sexta-feira, outubro 30, 2009

I've been fighting
against my own demons
and I know they're inside my head
making plans to drive me mad.

quinta-feira, outubro 29, 2009

Impossível escapar dos enigmas. Que nem as pessoas sorriem nas cantinas quando elas chegam e sentam na mesa mas na hora de ir embora, quando as cadeiras arrastam no piso em uníssono e elas pegam os casacos e as coisas com um olhar carrancudo (todos no mesmo nível de semicarrancudice que é uma carrancudice especial de frustração porque a promessa feita pelo sorriso na chegada não se cumpriu ou se se cumpriu morreu em seguida) - e durante essa vida curta que tem a mesma qualidade cega inconsciente do orgasmo tudo acontece com as calmas delas - é o GRANDE MOMENTO - a soma dos ápices dos relacionamentos humanos - dura um segundo - a mensagem vibratória a toda - mas também não é tão mística assim, é o amor e a sintonia num clarão. É assim que a gente que pira a noite de tudo quanto é jeito (surubas com quatro pessoas, conversas de três dias, viagens transcontinentais ininterruptas) também sente essa carrancudice temporária que nos avisa que é hora de ir dormir - nos lembra que dá para parr com isso - e nos lembra mais ainda que o momento é incapturável, já passou e se a gente dormir dá para reviver ele e fazer mil outras combinações e misturas lindas - embaralhas os velhos arquivos da alma num somo demente alucinado - Então as pessoas na cantina têm que olhar mas só até pegarem o chapéu delas, porque a carrancudice também é um sinal que elas mandam uma para as outras, um tipo de "Boa-noite senhoras" ou talvez uma gentileza interior do coração. Que tipo de amigo ia rir na cara dos amigos na hora de pegar o casaco fazendo uma carranca e de se curvar para ir embora? Esse gesto significa "Estamos indo embora dessa mesa que tinha prometido tanto - é nosso tributo aos tristes." A carrancudice continua assim que alguém diz alguma coisa e eles se dirigem até a porta - rindo eles atiram ecos de volta à cena do desastre humano - e descem a rua no ar renovado que o mundo providencia.
Ah, os corações loucos de todos nós!

Jack Kerouac - Visões de Cody, pág. 31

quarta-feira, outubro 28, 2009

eles estão
por todos os lugares,
e eles vão tentar
te desencorajar
e te fazer desistir.

eles estão
por todos os cantos
e eles vão tentar
fazer com que você arrebente sua cabeça
na primeira oportunidade que tiver.

e eles provavelmente
chegarão muito perto
de conseguir isso.

mas no fim
eles não vencem.
e você também
não vence.

e nenhum de nós vence.
porque não há nada
a se ganhar,
mas sempre há algo
a se perder.

terça-feira, outubro 27, 2009

daqui a cinquenta anos quando ele estiver velho e moribundo num asilo recém-construído onde os interesses vão estar tão afastados das loucuras à la Cristo subterrâneas rimbaudianas motociclísticas em Provincetown que não consigo nem imaginar - e o corredor de entrada dele tem o pior cheiro martirizante: o cheiro de sira - ele subiu as escadas, eu ouvi as portas se fecharem, pensei que talvez o próprio JC pudesse estar cagando, mijando (e é claro) mas principalmente se será que Victor dá uma cagada solitária no banheiro sem nada do prédio caindo aos pedaços e tem a mesma sensação que eu enquanto fica lá sentado olhando as paredes estragadas, sentindo o mesmo fedor, escutando os mesmos barulhos, com as mesmas sensações nos pés e talvez o mesmo engourdissement quando fica sentado por muito tempo, e volta para o quarto (como eu faço) pensando nos bagulhos que trouxe para casa num pacote e nas coisas em cima da mesa e nas pobres oscilações solitária do tempo e da consciência como todo mundo?

Jack Kerouac - Visões de Cody, pág. 25
E eles são aventurescos, um cara recostado na parede tem o mesmo olhar dum garoto de onze anos que fuma o primeiro palheiro encostado na parede da garagem depois do jantar na escuridão interessante de Eau Claire, Winsconsin - o mesmo jeito maroto como se a mãe estivesse dando um sermão nele - o mesmo olhar aventuresco dos caminhoneiros quando param sozinhos numa barraquinha da Coca-Cola emum cruzamento à noite no Texas e a enorme caçamba fica esperando por eles enorme do outro lado da estrada, com o estepe espiando por baixo da cabine que nem o emblema de carneiro fica espiando na tampa do radiador dos Doges - o carneiro voador da estrada - e os dois sujos e soturnos e vindos de longe e quietos estilo Henry Fonda e falando um com o outro dum jeito que não dá para ouvir e quando os dois saem juntos eles se movimentam com a mesma tristeza como se essa aventura a dois estivesse forçando eles a lamentar o mesmo caminho cuidadoso e lá vão eles na noite deles além de qualquer coisa de onde você que está olhando tudo fica, eles foram embora para nunca mais voltar e já foram e vieram como fantasmas atravessando os seus olhos e os mendigos têm a mesma tristeza grave, cuidadosa e aventuresca quando ficam empertigados de pé em frente à parede dum beco olhando para a frente com os olhos e as bocas úmidas de bebida brilhando àluz da lua numa Bowery lunar, cuspindo ou dizendo "Ô amigo, dá um trocado pra mim tomar um café", e nessa frase tem uma afirmativa. "Eu vim de muito, muito longe pra ficar escorado nessa parede - forasteiro - e você não precisa ficar me lembrando dos problemas que tive e dos quilômetros que andei - porque afinal eu sou de Houston e você é um maldito nova-iorquino que nunca teve no abençoado Texas - "

Jack Kerouac - Visões de Cody, pág. 23

segunda-feira, outubro 26, 2009

O fardo da indiferença

Então, tive o fardo da indiferença que me mordeu o coração e me cuspiu à alma.
E tudo era negro e insolúvel, e a vida parecia cada vez mais um filme monótono e entediante.

Os outros eram os melhores, e à margem deles eu estava.
E todos acreditavam em algo e veneravam suas próprias imagens, enquanto eu me flagelava e rezava pelo passar do tempo.

No que acreditavam todos os outros?

Me lamuriava em sonhos e me derretia em palavras.
O inferno, o inferno! Me dói a alma pensar em meu futuro.
Me desanima pensar no passado e me frustra olhar o presente.

Quão quente seria o inferno, e qual seria o tamanho do tridente do demônio?
Me parecia tudo tão inimaginável, tudo tão descrente e desinteressante.
Me faltava gosto em todas as comidas, e nenhuma bebida me matava a sede.

A maldição que me abatera não fora rogada por outros.
Era fruto de mim mesmo, e como num pesadelo, o diabo se esforçava em cumprir meu desejo.

Doia tudo. Os braços, o estômago e todo o corpo, enquanto a alma se dissolvia em bebidas. Na fumaça de meus cigarros se dissipava no ar. Pouco a pouco se acabava com o que havia pra se acabar.

O fim! O fim. Esperava por ele todos os dias. Aguardava que batesse à minha porta. O convidaria a entrar e seria um bom anfitrião, pronto pra partir.
Mas isso eram só palavras! E no fundo eu bem sabia que o fim me causava arrepios e muito me amedrontava.

Se por um lado me julgava superior, por outro me sentia um nada. E bebia e escrevia sobre isso em solitárias madrugadas.
Fazia de meus escritos minhas próprias orações, e de meus escritores favoritos meus próprios santos. E rezava em verso e prosa, em voz baixa e assustada, pra ninguém ler ou escutar.

Creio então que ainda espero.
Faço dos dias minha penitência e cumpro as horas da minha vida, uma após outra, enquanto escrevo e espero algo que me faça cair e acordar, e seguir e viver.
Enquanto os dias forem dias e as noites forem noites, haverá ainda a esperança de se fugir à foice!

foi erro meu

foi erro meu
achar que eu era grande coisa
e que uma hora ou outra
as coisas iam ficar
todas muito bem.

foi erro meu
achar que um dia
eu ainda poderia
chegar lá.

foi erro meu
achar que as coisas
eram simples e fantásticas,
e acreditar naquela bobagem
que os tolos repetem por aí
de que eu não precisava ver pra crer
e de que era só querer muito algo
pra realmente acontecer.

foi erro meu
achar que eu seria
um algo a mais.
achar que um dia
eu encontraria nessas ruas
algo que me satisfaz.

foi erro meu
acreditar no futuro
e sonhar com uma luz
quando eu estava apenas
perdido no escuro.

foi erro meu
tentar ser um alguém
por meios que não me pertencem
enquanto tentava desesperadamente
fugir da minha fria e pesada
jaula espiritual.

foi erro meu
acreditar na humanidade
acreditar em mim mesmo
acreditar na sobriedade
enquanto tudo o que eu tinha
era uma vida medíocre
e sonhos adolescentes
que alimentava com cigarro
e goles de cerveja.

foi erro meu
me imaginar como
um rockstar
ou um escritor
um jornalista
ou um poeta
quando só o que eu sabia fazer
era beber e chorar
e me comportar como
um pobre pateta.

foi erro meu
acreditar na oração
acreditar no coração
e em filmes com
finais bonitos
pra histórias feias.

foi erro meu
me perder em mim mesmo
acreditar na mágica realização
dos meus pobres desejos
enquanto tudo o que eu fazia
pra que algo acontecesse
era beber e escrever
antes que eu enlouquecesse
de uma vez por todas.

foi erro meu
esperar que tudo caísse do céu
e não aproveitar que tive
oportunidades e
todas as chances de acertar
enquanto me arrastava
e delirava
sobre como seria
se as coisas tivessem sido diferentes,
quando eu bem poderia
ter feito acontecer
com o que eu tinha
na minha pobre mente.

foi erro meu
ansiar pelo fim,
e acreditar em muitas coisas
mas não acreditar em mim.

domingo, outubro 25, 2009

Você nunca deveria ter aberto esta porta.

As calças justas e rasgadas, as pernas entortadas e a guitarra e o baixo quase no joelho. Os riffs simples e rápidos, as músicas com pegada rápida e impactante. E o vocalista ali, magro, alto e todo esquisito, com aqueles óculos redondos no rosto, segurando o microfone sempre com a mão esquerda e se apoiando no pedestal de uma maneira estranha enquanto esporadicamente aponta pra algum lugar no meio da multidão e balbucia umas frases da música. E os cabelos tigelinha, as camisetas curtas e sujas e as jaquetas de couro. É óbvio que você já sabe de quem eu to falando. E se você entende o que eu digo (o que eu espero que entenda), é meio básico saber que só esses caras aparentemente não entediam de nada mas entendiam de tudo. Eram como poetas do submundo, saídos dos confins de uma nova iorque caótica e confusa. E como todo jovem eles também tinham seus problemas, e só o que tinham a fazer pra se salvar dessa merda toda era cheirar cola, beber umas cervejas e tocar rock do jeito que fosse possível.

Esses eram os caras. Eu posso falar isso sem medo. Esses são os caras que me salvaram a vida. Esses são os caras que moveram gerações. Que transfomaram simples notas e frases em hinos da juventude. Eles entendiam da coisa. Eles eram uns fodidos, mas sabiam o que fazer. Eram gênios enclausurados em suas próprias lâmpadas de confusão. Eu me lembro dos Ramones todos os dias. Eu penso nos Ramones todos os dias e eu escuto aos Ramones quase todos os dias. É muito além do punk, de se inconformar com toda a merda que nos cerca. É uma coisa pessoal. É como uma doença na alma. É como um estado terminal crônico, que não te mata mas também não te deixa viver.

E haviam as garotas, mas na verdade não haviam as garotas. Lembro de assistir no documentário End Of The Century um trecho de uma entrevista com o Dee Dee onde perguntavam sobre as garotas no início da banda e ele simplesmente respondia que "não haviam garotas". Aquilo tudo é muito chocante. É muito simples, é muito comum e muito genial. Eles não tinham a faca, não tinham o queijo, mas tinham a cara e a coragem. Lembro de escutar aos Electro Shock Combo no Bar Potiguá da Rua João Pessoa, em Londrina. Lembro dos Ramoneiros londrinenses espremidos no bar apertado e da cerveja sendo arremessada pro alto enquanto a galera em êxtase entoava os trechos dos clássicos. Lembro dos punks pogando ali na frente. Lembro de acabar o show todo suado e de como aquilo tudo foi importante pra minha vida.

Não tem muito mais o que falar. Isso é basicamente tudo. Como uma música dos caras, isso acaba de repente e você se sente atordoado como se tivesse levado uma porrada e não saber de quem nem de onde veio. Mas não é uma sensação ruim, muito pelo contrário. É como se alguém te entedesse de verdade. É como se alguém dizesse tudo aquilo que você sempre quis dizer mas não sabia como. É como ler a O Apanhador no Campo de Centeio aos quinze anos. É como tomar um porre pela primeira vez, e se apaixonar perdidamente por uma garota que nunca vai te dar a mínima. Eu ainda acredito no sonho. Eu ainda acredito que no céu também há lugar para os pecadores. Eu acredito nos Ramones. Sempre vou acreditar. Você nunca deveria ter aberto esta porta.

sábado, outubro 24, 2009

Lamento

Lamento por todos à minha volta;
pelos enganos em que se metem
e pelos pecados que cometem.

pelas horas que trabalham,
pelas mentiras que espalham,
pelas bobagens que falam.

lamento por suas vidas enganadas,
por suas contas atrasadas,
e por suas crenças infundadas.

lamento por seus nascimentos,
e também por suas mortes;
como lamento por seus azares,
e também por suas sortes.

se tudo isso lhe é estranho,
como uma rua sem saída;
saiba que também lamento,
por minha própria vida.

sexta-feira, outubro 23, 2009

Fome

Tornei-me uma ópera fantasiosa: vi que todos os seres têm a fatalidade da ventura: a ação não é a vida, mas o modo de gastar alguma força, um desenervamente. A moral é a fraqueza do cérebro.
A cada ser, várias outras vidas me pareciam devidas. Este senhor não sabe o que faz: é um anjo. Esta família é uma ninhada de cães. Com diversos homens, conversava com um momento de uma de suas outras vidas. - Assim, amei um porco.
Nenhum dos sofismas da loucura, a loucura que é internada, foi desprezado por mim; podia dizê-los todos, peguei o sistema.
Minha saúde ficou ameaçada, o terror vinha vindo. Caía em sonos de dias e, de pé, prosseguiam os sonhos mais tristes. Estava maduro para o falecimento; por uma rota de perigos, minha fraqueza me levava aos confins do mundo e da Ciméria, pátria da sombra e dos torvelinhos.
Tive de viajar, distrair os feitiços reunidos em meu cérebro. No mar, que amava como se ele fosse me livrar de uma sujeira, via se erguer a cruz consoladora. Tinha sido condenado pelo arco-íris. A Ventura era a minha fatalidade, meu remorso, meu verme; minha vida será sempre imensa demais pra ser dedicada à força e à beleza.
A Ventura! Seu fio, sensível à morte, me advertia ao canto do galo - ad matutinum ao Christus venit - nas cidades mais sombrias:

Ó estações, ó castelos!
Que alma é sem defeitos?

Fiz o mágico aprendizado
Da Ventura, quem se esquiva.

Salve ela cada vez
Que cante o galo gaulês.

Ânsia já não sentirei,
Ela de mim tomou conta.

Seu encanto me salvou,
Dispensou qualquer procura.

Ó estações, ó castelos!

E ela só irá embora, ai!,
No momento em que eu morrer.

Ó estações, ó castelos!

_____________

Isso passou. Hoje sei saudar a beleza.


Arthur Rimbaud

quinta-feira, outubro 22, 2009

R.I.P - JACK KEROUAC



40 anos sem Jack Kerouac.
Descanse em paz, gênio.

what's the difference

what's the difference
between you and me
between getting bored
when there's nothing to see
on the television.

what's the difference
between all the hate
and all the love
between all beneath
and all above

what's the difference
between being alone
and stay at home
on a saturday night

and what's the difference
between pain with no end
and the time I spend
writing all this bullshit.

sexta-feira, outubro 16, 2009

the world is falling apart

the world is falling
apart
and i can't see no
light

and now the end
has come
and now my life
is gone

and I sit here
and try to write
but it's so hard
to find a start

now there's no
where to go
now there's no
cards to show

and now the world is falling apart
nobody seems to be so smart.

um poema por mês

um poema por noite
um poema por semana
ou um poema por mês.

há poetas que escrevem
dez poemas por dia
ou cem poemas por mês
e mil poemas por ano.

e há poetas que escrevem
dez poemas por década
ou cinco poemas por ano
ou um poema por mês.

eu só sento
e tento escrever
um poema de cada vez.

e não me importo
com números
e só me importo com
a intensidade.

mas nem todo poema
vale a pena ser lido
e grande parte dos poemas
nem deveriam ter sido escritos.

e é por isso que Hemingway estava certo
quando disse que
a lata de lixo é
o melhor instrumento de um escritor.

ele não disse exatamente isso,
mas creio que disse
algo parecido.

e é assim que,
tento esquecer meus problemas,
e escrever meus poemas,
um
de cada
vez.

quarta-feira, outubro 07, 2009

memory

they've been fooling
while the stars keep on shining,
high on the sky.
while my body still breathing
day by day.

and the gossips they
tell about us,
and the lies they
create about everything.
it's all so strange
and i can't see no
change.

one day
we will die
and they'll bury us
under the ground
and they'll put flowers
on our graves.

while the music will keep on playing
while the men will keep on praying
and i'll be just one more
memory.

terça-feira, outubro 06, 2009

haikais

em um dia de preguiça
deixo de lado
minhas premissas

--------------

cervejas e papo furado
sinto que fui
mais um enganado

--------------

ouvindo ramones
e rolando na cama,
um jovem insône

segunda-feira, outubro 05, 2009

nave mãe de outra galáxia

ás vezes tenho a impressão
de que sou um velho
mas ainda não tenho
nem vinte anos

e já me parece
tudo acabado
mas talvez eu esteja sendo
precipitado.

e me pergunto o que acontece
depois de algum tempo

mas eu não sei a resposta
e não acho que alguém saiba
e não acredito em destino nem em
supertições.

mas acho que no fim
não há nada além
de uma nave mãe
que me levará daqui
pra uma outra galáxia
onde os ETs vão me avaliar
e me estudar
como um espécime singular
dessa pobre raça.

domingo, outubro 04, 2009

esta noite

“seus poemas sobre as garotas ainda estarão por aí
daqui a 50 anos quando as garotas já tiverem ido”,
meu editor me telefona.

caro editor:
parece que as garotas já se
foram.

entendo o que o senhor diz

mas me dê uma mulher verdadeiramente viva
nesta noite
cruzando o piso na minha direção

e o senhor pode ficar com todos os poemas

os bons
os maus
ou qualquer outra que eu venha a escrever
depois deste.

entendo o que o senhor diz.

o senhor entende o que eu digo?


Charles Bukowski

eutanásia

Era um domingo
como todos os outros
e eu me sentia
entediado e
deprimido.

e eu não fazia
nada
há muito tempo.
e esperava que,
a vida pasasse
rápido.

e questionava
o porque
de não haver um botão
que desligasse
toda essa coisa.

e pensei em
eutanásia
e decidi que devia
fazer um documento
autorizando-a
caso precisasse.

e percebi que,
tudo o que mais queria
era que eu precisasse
o quanto
antes.

lamentando e se queixando

ela escreve: você vai
se lamentar e se queixar
em seus poemas
sobre como eu trepei
com 2 caras na semana passada.
eu te conheço.
ela escreve para me
dizer que meu sensor
estava certo -
ela recém tinha trepado
com um terceiro cara
mas ela sabe que não
quero com quem, nem por que
nem como. ela encerra sua
carta, "com amor"

ratos e baratas
triunfaram novamente
aí vem ele correndo
com uma lesma em sua
boca, entoando
velhas canções de amor.
feche as janelas
lamente
feche as portas
queixe-se.


Charles Bukowski

sábado, outubro 03, 2009

em casa no sábado a noite

carros colidindo
em avenidas desertas,
enquanto casais jantam
e trabalhadores se embebedam,
nos bares da cidade.

jukebox quebrada
e drogas batizadas
guitarras distorcidas
ressonam em altos decibéis.

crianças comem
sopas de letrinhas
e bêbados contam moedas
pra mais uma dose

merdas pelo encanamento
descargas sendo puxadas
e a água deslizando
de fora pra dentro,
de dentro pra fora

igrejas sileciosas
padres em celibato
se contorcem em
pensamentos libidinosos

e jovens ouvem rock
e bebem e fumam seus cigarros
enquanto os flanelinhas na rua
olham seus carros

e o final
não tem muita graça
porque todos eles
estão procurando algo
pra se distrair,

enquanto dançam
e fodem e bebem
e assistem impacientes,
o mundo cair
sobre suas cabeças.

eu

mulheres não sabem como amar,
ela me disse.
você sabe como amar
mas mulheres só querem
parasitar.
sei disso porque sou
mulher.

hahaha, eu ri.

por isso não se preocupe por ter terminado
com Susan
porque ela apenas ira parasitar
outro homem.

falamos um pouco mais
então eu me despedi
desliguei o telefone
fui ao banheiro
e mandei uma boa merda de cerveja
basicamente pensando, bem,
continuo vivo
e tenho a capacidade de expelir
sobras do meu corpo.
e poemas.
e enquanto isso acontecer
serei capaz de lidar com
traição
solidão
unhas encravadas
gonorréia
e o boletim econômico do
caderno de finanças.

com isso
me levantei
me limpei
dei a descarga
e então pensei:
é verdade
eu sei como
amar.

ergui minhas calças e caminhei
para a outra peça.


Charles Bukowski

sexta-feira, outubro 02, 2009

A Rita Lee é pros Mutantes o que a Nico foi pro Velvet Underground. Mas bem mais filha da puta.

o fim das rimas ruins

ando tendo
ressacas terríveis
em quartos horríveis
onde a luz entra de manhã
e não me deixa dormir

ando dormindo
quase sempre mal
em camas emprestadas
que rangem quebradas

ando tendo dores de estômago
tão ruins como todas as outras dores
e ando escrevendo poemas dramáticos
e cheios de horrores

e ando me odiando mais do que tudo
e odiando todos a minha volta
e torcendo pro tempo passar rápido
pra que tudo acabe de vez

e ando querendo
parar com essas rimas
tão ruins para mim
quanto pra você

tão ruim
pra quem as escreve
como pra quem
as lê