sexta-feira, março 09, 2012

Uma temporada no inferno

Antes, se lembro bem, minha vida era um festim em que se abriam todos os corações, todos os vinhos corriam.
Uma noite, fiz a Beleza sentar no meu colo. E achei amarga. Injuriei.

Me preveni contra a injustiça.

Fugi. Ó bruxas, ó miséria, ó ódio, a vós meu tesouro foi entregue!

Consegui fazer desaparecer no meu espírito toda a esperança humana. Para extirpar qualquer alegria dava o salto mudo do animal feroz.

Chamei o pelotão para, morrendo, morder a coronha dos fuzis. Chamei os torturadores para me afogarem com areia, sangue. A desgraça foi meu Deus. Me estendi na lama.Fui me secar no ar do crime. Preguei peças à loucura.

E a primavera me trouxe o riso horrível do idiota.

Ora, ultimamente, chegando ao ponto de soltar o último basta!, pensei em buscar a chave do antigo festim, que talvez me devolvesse o apetite dele.

A caridade é a chave.-Inspiração que prova que eu estava sonhando!

"Continuarás hiena, etc..." repete o demônio que me orna de amáveis flores de ópio. "A morte virá com todos os teus desejos, e o teu egoísmo e todos os pecados capitais."

Ah! pequei demais:- Mas, caro Satã, por favor, um cenho menos carregado! e esperando algumas pequenas covardias em atraso, como aprecia no escritor a falta de faculdades descritivas e instrutivas, lhe destaco estas assustadoras páginas do meu bloco de condenado eterno.

Arthur Rimbaud

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