sexta-feira, março 09, 2007
Matando o tempo pra ele não me matar.
Levantei perto do meio-dia. Lavei o rosto e comi um pouco da pequena marmitex reservada pra mim. Tomei um banho quente, mesmo com o calor de 28 graus eu não conseguia tomar banho frio. Maldita mania. Vesti a calça velha e calcei os tênis furados e coloquei a nova camiseta branca que já começava a adquirir sua nova coloração de acordo com seu uso. Conferi os bolsos e nada. Depois as gavetas, armários, bolsas de minha mãe e nada. Fui até meu irmão que assistia televisão em frente ao sofá e perguntei se ele não teria dois reais pra me emprestar para que eu pudesse pegar o ônibus. Resposta negativa, foda-se esse maldito. Pernas pra que te tenho. Desci a rua de minha casa e virei a direita. O sol estava forte e batia em minha cabeça. Andei mais um pouco e virei umas ruas aqui e outras ali. Direita. Esquerda. Cheguei a uma rua que dividia um pequeno fundo de vale com muitas arvores a direita e casas humildes com pessoas sentadas em cadeiras de descanso a esquerda. Em cada uma delas devia haver um refrescante suco gelado em suas velhas porem cheias geladeiras. Por isso eu adoro essas pessoas. Mesmo privadas de luxos inúteis elas conseguem encher a geladeira, sentar em frente de suas casas e ser realmente felizes com seus cigarros baratos e suas conversas banais. E isso é verdadeiramente maravilhoso. Cruzei a rua das casinhas humildes e cheguei na avenida principal. Extensa e íngreme. Enquanto o sol forte batia a pino agora sem arvores para aliviar meu calor. Subi devagar enquanto sentia o suor escorrer pelas minhas orelhas. O boné na cabeça e os óculos escuros ajudavam mas não diminuíam os raios de sol contra meu rosto e meu corpo. Perna direita. Perna esquerda. Passo rápido. Passo lento. Já estava a certa altura da avenida, agora não faltava muito em distância e sim em resistência. Força Gabriel, você já agüentou distâncias maiores sem reclamar. Mentira, você reclamou bastante mas agora simplesmente não tem com quem reclamar. Então suba e ande e aperte seu passo. E logo a distância era mínima. Mas minha garganta estava amarrada de sede. Passei em frente a um bar. Oh se eu tivesse dinheiro pra comprar um refrigerante. Não preciso sonhar tão alto. Uma garrafa de água já estava de bom tamanho. Quem sabe um copo? Cheguei a escola de música encontraría uns amigos para tocar algumas canções. Tomei quase um litro de água em questão de minutos. Um tempo depois eles chegaram. Tocamos as músicas sem nada de muito relevante. Apenas voltando a forma perdida após duas semanas sem ensaio. Matamos o resto do tempo comendo lanches de pão de forma com mortadela e tomando refrigerante de uva na cozinha da escola musical. Liguei pra minha mãe pra tentar uma carona. Sem sombra de dúvidas eu não tinha condições de encarar mais quatro quilômetros de volta pra casa. Mesmo agora sendo só de descidas e não tendo mais sol para fritar meus miolos eu não tinha a mínima disposição. Não mesmo. Peguei carona com minha mãe em frente ao Mc'donalds da avenida maringá, ao lado do meu antigo colégio e do apartamento que morava a bons meses atrás. E finalmente eu voltaria pra casa de carro e ficaria a toa e ótimo. Mas ela tinha um compromisso do outro lado da cidade e eu teria que fazer hora. Me deu quatro reais em moedas e fui até a padaria ao lado do prédio onde ela tinha ido pra matar o tempo. Um bairro tranquilo e uma avenida com movimento frequente porem calmo. Perguntei o preço da cerveja ao atendente. Dois reais e sessenta centavos a garrafa. Não compensaria tomar só uma garrafa. Comprei um desses refrigerantes baratos de dois litros e um pacote de salgadinhos. Tomei alguns copos do refrigerante e me arrependi por não ter pego a cerveja. Comi alguns salgadinhos e descobri estar sem a mínima fome. Oh cerveja porque eu não segui o caminho que você me indicou na geladeira da padaria. Ainda se fosse o meu refrigerante preferido, mas ele estava extremamente quente e não compensaria o meu pobre dinheirinho em moedas. Continuei tomando meu refrigerante vagabundo e olhando para a rua. Ônibus passavam e as pessoas nos automóveis me olhavam sentado na mesa de plástico da padaria. Ela voltou e voltamos para casa. Passei o resto da noite lendo. Matando o tempo pra ele não me matar.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário