quinta-feira, fevereiro 11, 2010

A última transmissão

Sei que é uma bobagem falar isso, mas tô meio de cara porque meu playstation quebrou. Eu não sei o que aconteceu no leitor, mas ele não consegue mais ler os discos de uns dias pra cá, e isso me deixou meio cabisbaixo e mais entediado que o normal. Normalmente eu nunca gostei muito de videogame, apesar de ter tido um nintendo snes na infância onde eu só jogava o super mario world e que marcou época, e vira e mexe nesse videogame que é mais do meu irmão do que meu eu só jogava mesmo o clássico wining eleven de futebol pra passar o tempo. Acontece que esses dias eu fui no camelô de Londrina pra comprar uns dvd's-r que eu uso pra gravar os filmes que eu baixo, e acabei resolvendo comprar uns jogos pra variar. O cara tava fazendo um preço bom, três por dez, e acabei levando três jogos escolhidos aleatoriamente. Desses, o único que me entusiasmou de verdade foi o Godfather, o jogo. É bem parecido com o GTA, mas com os gráficos todos da nova iorque da década de 40 e as missões baseadas no filme e no mundo gangstêr. Eu me amarro nesse tipo de coisa, e foi rapidinho pra viciar no jogo. O problema é que nem deu tempo de curtir direito, que o meu videogame já estragou. Agora eu tenho que arranjar outro passatempo, mas na verdade eu tenho mesmo outros, como ler e assistir a penca de filmes que eu tenho na fila pra assistir, mas ando com um nível elevado de preguiça.



Ultimamente to assistindo a primeira temporada de Curb Your Enthusiasm, fantástica série do Larry David, ex-produtor e co-criador de Seinfeld. Que o cara sempre teve um humor foda é perceptível para aqueles que como eu são fãs incondicionas de Seinfeld, mas o que eu não sabia era que o cara podia ser tão bom na sua própria série. A idéia é basicamente uma sitcom sem muita produção, baseada apenas em situações cotidianas, e é ai que Larry David mostra que grande parte da graça de Seinfeld foi mesmo graças à ele. Os episódios são geniais. Larry sempre consegue arrumar umas confusões incríveis de situações totalmente normais, e sempre acaba se ferrando no final. Sei que isso parece meio bobo pra quem não gosta do gênero, e talvez até seja, mas pra quem gosta desse tipo de "humor negro" é altamente recomendável. Eu não vou citar trechos nem contar episódios, mas eu posso indicar sem medo pra quem foi fã de Seinfeld. É claro que a primeira temporada da série também tem algumas ressalvas. A principal para mim foi de que você sabe que sempre vai haver alguma confusão, então você espera que algo dê errado em toda e qualquer situação na série, e o surpreendente é quando dá certo. Eu não sei se melhorou ou piorou na segunda temporada e nas subsequentes (se não me engano, hoje a série está em sua oitava temporada ou coisa do tipo), mas apesar desse detalhe, o humor é simplesmente genial.



Esses dias também terminei de ler um livro muito bom. É o A Última Transmissão, do Greil Marcus, fudido crítico musical dos EUA. O livro faz parte da série Iê-iê-iê da Conrad, que apesar do nome escroto, só tem livro foda. Até então eu só tinha lido o Reações Psicóticas do Lester Bangs, que dispensa apresentações por ser o crítico musical mais lendário do rock, mas esse do Marcus também é do caralho. O cara faz relações entre grandes bandas como Clash, Pistols, Bruce Springsteen, John Cale, Gang of 4 e outras e o momento histórico da época, aliando a análise do rock e dos sons como movimento e arte a teorias e análises da comunicação. Sei que a priori isso parece bem chato, mas na verdade é do caralho. O cara consegue colocar em uma teoria interessante aspectos fodas da música e do rock como movimento histórico. Como em Curb Your Enthusiasm e como em quase tudo, tem algumas ressalvas. Marcus ás vezes é um pouco técnico demais do que deveria, e não tão sentimental (leia-se raivoso, praguejante, ou punk no verdadeiro sentido da palavra, o de contestação e energia) como Lester Bangs. Alguns artigos se arrastam e não são muito cativantes, mas talvez isto se deva ao fato de eu não ser fã da banda e estilo de som em questão, como quando ele fala sobre bandas do post-punk oitentista, enquanto outros são absurdamente geniais (talvez pelo mesmo motivo já citado, mas agora de gosto em comum), como o conto sobre os Rolling Stones, sobre o Clash e sobre Bruce "The Boss" Springsteen. De qualquer maneira, pra quem se amarra em música e em história, é um puta livro. No último capítulo o cara faz uma análise interessante sobre como grandes movimentos musicais dentro do rock como o punk acabam se repetindo depois de certo tempo, mas que enquanto a coisa ainda funciona, ela ainda é válida. Ele usa o exemplo do punk citando uma banda que eu desconheço, mas fazendo um paradoxo sobre como a contestação ainda é a mesma, apesar de não tão original quanto antes. Ele destaca a energia musical do punk e em como, mesmo após diversos anos de rock and roll, ainda exista a censura ao estilo e o choque de gente careta e babaca com a contestação apresentada naquele som. Eu não sei se é exatamente o que o cara quer dizer, e provavelmente ele quer dizer muito mais, mas a mensagem principal que eu peguei foi essa, e eu posso dizer que foi do caralho. Ele termina o livro com uma frase simples, mas daquelas que te faz ficar pensando por um bocado de tempo:

Quando o rock'n'roll não produzir mais uma versão de si mesmo que mereça ser banida, nada disso merecerá ser ouvido.

Pode ser que eu tenha ententido tudo errado, pode ser que na prática signifique outra coisa totalmente diferente, mas eu gostei um bocado disso qeu ele falou. Também gostei do que ele falou sobre o sentimento causados por uma música ou obra que realmente te tocam, numa catarse absurda, e eu postei isso alguns posts atrás. O legal era que ele se referia a uma música do Springsteen tocada ao vivo, e eu sempre imaginei mesmo na minha cabeça que um show do Bruce Springsteen com a E-Street Band deve ser algo memorável pela energia que a banda passa. É só ouvir Night, do disco Born To Run, que talvez você entenda o que eu quero dizer. Se os caras fizeram aquilo em estúdio, eu não posso nem imaginar o que não façam ao vivo. É muito mais que tocar bem as notas, que ter bons músicos, que ter uma boa música... pra mim o que importa é a maneira com o que tudo é feito, tanto ao vivo quanto no disco. As pessoas precisam derramar um pouco de sangue naquilo, um pouco de verdade, um pouco de vida. Na minha humilde concepção, só assim as coisas serão o que são, e só assim conseguiremos chegar à algum lugar com essa coisa de arte. Eu acho que entendi isso, e tenho a leve impressão de que Greil Marcus, assim como Bruce Springsteen e Lester Bangs também entendeu.

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