segunda-feira, março 19, 2012

Ah, e nós, nós que não vivemos os anos 60, que daríamos tudo para estar lá, que nos debatemos questionando a injustiça do destino. "Eu só queria ter nascido no mesmo ano que meu avô", eu bradava em madrugadas modorrentas, destilando meu whisky e minhas cervejinhas com discos dos de Dylan, dos Stones, dos Beatles e dos Zombies. "Quanta injustiça, ó mundo!", completava, em mais um acesso de indignação.

"Mas, peraí", eu pensava então com minhas próprias indagações. "Será que se eu tivesse por lá, eu teria tido a chance de gostar de tudo isso, e conhecer cada um desses discos?". Talvez não, concluí. Era mesmo fantástico poder desfrutar dos discos agora, cinquenta anos depois. "Mas ah, se eu estivesse, que bom seria...", completava, em deleites imaginários onde me esbaldava em woodstock, me divertia em Greenwich Village, me acabava em Londres.

"Ah, mas esse dia ainda há de chegar. Seja nessa ou na próxima encarnação: anos 60, eu estarei lá!", me consolava em um último pensamento saudosista atemporal. "Tê cuida, meu querido Dylan, meu genial Lennon, meu incrível Burdon. A gente ainda se vê, pode ter certeza disso!".

E eu acho que no fundo eu tinha mesmo certeza que a gente fosse se ver. Mesmo se fosse assim, ouvindo seus maravilhosos discos em madrugadas modorrentas e solitárias, contemplando a maravilha de cada canção, a poesia de cada riff e a beleza de cada harmonia.

Eu precisava dos anos 60. Todo santo dia.

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