sábado, janeiro 23, 2010

A banda favorita dela é o Velvet Underground, e eu me pego ouvindo Heroin e pensando em Lou Reed, John Cale, agulhas e doses de heroína. Ela não liga muito pra mim, e na verdade nunca ligou. A gente ficava perto um do outro, mas na verdade era eu que tava o tempo todo perto dela, balbuciando alguma bobagem bêbada e tentando dizer de alguma forma discreta que a gente devia mesmo era ficar junto e que ela devia perceber isso logo. Mas ela não ligava, e acho que pra ela devia ser mais algo como um favor ou um passatempo. Ela quase não falava, mas ás vezes me perguntava alguma coisa do tipo "por que a Nico saiu do velvet?" e eu falava pra ela que ela devia ler os primeiros capítulos do Mate-me por favor e ouvir o Le Bataclan e os discos solos da Nico, já que ela gostava tanto do Velvet assim.

E é foda quando as coisas começam a cair na sua cabeça. É igual uma demolição repentina que te deixa meio desnorteado sem saber quando é que você vai poder tentar construir tudo de novo. Ela passou a me ignorar. Eu a agitava e dizia "por que diabos tu não me diz o que tu quer, tudo que eu peço é que você diga não e eu juro que nunca mais vou atrás de você" mas ela não dizia nada e só agitava a cabeça timidamente dizendo não mas eu não entendia se ela queria dizer que eu não devia deixar ela ou que eu não devia continuar insistindo, aí eu pedia pra ela falar alguma coisa, uma porra de uma palavra e eu ia embora, e com muito custo ela abriu a boca e falou baixinho só um "eu não sei". E a coisa toda começa a rodar na minha cabeça e penso no violino de John Cale rugindo e arranhando a levada de guitarra e a voz do Lou Reed proclamando que "todo mundo põe todo mundo pra baixo" e eu finalmente entendo ele quando ele diz "que acha que só não sabe" porque é exatamente o que ela me diz quando eu tento beijá-la e ela evita todos os beijos me deixando com uma cara de otário enquanto eu enfrento um turbilhão de confusão mental e espiritual na minha cabeça abalada pelo álcool e confundinda pelas bobagens da vida.

Lembro da primeira vez que ela me deixou e eu passei dois ou três dias bebendo e sofrendo do estômago e ouvindo "There She Goes Again" diversas e diversas vezes e pensando em como aquilo tudo era verdade porque ela ia mesmo voar como um passáro e eu ia ficar sozinho bebendo e lamentando toda as bobagens da minha cabeça, porque pra ela eu talvez não tenha passado de um estúpido iludido que achava que as coisas iam se resolver. Eu pensava que todo mundo devia ter uma chance de vencer pelo menos uma vez e eu queria que essa fosse a minha vez, mas eu não venci, porque no final ninguém ganha nada, mas todos perdem muito.

E ás vezes penso que não adianta mais escrever poemas sofridos ou beber uma garrafa de uísque porque ela não vai voltar e eu sei mesmo que as coisas não vão mudar como não mudaram nos últimos três ou quatro anos, mas eu também sei que vou continuar bebendo e escrevendo poemas lamentando a minha falta de sorte e esvaziando garrafas e acabando com maços de cigarro enquanto atiro as bitucas pela janela e vejo o horizonte da cidade pensando em tudo que se esconde à cinco ou seis quadras daqui.

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