Entro na sala de minha aula de espanhol num prédio antigo do centro de Buenos Aires, entre a Suipacha e a Bartolome Mitre. Cumprimento a professora, uma mulher de 33 anos com um sorriso constante e um jeito de boba e feliz com a vida que chega a irritar pra valer. Além disso ela ainda leva dez ou quinze minutos para explicar coisas que a antiga professora explicava em cinco. Cumprimento um colega ao lado e na minha frente vejo um novo aluno, um cara de uns quarenta e tantos ou cinquenta anos, meio baixo, gordo mas não obeso, careca e com um bigode tipo o do robotinic acima dos lábios. Com aquela cara era meio fácil de descobrir que era russo, mas foi só conversando com ele no meu español primário e dificultoso que descobri que ele era um polonês que havia crescido na rússia e que agora lecionava russo em uma universidade da Koréia. É certo que eu devia ficar mais interessado nessa inusitada e curiosa história da vida do senhor com cara de bandidos russos de filme norteamericano (o que obviamente não faz nenhum sentido além da semelhança física, já que o senhor me pareceu muito gentil), mas sabe lá Deus porque naquele momento em que conversavamos e ele falava sobre suas ocupações e sua vida eu tive um dejá-vu um tanto quanto estranho. Isso é ainda mais estranho tendo em vista que tenho tido diversos dejá-vus nos últimos tempos. Eu não sei se isso é alguma ilusão da minha mente, se eu estou enlouquecendo ou qualquer coisa estranha desse tipo, mas a parte boa é que eu não me assusto mais com essas coisas.
Lembro que quando eu era criança, e nem mesmo sabia que dejá-vus tinham esse nome, eu ficava um bocado assustado quando isso acontecia. Pensava que era algum espírito, alguma entidade estranha ou coisa sobrenatural, ou pasmém, ate mesmo o diabo. Todas essas bobagens da minha imaginação talvez pudessem derivar da minha criação católica na infância, frequentando igrejas, rezando antes das refeições e antes de dormir, decorando pais-nossos e aves-marias, lendo bíblias infantis com ilustrações e outras coisas do tipo, mas também passa pela minha cabeça o inverso. E se essa porra toda tiver mesmo uma explicação sobrenatural? Eu realmente não sei, e realmente não gosto de pensar nisso, mas como disse antes o lado bom é que essas coisas não tem me preocupado nem um pouco ultimamente. Talvez eu tenha perdido qualquer senso de crença ou apenas esteja distraído, mas isso não vem ao caso agora. O que vem ao caso são as malditas considerações sobre o ano de 2008, que já acabou há 8 dias e eu ainda não consegui tirar nenhuma conclusão sobre isso.
Eu sempre tive uma noção e uma idéia de que os meses, dias e horas são apenas formas de contagem humanas, e que não é a virada de uma data ou coisa parecida que vai mudar alguma coisa na vida de qualquer pessoa. É claro que quando você faz aniversário você se torna mais velho, mas as mudanças vem com o tempo, e não naquele fatídico dia. É daí que eu tiro a conclusão de que as datas e esse tipo de contagem são muito importantes para a organização da vida humana, mas são extremamente imbecis e fora da realidade. Foi por este e outros motivos que com o passar do tempo deixei de fazer retrospectivas do ano que se passava e de ter resoluções inuteis para o próximo ano. Este ano não será diferente, e espero que no próximo também não, mas acho que vale considerar um ponto importante. Eu sou um humano, um humano jovem, e um humano jovem diferente dos outros humanos jovens em diversos aspectos (e igual também em diversos outros). Então, sendo essa merda de versão de espécia de humano jovem que sou, lembrei de todas as espectativas que coloquei sobre o último ano. E claro, quando você coloca muitas expectativas (não resoluções, só expectativas aleatórias), você obviamente vai quebrar a cara até pior do que se tivesse feito resoluções imbecis como emagrecer, comprar um carro, ser promovido e etc. Expectativas te deixam com uma esperança vaga de que algo vai mudar de repente. De que você vai entrar em um bar sujo e barato como os que você costuma frequentar e encontrar uma garota linda e que tenha tudo a ver com você. Que você vai ler bons livros que vão te agradar muito, mas que só por causa disso você vai se sentar em frente ao computador e vai escrever coisas geniais como as que você lê. É esse tipo de coisa que eu preciso evitar, e é esse tipo de coisa que eu já estou evitando. Não adianta perder tempo com bobagens, a vida já é uma grande bobagem para que despejemos tantas outras por aqui. As minhas "resoluções" para o novo ano são simples e fáceis de serem cumpridas. Só tenho que me manter vivo por aqui e continuar fazendo as mesmas coisas de forma mecânica e fria. Quanto menos sentimentos melhor. Acho que é isso. Poderia despejar mais um monte das minhas baboseiras sobre como eu tenho me desiludido com a coisa toda de escrever e sobre como eu acho que não vou ser merda nenhuma nunca e sobre como tem sido meus porres e meus dias e noites mas além de não ter mais saco para fazer isso não seria muito diferente das outras coisas que já escrevi.
Meu vocabulário é limitado e minha paciência é mínima. E é por essas e outras coisas que abdico de escrever, por melhor que tenha sido acreditar nisso tudo durante tanto tempo, é hora de encarar a realidade e me conformar com o fato de que não vai mudar muito de como é agora. Eu ainda vou continuar rabiscando essas notas, ainda vou continuar mantendo diários que não são atualizados quase nunca e vou continuar frequentando a faculdade de jornalismo, mas as coisas não vão ser mais como eram antes na minha imaginação, e essa é a melhor coisa que vai acontecer nesse ano.
E que assim seja,
até que eu mude de idéia.
Um comentário:
pior eu que tenho deja vu dentro de outro deja vu, fico com cara de tonta na hora. Mas isso sempre acontece quando a pessoa está ansiosa ou fica muito tempo sem dormir, como eu.Infelizmente não parece ser nada de sobrenatural ou Matrix :):):) Aproveita as férias.
Bjs
M.
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