sábado, janeiro 09, 2010

Com um pouco de sorte, a gente se depara na hora certa com uma música que não é somente "grandiosa", ou "interessante", ou "incrível", ou divertida, mas realmente substanciosa. Por um processo evasivo mas tangível, certas músicas barram todas as nossas defesas e dão sentido a todos os medos e desejos que evocamos nelas. Dessa maneira, elas expõe tudo o que escondíamos no íntimo e dão um sentido a isso. Apesar de ser uma outra pessoa que fala, a experiência é como uma confissão. Nossas emoções disparam a loucos extremos; nos sentimos ao mesmo tempo enobrecidos e desvalorizados, redimidos e condenados. Escutamos que é disso que se trata a vida, que é para isso que ela serve. Porém é esse mesmo reconhecimento que nos faz entender que a vida jamais pode ser tão boa, tão inteira. Com uma clareza que a vida nos nega por suas próprias e boas razões, vemos lugares aos quais nunca poderemos chegar.


Greil Marcus, Ao Vivo no Roxy, de A Última Transmissão.

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