E quando os fogos explodiram sobre o céu de puerto madero, e estavamos todos na entrada da ponte da mulher e o porto de Buenos Aires parecia lindo, enquanto o americano da Flórida tirava fotos, a inglesa falava com seu namorado por telefone, o casal de holandeses se abraçava e nós brasileiros bebiamos e todas essas coisas. Foi aí então que, olhando para o céu eu tive a única chance de cada ano de se fazer um pedido. Não costumo acreditar nessas coisas, se elas nunca funcionaram antes não é agora que irão funcionar. Mas fiz um pedido, e não demorou muito a me arrepender de tal desejo. Os fogos subindo e explodindo no céu enquanto eu apenas pensava na primeira coisa que me viesse a cabeça. Não podia ser um desejo premetidado, nem nada tão banal quanto todos os outros. Eu simplesmente deixei que a primeira coisa que me passasse a cabeça viesse a tona e pronto, quando vi eu havia feito o pedido mais imbecil de todos. "Não quero morrer nesse ano". Simples e totalmente oposto ao que eu havia pensado na maior parte dos momentos. Talvez pudesse ter pedido algo como "só quero viver mais um ano" ou "me leve logo daqui, se é que existe alguém aí", mas não, não, não... eu fora novamente um tolo e pedira uma prorrogação dessa jornada de merda que somos obrigados a passar aqui. E depois, de todas as bebidas, de todas as coisas, quando eu conversava com a garota inglesa e ela me dizia sobre suas músicas preferidas e outros tipos de coisas, foi então que me dei conta de que só não tinha a coragem necessária para os derradeiros momentos porque - além é claro de ser um grande medroso - eu ainda tinha esperanças em coisas como a música e os livros. Eu gostaria de estar ali também, mas sabia que isso só seria possível com muito talento e muito treino, e eu não havia nascido com o primeiro nem tinha a disciplina necessária para atingir o segundo. Era como se estivesse condenado a algum tipo de vida eternamente sem graça a qual eu definitivamente não estava disposto a viver. Mas afinal, os dias eram assim. Tinhamos que nos levantar, que nos vestir, que cumprir com nossas terríveis obrigações e nos relacionar com as outras pessoas até o dia em que o bom Deus tivesse pena de nossas almas e nos levasse para descansar em um lugar melhor. Grande bobagem, das mais bem contadas. Não temos muitas opções. O mundo está aberto, mas se não há dinheiro também não há muitas opções. Ninguém quer terminar pedindo dinheiro na próxima esquina. Ninguém gosta de dormir em metrôs e de sentir fome. Somos um bando de animais com necessidades e a porra toda. Jamais poderiamos ser realmente livres e jamais seriamos realmente livres. Presos a uma carcaça de carne e rodeados dos mais variados imbecis que se julgavam e se admiravam pela beleza de sua carcaça e pelo poder de compra das mais estapafúrdias e terríveis coisas.
Já me peguei pensando o que faria se me tornasse milionário. Sinceramente, pude chegar a conclusão de que não duraria muito tempo. Não me agradam carros de luxo, grandes mansões e todos os tipos de bobagem que apetecem a vida desses malditos infelizes. As bebidas caras sim, essas seriam bem utéis. Não consigo ver nada além de milhares de discos, livros e garrafas dos melhores uísques que possa ser comprado com dinheiro. Na real, penso porque nós todos não explodimos por aí e nossas carnes não sejam comidas por grandes abutres famintos. Ou que pelo menos isso poderia acontecer comigo ou coisa que o valha. Mas é claro, voltaremos assim a mesma discussão do que é certo ou errado e ao confronto entre minha eterna personalidade medrosa e a vontade de dar o fora da coisa toda. Já pensei nas mais variadas maneiras, e posso confessar que realmente achei que algumas sejam realmente tentadoras do ponto de vista de capacidade indolor e de efetividade ao fim desejado, mas tudo isso não passam de pensamentos deprimentes e sem nenhum tipo de nexo que nutro em minha cabeça cheia de bobagens e futilidades e todo o tipo de coisas ridiculas que podem apetecer um jovem um tanto quanto deprimido e fascinado por contra cultura e rock and roll do século XXI, onde nada se inventa e tudo se copia, e todas as pessoas são tão vazias e infelizes e babacas que só podemos lamentar e nos entupir de prozac e todas essas merdas. Vale a pena dizer que não tomo essas merdas, nem acho nada bonito quem o faça, mas também sou um ferrenho de que cada um deve fazer o que quiser com a merda de seu corpo e sua vida, desde que não afete outras pessoas. Se você quer se matar, vá em frente, acho que essa talvez seja a maior prova de coragem que alguém possa dar nos dias de hoje - mas essa já é outra discussão, para outro capítulo - agora se o infeliz quer fazer mal para outras pessoas merece ir para o pior inferno de que se tenha notícia. E Deus meu, se o senhor existe e se o senhor sabe quem eu sou, me castigue pelas vezes que fiz mal a outras pessoas que não a mim, e entenda que nunca foi essa minha intenção.
Essa divagação está ficando cada vez mais chata e niilista. Não me recordo de nada tão tedioso que tenha escrito nos últimos tempos quanto essas poucas e entediantes linhas. Mas bom, talvez devesse seguir em frente, e você sabe... levar a vida enquanto se puder levar, fazendo o que for melhor para passar o tempo e rezando para que você não seja o próximo que eles escolham para crucificar aqui.
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