terça-feira, junho 30, 2009

She talks to birds she talks to angels
she talks to trees she talks to bees
She don't talk to me
Talks to the rainbows and to the seas
she talks to the trees
She don't talk to me
Don't talk to me

segunda-feira, junho 29, 2009

amaldiçoados em uma maneira particularmente nossa

Acho que faz um bom tempo que eu não pego e começo a escrever qualquer coisa como pretendo fazer agora. Isso faz mal pra sanidade, isso de não escrever. É como se as coisas fossem se empilhando dentro de você, como caixas lotadas de porcaria que você não consegue despachar pra lugar nenhum. Não dá pra dizer que é falta de tempo. Acho que não conheço muita gente que tem tanto tempo livre quanto eu. Não conheço muitas pessoas que são mais preguiçosas que eu, e nem que tem a sorte que eu tenho de poder não fazer quase nada e ainda ter comida na mesa e um monte de luxos. Quando eu paro pra pensar nisso eu começo a ter certeza de que sou um grande filho da puta. Mas isso não é culpa minha, ou é? Eu quero fazer algo. Só não sei o que. Aí fico blasfemando contra um monte de coisas, ouvindo os discos e saindo pra beber esporadicamente. Uma vez li um conto do Hunter Thompson em que ele usava o termo "um exército de Holdens Caulfield". Era sobre estudantes revolucionários de uma universidade da California na década de 60. É óbvio que tinha todo um contexto para a frase, e eu vou usar o termo em outro contexto agora, mas é porque ele caí perfeitamente bem. Olha só pra tudo isso na rua. Olha só todos esses caras e essas minas. Deus do céu. Alguns tem uma luz interior piscando e brilhando e pedindo pra que alguém faça alguma coisa. Eu sempre imaginei que ser jovem era a melhor coisa por causa disso. Ainda não havia um conformismo direto com tudo que a gente adquire quando envelhece. Era a porra de uma luz brilhando e de violência e rebeldia. Não dá pra explicar. Sou muito abstrato e vago quando quero explicar algo. Sou péssimo pra contar histórias e anedotas. É por isso que as coisas funcionam melhor na minha cabeça.

Então, as aulas da faculdade acabaram. Só haviam mais três dias de aula, mas algumas pessoas da faculdade estão com gripe suína e eles resolveram cancelar já. Peguei um ônibus pra Londrina e desci pra cidade que eu amo e odeio. Acho que todo mundo que já viveu um tempo considerável em Londrina tem sentimentos parecidos em relação à cidade. Não dá pra explicar, é só você tendo sentido a atmosfera daqui. Passam as gerações, passam as pessoas, fecham-se os bares, criam-se leis cretinas e a juventude londrinense fica cada vez mais escrota e acuada. Mas não dá mesmo pra explicar. A cidade tem uma dualidade estranha, misteriosa. Conserva costumes de cidade pequena mas aspira ser uma grande cidade. Há pessoas que sonham em sair e se dar bem. Há pessoas que sonham em transformar tudo sem sair daqui. Há pessoas que não se importam com nada, e que continuam aqui mesmo assim. Acho que a cidade tem uma coisa estranha. Apesar de ter um monte de contras, a cidade teve seus vários prós pra mim. Conheci um monte de gente legal aqui. Pessoas verdadeiras. Há menos jogos de imagens. Há mais fofocas, mais bobagens, mas mais verdades também. Não dá pra explicar. Não posso continuar nessas divagações abstratas e insensataz. Eu posso continuar resumindo o que tem acontecido.

Então eu peguei o ônibus e vim pra cá. Encontrei os amigos. Nos entediamos juntos. Fomos aos mesmos lugares de sempre. Encontrei minha garota. Eu gosto dela, ela me faz bem, e gosto de estar com ela. Não sou loucamente apaixonado por ela como era pela outra. E isso me dói pra caralho. Mas tudo bem, porque ela também não é loucamente apaixonada por mim. A gente só se da bem junto. E estou evitando fazer qualquer tipo de cagada em relação a isso. Acho que tem dado certo. Mesmo que ás vezes eu tenha uma vontade quase incontrolável de chegar naquela outra miserável criança e dizer o quanto eu sou ou era loucamente apaixonado por ela e que faria tudo pra ela me dar uma outra chance. Mas ela é só uma criança, não sabe de nada e vê as coisas por um só ângulo. Acho que eu também já fui assim. E eu continuo sendo em partes. Ainda sou muito novo e muito inocente. Mas, foda-se. O meu velho e antigo lema pra quando eu não sei mais o que falar sobre algo. A minha velha desculpa pra minha mediocridade e pra minha falta de assunto e de paciência pra desenvolver qualquer coisa que possa chegar perto de ser um pensamento decente. Foda-se. Foda-se tudo e todos. Que tudo se foda. Eu ainda sou o mesmo que ouvia aos sex pistols todo santo dia e imitava o Johnny Rotten quando bêbado. O mesmo que aos 15 anos usava um cadeado no pescoço pra imitar o Sid Vicious. É só isso que importa.

Gostaria de reiterar, que de alguma forma, apesar de tudo, as coisas estão bem. Tenho conseguido balancear todas as coisas de uma maneira sensata. Tenho conseguido me manter tranquilo e fazer as coisas que gosto de fazer. Tenho me sentido muito bem. Ás vezes penso que isso pode ser um pouco ruim. Não há mais grandes excitações e paixões por qualquer coisa. Não há mais full of life. É uma sensação de um certo vazio, mas ao contrário do que possa parecer, isso não tem me abalado nada. Obrigado quem quer que seja que esteja olhando por nós. Obrigado por qualquer coisa que faça as coisas continuarem indo em frente e não nos deixarem desistir. Obrigado por nosso brilho interno e eterno que esporadicamente ainda irradia como uma grande estrela infinita. Obrigado por haver palavras e bobagens a se falar. Obrigado por haver música de qualidade. Obrigado por todos os grandes escritores. Obrigado por tudo e obrigado por nada. Não sou um total descrente. Não sou um negativista. Sou alguém tranquilo. Estou agarrado a meu toco de árvore no rio e não vou deixar a corretenza me levar. Tudo vai ficar bem. Somos iluminados. Somos mal-amados. Somos abençoados. E somos detestados também. E até mesmo amaldiçoados, quem sabe, de uma maneira particularmente nossa.

terça-feira, junho 23, 2009

Viver não é o problema. O problema é viver um dia após o outro.

segunda-feira, junho 22, 2009

If the walls in the room could talk

I wonder to myself would they lie

It's like some kind of jail

Beams of light fall from the curtains onto the bed

I'm all alone now, I can do as I please

I don't feel like doing much of anything

True love ain't that hard to find

Not that you will ever know

Would you lay here for awhile?

Please, do not let me go

Please, do not let me go

sábado, junho 20, 2009

O inferno é um lugar sem porta de saída

O inferno é um lugar
sem porta de saída
e não há porque tentar
achar uma escapatoria
estamos presos em lugar nenhum
muito longe de qualquer tipo de vida
de qualquer tipo de lugar

eu sonhei com um lugar
de campos verdes e
o sol dourado brilhando
e era tudo muito estranho
pra quem está acostumado com as trevas
era tudo muito diferente
de qualquer coisa que eu já vi

acho que isso não existe
e que não passamos de
delirantes sonhadores mundanos
impregnados pela sujeira da vida
com almas podres e em decomposição
indo pra lugar nenhum
em velhos barcos de madeira
navegando sobre um rio de sangue

não há mais nada a se fazer
navegamos pra lugar nenhum
vamos afundar e morrer
ou vamos cair de um precipício
e então quando tudo acabar
descobriremos que
o inferno é um lugar
sem porta de saída
e não há porque tentar
achar uma escapatória

sexta-feira, junho 19, 2009

Se é tão fácil porque nós nunca chegamos lá?

Se é tão fácil, porque nós nunca chegamos lá? Vivo me perguntando esse tipo de bobagem. Temos uma vida fácil, temos a oportunidade de escolher entre isso e aquilo, temos os finais de semana com os amigos e esporadicamente temos garotas bonitas por perto. E porque nós nunca chegamos lá? Rodamos como um carrosel estragado que para e volta no sentido reverso. Nada nunca esta bom. Há sempre um motivo pra se preocupar. Há sempre algo do que reclamar. Há sempre alguma coisa com o que se chatear. Vou parar de falar em nós. Vou falar em eu, que é a única pessoal de quem eu posso realmente falar. Mas falar o que? Deus do céu. Não há o que falar. É tudo tão superficial e abstrato e tão sem graça. É tudo uma porra duma repetição do mesmo programa ruim. E não adianta sair correndo e procurando um lugar pra se esconder. Uma hora não vai mais ter nenhum lugar pra se esconder. Eles vão nos fechar, e nós vamos estar ferrados pra sempre. Haja o que houver, não há como vencer. Não estou dizendo que tudo vai ser uma merda. Muitas coisas boas vão acontecer, eu acho. Eu espero. Só acho que, por mais que a gente corra, não há nada a fazer no final. É como uma porra duma ilha deserta. E eu estou lá preso. E sabe Deus como, eu tenho tudo o que preciso, e não preciso fazer muito esforço pra nada. Mas eu não estou feliz. Eu não estou nada feliz. Eu não sei explicar porque. Talvez nem tenha mesmo uma explicação. Talvez nada tenha uma explicação. É aí que surgem os gênios. De alguma forma eles explicam algo. Eu não sei como. Não me pergunte como. Eu não posso responder. Eu não posso responder muita coisa. Ainda mantenho uma atitude um tanto quanto punk de querer que tudo se foda. Fujo de discussões e argumentações profundas com a mesma rapidez de um rato fugindo de um gato. Não tenho o que dizer. Não sou um cara interessante. Não espere que eu proclame discursos bacanas e fale frases de efeito. Eu não sei ser nada disso. Eu falo algo como "foda-se tudo isso" e tento mudar de assunto. É assim que eu sou. E acredite, eu já tentei mudar, mas é muito difícil lutar contra sua natureza. Eu não queria ser assim, mas eu sou, e o melhor que tenho a fazer é conviver o melhor possível com as minhas milhares de limitações. É assim que as coisas são. Não adianta chorar. Não adianta xingar. Eu não pretendo mudar o mundo, eu só pretendo mudar a mim mesmo. Eu não acredito em muitas coisas, mas acho que há uma certa hora que você sabe aonde chegou. É como uma reflexão pessoal, onde você mede tudo aquilo que te aconteceu e tudo aquilo que você fez. Eu não sei como isso é exatamente. Eu não sei se é positivo, negativo ou se depende de cada pessoa. Talvez seja aquela bobagem que dizem de "um filme passar pela sua cabeça antes de morrer". Mas não sei, não acredito que essa reflexão profunda aconteça exatamente antes da morte. Pode acontecer, é claro. É bem provável aliás, dependendo do seu estado de saúde e de espírito. Mas acho que isso só acontece uma vez na vida pra cada pessoa. E ai, você tem algo como uma iluminação ou benção divina que te faz enxergar por dentro de você mesmo e ver tudo aquilo que você realmente é. Tanto pro bem quanto pro mal. Eu não sou totalista assim, de acreditar que há o bem e o mal e que eles se enfrentam. Acho que cada pessoa tem um pouco de cada um dentro delas, e ambos fazem de nós o que somos. Isso não significa que seremos bons e maus. Acho que é necessário ter um pouco de cada coisa dentro de você. Não só dessas duas coisas. É preciso ter um pouco de tudo. Eu não sei explicar. Eu nem sei mesmo se acredito em tudo isso que estou dizendo. Não sei mais de nada. Provavelmente vou chegar a conclusão de que eu quero que tudo se foda e vou terminar isso com alguma bobagem do eterno adolescente que sou. É sempre assim. Olha só. Eu sempre acreditei que um conto, um texto, um capítulo, um livro ou qualquer coisa assim tivesse que terminar de uma forma realmente impactante e bacana. Ainda acredito nisso. Mas eu fracassei dessa vez. Eu fracassei em praticamente todas as vezes que tentei fazer algo bem feito. E depois eu falei "foda-se" e corri pra outro lugar. E vou continuar fazendo isso, até não ter mais lugar pra onde correr. E aí, só Deus sabe o que vai acontecer.

quarta-feira, junho 17, 2009

Mario Benedetti - Ella que pasa

Paso que pasa rostro que pasabas
qué más quieres
te miro
después me olvidaré
después y sólo
solo y después
seguro que me olvido.

Paso que pasas
rostro que pasabas
qué más quieres
te quiero
te quiero sólo dos
o tres minutos
para quererte más no tengo tiempo.

Paso que pasas
rostro que pasabas
que más quieres
ay no
ay no me tientes
que si nos tentamos
no nos podremos olvidar
adiós.

quinta-feira, junho 11, 2009

Até que a morte os separe

malditos dias de ressaca
letras e palavras e frases
não formam um verdadeiro homem
corra até onde suas pernas aguentarem
só é mesmo um vencedor
o último grande derrotado

abra sua melhor bebida
coma seus pratos favoritos
e saia com sua melhor garota
pois nada disso valerá a pena
num final não tão distante

não há nada a se temer
não seja um grande covarde
a verdade só pode ser encontrada
de uma maneira
o sangue só é derramado
se está correndo nas veias
o coração só para de bater
se estiver pulsando

e enquanto ainda houver
algo a acreditar
ainda haverá
algo a se fazer
e algo a se dizer
pois corpo e alma
estarão unidos
até que a morte
os separe

blocos de concreto e sangue correndo nas veias

rodeado de cervejas e amigos
na mesa de um bar, num canto perdido
conversas profundas & declarações pertinentes
o que nós somos & de onde viemos & pra onde vamos
e toda essa bobagem que
assola todos os seres humanos
todos os dias e todas as horas
e então penso que
sou como um bloco de concreto
sólido, frio e cinza
sem grande talento &
sem grandes pretensões além de
arranjar uma boa garota e
passar o resto dos dias transando
e ouvindo aos beach boys e tomando cerveja

mas isso está muito muito perto & muito muito longe
bodishatvas & bikhus estão longe de mim
não sei nada sobre cultura oriental
tento escrever haikais
tento entender o budismo
não entendo nada
não passo de um bloco de concreto
sólido, frio e cinza
muito longe do paraíso, muito perto do inferno
um retrato da minha decadência
brindada ao som de tilintar de taças
não sou nenhum descolado
sou mais do que penso que sou
e menos do que gostaria de ser

só um grande bloco de concreto
sólido, frio e cinza
e preocupado & intrigado
com o "rumo em que as coisas estão tomando"
brindando meu próprio fracasso
com os melhores venenos que
estão nos balcões dos bares
e com os homens da rua
e nas mulheres da vida
um grande bloco de concreto
com sentimentos
e sangue correndo
nas veias

segunda-feira, junho 08, 2009

Many & Few

There are so many books to read
so many musics to listen
so many movies to watch
so many things to do
so many ways to do
so many girls to meet
so many kisses to give
so many tears to cry
so many days to pass by
so many places to go
so many people to know

and so few pride on heart
so few life to live
so few time til death
so few words to write
so few stars to bright
so few rules to fall
so few time til now
so few days til the future
so few future before the days
and so few love to all
and so few things to tell
and so few ways to be well

segunda-feira, junho 01, 2009

Não havia nada acontecendo, nem mesmo havia nenhuma esperança de que algo ia mudar. Eu ia de casa para a faculdade, estava condenado a mais um mês abstêmio e fazia um frio do caralho lá fora. Essa última parte não era um grande problema, pois eu sempre gostei do frio, e sabe lá Deus porque essa temperatura sempre me fez pensar mais nas coisas e sempre me deixou em um estado atônito e fantasioso de que eu ia conseguir finalmente encontrar um sentido pra toda essa porcaria. Mas dessa vez era diferente. Não de um jeito trágico ou infeliz, somente de um jeito tedioso e completamente sem graça. Passava os dias vendo filmes e esporadicamente folheava algum livro. A faculdade era algo muito maçante e mesmo eu sabendo que podia estar aproveitando tudo e fazendo jus ao dinheiro e ao que quer que fosse, eu simplesmente não consiga sair do meu estado de estagnação e desesperança com qualquer que fosse o objetivo a ser atingido, se é que havia algum. No fundo mesmo eu achava que não havia nada a correr atrás e nem nenhum lugar a se chegar, e era isso o que mais me deixava desesperançoso quanto ao rumo em que a vida corria.

Palavras e frases não se formavam mais como antes. Não havia paixão, não havia nada a se pensar e eu me sentia um eterno e repetitivo espécime de ser humano a ser eliminado da face da terra sem fazer grande diferença. O vento batendo no rosto e os cabelos dançando atrás da cabeça e sacodindo todo enquanto apertava passo atrás de passo e tentava chegar a alguma solução para os fins que eu desejava atingir. Mas que fins? Essa era a maior questão. Não havia nada pra alcançar. Parafraseando meus autores favoritos e delirando em sonhos que nunca se realizariam. Eu era um grande infeliz e havia um grande vazio no peito, pois aquele poderia ser o precoce fim de um cretino jovem de dezenove anos que teve tudo e todas as oportunidades na vida para ser alguém mas nunca acreditou em nada e sempre se rebelou contra qualquer tentativa, pessoal ou de terceiros, de que algo podia ser feito.

Meus grandes amigos pareciam estar numa boa. Me sentia muito feliz por eles, de verdade. Não havia nenhuma pontada de inveja nem nada assim. Acho que era só isso mesmo que eu queria. Eu era um puta egoísta escroto e um farsante em tudo o que eu fazia, mas meus poucos amigos eram grandes caras e eu torcia pra que o mundo inteiro pudesse ver aquilo também. E acho que eles estavam começando a ver.

Eu tentava organizar em minha cabeça algum plano de ação para que tudo aquilo que rondava a minha cabeça se concretizasse em algo bonito no papel, mas a grande maioria das tentativas era em vão. A vida e a arte eram coisas realmente difíceis de se lidar, e eu pensava em até quando eu ia continuar me enganando em toda essa bobagem até perceber que eu não tinha talento nem coração necessários pra chegar a algum lugar. E enquanto isso eu desperdiçava o dinheiro dos meus pais e o meu próprio tempo fingindo ser um quanto legal e interessante e esperando algo cair do céu e ser descoberto. Mas muitos já haviam me dito que nada caia do céu, e por mais que eu convictamente soubesse daquilo e visse provas concretas todos os incansáveis dias de minha vida eu continuava persistindo no erro, e isso era algo que poderia custar muito caro no futuro, e talvez a conta já estivesse sendo cobrada e eu, medroso e covarde como sempre, não conseguia abrir os olhos pra ver.

Tive vontade de me entopir de soníferos e só acordar em dez anos. Seriam as coisas melhores no futuro? Haveria um bom futuro, ou essa medíocridade persistiria pelo tempo que fosse preciso? Talvez eu só andasse em círculos e quando me desse conta, minha vida inteira teria passado e eu estaria reclamando e lamentando sobre as mesmas coisas que reclamo hoje. Deus, ou quem estiver no lugar dele, sabe como eu pedi & rezei & supliquei para que tudo isso passasse e que eu pudesse ter de volta, ou ter pela primeira vez, um sentimento de vontade sagaz para alcançar o quer que fosse que estivesse destinado a mim. E se não houvesse nada destinado a mim? As dúvidas martelavam na minha cabeça e me faziam contorcer como uma cobra venenosa sendo morta à pauladas. E talvez eu fosse isso mesmo. Uma jovem e maldita cobra, com atitudes hipócritas e alma egoísta, sendo corrompido por meu próprio veneno e invejando todos os outros animais seguindo seus caminhos e cumprindo suas funções. Eu era um maldito sonhador, um maldito filho da puta e deveria ter sido um bruxo na inquisição e sido queimado em praça pública para servir de exemplo de que o egoísmo juvenil e o sonho imbecil não levam a lugar nenhum além da desgraça eterna. Ah, eu não sou esse tanto dramático, pelo amor de Deus, não pode ser. Eu acho que sou um cara legal até, sabe. Eu me divirto, faço piadas, fico bêbado e me dou bem com um montão de gente. Não é possível que eu tenha todo esse veneno dentro de mim. Eu não sei quem o colocou ali, talvez tenha sido eu mesmo, com minhas atitudes e pensamentos, mas ah Deus ou sejá lá a força superior que nos conduz aqui embaixo. Eu só queria uma chance de verdade, um daqueles insights de talento comparáveis a um Salinger e então eu poderia fazer uma só obra e mostrar que eu era capaz, e mostrar que qualquer um era capaz, e que todos somos abençoados & mágicos & belos por dentro, e que por piores que sejam os demônios que teimam em tentar nos controlar em nosso interior, nós eramos maiores que aquilo e eramos grande e havia um espaço no céu reservado a nós. E nesse céu haveria um grande bar com mesas e cadeiras confortáveis e as melhores bebidas e todos os caras com que sonhamos conversar e ah.... não há mais o que dizer. Eu estou me alongando demais em algo sem futuro, me iludindo em um mar de devaneios patéticos de um adolescente inato ao talento. Acho que eu só queria continuar arrastando uma desculpa para continuar sendo esse medíocre pra sempre, e depois quando tudo acabasse eu diria que eu poderia ter tido chances melhores, mesmo sabendo que eu as tive e não as aproveitei. Tenho vontade de vomitar ao ler tudo isso que escrevi. Tenho nojo & ódio de mim mesmo e me sinto o mais patético dos seres humanos.

Esses dias eu vi uma foto com alguns jovens, bonitos e saudáveis e eles pareciam estar todos se divertindo, e tive inveja daquilo tudo. Quer dizer, eu sabia que poderia ser tudo aquilo se quisesse também, mas eu simplesmente não era. Eu havia me trancado em minha própria jaula e não havia mais chave pra me tirar de lá. E eu ficava ali, esperando que as pessoas atirassem um pouco de suas experiências pessoais para que eu pudesse ter só um gostinho. Não alimente os animais, é a regra de todo zoologico. Era o fim, eu acho. Não sei até quando tudo ia durar, não sabia mesmo se ia durar e nem sabia pra onde eu estava indo ou quem eu era. Acho que eu não sabia de nada, e não havia sentido em continuar tentando descobrir o que eu nunca ia saber.
Vamos ser sinceros. Não há mais nada em que acreditar e nada a ser feito a respeito disso. Vou brindar ao fracasso de tudo com uma boa dose de uísque on the rocks.