem diferente da calma e curta rua João Pessoa. O show foi bem legal e deu aquela nostalgia do antigo bar. O Renato curtiu a idéia e marcou um show lá pra sua banda nova, os New Ones. O show foi no domingão. Cheguei lá ainda meio de ressaca do sábado e fiquei bebendo com o pessoal. Um tempo depois começou a lotar e chegou a hora dos caras fazerem o show. Eles foram lá e foi do caralho. Dessa vez a sensação de estar no Potiguá antigo foi maior ainda. Eram praticamente as mesmas pessoas ali. Era quente, apertado e sujo igualzinho ao outro bar. Depois do show todo mundo ficou bebendo lá na frente do bar igual no antigo, a diferença é que dessa vez um monte de gente quase foi atropelada pelos carros e ônibus que passavam com grande freqüência e em alta velôcidade na avenida Duque de Caxias, mas felizmente ninguém foi atropelado e a noite foi muito legal.
O Maycon aproveitou pra fazer um clipe com a música dos New Ones e olhando assim parece ainda mais o antigo Potiguá. O Rodrigo chegou pra mim no msn e perguntou como é o tal bar. Eu só disse que tive a sensação de estar nos antigos shows do Electro Shock Combo no Potiguá. Ele disse que deu uma puta saudade da galera vendo o vídeo. Eu também fiquei com saudades desses recentes tempos, que infelizmente passaram. Espero que tenham mais shows nesse boteco como esse e que um dia o Rodrigo possa tocar lá com seu saudoso Cherry Bomb e com toda a galera presente. Espero que Londrina volte a ser legal como antes.
ps: Quem quiser conferir o vídeo é só entrar no blog do Maycon.
4 comentários:
ah eu não li td mas é sinvaldo's mt clima do velho potiguá só a posicção inversa do balcão e o banheiro mais decente ahahah (mas q tb fica estrategicamente posicionado atras do "palco")
É, tb acho que aquele lugar lembre o Potiguá antigo e ocupará (se já não ocupou) o lugar dele. Até que enfim um candidato a altura hehe
Corrigindo sua colocação meu jovem... a primeira banda a tocar no sinvaldo´s foi uma banda de hillbilly e não o droggies!
Legal, meu "velho". Mas em nenhum momento eu disse que os Droogies tinham sido os primeiros a tocar lá.
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